"Essa concepção, de que só pode ser livre quem está disposto a arriscar sua vida, nunca mais desapareceu de todo de nossa consciência; o mesmo vale para a ligação entre a coisa política e perigo e risco. A coragem é a mais antiga das virtudes políticas e ainda hoje pertence às poucas virtudes cardeais da política, porque só podemos chegar no mundo público comum a todos nós — que, no fundo, é o espaço político — se nos distanciarmos de nossa existência privada e da conexão familiar com a qual nossa vida está ligada. Aliás, o espaço no qual entravam aqueles que ousavam ultrapassar a soleira da casa já deixou de ser, em nossa época, um âmbito de grandes empreendimentos e aventuras, no qual o homem só podia entrar e no qual só podia esperar sair vitorioso se se ligasse a outros que eram seus iguais. Além disso, é verdade que surge no mundo aberto para os corajosos, os aventureiros e os ávidos por empreendimento uma espécie de espaço público, mas ainda não-político no verdadeiro sentido. Torna-se público esse espaço no qual avançam os ávidos por façanhas, porque eles estão entre seus iguais e se podem conceder aquele ver, ouvir e admirar o feito, cuja tradição vai fazer com que o poeta e o contador de histórias mais tarde possam assegurar-lhes a glória para a posteridade. Ao contrário do que acontece na vida privada e na família, no recolhimento das quatro paredes, aqui tudo aparece naquela luz que só pode ser criada em público, o que quer dizer na presença de outros. Mas essa luz, condição prévia de toda manifestação real, é enganadora enquanto for apenas pública e não-política. O espaço público da aventura e do empreendimento desaparece assim que tudo chega a seu fim, logo que dissolvido o acampamento do exército e os 'heróis' — que em Homero nada mais significam que os homens livres — retornam para suas casas. Esse espaço público só se torna político quando assegurado numa cidade, quer dizer, quando ligado a um lugar palpável que possa sobreviver tanto aos feitos memoráveis quanto aos nomes dos memoráveis autores, e possa ser transmitido à posterioridade na seqüência das gerações. Essa cidade a oferecer aos homens mortais e a seus feitos e palavras passageiros um lugar duradouro constitui a polis — que é política e, desse modo, diferente de outros povoamentos (para os quais os gregos tinham uma palavra específica), porque originalmente só foi construída em torno do espaço público, em torno da praça do mercado, na qual os livres e iguais podiam encontrar-se a qualquer hora"
In ARENDT, Hannah. O que é política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p. 20. 2002.
terça-feira, 14 de outubro de 2014
sábado, 11 de outubro de 2014
Malala e ativista indiano ganham o Nobel da Paz
A paquistanesa e Kailash Satyarthi foram agraciados por trabalharem pela educação de crianças e jovens. Eles vão dividir o prêmio de US$ 1,5 milhão
Malala Yousafzai e Kailash Satyarthi, vencedores do Nobel da Paz
(Reuters/AFP/VEJA)
O comitê destacou a “grande coragem pessoal” de Satyarthi, “mantendo a tradição de Gandhi”, liderando formas de protestos e manifestações pacíficas. Sobre Malala, Jagland destacou que “apesar de sua juventude” – a jovem tem apenas 17 anos –, ela já lutou por vários anos pelo direito das meninas à educação, e tem mostrado que as crianças e jovens também podem contribuir para melhorar a sua própria situação. “Ela fez isso sob as circunstâncias mais perigosas”. O texto lido pelo diretor geral do comitê ainda ressaltou a importância de “um hindu e uma muçulmana, um indiano e um paquistanesa em participar da luta comum para a educação e contra o extremismo”. O prêmio Nobel da Paz dividido entre uma paquistanesa e um indiano ganha ainda mais relevância pela rivalidade histórica entre Índia e Paquistão. Os dois vizinhos vivem em clima de permanente tensão por causa de disputas étnicas e territoriais.
Calcula-se que existam 168 milhões de crianças trabalhadoras em todo o mundo. Em 2000, o número era de 246 milhões. “O mundo está chegando mais perto do objetivo de eliminar o trabalho infantil”, disse Jagland. “A luta contra a repressão e pelos direitos das crianças e adolescentes contribui para a realização fraternidade entre as nações que Alfred Nobel menciona em seu testamento como um dos critérios para o Prêmio Nobel da Paz”, finalizou.
Malala Yousafzai – Ainda muito jovem, a paquistanesa Malala Yousafzai tornou-se a maior voz mundial em defesa da educação feminina. Nos meses em que o Talibã dominou a região em que vivia no Paquistão, entre 2007 e 2009, as escolas para meninas receberam ordem de fechar as portas. As que não obedeceram foram dinamitadas. Por contar das suas privações em um blog e falar contra a opressão sofrida pelas mulheres em seu país, ela se tornou alvo do grupo extremista. Em outubro de 2012, um membro do Talibã disparou contra Malala no ônibus em que a menina voltava da escola. Ela sobreviveu e foi submetida a uma cirurgia na cabeça e agora vive em Birmingham, na Inglaterra, com a família. Símbolo da resistência contra o radicalismo ignorante, Malala lançou um livro em que conta a sua história, Eu Sou Malala. Escrito em parceria com a jornalista britânica Christina Lamb, a obra narra o terror da jovem e de outros adolescentes perseguidos pelo talibã.
