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terça-feira, 20 de maio de 2014

ESPERANÇA DO MUNDO por Luiz Felipe Pondé

"Nunca confiei na felicidade", diz o personagem de Robert Duvall no filme "Tender Mercies" ("A Força do Carinho", título brasileiro bem infeliz para o filme), papel com o qual ganhou o Oscar de melhor ator em 1983. O filme narra a derrocada de um cantor de música country e sua sofrida redenção, graças ao amor e generosidade de uma mulher. 
No filme, salta aos olhos o deserto do Texas, a solidão de todas as planícies e a total ausência de qualquer metafísica barata, coisa comum hoje no cinema, seja ela moral, psicológica, ambiental ou política. O homem e a mulher são seres abandonados no mundo e devem cuidar de suas vidas porque ninguém mais o fará. 
Aliás, por falar em metafísica, a pior é a política. Mas da política trato apenas por obrigação profissional, porque, como diz Albert Camus nos seus "Cadernos" (o primeiro tem como título "Esperança do Mundo"), ouvindo aqueles que se dedicam à política, podemos apenas concluir que as pessoas se importam pouco com esta parte das suas vidas, uma vez que todos na política mentem.
Acrescentaria, além dos políticos profissionais, os intelectuais que a ela se voltam como redenção do mundo e forma de obrigar os outros a viverem de acordo com os delírios que alimentam em seus gabinetes. 
Enfim, no fundo, a política pouco me interessa. Trato-a assim como quem deve cuidar de uma ferida --do contrário ela se infectará. 
Noutro filme, "Alabama Monroe" (2012), do diretor Felix van Groeningen, a personagem feminina Elise, interpretada por Veerle Baetens, diz algo semelhante ao final: "Sempre soube que tudo aquilo não podia durar, porque a felicidade sempre acaba". Referia-se ela ao amor por seu marido Didier e pela pequena filha morta. 
Sinto-me em casa quando ouço pessoas dizerem coisas assim. Pois se existem apenas "três ou quatro atitudes diante do mundo", como dizia em seu "Breviário da Decomposição" Emil Cioran, filósofo romeno indispensável para quem suspeita que os trágicos gregos são quem tem razão na filosofia, esta é a minha. E seguramente a dele. E também a de Camus. 
Na mesma obra, Cioran faz um diagnóstico preciso: "A obsessão pelos remédios marca o fim de uma civilização, e, pela salvação, o fim da filosofia". Por isso ele afirma que desistiu da filosofia quando viu que em Kant não havia nenhuma tristeza. Os filósofos, diz Cioran, quase todos acabam bem, prova máxima contra a honestidade deles. 
Sempre sinto um cheiro de mesquinharia quando ouço alguém falar de uma nova dieta. A vida, talvez seja esta sua maior tragédia, se apequena quando não é de algum modo dada em sacrifício. Talvez seja isso que o cristianismo queira dizer quando afirma que só quando se perde a vida se ganha a vida. E não há saída: somos a civilização da mesquinharia. Até Cristo deve ser saudável. 
Sei que Camus considerava o suicídio o único problema filosófico ("O Mito de Sísifo"). E sei também que ele considerava um milagre um momento em que não tivesse que falar de si mesmo (caderno "Esperança do Mundo"). Detalhe: Camus usa expressões como "milagre", conhecia bem teólogos como Blaise Pascal e conceitos como o de "graça", citando-os com precisão. 
Mas eu suspeito que um dos maiores problemas da filosofia, e certamente um dos maiores milagres na vida, para quem tem um temperamento que desconfia da felicidade (trágico), é justamente o problema que Camus diz "ser um bom título": a esperança do mundo. 
Como ter esperança no mundo sem ter que abdicar da capacidade de vê-lo tal como é? Por isso, sinto um halo de graça quando vejo a esperança visitar o mundo. Afora as ilusões, só a generosidade é capaz de acolher a esperança. 
Talvez o próprio Camus dê uma pista neste "Caderno", sendo ele um filósofo, e sabendo, como nós todos, que nós filósofos sofremos da vaidade intelectual como pecado capital. Camus diz que "a obsessão em ter razão é a marca suprema de uma inteligência grosseira". Portanto, talvez, a humildade, virtude capital para Camus, seja a esperança para a filosofia. Ou, como dizia Santo Agostinho, o que falta ao filósofo é chorar.

Autoria de Luiz Felipe Pondé, filósofo e colunista da Folha de SP

Fonte: http://zelmar.blogspot.com.br/2014/05/esperanca-do-mundo.html

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Incapaz de viver o que sabe ser certo


(imagem: Medéia de Paul Cézanne)

