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quarta-feira, 30 de abril de 2014

20 anos da morte de AYRTON SENNA do Brasil



Nestes 20 anos sem Ayrton Senna nas pistas de automobilismo da F1, é preciso fazer uma possível reflexão sobre a sua morte ao destacarmos os outros 34 anos de sua vida como os que permitiram fazê-lo nascer todos os dias na memória do povo brasileiro e do mundo. Segundo Lucrécio, discípulo de Epicuro, são os anos de nossas vidas responsáveis por escaparmos da “mors aeterna”. Há 20 anos não, mas há 54 anos que Ayrton certamente escapou natural e conscientemente da “mors aeterna”.
Por isso, fiquemos a pensar um precioso texto de Fernando Savater in Perguntas da vida: “ ‘Vê também os séculos infinitos que precederam nosso nascimentos e nada são para a vida nossa. Natureza neles nos oferece como um espelho do futuro tempo, por último, depois de nossa morte. Há algo aqui de horrível e enfadonho? Não é mais seguro do que um profundo sonho?’[Lucrécio, De rerum natura, livro III]. Preocupar-nos com os anos e os séculos em que já não estaremos entre os vivos é tão infundado quanto preocupar-nos com os anos e os séculos em que ainda não tínhamos vindo ao mundo. Nem antes nos doeu não estar nem é razoável supor que depois vá nos doer nossa ausência definitiva. No fundo, quando a morte nos fere através da imaginação – coitado de mim, todos tão felizes desfrutando do sol e do amor, todos menos eu, que nunca mais, nunca mais...! – é precisamente agora que ainda estamos vivos. Talvez devêssemos refletir um pouco mais sobre o assombro de ter nascido, que é tão grande quanto o espantoso assombro da morte. Se a morte é não ser, já a vencemos uma vez: no dia em que nascemos. É o próprio Lucrécio que fala, em seu poema filosófico, da mors aeterna, a morte eterna do que nunca foi nem será. Pois bem, nós seremos mortais, mas da morte eterna já escapamos. A essa morte enorme roubamos um certo tempo – os dias, meses ou anos que vivemos, cada instante que continuamos vivendo – , e esse tempo, aconteça o que acontecer, sempre será nosso, dos triunfalmente nascidos, e nunca seu, apesar de que depois também devamos, irremediavelmente, morrer. No século XVIII, um dos espíritos mais perspicazes que já houve – Lichtenberg – dava razão a Lucrécio em um de seus célebres aforismos: “Por acaso já não ressuscitamos? De fato, provimos de um estado em que sabíamos do presente menos do que sabemos do futuro. Nosso estado anterior é para o presente o que o presente é para o futuro”(p. 23-24).

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Não passamos de pó e cinza



Se tem um tema que realmente demanda muita “metafísica” e nos joga para dentro do drama da existência humana, esse tema é a morte. Essa desconhecida costuma deixar cicatrizes profundas na história e mais ainda na consciência individual e coletiva de todos nós, mas também é capaz de produzir um intenso movimento a favor da vida, quando não, ao menos nos faz refletir e a parar diante dela.
Muitos acidentes de trânsito, tragédias difíceis de apagar, certamente levaram pessoas abnegadas a defender regras mais eficazes de promoção da segurança nas estradas. Assassinatos, homicídios, guerras e catástrofes acabam transformando nossas vidas e até mudando nossos comportamentos a cada momento. Tornamo-nos piores ou melhores, porém alguma coisa muda, alguma coisa sai de lugar com a morte. A morte dá uma guinada na vida da gente.
Por causa da morte do seringueiro Chico Mendes, defensor político dos interesses dos trabalhadores do Estado do Amazonas e contra a exploração irracional da floresta, muitos saíram de suas casas e levantaram a bandeira de luta social e política a favor do meio ambiente, a favor da vida e da desconstrução social. Não é tão diferente com o impacto causado pela morte de centenas de estudantes e trabalhadores cidadãos na época da ditadura militar perseguidos pela censura e pelo cerceamento dos direitos civis. Quem não lembra da revolução que a F1, campeonato de automobilismo, sofreu em virtude da morte de Ayrton Senna! Os EUA ainda não superaram o trauma criado pela morte das quase três mil pessoas, vítimas dos ataques às torres gêmeas em setembro de 2001!
Curioso, mas ainda hoje, depois de mais de sessenta e cinco anos não nos esquecemos da segunda guerra mundial, das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, dos campos de concentração, da morte em massa de mais de seis milhões de judeus. Ora, não sai de nossa memória, após 2013 anos, a morte cruel e brutal de um judeu, Jesus, o tradicional filho do carpinteiro, o Galileu. Como todas as outras, mas, sobretudo, com esta, temos muito o que aprender: Aceitar a morte, uma vez que é a nossa própria condição humana; além disso, vencê-la; atravessar e ser atravessado por ela, de modo a refletir uma vida justa, honesta e corajosa.    
O filósofo francês Jean Paul Sartre, em vida e mesmo após a sua morte, nos deixou um legado praticamente universal, por isso não menos existencial, de que somos condenados à liberdade. Na mesma proporção e talvez mais contundente ainda, essa condenação possa servir para o dado da morte. Somos também condenados à morte porque somos humanos. Parece óbvio, mas basta nascermos, basta estarmos vivos para morrermos.
Ao nos remetermos para o contexto da velhice do Rei Salomão, muitíssimo experimentado em anos, vemos uma corajosa forma de encarar a morte/vida, sacudindo de nós a poeira da vaidade, pois não passamos de pó e cinza. Pensar a morte é encarar a vida com tudo o que ela significa na visão do autor do livro bíblico do Eclesiastes, é saber-se insuficiente, impregnado de vitalidade, é transformar-se em um homem de verdade: “Não te apresses em abrir a boca; que teu coração não se apresse em proferir palavras diante de Deus, porque Deus está no céu, e tu na terra; que tuas palavras sejam, portanto, pouco numerosas. Porque as muitas ocupações geram sonhos, e a torrente de palavras faz nascer resoluções insensatas” (5.1-2).
Fica a pergunta: Sabendo que vamos morrer, e isso não nos escapa, ainda assim nos envaidecemos, como agiríamos, então, acaso não soubéssemos que morreríamos?
Vale aprender do koheleth, como é conhecido o livro do Eclesiastes em hebraico: “[Lembra-te do teu Criador] antes que se quebre a cadeia de prata, e se despedace o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se despedace a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (12. 6,7).


Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bel. em Teologia, Licenciado em Filosofia/UERN, Esp. em Metafísica/UFRN e Esp. em Estudos Clássicos UnB/Archai/Unesco.
www.twitter.com/filoflorania

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Às famílias das vítimas de Santa Maria/RS

Oremos pelas famílias atingidas na tragédia de Santa Maria/RS.
Que encontrem força, conforto e esperança no amor a Deus.

sábado, 10 de novembro de 2012

A consciência da morte do herói Aquiles

(Aquiles chora a morte de Pátroclo – fonte: http://www.flickr.com/photos/brennobastos/1039679003/)




Olhem, compartilho aqui minha colaboração do que tenho lido do texto de Vernant acerca da morte, por sinal muito enriquecedor do ponto de vista da concepção de morte do herói, no caso Aquiles. A começar por uma clássica citação da Ilíada de Homero, é possível notar que o herói Aquiles está tomado pelo sentimento de morte, de uma morte atrelada ao desejo de imortalidade pelo nome. Curioso isso, ao mesmo tempo em que a morte toma conta de seu ser, Aquiles não se desvencilha da necessidade que há em perpetuar seu nome aos tempos vindouros. A morte apoderou-se dele, mas também um desejo de glória: “Não, eu não pretendo morrer sem luta e sem glória(akleiôs) como também sem algum feito cuja narrativa chegue aos homens por vir”(Il., 22, 304-5; 22, 110).
O agathoi Aquiles, sabendo que vai morrer brevemente, isto é, no dizer de Vernant, com base nos cantos da Ilíada, solicita à sua mãe Tétis ao menos a glória. Vejam que estupendo, o herói na iminência da morte ou vendo que ela o rodeia, quer pelo destino que lhe imputaram os deuses, quer pela sua força como guerreiro, ou ainda, por ter os pés ligeiros, sabe-se que a morte lhe é inevitável, sobretudo pela sua característica de herói que retém o “onus” ou “bonus” da honra. A consequência da consciência da morte por Aquiles o faz deixar escapar para além dos dentes um pedido: “Oh mãe, visto que me geraste para uma vida breve, que Zeus olímpico... me dê pelo menos a glória”(Il., 1, 352-3) . A resposta de sua mãe só lhe confirma a certeza de antes, que o mais brevemente irá morrer: “Teu destino, em vez de longos dias, só te concede uma vida breve”(Il., 1, 415-6). Vernant é muito claro ao explicitar a sorte do herói Aquiles envolvido nas malhas da morte, uma vez que não teve sequer direito de escolher. Sua vida estava traçada pela “vita brevis”: “Ou a glória imorredoura do guerreiro(kléos áphthiton), porém a vida breve, ou então uma vida longa, retirada, porém a ausência de qualquer glória”(Cf. VERNANT, Jean-Pierre. A bela morte e o cadáver ultrajado. São Paulo: USP. 1977. p. 32).
Nesse caso particular de Aquiles, predestinado à bela morte, o guerreiro vai pautar sua vida focado somente neste ideal do herói. Sua obsessão pelos feitos heróicos será a convicção de uma posteridade de glória e honra. A morte só tem sentido, se é que tem sentido pra ele, na medida em que é louvada pelo existir reconhecido, estimado e honrado do herói. Vernant comenta os feitos heróicos como um ultrapassamento da morte, renunciando ao envelhecimento: “O feito heróico enraiza-se na vontade de escapar ao envelhecimento e à morte, por inevitáveis que sejam, de a ambos ultrapassar. Ultrapassa-se acolhendo-a em vez de a sofrer, tornando-a aposta constante de uma vida que toma, assim, valor exemplar e que os homens celebrarão como um modelo de glória imorredoura”(idem, p. 40).
A representação da morte do herói grego, tão bem salientada por Vernant, sobretudo em Aquiles, é o esquecimento da vida, o alheamento ao outro. Segundo o autor, o contexto arcaico grego nos remete para o fato de que o indivíduo é medido pelo olhar alheio e pela importância que ele tem na memória da coletividade. Portanto, na realidade, para Aquiles, a verdadeira morte é o esquecimento. Isto é notório quando Aquiles, agathoi, experiencia a própria morte do amigo Pátroclo e daí escolhe a morte, assume seu destino de morte para vingar o companheiro. Ao sofrer e padecer de dor pela morte do amigo amado, Aquiles como que sente na própria pele a consciência de morte. Muito interessante, pois, com a morte do outro amado, o herói Aquiles toma consciência de sua própria morte.