Em VEJA
A jovem Malala conta sua incrível história
Malala foi alvo de reconhecimento internacional e de ameaças de morte quando passou a denunciar atrocidades do Talibã há quatro anos em um blog na rede britânica BBC. Em entrevistas ela já afirmou que deseja entrar para a política para mudar seu país – e expressou seu apoio ao diálogo com os talibãs, embora tenha declarado que isso era um tema do governo. Ela vivia numa região do Paquistão, perto da fronteira com o Afeganistão, onde militantes islâmicos costumam incendiar escolas femininas e aterrorizar a população. Os pais de Malala seguem valores conservadores, comuns na região, mas repudiam a “talibanização” e encorajaram a filha a estudar (o pai era diretor da escola em que ela estudava).
Entrevista
‘A educação é o caminho para acabar com o terrorismo’, diz Malala
Apesar das ameaças, Malala reiterou seu desejo de voltar ao Paquistão. Ela foi levada para a Grã-Bretanha após o atentado e lá frequenta a escola. "O mal de nossa sociedade e de nosso país", declarou, em referência ao Paquistão, "é que sempre esperam que venha outra pessoa para consertar as coisas". Malala admitiu que a Grã-Bretanha causou em sua família uma grande impressão, "especialmente em minha mãe, porque nunca havíamos visto mulheres tão livres: vão a qualquer mercado, sozinhas, sem homens, sem os irmãos ou os pais". (Continue lendo o texto)
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/malala-e-indiano-ganham-o-nobel-da-paz-por-seus-trabalhos-pela-educacao
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Nobel de literatura 2014 é do francês Patrick Modiano
O Prêmio Nobel de Literatura de 2014 ficou com o francês Patrick
Modiano, 69. Filho de um judeu de Alexandria e de uma comediante belga
que se conheceram durante a ocupação nazista na França (1940-44),
Modiano teve ressaltada pela Academia Sueca
a sua habilidade de trabalhar com a memória e de resgatar esse período
sombrio da Segunda Guerra Mundial, em que são ambientados muitos de seus
livros. Décimo quinto francês a conquistar o prêmio, o escritor vai
receber 8 milhões de coroas suecas (2,67 milhões de reais). O último
francês a ganhar o Nobel de Literatura foi Jean-Marie Gustave Le Clézio,
em 2008
"O vencedor do Nobel de Literatura este ano é o francês Patrick Modiano, pela arte da memória, com a qual evocou os destinos humanos mais incompreensíveis e descortinou ao mundo a vida na ocupação", diz o texto do anúncio oficial da Academia Sueca, feito às 13h em Estocolmo (8h em Brasília). Modiano costuma dizer que sua memória teve início antes de seu nascimento, em referência à relação de seus pais, amantes clandestinos em um território ocupado. Mas não foi apenas com a perda do pai que ele teve de lidar ainda cedo: o escritor também perdeu um irmão, ao qual era muito afeiçoado, na adolescência.
Autor de livros como Dora Bruder, Vila Triste, Meninos Valentes, Ronda da Noite e Do Mais Longe do Esquecimento, lançados no Brasil pela Rocco e já fora de catálogo, Modiano é muito popular na França, onde é considerado um dos autores mais importantes da atualidade. Em 1978, ele venceu o Goncourt, principal prêmio literário do país, pelo livro Rue des Boutiques Obscures, lançado no Brasil como Uma Rua de Roma, também pela Rocco. Vive em Paris e faz da cidade cenário recorrente em seus textos. Já na língua inglesa, ele quase não tem tradução. Um dos únicos lançados em inglês, Dora Bruder foi publicado pela editora da Universidade da California, em 1999.
“Modiano tem cerca de 30 livros, a maioria romances. São obras muito curtas que se constituem em variações de um mesmo tema, a memória da perda, a relação entre identidade e memória”, disse o escritor e historiador sueco Peter Englund, secretário da Academia Sueca, em entrevista após o anúncio do prêmio. "São livros curtos e pequenos, não são difíceis de ler, você pode ler um à tarde e outro depois do jantar. Mas são muito bem escritos, muito elegantes."
Para quem ainda não conhece a obra de Modiano, Englund, recomendou o vencedor do Goncourt. "Para quem deseja começar a ler sua obra, recomendo Uma Rua de Roma, sobre um detetive que perdeu a memória e precisa descobrir quem ele realmente é. Para isso, precisa refazer os próprios passos. É um livro muito divertido, que brinca com o gênero policial."
Modiano também tem trabalhos no cinema. Ele aparece como roteirista nos créditos dos filmes Viagem do Coração (2003), de Jean-Paul Rappeneau, Lacombe Lucien (1974), de Louis Malle, Le Parfum d'Yvonne (1994), de Patrice Leconte, e Une Jeunesse (1983), de Moshé Mizrahi, os dois últimos adaptados de obras suas. E, de acordo com o site especializado em cinema IMDB, o autor também atua. Ele apareceu ao lado Catherine Deneuve em Genealogias de um Crime (1997), de Raoul Ruizfilm.
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/premio-nobel-de-literatura-vai-para-o-frances-patrick-modiano
"O vencedor do Nobel de Literatura este ano é o francês Patrick Modiano, pela arte da memória, com a qual evocou os destinos humanos mais incompreensíveis e descortinou ao mundo a vida na ocupação", diz o texto do anúncio oficial da Academia Sueca, feito às 13h em Estocolmo (8h em Brasília). Modiano costuma dizer que sua memória teve início antes de seu nascimento, em referência à relação de seus pais, amantes clandestinos em um território ocupado. Mas não foi apenas com a perda do pai que ele teve de lidar ainda cedo: o escritor também perdeu um irmão, ao qual era muito afeiçoado, na adolescência.