             Eis aí a incapacidade que parece atormentar a todos; viver o que se sabe certo. Mas o que seria o certo pra você? Longe de mim, aqui, querer advogar o politicamente correto, no entanto cabe a todos uma tomada de consciência a partir do ponto gerador de atitudes, de ação, de vida. Que princípios seguimos para agir? Ou seguimos certos códigos de ética construídos por nós mesmos ou vivemos involuntariamente, alheios a qualquer tipo de obediência e dever.
 Segundo Kant, pensador do séc. XVIII, duas coisas lhe causavam bastante espanto, como bem confessou o filósofo: “o céu estrelado fora de mim e a lei moral dentro de mim”. Ele admitia uma verdade subjetiva que possibilitava o indivíduo construir seus próprios valores e conceitos para viver. Sendo assim, o clichê: “o que é certo pra mim não é certo pra você” ganha, à luz da filosofia kantiana, um status aceitável e discutível é claro. A partir disso, as sociedades com seus cidadãos tiveram a imensa liberdade para construir seus sistemas, leis e constituições conforme as diferentes tradições, crenças e valores.
Só que Kant e muitos de nós nos esquecemos de combinar tudo isso com a nossa condição humana. Os indivíduos não são programáticos nem pragmáticos, mas imprevisíveis e inconstantes, instáveis, humanos. Há uma espada da condição humana que transpassa a nossa alma, atravessando-nos totalmente.  A nossa humanidade não dá saltos, ela é o que é. Não somos nem bichos nem deuses, mas humanos. Aí está uma verdade que demoramos para aceitar, tanto é que é preciso muitas atrocidades acontecerem para que tomemos um choque de realidade.
O caso do padrasto e da mãe do garoto Joaquim Ponte Marques que abalou o Brasil com contornos de crueldade ao mostrar que a criança havia sido morta antes de ser jogada ao rio e de ser encontrada depois de seis dias de desaparecida. Uma psicóloga ouviu o padrasto e percebeu que ele tinha ciúmes da criança. As suspeitas de sua morte apontam o padrasto e a mãe que estão presos. Vontades e os desejos mais perversos nos incapacitam de viver conforme sabemos o que é certo. Essa é a tragédia humana. O que dizer do fato do auditor fiscal Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, no programa Fantástico da Globo, de domingo 24/11, haver confessado publicamente que, entre jantar, hotel e mulher, chegou a gastar R$ 8 mil, R$ 10 mil com dinheiro de corrupção.  Alexandre é um dos quatro auditores fiscais suspeitos de participar de um esquema de corrupção na prefeitura de São Paulo. É investigado por cobrar propina de construtoras para que elas pagassem menos ISS, o Imposto Sobre Serviço. A fraude pode chegar a R$ 500 milhões.
Vemos que os indivíduos são vítimas impotentes de seus desejos de prevaricação, de opressão do outro e de trazer danos sérios à administração pública. O impulso é o desejo ilimitado de “ter mais”: mais poder, mais riqueza, mais reconhecimento social. As contradições e males sociais provindos do ser humano entre o que é e o que deve ser são marcantes, de tal modo que estão profundamente enraizados na alma individual como dupla, dividida, dilacerada, fragmentada em seus múltiplos desejos.
Impossível não nos remetermos agora à literatura clássica, sobretudo ao célebre monólogo de Medéia (1078 – 80) em que emerge claramente uma nova compreensão de alma, de indivíduo, podendo ser chamada de “trágica”, ou seja, “dilacerada”, dividida entre desejos e vontades. Assim se expressou Eurípides em sua homônima tragédia: “um indivíduo incapaz de viver conforme o que sabe ser certo”.
Tal é a nossa alma. Em constante conflito entre o que se sabe e o que se faz. Tal é a condição humana, arrastando-nos para a morte, para o amor e para experiência trágica da vida, não menos trágica que as experiências de amor e morte. Portanto, fiquemos com o espírito de indignação de Medéia na obra de Eurípides: “Que não me caiba em sorte essa próspera vida de dor, nem essa felicidade, que dilacera o meu espírito!”. 

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bel. em Teologia, Licenciado em Filosofia/UERN, Esp. em Metafísica/UFRN e Esp. em Estudos Clássicos UnB/Archai/Unesco.

 

 

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Na crítica da razão prática, Kant é contundente...

O cristianismo como contraponto ao racionalismo de Kant.

Immanuel Kant é o interlocutor constituído pelo cristianismo, racionalismo moderno e contemporâneo. No ponto alto da modernidade, ele é o mediador entre as duas vozes, a voz do cristianismo e a voz da razão.

Segundo Kant e o Iluminismo, a razão humana é o tribunal para julgar todas as coisas. Na Crítica da Razão Pura, Kant identifica na subjetividade do homem o elemento que organiza a experiência humana. Sem a atividade do sujeito não existe experiência inteligível, mas simplesmente um amontoado de coisas desarrumadas, um caos. Porém, quando o sujeito entra no negócio, as coisas passam a ter sentido e tudo fica arrumado no mundo. É impossível conceber o mundo sem a atividade da razão.

Para Kant, as formas “a priori” da sensibilidade e do intelecto organizam toda a experiência humana. Por meio da razão pura, o homem não pode chegar a Deus porque a esta realidade que é Deus, segundo Kant, faltaria o elemento sensível. Portanto, a razão não pode agir e se encontra numa grande “aporia”. O caminho a Deus, segundo Kant não é teorético porque a razão pura

não pode chegar a Ele. A Deus, segundo Kant, se chega por meio da Razão prática. Deus é um dos três postulados que tornam possível a moralidade(os outros postulados são liberdade e imortalidade da alma). Para Kant, a Religião tem valor como exigência de uma vida moral que seja racional. A razão é essa exigência de totalidade que abre ao ente superior que daria a recompensa da felicidade àqueles que praticam a virtude. Kant escreve uma outra obra chamada a “Religião nos limites da pura Razão” de 1794, nesta obra afirma que a existência de Deus se pode aceitar somente à luz da Razão prática; Se comparada com a Razão prática não supera a prova, esta Religião não pode ser racionalmente acolhida. A Razão prática é o critério de juízo sobre a validade de qualquer religião. Entre todas as religiões, aquela que mais realiza as exigências da razão prática é o Cristianismo.

Razão prática – moral.

Cristo – Cristianismo.

Graça – Filho de Deus – Revelação – Milagres – Sobrenatural.

O cristianismo, com efeito, tem uma moral, mas não se reduz a uma moral. Ele é definido como maior que a moralidade. É definido pela erupção da graça sobrenatural na história do homem através de Jesus Cristo; é definido pela Revelação. Kant reduz o cristianismo ao seu aspecto moral, eliminando toda a dimensão especificamente ligada a graça e a revelação. Esta operação se chama reducionismo. O cristianismo reduzido aquilo que concorda com o esquema da pura razão humana. Este reducionismo é ilegítimo não porque é contrário a fé, mas em primeiro lugar porque é contrário a natureza da razão. Com efeito, a razão não é um esquema fechado que se aplica a realidade, ela é algo que me faz conhecer o real, é um instrumento aberto que me permite dar conta daquilo que existe. A razão como “medida de todas as coisas” e como “tribunal” é de fato um preconceito: o preconceito racionalista. A razão determina e define as características de Deus; o que Deus pode fazer e o que Ele não pode fazer. A razão, de fato, não nega a realidade de Deus. A razão kantiana é um preconceito racionalístico porque define “a priori” o fato que Deus não possa revelar-se de uma forma surpreendente e maior que os simples elementos da razão prática.