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bacharel em Teologia, Licenciado em Filosofia, Especialista em Metafísica e Pós-graduando em Estudos Clássicos pela UnB em parceria com Archai Unesco.



quinta-feira, 19 de abril de 2012

O mito da Medusa


Discutir um pouco sobre a mortalidade da Medusa é, no mínimo intrigante, porque só ela entre as irmãs era mortal. Carregar a marca da mortalidade em sua natureza parece ser paradoxal entre os deuses, uma vez que surge naturalmente o clássico problema: Que te parece pior ou melhor, viver como um deus entre os homens ou como um homem entre os deuses? Parece-me que a questão da mortalidade de Medusa guarda esse problema. Mesmo não participando do mundo dos deuses e de seus privilégios por serem mais poderosos e gozarem da imortalidade, enfim, Medusa tem um poder que é dado a ela, o de assumir com autoridade as medidas apropriadas. Só ela é mortal, mas só ela também é Górgona, pelo menos em tese, pois se serve de um olhar habilidoso, feminino e terrível que petrifica, que mede e que julga. Ela Joga sobre nós o peso da mortalidade, transformando-nos em pó, mas também nos proporciona um alívio através do olhar cortante de morte. A morte também é bela e indica libertação, pois para Sócrates, bem mais tarde, a filosofia é um exercício para a morte. A morte segundo Sócrates, no Fédon, é um misto de prazer e dor. Aqui já estou conjecturando e nessa linha não vejo o que é pior nem o que é melhor, mas vejo a cara da força da vida que precisa de cuidado e de reflexão. A mortalidade não é obstáculo algum para o grego, mas superação de seus limites através dos jogos, das guerras, onde os heróis buscam assemelhar-se aos deuses com as suas conquistas, as glórias e a honra em perpetuar um nome. Talvez, para Medusa, a mortalidade não traga tanto enfado quanto a imortalidade para um deus. Independentemente das narrativas históricas que envolvem a figura de Medusa, o que mais me impressiona nela é sua autonomia frente aos homens e aos deuses, pois era temida. Os que são temidos geralmente sentem-se ameaçados. Sem dúvida, pela história, Medusa tinha todas as qualidades para ser uma grande ameaça que, por sinal, daí possa vir a razão da trama de sua morte. A simbologia que cerca sua morte mereceria todo um estudo, bem mais atenção e renderia belíssimas produções textuais, assim eu penso.
No entanto, um aspecto que envolve a figura da Medusa é o senso de justa medida, bastante divulgado pela expressão grega sophrosyne. Essa noção é bastante comum entre os gregos, mas Medusa é paradoxal em relação ao equilíbrio, à justiça, vejam o verbete: “Só se pode combater a culpabilidade oriunda da exaltação frívola dos desejos pelo esforço em realizar a harmonia, a justa medida, que é, em última análise, exatamente a etimologia de Medusa. Quem olha para a cabeça da Gorgo se petrifica. Não seria por que ela reflete a autoimagem de uma culpabilidade pessoal? O reconhecimento da falta, porém, baseado num justo conhecimento de si mesmo pode se perverter em exasperação doentia, em consciência escrupulosa e paralisante. Em síntese, Medusa simboliza a imagem deformada, que petrifica pelo horror, em lugar de esclarecer com equidade”(In BRANDÃO, Junito. Dicionário Mítico-Etimológico. Vol I. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991, p. 471).
Desculpe-me um pouco a divagação nesse tema, mas tentei fazer uma aproximação com a Filosofia a fim de enxergar o lado dramático da morte da Medusa. Fazendo a leitura apressada do mito da Medusa, a Górgona por excelência, que espraia seu olhar de morte por onde passa, podemos concluir que a tragédia de sua morte vem recheada de beleza no momento em que ela é decapitada por Perseu, o sangue jorra da asquerosa Górgona e evidencia seu poder criativo como se apenas a morte desse-lhe de volta o que havia perdido para sua rival Atená, sua beleza e seu orgulho. Portanto, a morte de Medusa é um encontro consigo mesma, com sua beleza e orgulho perdidos.

Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Especialista em Metafísica



segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Heidegger e a questão do ser...

(Martim Heidegger nasceu no dia 26/09/l889 em Messkinch, Alemanha, onde sua família já estava radicada há vários séculos. Com o passar dos anos tornou-se um dos filósofos mais importantes do século XX, vindo a trabalhar como Professor honorário até a morte, em 26/06/l976).

Há muito que a Filosofia se pergunta pela questão do ser. O que significa o ser? Em Parmênides encontramos a definição lapidar: “Pois existe o ser”. Também Aristóteles em sua Metafísica propõe a questão do ser. Pergunta-se sempre somente pelo ente com referência ao seu ser. Quando questionamos o ente assim como ente, vemos não em relação ao fato de ele estar simplesmente presente, por exemplo, como uma cadeira, uma mesa ou uma árvore, mas sim como ente: vemos, pois em relação ao seu ser. Esta é a questão fundamental de toda a Metafísica[1].
Para Heidegger, fora do ente não há ser. O ser não é o ente, mas o ser do ente. Afirma pensar o ser como tal: o ente enquanto ente. Enquanto o que é se identifica com o ser. Ser enquanto ser.
A Analítica existencial de Heidegger tem uma estrutura ontológica da existência que desconstroi a tradicional concepção metafísica da subjetividade, por meio de uma verdadeira compreensão dos aspectos da Existência, da Facticidade e do Ser-no-mundo.
A existência do ponto de vista geral é o que está aí. Um fato bruto e incondicionado de estar presente, o Dasein. No sentido humano é vida, biologia, biografia. Narrativa dos acontecimentos da vida decidida, a história como o modo de ser humano na sua temporalidade(passado, presente, futuro). Heidegger admite aqui uma quarta instância do tempo: o agora como transcendência intra-temporal, incluindo o homem, de modo a ser o horizonte possível através do qual podemos compreender a existência.
A temporalidade nos permite compreender o ser na sua totalidade, enquanto conjunto de todas as possibilidades. Assim, é inevitável a influência do tema morte nessa discussão, porque ela está o tempo todo atrás de nós mesmos. A morte é constituição ontológica, pura possibilidade. Existe aqui a possibilidade da impossibilidade, a morte. Somos todos constituídos como um ser pra morte desde sempre.
A respeito da facticidade em Heidegger, permite-nos sublinhar que se opõe a factualidade porque é um projeto lançado de tal e tal modo(“meu já-ser”). Ser-no-mundo, e não no ar, mas numa conjuntura. O ser humano como pura compreensão de ser. Um ser posto pra fora. Lançado(Dasein) significa ser o “aí” do ser, presença e abertura de ser ou estar voltado para o ser.
A compreensão do Ser-no-mundo nos leva à estrutura ontológica fundamental do Dasein. Toda a história da Metafísica considerou a diferença metafísica entre os entes. Fundacionismo como onto-teologia. Assim, não se pensa o ser em si mesmo. Fizeram do ser um ente. Deus não é um ser, porém um ente que contrapõe a outros entes.
Destarte, observamos que a desconstrução do ser feita por Heidegger constitui o pulsar de sua Filosofia ao afirmar que o ser é abertura e pura possibilidade de ser.
Ser pura possibilidade significa ser coisa alguma, nada. Pura nulidade. Por que ser possibilidade incomoda? Por que ser finitude incomoda? Se somos um conjunto de nossas possibilidades, e a mais radical e extrema é a morte, significa dizer que a morte é luz da compreensão de todas as totalidades. O ser pra morte constitui o guia de compreensão do ser. Antecipar-se à morte. Viver como mortal. Assumir-se como mortalidade já. Serenidade!
Dessa forma, pontua-se aqui o que é Análise da existência própria. Analisar os existenciais. Heidegger contrapõe os existenciais às categorias. Os existenciais são os modos possíveis de ser. A essência do homem consiste em não ter essência. A essência é o que já era ser para Aristóteles, equivalente aqui à idéia, “eidos”. Do ponto de vista da existência, a essência é pura possibilidade, pode ou não existe. A essência independe da existência.
O ser homem consiste em nunca ser. “Ek-sistencia” – ser pura compreensão do ser poder-ser, o ainda não-ser.

Jackislandy Meira de M. Silva, Professor e Filósofo.
[1] Cf. HEIDEGGER, Martin. Seminário de Zollikon. São Paulo: EDUC; Petrópolis, RJ: Vozes. 2001, p. 142-143.