Autor de livros como Dora Bruder, Vila Triste, Meninos Valentes, Ronda da Noite e Do Mais Longe do Esquecimento, lançados no Brasil pela Rocco e já fora de catálogo, Modiano é muito popular na França, onde é considerado um dos autores mais importantes da atualidade. Em 1978, ele venceu o Goncourt, principal prêmio literário do país, pelo livro Rue des Boutiques Obscures, lançado no Brasil como Uma Rua de Roma, também pela Rocco. Vive em Paris e faz da cidade cenário recorrente em seus textos. Já na língua inglesa, ele quase não tem tradução. Um dos únicos lançados em inglês, Dora Bruder foi publicado pela editora da Universidade da California, em 1999.
“Modiano tem cerca de 30 livros, a maioria romances. São obras muito curtas que se constituem em variações de um mesmo tema, a memória da perda, a relação entre identidade e memória”, disse o escritor e historiador sueco Peter Englund, secretário da Academia Sueca, em entrevista após o anúncio do prêmio. "São livros curtos e pequenos, não são difíceis de ler, você pode ler um à tarde e outro depois do jantar. Mas são muito bem escritos, muito elegantes."
Para quem ainda não conhece a obra de Modiano, Englund, recomendou o vencedor do Goncourt. "Para quem deseja começar a ler sua obra, recomendo Uma Rua de Roma, sobre um detetive que perdeu a memória e precisa descobrir quem ele realmente é. Para isso, precisa refazer os próprios passos. É um livro muito divertido, que brinca com o gênero policial."
Modiano também tem trabalhos no cinema. Ele aparece como roteirista nos créditos dos filmes Viagem do Coração (2003), de Jean-Paul Rappeneau, Lacombe Lucien (1974), de Louis Malle, Le Parfum d'Yvonne (1994), de Patrice Leconte, e Une Jeunesse (1983), de Moshé Mizrahi, os dois últimos adaptados de obras suas. E, de acordo com o site especializado em cinema IMDB, o autor também atua. Ele apareceu ao lado Catherine Deneuve em Genealogias de um Crime (1997), de Raoul Ruizfilm.
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/premio-nobel-de-literatura-vai-para-o-frances-patrick-modiano
Mais um membro da ABL - Ferreira Gullar
O poeta maranhense Ferreira Gullar é eleito membro da Academia Brasileira de Letras neste dia 09 de outubro. Ele ocupa a cadeira que pertencia ao tradutor Ivan Junqueira, também poeta. Eis nossa homenagem: TRADUZIR-SE, de sua autoria e musicalizada pelo cantor Fagner.
terça-feira, 7 de outubro de 2014
A esperança, o medo e Aécio por Caio Blinder
desastre aéreo)
que a eleição brasileira era uma montanha russa. E fomos embalados por
narrativas vertiginosas, eu especialmente pelo o que é veiculado no
exterior. Sobre Marina Silva houve um longo e excessivo estado de
deslumbramento; com a recuperação de Dilma Rousseff, tomou lugar um
estado de perplexidade.
Como é que pode? Apesar da economia moribunda (li o palavrão em alguma publicação), do Petrolão (esta obscenidade) e do estilo político de Dilma (uma chanchada), a presidente parecia caminhar com uma certa tranquilidade para a reeleição (quem sabe no primeiro turno).
Mesmo no domingo cedo, quando devorei o que havia para devorar sobre Brasil na mídia global, estava sedimentada uma narrativa: os brasileiros querem mudança, mas não tanto assim. Temem perder o que cosquistaram em 12 anos de governo PT. Isto racionalizava o favoritismo de Dilma, inclusive no segundo turno, apesar de tudo.
A construção deste raciocínio estava tanto no espanhol El País como no americano The Wall Street Journal. No entanto, uma eleição com tantas surpresas surpreendeu a imprensa internacional. Aliás, surpreendeu bem além dos gringos. Querem fazer uma pesquisa Ibope ou Datafolha para confirmar isso?
Deixo às legiões de analistas (a destacar meus colegas de VEJA) a tarefa de explicar o que se passa na montanha russa eleitoral. Eu li várias análises, mas aqui vou me limitar à minha percepção de cidadão, de eleitor.
Não se trata de expressar preferência partidária (já disse que não faço isso formalmente), mas de constatar o impacto do debate eleitoral na Globo na quinta-feira. Aécio Neves transmitiu firmeza e bonomia ao mesmo tempo. De resto, era o circo dos nanicos, a avoada Marina e aquela senhora carregando um calhamaço.
Sei que um acúmulo de coisas levaram a um desfecho eleitoral surpreendente no primeiro turno (desde a maior motivação de Aécio, após uma fase de desalento, a erros dos adversários), mas naquela quinta-feira à noite, o candidato tucano selou um pacto mais sólido com os eleitores. Agora é o candidato da oposição, um candidato a mudar o estado de coisas.
E uma explicação para o título desta coluna. Na coluna anterior sobre Brasil, optei pelo título Sem Medo. em referência ao embate entre o dito cujo e a esperança (tal narrativa se inspirava no tom das campanhas de Dilme e de Marina). Not bad.
Mas, quando propagandeei a coluna no Twitter, tive uma sacada melhor (se for muito autogeneroso, eu diria premonição) e taquei Esperança, Medo e Aécio, como se o candidato tucano fosse um terceiro sentimento, uma terceira variável, a terceira via por onde o eleitorado finalmente avançaria depois de viajar por semanas na montanha russa.