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva.

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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A Religião no dizer de Immanuel Kant...



Kant, já conhecido por nós aqui no blog, fora matéria de discussões em temas passados, filosoficamente, traz para toda a modernidade e atualidade uma reflexão elaborada na fenomenologia – “Corrente filosófica fundada por E. Husserl, visando estabelecer um método de fundamentação da ciência e de constituição da Filosofia como ciência rigorosa. O projeto fenomenológico se define como uma volta às coisas mesmas, isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à consciência, que se dá como seu objeto intencional”(JAPIASSÚ e MARCONDES. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1996. p.102) – afirmando que é impossível chegarmos a um conhecimento racional e concreto da coisa em si, mas somente daquilo que nos aparece. Com isso, Kant se impulsiona rumo ao aspecto das aparências, do como as coisas, suas realidades se mostram para nós e de como as percebemos realmente. Para ele, assim como a Física, a Metafísica e a Matemática têm seus estudos específicos e particulares, a Religião não terá esse privilégio, essa particularidade na rigidez da análise.
Porém, a Religião não passa despercebida e assume um papel totalmente moral e prático, é o dever identificado, como se fossem deveres religiosos, isto é, é a virtude moral quer fossem deveres religiosos. Deus existe na medida em que vivo sem condicionamentos ou com menos condicionamentos de acordo com minhas possibilidades éticas. A existência de Deus, para Kant, assume uma conecção entre minhas virtudes morais, comportamentais e minha própria felicidade, pois a felicidade começa no momento existencial e fenomênico em que o homem se utiliza de sua liberdade consciente e vital. Portanto, a Religião para ele seria essa conecção entre Deus e o eu interno e consciente em aderir determinada prática moral.
Um especialista em religiões, Mircea Eliade, competente na área, em seu livro “O Sagrado e o Profano”, vai de encontro a Kant afirmando que a Religião não deve assumir somente seu lado interno e moral, mas também ritual com detalhes sacramentais, litúrgicos, cúlticos para demonstrar existencialmente este sentimento religioso. É óbvio que isso não deve ser feito aleatoriamente ou rotineiramente, mas sempre buscando os sentidos primitivos de tempo e do próprio lugar onde se realiza tal rito, tal costume. As nossas expressões rituais não devem ter um sentido de promoção profissional e nem tampouco o de “status”, mas de crescimento espiritual e de comunhão ardente com Deus.
Kant tem uma cabeça pensante bastante ventilada pela busca de explicações filosóficas dos fenômenos no em torno de si. Leva isso a cabo. Sem dúvida contribuiu para uma tomada de posição acerca do aspecto religioso em diversas culturas ou em vários grupos, tidos como religiosos.
Mircea Eliade é um autor que se apropriou muitíssimo bem de todas as manifestações religiosas, de crenças multiformes, cheias de valores diferentes, porém respeitados e cultuados pelos povos tradicionais e atuais. Ele faz um apanhado histórico sobre as culturas religiosas e as traz para o comportamento fenomenológico das civilizações atuais ou consideradas como tais.

Jackislandy Meira de Medeiros Silva.
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quinta-feira, 22 de maio de 2008

KANT E A CRÍTICA DO JUÍZO ESTÉTICO



Cabe-nos aqui, num excurso de três ou mais textos que se seguirão, tentar perceber a filigrana da abrangência filosófico-estética de Kant, que começa distinguindo a base lógica do juízo estético da base lógica dos juízos sobre outras fontes de prazer e da base dos juízos de utilidade e de bondade.
A Filosofia de Kant possibilitará, vias estéticas, uma nova compreensão teórica do belo, atribuindo horizontes para a reformulação do problema das relações entre arte e realidade. Alguns dados a respeito dessa filosofia são indispensáveis para apresentarmos as concepções estéticas que direta ou indiretamente a ela se filiam.




KANT E A CRÍTICA DO JUÍZO ESTÉTICO

A crítica do juízo é talvez a obra que exerceu maior influência no mundo da cultura e imediatamente posterior a Kant.
Na crítica do juízo, elaborada em 1790, Kant se ocupa, em primeiro lugar, do julgamento estético, expressando de maneira lógica muitas das idéias e doutrinas dos estetas ingleses do séc XVIII e modelando-as dentro de um sistema coerente.
O seu escopo principal é estudar como são possíveis juízos estéticos universalmente válidos, mas ela tem também outro escopo, e muito importante: estabelecer uma ligação entre a razão pura e razão prática. Vimos que a crítica da razão pura concluiu que verdadeira ciência só é possível no mundo sensível, fonomênico; a Crítica da razão prática revelou-nos, por outro lado, a assistência no mundo numênico, de um reino de liberdade, subtraído ao determinismo dos fenômenos físicos; logo, não fenomênico. Mas há uma separação entre os dois mundos, e não existe passagem de um lado para o outro.
Assim, “(...) conformando-se ao conhecimento de um objeto possível, a Arte cumpre somente as operações necessárias para realizá-lo, diz-se que ela é a Arte mecânica; se, porém, tem por fim imediato o sentimento do prazer, é a Arte estética. Esta é a Arte aprazível ou bela. Arte é aprazível quando sua finalidade é fazer que o prazer acompanhe as representações enquanto simples sensações; é bela quando o seu fim é conjugar o prazer às representações como forma de conhecimento”(In ABBAGNANO, 2000, p. 82. Cf. Crítica do Juízo, § 44)

Em virtude disso, o conceito de natureza pode, sem dúvida, representar os seus objetos na intuição, não como coisa em si, mas como fenômeno; o conceito de liberdade pode representar o seu objeto como coisa em si, mas não na intuição; conseqüentemente nenhum dos dois pode oferecer um conhecimento teorético do seu objeto ( nenhum do sujeito pensante) como coisa em si.
Ao fim das duas primeiras Críticas, entra-se em contato, mas em contato cego, com o inteligível por meio da lei moral. O inteligível não é intuído nem visto; por outro lado, aquilo que se intui, aquilo que se tem ciência, é apenas sensível, apenas fenômeno, não realidade em si. E, no entanto, afirma Kant, apesar da separação, o mundo inteligível deve exercer influência sobre o sensível, porque a liberdade deve poder atuar no mundo sensível. Como é isto possível?
O intermediário entre a razão, que tem apenas função prática, e o sentimento, a terceira faculdade espiritual do homem, cuja atividade consiste em emitir juízos estéticos.
Portanto, juízo estético é uma intuição do inteligível, do reino dos fins, do Absoluto, de Deus, no sensível, não uma intuição objetiva, mas subjetiva.