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quarta-feira, 30 de abril de 2014

20 anos da morte de AYRTON SENNA do Brasil



Nestes 20 anos sem Ayrton Senna nas pistas de automobilismo da F1, é preciso fazer uma possível reflexão sobre a sua morte ao destacarmos os outros 34 anos de sua vida como os que permitiram fazê-lo nascer todos os dias na memória do povo brasileiro e do mundo. Segundo Lucrécio, discípulo de Epicuro, são os anos de nossas vidas responsáveis por escaparmos da “mors aeterna”. Há 20 anos não, mas há 54 anos que Ayrton certamente escapou natural e conscientemente da “mors aeterna”.
Por isso, fiquemos a pensar um precioso texto de Fernando Savater in Perguntas da vida: “ ‘Vê também os séculos infinitos que precederam nosso nascimentos e nada são para a vida nossa. Natureza neles nos oferece como um espelho do futuro tempo, por último, depois de nossa morte. Há algo aqui de horrível e enfadonho? Não é mais seguro do que um profundo sonho?’[Lucrécio, De rerum natura, livro III]. Preocupar-nos com os anos e os séculos em que já não estaremos entre os vivos é tão infundado quanto preocupar-nos com os anos e os séculos em que ainda não tínhamos vindo ao mundo. Nem antes nos doeu não estar nem é razoável supor que depois vá nos doer nossa ausência definitiva. No fundo, quando a morte nos fere através da imaginação – coitado de mim, todos tão felizes desfrutando do sol e do amor, todos menos eu, que nunca mais, nunca mais...! – é precisamente agora que ainda estamos vivos. Talvez devêssemos refletir um pouco mais sobre o assombro de ter nascido, que é tão grande quanto o espantoso assombro da morte. Se a morte é não ser, já a vencemos uma vez: no dia em que nascemos. É o próprio Lucrécio que fala, em seu poema filosófico, da mors aeterna, a morte eterna do que nunca foi nem será. Pois bem, nós seremos mortais, mas da morte eterna já escapamos. A essa morte enorme roubamos um certo tempo – os dias, meses ou anos que vivemos, cada instante que continuamos vivendo – , e esse tempo, aconteça o que acontecer, sempre será nosso, dos triunfalmente nascidos, e nunca seu, apesar de que depois também devamos, irremediavelmente, morrer. No século XVIII, um dos espíritos mais perspicazes que já houve – Lichtenberg – dava razão a Lucrécio em um de seus célebres aforismos: “Por acaso já não ressuscitamos? De fato, provimos de um estado em que sabíamos do presente menos do que sabemos do futuro. Nosso estado anterior é para o presente o que o presente é para o futuro”(p. 23-24).

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Não passamos de pó e cinza



Se tem um tema que realmente demanda muita “metafísica” e nos joga para dentro do drama da existência humana, esse tema é a morte. Essa desconhecida costuma deixar cicatrizes profundas na história e mais ainda na consciência individual e coletiva de todos nós, mas também é capaz de produzir um intenso movimento a favor da vida, quando não, ao menos nos faz refletir e a parar diante dela.
Muitos acidentes de trânsito, tragédias difíceis de apagar, certamente levaram pessoas abnegadas a defender regras mais eficazes de promoção da segurança nas estradas. Assassinatos, homicídios, guerras e catástrofes acabam transformando nossas vidas e até mudando nossos comportamentos a cada momento. Tornamo-nos piores ou melhores, porém alguma coisa muda, alguma coisa sai de lugar com a morte. A morte dá uma guinada na vida da gente.
Por causa da morte do seringueiro Chico Mendes, defensor político dos interesses dos trabalhadores do Estado do Amazonas e contra a exploração irracional da floresta, muitos saíram de suas casas e levantaram a bandeira de luta social e política a favor do meio ambiente, a favor da vida e da desconstrução social. Não é tão diferente com o impacto causado pela morte de centenas de estudantes e trabalhadores cidadãos na época da ditadura militar perseguidos pela censura e pelo cerceamento dos direitos civis. Quem não lembra da revolução que a F1, campeonato de automobilismo, sofreu em virtude da morte de Ayrton Senna! Os EUA ainda não superaram o trauma criado pela morte das quase três mil pessoas, vítimas dos ataques às torres gêmeas em setembro de 2001!
Curioso, mas ainda hoje, depois de mais de sessenta e cinco anos não nos esquecemos da segunda guerra mundial, das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, dos campos de concentração, da morte em massa de mais de seis milhões de judeus. Ora, não sai de nossa memória, após 2013 anos, a morte cruel e brutal de um judeu, Jesus, o tradicional filho do carpinteiro, o Galileu. Como todas as outras, mas, sobretudo, com esta, temos muito o que aprender: Aceitar a morte, uma vez que é a nossa própria condição humana; além disso, vencê-la; atravessar e ser atravessado por ela, de modo a refletir uma vida justa, honesta e corajosa.    
O filósofo francês Jean Paul Sartre, em vida e mesmo após a sua morte, nos deixou um legado praticamente universal, por isso não menos existencial, de que somos condenados à liberdade. Na mesma proporção e talvez mais contundente ainda, essa condenação possa servir para o dado da morte. Somos também condenados à morte porque somos humanos. Parece óbvio, mas basta nascermos, basta estarmos vivos para morrermos.
Ao nos remetermos para o contexto da velhice do Rei Salomão, muitíssimo experimentado em anos, vemos uma corajosa forma de encarar a morte/vida, sacudindo de nós a poeira da vaidade, pois não passamos de pó e cinza. Pensar a morte é encarar a vida com tudo o que ela significa na visão do autor do livro bíblico do Eclesiastes, é saber-se insuficiente, impregnado de vitalidade, é transformar-se em um homem de verdade: “Não te apresses em abrir a boca; que teu coração não se apresse em proferir palavras diante de Deus, porque Deus está no céu, e tu na terra; que tuas palavras sejam, portanto, pouco numerosas. Porque as muitas ocupações geram sonhos, e a torrente de palavras faz nascer resoluções insensatas” (5.1-2).
Fica a pergunta: Sabendo que vamos morrer, e isso não nos escapa, ainda assim nos envaidecemos, como agiríamos, então, acaso não soubéssemos que morreríamos?
Vale aprender do koheleth, como é conhecido o livro do Eclesiastes em hebraico: “[Lembra-te do teu Criador] antes que se quebre a cadeia de prata, e se despedace o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se despedace a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (12. 6,7).


Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bel. em Teologia, Licenciado em Filosofia/UERN, Esp. em Metafísica/UFRN e Esp. em Estudos Clássicos UnB/Archai/Unesco.
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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Às famílias das vítimas de Santa Maria/RS

Oremos pelas famílias atingidas na tragédia de Santa Maria/RS.
Que encontrem força, conforto e esperança no amor a Deus.

sábado, 10 de novembro de 2012

A consciência da morte do herói Aquiles

(Aquiles chora a morte de Pátroclo – fonte: http://www.flickr.com/photos/brennobastos/1039679003/)




Olhem, compartilho aqui minha colaboração do que tenho lido do texto de Vernant acerca da morte, por sinal muito enriquecedor do ponto de vista da concepção de morte do herói, no caso Aquiles. A começar por uma clássica citação da Ilíada de Homero, é possível notar que o herói Aquiles está tomado pelo sentimento de morte, de uma morte atrelada ao desejo de imortalidade pelo nome. Curioso isso, ao mesmo tempo em que a morte toma conta de seu ser, Aquiles não se desvencilha da necessidade que há em perpetuar seu nome aos tempos vindouros. A morte apoderou-se dele, mas também um desejo de glória: “Não, eu não pretendo morrer sem luta e sem glória(akleiôs) como também sem algum feito cuja narrativa chegue aos homens por vir”(Il., 22, 304-5; 22, 110).
O agathoi Aquiles, sabendo que vai morrer brevemente, isto é, no dizer de Vernant, com base nos cantos da Ilíada, solicita à sua mãe Tétis ao menos a glória. Vejam que estupendo, o herói na iminência da morte ou vendo que ela o rodeia, quer pelo destino que lhe imputaram os deuses, quer pela sua força como guerreiro, ou ainda, por ter os pés ligeiros, sabe-se que a morte lhe é inevitável, sobretudo pela sua característica de herói que retém o “onus” ou “bonus” da honra. A consequência da consciência da morte por Aquiles o faz deixar escapar para além dos dentes um pedido: “Oh mãe, visto que me geraste para uma vida breve, que Zeus olímpico... me dê pelo menos a glória”(Il., 1, 352-3) . A resposta de sua mãe só lhe confirma a certeza de antes, que o mais brevemente irá morrer: “Teu destino, em vez de longos dias, só te concede uma vida breve”(Il., 1, 415-6). Vernant é muito claro ao explicitar a sorte do herói Aquiles envolvido nas malhas da morte, uma vez que não teve sequer direito de escolher. Sua vida estava traçada pela “vita brevis”: “Ou a glória imorredoura do guerreiro(kléos áphthiton), porém a vida breve, ou então uma vida longa, retirada, porém a ausência de qualquer glória”(Cf. VERNANT, Jean-Pierre. A bela morte e o cadáver ultrajado. São Paulo: USP. 1977. p. 32).
Nesse caso particular de Aquiles, predestinado à bela morte, o guerreiro vai pautar sua vida focado somente neste ideal do herói. Sua obsessão pelos feitos heróicos será a convicção de uma posteridade de glória e honra. A morte só tem sentido, se é que tem sentido pra ele, na medida em que é louvada pelo existir reconhecido, estimado e honrado do herói. Vernant comenta os feitos heróicos como um ultrapassamento da morte, renunciando ao envelhecimento: “O feito heróico enraiza-se na vontade de escapar ao envelhecimento e à morte, por inevitáveis que sejam, de a ambos ultrapassar. Ultrapassa-se acolhendo-a em vez de a sofrer, tornando-a aposta constante de uma vida que toma, assim, valor exemplar e que os homens celebrarão como um modelo de glória imorredoura”(idem, p. 40).
A representação da morte do herói grego, tão bem salientada por Vernant, sobretudo em Aquiles, é o esquecimento da vida, o alheamento ao outro. Segundo o autor, o contexto arcaico grego nos remete para o fato de que o indivíduo é medido pelo olhar alheio e pela importância que ele tem na memória da coletividade. Portanto, na realidade, para Aquiles, a verdadeira morte é o esquecimento. Isto é notório quando Aquiles, agathoi, experiencia a própria morte do amigo Pátroclo e daí escolhe a morte, assume seu destino de morte para vingar o companheiro. Ao sofrer e padecer de dor pela morte do amigo amado, Aquiles como que sente na própria pele a consciência de morte. Muito interessante, pois, com a morte do outro amado, o herói Aquiles toma consciência de sua própria morte.