Gostei tanto da foto daquela coluna, cuja legenda já era o título acima que decidi repeti-la, sem medo de que na corrida do segundo turno Dilma consiga agarrar Marina.
***
Com as eleições pátrias, a coluna está bem menos convencional. Nunca na história desta coluna se falou tanto do Brasil. Que outubro termine logo! Então, até a colher de chá será menos convencional, bem mais provinciana, mais bairrista. Este jornalista paulistano confere a colher de chá para os eleitores paulistas. Deu para entender, né?
E a pedido do Eduardo (dia 6, 14:06), uma também para os eleitores paranenses.
Pessoal, muitos pedidos cívicos de colher de chá. São 17h35, horário de Brasilia, happy hour, colher de chá para quem achou que merece por seu voto a favor de “tirar esta gente do poder”, ok?
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/nova-york/eleicoes-brasil/a-esperanca-o-medo-e-aecio/
Não sei quantas vezes eu li nas últimas semanas (desde a morte de Eduardo Campos em Como é que pode? Apesar da economia moribunda (li o palavrão em alguma publicação), do Petrolão (esta obscenidade) e do estilo político de Dilma (uma chanchada), a presidente parecia caminhar com uma certa tranquilidade para a reeleição (quem sabe no primeiro turno).
Mesmo no domingo cedo, quando devorei o que havia para devorar sobre Brasil na mídia global, estava sedimentada uma narrativa: os brasileiros querem mudança, mas não tanto assim. Temem perder o que cosquistaram em 12 anos de governo PT. Isto racionalizava o favoritismo de Dilma, inclusive no segundo turno, apesar de tudo.
A construção deste raciocínio estava tanto no espanhol El País como no americano The Wall Street Journal. No entanto, uma eleição com tantas surpresas surpreendeu a imprensa internacional. Aliás, surpreendeu bem além dos gringos. Querem fazer uma pesquisa Ibope ou Datafolha para confirmar isso?
Deixo às legiões de analistas (a destacar meus colegas de VEJA) a tarefa de explicar o que se passa na montanha russa eleitoral. Eu li várias análises, mas aqui vou me limitar à minha percepção de cidadão, de eleitor.
Não se trata de expressar preferência partidária (já disse que não faço isso formalmente), mas de constatar o impacto do debate eleitoral na Globo na quinta-feira. Aécio Neves transmitiu firmeza e bonomia ao mesmo tempo. De resto, era o circo dos nanicos, a avoada Marina e aquela senhora carregando um calhamaço.
Sei que um acúmulo de coisas levaram a um desfecho eleitoral surpreendente no primeiro turno (desde a maior motivação de Aécio, após uma fase de desalento, a erros dos adversários), mas naquela quinta-feira à noite, o candidato tucano selou um pacto mais sólido com os eleitores. Agora é o candidato da oposição, um candidato a mudar o estado de coisas.
E uma explicação para o título desta coluna. Na coluna anterior sobre Brasil, optei pelo título Sem Medo. em referência ao embate entre o dito cujo e a esperança (tal narrativa se inspirava no tom das campanhas de Dilme e de Marina). Not bad.
Mas, quando propagandeei a coluna no Twitter, tive uma sacada melhor (se for muito autogeneroso, eu diria premonição) e taquei Esperança, Medo e Aécio, como se o candidato tucano fosse um terceiro sentimento, uma terceira variável, a terceira via por onde o eleitorado finalmente avançaria depois de viajar por semanas na montanha russa.
Gostei tanto da foto daquela coluna, cuja legenda já era o título acima que decidi repeti-la, sem medo de que na corrida do segundo turno Dilma consiga agarrar Marina.
***
Com as eleições pátrias, a coluna está bem menos convencional. Nunca na história desta coluna se falou tanto do Brasil. Que outubro termine logo! Então, até a colher de chá será menos convencional, bem mais provinciana, mais bairrista. Este jornalista paulistano confere a colher de chá para os eleitores paulistas. Deu para entender, né?
E a pedido do Eduardo (dia 6, 14:06), uma também para os eleitores paranenses.
Pessoal, muitos pedidos cívicos de colher de chá. São 17h35, horário de Brasilia, happy hour, colher de chá para quem achou que merece por seu voto a favor de “tirar esta gente do poder”, ok?
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/nova-york/eleicoes-brasil/a-esperanca-o-medo-e-aecio/
sábado, 4 de outubro de 2014
Da infância e das saudades da terra
Nei Alberto Pies
“Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa
mais fina do mundo é o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo: “Coitado, até essa hora no serviço pesado”. Arrumou pão e
café, deixou tacho no fogo com água quente. Não me falou em amor. Essa palavra
de luxo”.
(Poema Ensinamento, Adélia Prado)
Muitos, como eu, nasceram e viveram
a infância na roça. Eu sinto orgulho de ser um filho da roça, porque a vida no
“interior” me ensinou valores muitíssimo finos e refinados. Na companhia de
árvores frutíferas, animais, nascentes, riachos e lavouras, as pessoas que lá
residem formam verdadeira comunidade. Comunidade quer dizer comunhão,
integração, relação. Esta comunhão se perdeu na vida urbana atribulada e
estressante. Todo o tempo na cidade tem que ser um tempo ocupado. Não temos
mais tempo para curtir o próprio ritmo (do tempo).