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.

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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Todos somos chamados a ser filósofos... Aceite o convite!


Como podemos pretender, enquanto cristãos, possuir uma verdade última sobre o homem e sua finalidade e, ao mesmo tempo, buscar a verdade, o sentido da vida humana, também como filósofo?
Não confundir em nossa discussão os níveis filosófico e teológico. Por ora, tentemos somente ser filósofos. O convite se dirige a todos os filósofos e não-filósofos, disse uma vez um poeta francês Pèguy. Até porque o filósofo é aquele que luta contra todos os a priori, isto é, contra todos os “pré-conceitos”, uma vez que a Filosofia implica numa purificação – ascese da inteligência.
Se eu quero falar da visão beatífica, eu posso perguntar se a fé me é necessária. Isso é o que Tomás de Aquino quer dizer: “Se eu quero falar do homem eu tenho que saber o que é o homem”. Além disso, posso buscar na fé algo mais, algo que poderá me ajudar no esclarecimento do homem sobre a fé. A fé nos traz certezas, mas essas certezas não são evidências, e se não são evidências eu creio nelas, eu adiro a elas na obscuridade. Estou cercado de obscuridade no momento em que busco respostas na fé. No mundo terreno, a certeza da fé é obscura.
Tudo o que a nossa inteligência descobrir por si mesma, ela deve descobrir por si própria. A gente pode se interrogar diante das Escrituras sobre antropologia do homem nas Sagradas Escrituras. Existem níveis diferentes no processo do conhecimento, assim como um vôo do avião que durante o percurso faz diversas manobras variando níveis de subida e descida. Percebemos que há diversos níveis, mas vamos ser, agora, filósofos. Não que queiramos descer de nível, porém subir em busca da verdade. Segundo Pèguy, há pessoas que descem ao rio e há pessoas que remontam à fonte, há duas espécies de pessoas.
Agostinho nos propunha que é preciso amar perdidamente a verdade, não para possuir a verdade, mas para servir a verdade. Ser possuído pela verdade. O filósofo é aquele que serve e que luta contra todos os seus a priori. Eis, com isso, o itinerário do filósofo. Ver as coisas, tudo, pela primeira vez, como se fosse uma criança. Eu vejo o que você não vê. “O pintor é aquele que procura tornar visível o invisível”(Pintor Klee)... É você ver uma maçã como se nunca tivesse visto. Não é ter o olhar segundo, e sim o olhar primeiro.
Para sintetizar, não sei se me faço entender, mas aquelas três perguntas de Kant postas em sua Filosofia; Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar?... Chegam até nós, hoje, motivando-nos a descobrir o sentido da vida, porque essas perguntas evidenciam a amplitude do estudo da Filosofia, pois esse estudo é mais do que qualquer ciência. Nenhuma ciência é capaz de questionar desta maneira e de respondê-las. Somente pela reflexão filosófica.

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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terça-feira, 3 de julho de 2007

Tomada de Reflexão Filosófica.

O Professor Dr. Markus Figueira da Silva, do núcleo de Pós-Graduação em Filosofia Metafísica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, numa de suas aulas, mencionou a Antropofagia Metafísica de Oswald de Andrade, organizador da Semana de Arte Moderna de 1922, que não é a fome essa necessidade física de levá-lo a comer alguém ou outra coisa(canibalismo), mas a força ou o poder de superação da força do outro, caracterizando assim, a Metafísica verdadeira do antropófago. A força é que é a comida de fato. É a afirmação, mas não a negação de alguém que lhe motiva a participar da alegria do outro, pois é afirmando o outro que afirmo a mim mesmo. Superando-me, supero o outro que também se supera. Crescendo, faço crescer o outro. Enriquecendo-me, enriqueço também o outro e assim por diante, como numa relação positiva de forças para o progresso saudável da ciência e da humanidade, lembrando nesse caso o próprio Immanuel Kant em A paz perpétua, ou ainda, para o desenvolvimento das potencialidades humanas. Salvaguardando a idéia de que toda competitividade é sadia desde que esteja orientada sob essa perspectiva.
Nesse aspecto, pode-se muito bem fazer uma analogia com Nietzsche em relação ao Super-homem que é a superação pela afirmação da vitória do outro, tornando evidente para nós a figura poderosa do Super-homem, não provocando, de modo algum, indignação, blefes e ressentimentos. Pois, de certa forma, é uma contribuição louvável de Oswald de Andrade para o aprimoramento dessas idéias filosóficas que retira o homem da inércia ou de uma vida sem sentido, dando-lhe apoderamento de si mesmo, consciência de sua força para superar as próprias limitações. Seria uma espécie de se auto-apoderar para o desenvolvimento de si mesmo.
Com esse pano de fundo teórico filosófico, vamos deslumbrar algumas passagens do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade:
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz...
Tupi, or not tupi that is the question ...
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago...
Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar...
Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos...
Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe: ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia...
Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia...
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses...
Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro...
Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da POSSIBILIDADE. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comia...
Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso?
A alegria é a prova dos nove...
Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo – a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos....
Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud...
Jackislandy Meira de Medeiros Silva, Professor e filósofo.

