Fluminense campeão por antecipação, Palmeiras na segunda divisão. O que
pior se espera de um campeonato de pontos corridos e com bloco de
rebaixados aconteceu: um líder disparado que torna as últimas rodadas
supérfluas, a não ser para quem ainda busca consolo na classificação
para uma da competições satélites, e uma potência que cai.
Defendo, solitariamente, a tese de que deveria haver uma espécie de liga
de intocáveis, clubes que por sua tradição e pelo tamanho e poder
econômico da sua torcida estariam imunes ao vexame do rebaixamento.
Isto não eliminaria o ascenso e o descenso, ainda haveria lugar para os times que vêm de baixo subirem na vida.
Apenas os grandes clubes, por pior que fossem nos campeonatos, e por
pior administrados, não correriam o risco de cair. Estariam, por assim
dizer, protegidos da sua própria incompetência.
Minha tese não é elitista nem sentimental. Se baseia em frio raciocínio
capitalista. Qual é a lógica de um negócio que de uma hora para outra
mutila o seu próprio mercado, tirando de cena uma das suas maiores
atrações e dispensando o seu público? Eu sei, eu sei. As estatísticas
mostram que as grandes torcidas não abandonam o time rebaixado, antes
reforçam a sua devoção para ajudar a tirá-lo do buraco. O que é muito
bonito, mas não esconde o fato de que grandes organizações profissionais
como o Palmeiras são obrigadas a se submeter a regras amadorísticas.
Shakespeare sabia que a morte de um comum pode ser trágica, mas só a
morte de reis dava boas peças. Uma potência que cai tem ressonâncias e
implicações que fazem pensar, como a queda dos reis shakespereanos, na
transitoriedade da glória fugaz, e nunca é um espetáculo menos que
impressionante — mesmo que a imagem que perdure seja apenas a de uma
torcedora enxugando as lágrimas com a camiseta do clube.
Mas eu não deveria estar escrevendo tudo isto. Ultimamente minha única
alegria como torcedor tem sido a de poder dizer que, falem o que falarem
dele, o Internacional jamais caiu para a segunda divisão.
Luís Fernando Veríssimo
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