Roça é um
lugar de fartura, mas também de muito trabalho. Iludem-se aqueles que pensam
que uma “chácara” é um lugar maravilhoso sem dar muito trabalho. Para quem não
pode oferecer seu trabalho, terá de ofertar dinheiro para que alguém cuide,
zele e organize o ambiente, para poder desfrutá-lo lindo, aconchegante e
organizado. Neste sentido, não podemos romantizar o trabalho de quem cuida da
terra; é preciso reconhecê-lo e valorizá-lo com a grandeza que ele merece.
Quantos, como eu, matam saudades de
sua terra visitando propriedades que ainda resistem em levar adiante um estilo
de vida interiorano! Colhem, no inverno abundante das frutas, o sabor de suas
saudades e recordações. Visitam matas, riachos, casas, salões comunitários, em
busca de algo que um dia deixaram para trás: a simplicidade e a compaixão pela
terra.
Como ilustram os versos acima, os
valores da roça confundem-se com as necessidades mais imediatas de quem lá
reside e faz de seu trabalho e suor o próprio modo de vida. Os pequenos
agricultores ou camponeses ainda preservam os valores da gratuidade e da
reciprocidade que aprenderam na relação com os outros, com a natureza e com o
mundo. Nem tudo na roça tem preço, mas tudo na roça tem o seu valor.
As relações com a natureza,
particularmente através das semeaduras, reservam ao homem e à mulher do campo a
noção do tempo, que é a mesma noção da paciência. Quem espera colher, precisa
saber esperar. Quem espera colher, precisa pacientemente acompanhar a renovação
da vida em cada amanhecer e em cada anoitecer. Quem deseja recuperar a terra,
precisa investir insumos, cuidados e tempo.
Só podem sentir saudades aqueles e
aquelas que já experimentaram a vida da roça. Para estes, são necessárias
brechas em sua conturbada agenda urbana para cultivar flores, frutas,
hortaliças, chás, verduras. Não há nada mais contagiante e gratificante do que
o alvorecer de vidas que dependem de terra, de ar, de água e de cuidados
pacientes e permanentes.
A natureza nos
permite a compreensão da própria existência. A vida na roça nos fornece
importantes aprendizagens sobre os próprios desafios do ser humano. Valorizando
a terra, estaremos sempre valorizando a nossa dimensão de humanidade e
dignidade.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos
Fonte: http://boletimodiad.blogspot.com.br/
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terça-feira, 14 de outubro de 2014
Política como espaço público - 108º Aniversário de Hannah Arendt
"Essa concepção, de que só pode ser livre quem está disposto a arriscar sua vida, nunca mais desapareceu de todo de nossa consciência; o mesmo vale para a ligação entre a coisa política e perigo e risco. A coragem é a mais antiga das virtudes políticas e ainda hoje pertence às poucas virtudes cardeais da política, porque só podemos chegar no mundo público comum a todos nós — que, no fundo, é o espaço político — se nos distanciarmos de nossa existência privada e da conexão familiar com a qual nossa vida está ligada. Aliás, o espaço no qual entravam aqueles que ousavam ultrapassar a soleira da casa já deixou de ser, em nossa época, um âmbito de grandes empreendimentos e aventuras, no qual o homem só podia entrar e no qual só podia esperar sair vitorioso se se ligasse a outros que eram seus iguais. Além disso, é verdade que surge no mundo aberto para os corajosos, os aventureiros e os ávidos por empreendimento uma espécie de espaço público, mas ainda não-político no verdadeiro sentido. Torna-se público esse espaço no qual avançam os ávidos por façanhas, porque eles estão entre seus iguais e se podem conceder aquele ver, ouvir e admirar o feito, cuja tradição vai fazer com que o poeta e o contador de histórias mais tarde possam assegurar-lhes a glória para a posteridade. Ao contrário do que acontece na vida privada e na família, no recolhimento das quatro paredes, aqui tudo aparece naquela luz que só pode ser criada em público, o que quer dizer na presença de outros. Mas essa luz, condição prévia de toda manifestação real, é enganadora enquanto for apenas pública e não-política. O espaço público da aventura e do empreendimento desaparece assim que tudo chega a seu fim, logo que dissolvido o acampamento do exército e os 'heróis' — que em Homero nada mais significam que os homens livres — retornam para suas casas. Esse espaço público só se torna político quando assegurado numa cidade, quer dizer, quando ligado a um lugar palpável que possa sobreviver tanto aos feitos memoráveis quanto aos nomes dos memoráveis autores, e possa ser transmitido à posterioridade na seqüência das gerações. Essa cidade a oferecer aos homens mortais e a seus feitos e palavras passageiros um lugar duradouro constitui a polis — que é política e, desse modo, diferente de outros povoamentos (para os quais os gregos tinham uma palavra específica), porque originalmente só foi construída em torno do espaço público, em torno da praça do mercado, na qual os livres e iguais podiam encontrar-se a qualquer hora"
In ARENDT, Hannah. O que é política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p. 20. 2002.