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terça-feira, 20 de maio de 2014

ESPERANÇA DO MUNDO por Luiz Felipe Pondé

"Nunca confiei na felicidade", diz o personagem de Robert Duvall no filme "Tender Mercies" ("A Força do Carinho", título brasileiro bem infeliz para o filme), papel com o qual ganhou o Oscar de melhor ator em 1983. O filme narra a derrocada de um cantor de música country e sua sofrida redenção, graças ao amor e generosidade de uma mulher. 
No filme, salta aos olhos o deserto do Texas, a solidão de todas as planícies e a total ausência de qualquer metafísica barata, coisa comum hoje no cinema, seja ela moral, psicológica, ambiental ou política. O homem e a mulher são seres abandonados no mundo e devem cuidar de suas vidas porque ninguém mais o fará. 
Aliás, por falar em metafísica, a pior é a política. Mas da política trato apenas por obrigação profissional, porque, como diz Albert Camus nos seus "Cadernos" (o primeiro tem como título "Esperança do Mundo"), ouvindo aqueles que se dedicam à política, podemos apenas concluir que as pessoas se importam pouco com esta parte das suas vidas, uma vez que todos na política mentem.
Acrescentaria, além dos políticos profissionais, os intelectuais que a ela se voltam como redenção do mundo e forma de obrigar os outros a viverem de acordo com os delírios que alimentam em seus gabinetes. 
Enfim, no fundo, a política pouco me interessa. Trato-a assim como quem deve cuidar de uma ferida --do contrário ela se infectará. 
Noutro filme, "Alabama Monroe" (2012), do diretor Felix van Groeningen, a personagem feminina Elise, interpretada por Veerle Baetens, diz algo semelhante ao final: "Sempre soube que tudo aquilo não podia durar, porque a felicidade sempre acaba". Referia-se ela ao amor por seu marido Didier e pela pequena filha morta. 
Sinto-me em casa quando ouço pessoas dizerem coisas assim. Pois se existem apenas "três ou quatro atitudes diante do mundo", como dizia em seu "Breviário da Decomposição" Emil Cioran, filósofo romeno indispensável para quem suspeita que os trágicos gregos são quem tem razão na filosofia, esta é a minha. E seguramente a dele. E também a de Camus. 
Na mesma obra, Cioran faz um diagnóstico preciso: "A obsessão pelos remédios marca o fim de uma civilização, e, pela salvação, o fim da filosofia". Por isso ele afirma que desistiu da filosofia quando viu que em Kant não havia nenhuma tristeza. Os filósofos, diz Cioran, quase todos acabam bem, prova máxima contra a honestidade deles. 
Sempre sinto um cheiro de mesquinharia quando ouço alguém falar de uma nova dieta. A vida, talvez seja esta sua maior tragédia, se apequena quando não é de algum modo dada em sacrifício. Talvez seja isso que o cristianismo queira dizer quando afirma que só quando se perde a vida se ganha a vida. E não há saída: somos a civilização da mesquinharia. Até Cristo deve ser saudável. 
Sei que Camus considerava o suicídio o único problema filosófico ("O Mito de Sísifo"). E sei também que ele considerava um milagre um momento em que não tivesse que falar de si mesmo (caderno "Esperança do Mundo"). Detalhe: Camus usa expressões como "milagre", conhecia bem teólogos como Blaise Pascal e conceitos como o de "graça", citando-os com precisão. 
Mas eu suspeito que um dos maiores problemas da filosofia, e certamente um dos maiores milagres na vida, para quem tem um temperamento que desconfia da felicidade (trágico), é justamente o problema que Camus diz "ser um bom título": a esperança do mundo. 
Como ter esperança no mundo sem ter que abdicar da capacidade de vê-lo tal como é? Por isso, sinto um halo de graça quando vejo a esperança visitar o mundo. Afora as ilusões, só a generosidade é capaz de acolher a esperança. 
Talvez o próprio Camus dê uma pista neste "Caderno", sendo ele um filósofo, e sabendo, como nós todos, que nós filósofos sofremos da vaidade intelectual como pecado capital. Camus diz que "a obsessão em ter razão é a marca suprema de uma inteligência grosseira". Portanto, talvez, a humildade, virtude capital para Camus, seja a esperança para a filosofia. Ou, como dizia Santo Agostinho, o que falta ao filósofo é chorar.

Autoria de Luiz Felipe Pondé, filósofo e colunista da Folha de SP

Fonte: http://zelmar.blogspot.com.br/2014/05/esperanca-do-mundo.html

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Incapaz de viver o que sabe ser certo


(imagem: Medéia de Paul Cézanne)