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bacharel em Teologia, Licenciado em Filosofia, Especialista em Metafísica e Pós-graduando em Estudos Clássicos pela UnB em parceria com Archai Unesco.



quinta-feira, 19 de abril de 2012

O mito da Medusa


Discutir um pouco sobre a mortalidade da Medusa é, no mínimo intrigante, porque só ela entre as irmãs era mortal. Carregar a marca da mortalidade em sua natureza parece ser paradoxal entre os deuses, uma vez que surge naturalmente o clássico problema: Que te parece pior ou melhor, viver como um deus entre os homens ou como um homem entre os deuses? Parece-me que a questão da mortalidade de Medusa guarda esse problema. Mesmo não participando do mundo dos deuses e de seus privilégios por serem mais poderosos e gozarem da imortalidade, enfim, Medusa tem um poder que é dado a ela, o de assumir com autoridade as medidas apropriadas. Só ela é mortal, mas só ela também é Górgona, pelo menos em tese, pois se serve de um olhar habilidoso, feminino e terrível que petrifica, que mede e que julga. Ela Joga sobre nós o peso da mortalidade, transformando-nos em pó, mas também nos proporciona um alívio através do olhar cortante de morte. A morte também é bela e indica libertação, pois para Sócrates, bem mais tarde, a filosofia é um exercício para a morte. A morte segundo Sócrates, no Fédon, é um misto de prazer e dor. Aqui já estou conjecturando e nessa linha não vejo o que é pior nem o que é melhor, mas vejo a cara da força da vida que precisa de cuidado e de reflexão. A mortalidade não é obstáculo algum para o grego, mas superação de seus limites através dos jogos, das guerras, onde os heróis buscam assemelhar-se aos deuses com as suas conquistas, as glórias e a honra em perpetuar um nome. Talvez, para Medusa, a mortalidade não traga tanto enfado quanto a imortalidade para um deus. Independentemente das narrativas históricas que envolvem a figura de Medusa, o que mais me impressiona nela é sua autonomia frente aos homens e aos deuses, pois era temida. Os que são temidos geralmente sentem-se ameaçados. Sem dúvida, pela história, Medusa tinha todas as qualidades para ser uma grande ameaça que, por sinal, daí possa vir a razão da trama de sua morte. A simbologia que cerca sua morte mereceria todo um estudo, bem mais atenção e renderia belíssimas produções textuais, assim eu penso.
No entanto, um aspecto que envolve a figura da Medusa é o senso de justa medida, bastante divulgado pela expressão grega sophrosyne. Essa noção é bastante comum entre os gregos, mas Medusa é paradoxal em relação ao equilíbrio, à justiça, vejam o verbete: “Só se pode combater a culpabilidade oriunda da exaltação frívola dos desejos pelo esforço em realizar a harmonia, a justa medida, que é, em última análise, exatamente a etimologia de Medusa. Quem olha para a cabeça da Gorgo se petrifica. Não seria por que ela reflete a autoimagem de uma culpabilidade pessoal? O reconhecimento da falta, porém, baseado num justo conhecimento de si mesmo pode se perverter em exasperação doentia, em consciência escrupulosa e paralisante. Em síntese, Medusa simboliza a imagem deformada, que petrifica pelo horror, em lugar de esclarecer com equidade”(In BRANDÃO, Junito. Dicionário Mítico-Etimológico. Vol I. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991, p. 471).
Desculpe-me um pouco a divagação nesse tema, mas tentei fazer uma aproximação com a Filosofia a fim de enxergar o lado dramático da morte da Medusa. Fazendo a leitura apressada do mito da Medusa, a Górgona por excelência, que espraia seu olhar de morte por onde passa, podemos concluir que a tragédia de sua morte vem recheada de beleza no momento em que ela é decapitada por Perseu, o sangue jorra da asquerosa Górgona e evidencia seu poder criativo como se apenas a morte desse-lhe de volta o que havia perdido para sua rival Atená, sua beleza e seu orgulho. Portanto, a morte de Medusa é um encontro consigo mesma, com sua beleza e orgulho perdidos.

Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Especialista em Metafísica



segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Heidegger e a questão do ser...

(Martim Heidegger nasceu no dia 26/09/l889 em Messkinch, Alemanha, onde sua família já estava radicada há vários séculos. Com o passar dos anos tornou-se um dos filósofos mais importantes do século XX, vindo a trabalhar como Professor honorário até a morte, em 26/06/l976).

Há muito que a Filosofia se pergunta pela questão do ser. O que significa o ser? Em Parmênides encontramos a definição lapidar: “Pois existe o ser”. Também Aristóteles em sua Metafísica propõe a questão do ser. Pergunta-se sempre somente pelo ente com referência ao seu ser. Quando questionamos o ente assim como ente, vemos não em relação ao fato de ele estar simplesmente presente, por exemplo, como uma cadeira, uma mesa ou uma árvore, mas sim como ente: vemos, pois em relação ao seu ser. Esta é a questão fundamental de toda a Metafísica[1].
Para Heidegger, fora do ente não há ser. O ser não é o ente, mas o ser do ente. Afirma pensar o ser como tal: o ente enquanto ente. Enquanto o que é se identifica com o ser. Ser enquanto ser.
A Analítica existencial de Heidegger tem uma estrutura ontológica da existência que desconstroi a tradicional concepção metafísica da subjetividade, por meio de uma verdadeira compreensão dos aspectos da Existência, da Facticidade e do Ser-no-mundo.
A existência do ponto de vista geral é o que está aí. Um fato bruto e incondicionado de estar presente, o Dasein. No sentido humano é vida, biologia, biografia. Narrativa dos acontecimentos da vida decidida, a história como o modo de ser humano na sua temporalidade(passado, presente, futuro). Heidegger admite aqui uma quarta instância do tempo: o agora como transcendência intra-temporal, incluindo o homem, de modo a ser o horizonte possível através do qual podemos compreender a existência.
A temporalidade nos permite compreender o ser na sua totalidade, enquanto conjunto de todas as possibilidades. Assim, é inevitável a influência do tema morte nessa discussão, porque ela está o tempo todo atrás de nós mesmos. A morte é constituição ontológica, pura possibilidade. Existe aqui a possibilidade da impossibilidade, a morte. Somos todos constituídos como um ser pra morte desde sempre.
A respeito da facticidade em Heidegger, permite-nos sublinhar que se opõe a factualidade porque é um projeto lançado de tal e tal modo(“meu já-ser”). Ser-no-mundo, e não no ar, mas numa conjuntura. O ser humano como pura compreensão de ser. Um ser posto pra fora. Lançado(Dasein) significa ser o “aí” do ser, presença e abertura de ser ou estar voltado para o ser.
A compreensão do Ser-no-mundo nos leva à estrutura ontológica fundamental do Dasein. Toda a história da Metafísica considerou a diferença metafísica entre os entes. Fundacionismo como onto-teologia. Assim, não se pensa o ser em si mesmo. Fizeram do ser um ente. Deus não é um ser, porém um ente que contrapõe a outros entes.
Destarte, observamos que a desconstrução do ser feita por Heidegger constitui o pulsar de sua Filosofia ao afirmar que o ser é abertura e pura possibilidade de ser.
Ser pura possibilidade significa ser coisa alguma, nada. Pura nulidade. Por que ser possibilidade incomoda? Por que ser finitude incomoda? Se somos um conjunto de nossas possibilidades, e a mais radical e extrema é a morte, significa dizer que a morte é luz da compreensão de todas as totalidades. O ser pra morte constitui o guia de compreensão do ser. Antecipar-se à morte. Viver como mortal. Assumir-se como mortalidade já. Serenidade!
Dessa forma, pontua-se aqui o que é Análise da existência própria. Analisar os existenciais. Heidegger contrapõe os existenciais às categorias. Os existenciais são os modos possíveis de ser. A essência do homem consiste em não ter essência. A essência é o que já era ser para Aristóteles, equivalente aqui à idéia, “eidos”. Do ponto de vista da existência, a essência é pura possibilidade, pode ou não existe. A essência independe da existência.
O ser homem consiste em nunca ser. “Ek-sistencia” – ser pura compreensão do ser poder-ser, o ainda não-ser.

Jackislandy Meira de M. Silva, Professor e Filósofo.
[1] Cf. HEIDEGGER, Martin. Seminário de Zollikon. São Paulo: EDUC; Petrópolis, RJ: Vozes. 2001, p. 142-143.

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