In ARENDT, Hannah. O que é política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p. 20. 2002.
sábado, 11 de outubro de 2014
Malala e ativista indiano ganham o Nobel da Paz
A paquistanesa e Kailash Satyarthi foram agraciados por trabalharem pela educação de crianças e jovens. Eles vão dividir o prêmio de US$ 1,5 milhão
Malala Yousafzai e Kailash Satyarthi, vencedores do Nobel da Paz
(Reuters/AFP/VEJA)
O comitê destacou a “grande coragem pessoal” de Satyarthi, “mantendo a tradição de Gandhi”, liderando formas de protestos e manifestações pacíficas. Sobre Malala, Jagland destacou que “apesar de sua juventude” – a jovem tem apenas 17 anos –, ela já lutou por vários anos pelo direito das meninas à educação, e tem mostrado que as crianças e jovens também podem contribuir para melhorar a sua própria situação. “Ela fez isso sob as circunstâncias mais perigosas”. O texto lido pelo diretor geral do comitê ainda ressaltou a importância de “um hindu e uma muçulmana, um indiano e um paquistanesa em participar da luta comum para a educação e contra o extremismo”. O prêmio Nobel da Paz dividido entre uma paquistanesa e um indiano ganha ainda mais relevância pela rivalidade histórica entre Índia e Paquistão. Os dois vizinhos vivem em clima de permanente tensão por causa de disputas étnicas e territoriais.
Calcula-se que existam 168 milhões de crianças trabalhadoras em todo o mundo. Em 2000, o número era de 246 milhões. “O mundo está chegando mais perto do objetivo de eliminar o trabalho infantil”, disse Jagland. “A luta contra a repressão e pelos direitos das crianças e adolescentes contribui para a realização fraternidade entre as nações que Alfred Nobel menciona em seu testamento como um dos critérios para o Prêmio Nobel da Paz”, finalizou.
Malala Yousafzai – Ainda muito jovem, a paquistanesa Malala Yousafzai tornou-se a maior voz mundial em defesa da educação feminina. Nos meses em que o Talibã dominou a região em que vivia no Paquistão, entre 2007 e 2009, as escolas para meninas receberam ordem de fechar as portas. As que não obedeceram foram dinamitadas. Por contar das suas privações em um blog e falar contra a opressão sofrida pelas mulheres em seu país, ela se tornou alvo do grupo extremista. Em outubro de 2012, um membro do Talibã disparou contra Malala no ônibus em que a menina voltava da escola. Ela sobreviveu e foi submetida a uma cirurgia na cabeça e agora vive em Birmingham, na Inglaterra, com a família. Símbolo da resistência contra o radicalismo ignorante, Malala lançou um livro em que conta a sua história, Eu Sou Malala. Escrito em parceria com a jornalista britânica Christina Lamb, a obra narra o terror da jovem e de outros adolescentes perseguidos pelo talibã.
Em VEJA
A jovem Malala conta sua incrível história
Malala foi alvo de reconhecimento internacional e de ameaças de morte quando passou a denunciar atrocidades do Talibã há quatro anos em um blog na rede britânica BBC. Em entrevistas ela já afirmou que deseja entrar para a política para mudar seu país – e expressou seu apoio ao diálogo com os talibãs, embora tenha declarado que isso era um tema do governo. Ela vivia numa região do Paquistão, perto da fronteira com o Afeganistão, onde militantes islâmicos costumam incendiar escolas femininas e aterrorizar a população. Os pais de Malala seguem valores conservadores, comuns na região, mas repudiam a “talibanização” e encorajaram a filha a estudar (o pai era diretor da escola em que ela estudava).
Entrevista
‘A educação é o caminho para acabar com o terrorismo’, diz Malala
Apesar das ameaças, Malala reiterou seu desejo de voltar ao Paquistão. Ela foi levada para a Grã-Bretanha após o atentado e lá frequenta a escola. "O mal de nossa sociedade e de nosso país", declarou, em referência ao Paquistão, "é que sempre esperam que venha outra pessoa para consertar as coisas". Malala admitiu que a Grã-Bretanha causou em sua família uma grande impressão, "especialmente em minha mãe, porque nunca havíamos visto mulheres tão livres: vão a qualquer mercado, sozinhas, sem homens, sem os irmãos ou os pais". (Continue lendo o texto)
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/malala-e-indiano-ganham-o-nobel-da-paz-por-seus-trabalhos-pela-educacao
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Nobel de literatura 2014 é do francês Patrick Modiano
O Prêmio Nobel de Literatura de 2014 ficou com o francês Patrick
Modiano, 69. Filho de um judeu de Alexandria e de uma comediante belga
que se conheceram durante a ocupação nazista na França (1940-44),
Modiano teve ressaltada pela Academia Sueca
a sua habilidade de trabalhar com a memória e de resgatar esse período
sombrio da Segunda Guerra Mundial, em que são ambientados muitos de seus
livros. Décimo quinto francês a conquistar o prêmio, o escritor vai
receber 8 milhões de coroas suecas (2,67 milhões de reais). O último
francês a ganhar o Nobel de Literatura foi Jean-Marie Gustave Le Clézio,
em 2008
"O vencedor do Nobel de Literatura este ano é o francês Patrick Modiano, pela arte da memória, com a qual evocou os destinos humanos mais incompreensíveis e descortinou ao mundo a vida na ocupação", diz o texto do anúncio oficial da Academia Sueca, feito às 13h em Estocolmo (8h em Brasília). Modiano costuma dizer que sua memória teve início antes de seu nascimento, em referência à relação de seus pais, amantes clandestinos em um território ocupado. Mas não foi apenas com a perda do pai que ele teve de lidar ainda cedo: o escritor também perdeu um irmão, ao qual era muito afeiçoado, na adolescência.