             Eis aí a incapacidade que parece atormentar a todos; viver o que se sabe certo. Mas o que seria o certo pra você? Longe de mim, aqui, querer advogar o politicamente correto, no entanto cabe a todos uma tomada de consciência a partir do ponto gerador de atitudes, de ação, de vida. Que princípios seguimos para agir? Ou seguimos certos códigos de ética construídos por nós mesmos ou vivemos involuntariamente, alheios a qualquer tipo de obediência e dever.
 Segundo Kant, pensador do séc. XVIII, duas coisas lhe causavam bastante espanto, como bem confessou o filósofo: “o céu estrelado fora de mim e a lei moral dentro de mim”. Ele admitia uma verdade subjetiva que possibilitava o indivíduo construir seus próprios valores e conceitos para viver. Sendo assim, o clichê: “o que é certo pra mim não é certo pra você” ganha, à luz da filosofia kantiana, um status aceitável e discutível é claro. A partir disso, as sociedades com seus cidadãos tiveram a imensa liberdade para construir seus sistemas, leis e constituições conforme as diferentes tradições, crenças e valores.
Só que Kant e muitos de nós nos esquecemos de combinar tudo isso com a nossa condição humana. Os indivíduos não são programáticos nem pragmáticos, mas imprevisíveis e inconstantes, instáveis, humanos. Há uma espada da condição humana que transpassa a nossa alma, atravessando-nos totalmente.  A nossa humanidade não dá saltos, ela é o que é. Não somos nem bichos nem deuses, mas humanos. Aí está uma verdade que demoramos para aceitar, tanto é que é preciso muitas atrocidades acontecerem para que tomemos um choque de realidade.
O caso do padrasto e da mãe do garoto Joaquim Ponte Marques que abalou o Brasil com contornos de crueldade ao mostrar que a criança havia sido morta antes de ser jogada ao rio e de ser encontrada depois de seis dias de desaparecida. Uma psicóloga ouviu o padrasto e percebeu que ele tinha ciúmes da criança. As suspeitas de sua morte apontam o padrasto e a mãe que estão presos. Vontades e os desejos mais perversos nos incapacitam de viver conforme sabemos o que é certo. Essa é a tragédia humana. O que dizer do fato do auditor fiscal Luís Alexandre Cardoso de Magalhães, no programa Fantástico da Globo, de domingo 24/11, haver confessado publicamente que, entre jantar, hotel e mulher, chegou a gastar R$ 8 mil, R$ 10 mil com dinheiro de corrupção.  Alexandre é um dos quatro auditores fiscais suspeitos de participar de um esquema de corrupção na prefeitura de São Paulo. É investigado por cobrar propina de construtoras para que elas pagassem menos ISS, o Imposto Sobre Serviço. A fraude pode chegar a R$ 500 milhões.
Vemos que os indivíduos são vítimas impotentes de seus desejos de prevaricação, de opressão do outro e de trazer danos sérios à administração pública. O impulso é o desejo ilimitado de “ter mais”: mais poder, mais riqueza, mais reconhecimento social. As contradições e males sociais provindos do ser humano entre o que é e o que deve ser são marcantes, de tal modo que estão profundamente enraizados na alma individual como dupla, dividida, dilacerada, fragmentada em seus múltiplos desejos.
Impossível não nos remetermos agora à literatura clássica, sobretudo ao célebre monólogo de Medéia (1078 – 80) em que emerge claramente uma nova compreensão de alma, de indivíduo, podendo ser chamada de “trágica”, ou seja, “dilacerada”, dividida entre desejos e vontades. Assim se expressou Eurípides em sua homônima tragédia: “um indivíduo incapaz de viver conforme o que sabe ser certo”.
Tal é a nossa alma. Em constante conflito entre o que se sabe e o que se faz. Tal é a condição humana, arrastando-nos para a morte, para o amor e para experiência trágica da vida, não menos trágica que as experiências de amor e morte. Portanto, fiquemos com o espírito de indignação de Medéia na obra de Eurípides: “Que não me caiba em sorte essa próspera vida de dor, nem essa felicidade, que dilacera o meu espírito!”. 

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bel. em Teologia, Licenciado em Filosofia/UERN, Esp. em Metafísica/UFRN e Esp. em Estudos Clássicos UnB/Archai/Unesco.

 

 

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Na crítica da razão prática, Kant é contundente...

O cristianismo como contraponto ao racionalismo de Kant.

Immanuel Kant é o interlocutor constituído pelo cristianismo, racionalismo moderno e contemporâneo. No ponto alto da modernidade, ele é o mediador entre as duas vozes, a voz do cristianismo e a voz da razão.

Segundo Kant e o Iluminismo, a razão humana é o tribunal para julgar todas as coisas. Na Crítica da Razão Pura, Kant identifica na subjetividade do homem o elemento que organiza a experiência humana. Sem a atividade do sujeito não existe experiência inteligível, mas simplesmente um amontoado de coisas desarrumadas, um caos. Porém, quando o sujeito entra no negócio, as coisas passam a ter sentido e tudo fica arrumado no mundo. É impossível conceber o mundo sem a atividade da razão.

Para Kant, as formas “a priori” da sensibilidade e do intelecto organizam toda a experiência humana. Por meio da razão pura, o homem não pode chegar a Deus porque a esta realidade que é Deus, segundo Kant, faltaria o elemento sensível. Portanto, a razão não pode agir e se encontra numa grande “aporia”. O caminho a Deus, segundo Kant não é teorético porque a razão pura

não pode chegar a Ele. A Deus, segundo Kant, se chega por meio da Razão prática. Deus é um dos três postulados que tornam possível a moralidade(os outros postulados são liberdade e imortalidade da alma). Para Kant, a Religião tem valor como exigência de uma vida moral que seja racional. A razão é essa exigência de totalidade que abre ao ente superior que daria a recompensa da felicidade àqueles que praticam a virtude. Kant escreve uma outra obra chamada a “Religião nos limites da pura Razão” de 1794, nesta obra afirma que a existência de Deus se pode aceitar somente à luz da Razão prática; Se comparada com a Razão prática não supera a prova, esta Religião não pode ser racionalmente acolhida. A Razão prática é o critério de juízo sobre a validade de qualquer religião. Entre todas as religiões, aquela que mais realiza as exigências da razão prática é o Cristianismo.

Razão prática – moral.

Cristo – Cristianismo.

Graça – Filho de Deus – Revelação – Milagres – Sobrenatural.

O cristianismo, com efeito, tem uma moral, mas não se reduz a uma moral. Ele é definido como maior que a moralidade. É definido pela erupção da graça sobrenatural na história do homem através de Jesus Cristo; é definido pela Revelação. Kant reduz o cristianismo ao seu aspecto moral, eliminando toda a dimensão especificamente ligada a graça e a revelação. Esta operação se chama reducionismo. O cristianismo reduzido aquilo que concorda com o esquema da pura razão humana. Este reducionismo é ilegítimo não porque é contrário a fé, mas em primeiro lugar porque é contrário a natureza da razão. Com efeito, a razão não é um esquema fechado que se aplica a realidade, ela é algo que me faz conhecer o real, é um instrumento aberto que me permite dar conta daquilo que existe. A razão como “medida de todas as coisas” e como “tribunal” é de fato um preconceito: o preconceito racionalista. A razão determina e define as características de Deus; o que Deus pode fazer e o que Ele não pode fazer. A razão, de fato, não nega a realidade de Deus. A razão kantiana é um preconceito racionalístico porque define “a priori” o fato que Deus não possa revelar-se de uma forma surpreendente e maior que os simples elementos da razão prática.

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva.

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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A Religião no dizer de Immanuel Kant...



Kant, já conhecido por nós aqui no blog, fora matéria de discussões em temas passados, filosoficamente, traz para toda a modernidade e atualidade uma reflexão elaborada na fenomenologia – “Corrente filosófica fundada por E. Husserl, visando estabelecer um método de fundamentação da ciência e de constituição da Filosofia como ciência rigorosa. O projeto fenomenológico se define como uma volta às coisas mesmas, isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à consciência, que se dá como seu objeto intencional”(JAPIASSÚ e MARCONDES. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1996. p.102) – afirmando que é impossível chegarmos a um conhecimento racional e concreto da coisa em si, mas somente daquilo que nos aparece. Com isso, Kant se impulsiona rumo ao aspecto das aparências, do como as coisas, suas realidades se mostram para nós e de como as percebemos realmente. Para ele, assim como a Física, a Metafísica e a Matemática têm seus estudos específicos e particulares, a Religião não terá esse privilégio, essa particularidade na rigidez da análise.
Porém, a Religião não passa despercebida e assume um papel totalmente moral e prático, é o dever identificado, como se fossem deveres religiosos, isto é, é a virtude moral quer fossem deveres religiosos. Deus existe na medida em que vivo sem condicionamentos ou com menos condicionamentos de acordo com minhas possibilidades éticas. A existência de Deus, para Kant, assume uma conecção entre minhas virtudes morais, comportamentais e minha própria felicidade, pois a felicidade começa no momento existencial e fenomênico em que o homem se utiliza de sua liberdade consciente e vital. Portanto, a Religião para ele seria essa conecção entre Deus e o eu interno e consciente em aderir determinada prática moral.
Um especialista em religiões, Mircea Eliade, competente na área, em seu livro “O Sagrado e o Profano”, vai de encontro a Kant afirmando que a Religião não deve assumir somente seu lado interno e moral, mas também ritual com detalhes sacramentais, litúrgicos, cúlticos para demonstrar existencialmente este sentimento religioso. É óbvio que isso não deve ser feito aleatoriamente ou rotineiramente, mas sempre buscando os sentidos primitivos de tempo e do próprio lugar onde se realiza tal rito, tal costume. As nossas expressões rituais não devem ter um sentido de promoção profissional e nem tampouco o de “status”, mas de crescimento espiritual e de comunhão ardente com Deus.
Kant tem uma cabeça pensante bastante ventilada pela busca de explicações filosóficas dos fenômenos no em torno de si. Leva isso a cabo. Sem dúvida contribuiu para uma tomada de posição acerca do aspecto religioso em diversas culturas ou em vários grupos, tidos como religiosos.
Mircea Eliade é um autor que se apropriou muitíssimo bem de todas as manifestações religiosas, de crenças multiformes, cheias de valores diferentes, porém respeitados e cultuados pelos povos tradicionais e atuais. Ele faz um apanhado histórico sobre as culturas religiosas e as traz para o comportamento fenomenológico das civilizações atuais ou consideradas como tais.

Jackislandy Meira de Medeiros Silva.
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quinta-feira, 22 de maio de 2008

KANT E A CRÍTICA DO JUÍZO ESTÉTICO



Cabe-nos aqui, num excurso de três ou mais textos que se seguirão, tentar perceber a filigrana da abrangência filosófico-estética de Kant, que começa distinguindo a base lógica do juízo estético da base lógica dos juízos sobre outras fontes de prazer e da base dos juízos de utilidade e de bondade.
A Filosofia de Kant possibilitará, vias estéticas, uma nova compreensão teórica do belo, atribuindo horizontes para a reformulação do problema das relações entre arte e realidade. Alguns dados a respeito dessa filosofia são indispensáveis para apresentarmos as concepções estéticas que direta ou indiretamente a ela se filiam.




KANT E A CRÍTICA DO JUÍZO ESTÉTICO

A crítica do juízo é talvez a obra que exerceu maior influência no mundo da cultura e imediatamente posterior a Kant.
Na crítica do juízo, elaborada em 1790, Kant se ocupa, em primeiro lugar, do julgamento estético, expressando de maneira lógica muitas das idéias e doutrinas dos estetas ingleses do séc XVIII e modelando-as dentro de um sistema coerente.
O seu escopo principal é estudar como são possíveis juízos estéticos universalmente válidos, mas ela tem também outro escopo, e muito importante: estabelecer uma ligação entre a razão pura e razão prática. Vimos que a crítica da razão pura concluiu que verdadeira ciência só é possível no mundo sensível, fonomênico; a Crítica da razão prática revelou-nos, por outro lado, a assistência no mundo numênico, de um reino de liberdade, subtraído ao determinismo dos fenômenos físicos; logo, não fenomênico. Mas há uma separação entre os dois mundos, e não existe passagem de um lado para o outro.
Assim, “(...) conformando-se ao conhecimento de um objeto possível, a Arte cumpre somente as operações necessárias para realizá-lo, diz-se que ela é a Arte mecânica; se, porém, tem por fim imediato o sentimento do prazer, é a Arte estética. Esta é a Arte aprazível ou bela. Arte é aprazível quando sua finalidade é fazer que o prazer acompanhe as representações enquanto simples sensações; é bela quando o seu fim é conjugar o prazer às representações como forma de conhecimento”(In ABBAGNANO, 2000, p. 82. Cf. Crítica do Juízo, § 44)

Em virtude disso, o conceito de natureza pode, sem dúvida, representar os seus objetos na intuição, não como coisa em si, mas como fenômeno; o conceito de liberdade pode representar o seu objeto como coisa em si, mas não na intuição; conseqüentemente nenhum dos dois pode oferecer um conhecimento teorético do seu objeto ( nenhum do sujeito pensante) como coisa em si.
Ao fim das duas primeiras Críticas, entra-se em contato, mas em contato cego, com o inteligível por meio da lei moral. O inteligível não é intuído nem visto; por outro lado, aquilo que se intui, aquilo que se tem ciência, é apenas sensível, apenas fenômeno, não realidade em si. E, no entanto, afirma Kant, apesar da separação, o mundo inteligível deve exercer influência sobre o sensível, porque a liberdade deve poder atuar no mundo sensível. Como é isto possível?
O intermediário entre a razão, que tem apenas função prática, e o sentimento, a terceira faculdade espiritual do homem, cuja atividade consiste em emitir juízos estéticos.
Portanto, juízo estético é uma intuição do inteligível, do reino dos fins, do Absoluto, de Deus, no sensível, não uma intuição objetiva, mas subjetiva.