Autor de livros como Dora Bruder, Vila Triste, Meninos Valentes, Ronda da Noite e Do Mais Longe do Esquecimento, lançados no Brasil pela Rocco e já fora de catálogo, Modiano é muito popular na França, onde é considerado um dos autores mais importantes da atualidade. Em 1978, ele venceu o Goncourt, principal prêmio literário do país, pelo livro Rue des Boutiques Obscures, lançado no Brasil como Uma Rua de Roma, também pela Rocco. Vive em Paris e faz da cidade cenário recorrente em seus textos. Já na língua inglesa, ele quase não tem tradução. Um dos únicos lançados em inglês, Dora Bruder foi publicado pela editora da Universidade da California, em 1999.
“Modiano tem cerca de 30 livros, a maioria romances. São obras muito curtas que se constituem em variações de um mesmo tema, a memória da perda, a relação entre identidade e memória”, disse o escritor e historiador sueco Peter Englund, secretário da Academia Sueca, em entrevista após o anúncio do prêmio. "São livros curtos e pequenos, não são difíceis de ler, você pode ler um à tarde e outro depois do jantar. Mas são muito bem escritos, muito elegantes."
Para quem ainda não conhece a obra de Modiano, Englund, recomendou o vencedor do Goncourt. "Para quem deseja começar a ler sua obra, recomendo Uma Rua de Roma, sobre um detetive que perdeu a memória e precisa descobrir quem ele realmente é. Para isso, precisa refazer os próprios passos. É um livro muito divertido, que brinca com o gênero policial."
Modiano também tem trabalhos no cinema. Ele aparece como roteirista nos créditos dos filmes Viagem do Coração (2003), de Jean-Paul Rappeneau, Lacombe Lucien (1974), de Louis Malle, Le Parfum d'Yvonne (1994), de Patrice Leconte, e Une Jeunesse (1983), de Moshé Mizrahi, os dois últimos adaptados de obras suas. E, de acordo com o site especializado em cinema IMDB, o autor também atua. Ele apareceu ao lado Catherine Deneuve em Genealogias de um Crime (1997), de Raoul Ruizfilm.
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/premio-nobel-de-literatura-vai-para-o-frances-patrick-modiano
"O vencedor do Nobel de Literatura este ano é o francês Patrick Modiano, pela arte da memória, com a qual evocou os destinos humanos mais incompreensíveis e descortinou ao mundo a vida na ocupação", diz o texto do anúncio oficial da Academia Sueca, feito às 13h em Estocolmo (8h em Brasília). Modiano costuma dizer que sua memória teve início antes de seu nascimento, em referência à relação de seus pais, amantes clandestinos em um território ocupado. Mas não foi apenas com a perda do pai que ele teve de lidar ainda cedo: o escritor também perdeu um irmão, ao qual era muito afeiçoado, na adolescência.
Autor de livros como Dora Bruder, Vila Triste, Meninos Valentes, Ronda da Noite e Do Mais Longe do Esquecimento, lançados no Brasil pela Rocco e já fora de catálogo, Modiano é muito popular na França, onde é considerado um dos autores mais importantes da atualidade. Em 1978, ele venceu o Goncourt, principal prêmio literário do país, pelo livro Rue des Boutiques Obscures, lançado no Brasil como Uma Rua de Roma, também pela Rocco. Vive em Paris e faz da cidade cenário recorrente em seus textos. Já na língua inglesa, ele quase não tem tradução. Um dos únicos lançados em inglês, Dora Bruder foi publicado pela editora da Universidade da California, em 1999.
“Modiano tem cerca de 30 livros, a maioria romances. São obras muito curtas que se constituem em variações de um mesmo tema, a memória da perda, a relação entre identidade e memória”, disse o escritor e historiador sueco Peter Englund, secretário da Academia Sueca, em entrevista após o anúncio do prêmio. "São livros curtos e pequenos, não são difíceis de ler, você pode ler um à tarde e outro depois do jantar. Mas são muito bem escritos, muito elegantes."
Para quem ainda não conhece a obra de Modiano, Englund, recomendou o vencedor do Goncourt. "Para quem deseja começar a ler sua obra, recomendo Uma Rua de Roma, sobre um detetive que perdeu a memória e precisa descobrir quem ele realmente é. Para isso, precisa refazer os próprios passos. É um livro muito divertido, que brinca com o gênero policial."
Modiano também tem trabalhos no cinema. Ele aparece como roteirista nos créditos dos filmes Viagem do Coração (2003), de Jean-Paul Rappeneau, Lacombe Lucien (1974), de Louis Malle, Le Parfum d'Yvonne (1994), de Patrice Leconte, e Une Jeunesse (1983), de Moshé Mizrahi, os dois últimos adaptados de obras suas. E, de acordo com o site especializado em cinema IMDB, o autor também atua. Ele apareceu ao lado Catherine Deneuve em Genealogias de um Crime (1997), de Raoul Ruizfilm.
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/premio-nobel-de-literatura-vai-para-o-frances-patrick-modiano
Mais um membro da ABL - Ferreira Gullar
O poeta maranhense Ferreira Gullar é eleito membro da Academia Brasileira de Letras neste dia 09 de outubro. Ele ocupa a cadeira que pertencia ao tradutor Ivan Junqueira, também poeta. Eis nossa homenagem: TRADUZIR-SE, de sua autoria e musicalizada pelo cantor Fagner.
terça-feira, 7 de outubro de 2014
A esperança, o medo e Aécio por Caio Blinder
desastre aéreo)
que a eleição brasileira era uma montanha russa. E fomos embalados por
narrativas vertiginosas, eu especialmente pelo o que é veiculado no
exterior. Sobre Marina Silva houve um longo e excessivo estado de
deslumbramento; com a recuperação de Dilma Rousseff, tomou lugar um
estado de perplexidade.