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.

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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Todos somos chamados a ser filósofos... Aceite o convite!


Como podemos pretender, enquanto cristãos, possuir uma verdade última sobre o homem e sua finalidade e, ao mesmo tempo, buscar a verdade, o sentido da vida humana, também como filósofo?
Não confundir em nossa discussão os níveis filosófico e teológico. Por ora, tentemos somente ser filósofos. O convite se dirige a todos os filósofos e não-filósofos, disse uma vez um poeta francês Pèguy. Até porque o filósofo é aquele que luta contra todos os a priori, isto é, contra todos os “pré-conceitos”, uma vez que a Filosofia implica numa purificação – ascese da inteligência.
Se eu quero falar da visão beatífica, eu posso perguntar se a fé me é necessária. Isso é o que Tomás de Aquino quer dizer: “Se eu quero falar do homem eu tenho que saber o que é o homem”. Além disso, posso buscar na fé algo mais, algo que poderá me ajudar no esclarecimento do homem sobre a fé. A fé nos traz certezas, mas essas certezas não são evidências, e se não são evidências eu creio nelas, eu adiro a elas na obscuridade. Estou cercado de obscuridade no momento em que busco respostas na fé. No mundo terreno, a certeza da fé é obscura.
Tudo o que a nossa inteligência descobrir por si mesma, ela deve descobrir por si própria. A gente pode se interrogar diante das Escrituras sobre antropologia do homem nas Sagradas Escrituras. Existem níveis diferentes no processo do conhecimento, assim como um vôo do avião que durante o percurso faz diversas manobras variando níveis de subida e descida. Percebemos que há diversos níveis, mas vamos ser, agora, filósofos. Não que queiramos descer de nível, porém subir em busca da verdade. Segundo Pèguy, há pessoas que descem ao rio e há pessoas que remontam à fonte, há duas espécies de pessoas.
Agostinho nos propunha que é preciso amar perdidamente a verdade, não para possuir a verdade, mas para servir a verdade. Ser possuído pela verdade. O filósofo é aquele que serve e que luta contra todos os seus a priori. Eis, com isso, o itinerário do filósofo. Ver as coisas, tudo, pela primeira vez, como se fosse uma criança. Eu vejo o que você não vê. “O pintor é aquele que procura tornar visível o invisível”(Pintor Klee)... É você ver uma maçã como se nunca tivesse visto. Não é ter o olhar segundo, e sim o olhar primeiro.
Para sintetizar, não sei se me faço entender, mas aquelas três perguntas de Kant postas em sua Filosofia; Que posso saber? Que devo fazer? Que posso esperar?... Chegam até nós, hoje, motivando-nos a descobrir o sentido da vida, porque essas perguntas evidenciam a amplitude do estudo da Filosofia, pois esse estudo é mais do que qualquer ciência. Nenhuma ciência é capaz de questionar desta maneira e de respondê-las. Somente pela reflexão filosófica.

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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terça-feira, 3 de julho de 2007

Tomada de Reflexão Filosófica.

O Professor Dr. Markus Figueira da Silva, do núcleo de Pós-Graduação em Filosofia Metafísica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, numa de suas aulas, mencionou a Antropofagia Metafísica de Oswald de Andrade, organizador da Semana de Arte Moderna de 1922, que não é a fome essa necessidade física de levá-lo a comer alguém ou outra coisa(canibalismo), mas a força ou o poder de superação da força do outro, caracterizando assim, a Metafísica verdadeira do antropófago. A força é que é a comida de fato. É a afirmação, mas não a negação de alguém que lhe motiva a participar da alegria do outro, pois é afirmando o outro que afirmo a mim mesmo. Superando-me, supero o outro que também se supera. Crescendo, faço crescer o outro. Enriquecendo-me, enriqueço também o outro e assim por diante, como numa relação positiva de forças para o progresso saudável da ciência e da humanidade, lembrando nesse caso o próprio Immanuel Kant em A paz perpétua, ou ainda, para o desenvolvimento das potencialidades humanas. Salvaguardando a idéia de que toda competitividade é sadia desde que esteja orientada sob essa perspectiva.
Nesse aspecto, pode-se muito bem fazer uma analogia com Nietzsche em relação ao Super-homem que é a superação pela afirmação da vitória do outro, tornando evidente para nós a figura poderosa do Super-homem, não provocando, de modo algum, indignação, blefes e ressentimentos. Pois, de certa forma, é uma contribuição louvável de Oswald de Andrade para o aprimoramento dessas idéias filosóficas que retira o homem da inércia ou de uma vida sem sentido, dando-lhe apoderamento de si mesmo, consciência de sua força para superar as próprias limitações. Seria uma espécie de se auto-apoderar para o desenvolvimento de si mesmo.
Com esse pano de fundo teórico filosófico, vamos deslumbrar algumas passagens do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade:
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz...
Tupi, or not tupi that is the question ...
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago...
Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar...
Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos...
Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe: ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia...
Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia...
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses...
Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro...
Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da POSSIBILIDADE. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comia...
Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso?
A alegria é a prova dos nove...
Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo – a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos....
Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud...
Jackislandy Meira de Medeiros Silva, Professor e filósofo.

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