Como é que pode? Apesar da economia moribunda (li o palavrão em alguma publicação), do Petrolão (esta obscenidade) e do estilo político de Dilma (uma chanchada), a presidente parecia caminhar com uma certa tranquilidade para a reeleição (quem sabe no primeiro turno).
Mesmo no domingo cedo, quando devorei o que havia para devorar sobre Brasil na mídia global, estava sedimentada uma narrativa: os brasileiros querem mudança, mas não tanto assim. Temem perder o que cosquistaram em 12 anos de governo PT. Isto racionalizava o favoritismo de Dilma, inclusive no segundo turno, apesar de tudo.
A construção deste raciocínio estava tanto no espanhol El País como no americano The Wall Street Journal. No entanto, uma eleição com tantas surpresas surpreendeu a imprensa internacional. Aliás, surpreendeu bem além dos gringos. Querem fazer uma pesquisa Ibope ou Datafolha para confirmar isso?
Deixo às legiões de analistas (a destacar meus colegas de VEJA) a tarefa de explicar o que se passa na montanha russa eleitoral. Eu li várias análises, mas aqui vou me limitar à minha percepção de cidadão, de eleitor.
Não se trata de expressar preferência partidária (já disse que não faço isso formalmente), mas de constatar o impacto do debate eleitoral na Globo na quinta-feira. Aécio Neves transmitiu firmeza e bonomia ao mesmo tempo. De resto, era o circo dos nanicos, a avoada Marina e aquela senhora carregando um calhamaço.
Sei que um acúmulo de coisas levaram a um desfecho eleitoral surpreendente no primeiro turno (desde a maior motivação de Aécio, após uma fase de desalento, a erros dos adversários), mas naquela quinta-feira à noite, o candidato tucano selou um pacto mais sólido com os eleitores. Agora é o candidato da oposição, um candidato a mudar o estado de coisas.
E uma explicação para o título desta coluna. Na coluna anterior sobre Brasil, optei pelo título Sem Medo. em referência ao embate entre o dito cujo e a esperança (tal narrativa se inspirava no tom das campanhas de Dilme e de Marina). Not bad.
Mas, quando propagandeei a coluna no Twitter, tive uma sacada melhor (se for muito autogeneroso, eu diria premonição) e taquei Esperança, Medo e Aécio, como se o candidato tucano fosse um terceiro sentimento, uma terceira variável, a terceira via por onde o eleitorado finalmente avançaria depois de viajar por semanas na montanha russa.
Gostei tanto da foto daquela coluna, cuja legenda já era o título acima que decidi repeti-la, sem medo de que na corrida do segundo turno Dilma consiga agarrar Marina.
***
Com as eleições pátrias, a coluna está bem menos convencional. Nunca na história desta coluna se falou tanto do Brasil. Que outubro termine logo! Então, até a colher de chá será menos convencional, bem mais provinciana, mais bairrista. Este jornalista paulistano confere a colher de chá para os eleitores paulistas. Deu para entender, né?
E a pedido do Eduardo (dia 6, 14:06), uma também para os eleitores paranenses.
Pessoal, muitos pedidos cívicos de colher de chá. São 17h35, horário de Brasilia, happy hour, colher de chá para quem achou que merece por seu voto a favor de “tirar esta gente do poder”, ok?
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/nova-york/eleicoes-brasil/a-esperanca-o-medo-e-aecio/
Não sei quantas vezes eu li nas últimas semanas (desde a morte de Eduardo Campos em Como é que pode? Apesar da economia moribunda (li o palavrão em alguma publicação), do Petrolão (esta obscenidade) e do estilo político de Dilma (uma chanchada), a presidente parecia caminhar com uma certa tranquilidade para a reeleição (quem sabe no primeiro turno).
Mesmo no domingo cedo, quando devorei o que havia para devorar sobre Brasil na mídia global, estava sedimentada uma narrativa: os brasileiros querem mudança, mas não tanto assim. Temem perder o que cosquistaram em 12 anos de governo PT. Isto racionalizava o favoritismo de Dilma, inclusive no segundo turno, apesar de tudo.
A construção deste raciocínio estava tanto no espanhol El País como no americano The Wall Street Journal. No entanto, uma eleição com tantas surpresas surpreendeu a imprensa internacional. Aliás, surpreendeu bem além dos gringos. Querem fazer uma pesquisa Ibope ou Datafolha para confirmar isso?
Deixo às legiões de analistas (a destacar meus colegas de VEJA) a tarefa de explicar o que se passa na montanha russa eleitoral. Eu li várias análises, mas aqui vou me limitar à minha percepção de cidadão, de eleitor.
Não se trata de expressar preferência partidária (já disse que não faço isso formalmente), mas de constatar o impacto do debate eleitoral na Globo na quinta-feira. Aécio Neves transmitiu firmeza e bonomia ao mesmo tempo. De resto, era o circo dos nanicos, a avoada Marina e aquela senhora carregando um calhamaço.
Sei que um acúmulo de coisas levaram a um desfecho eleitoral surpreendente no primeiro turno (desde a maior motivação de Aécio, após uma fase de desalento, a erros dos adversários), mas naquela quinta-feira à noite, o candidato tucano selou um pacto mais sólido com os eleitores. Agora é o candidato da oposição, um candidato a mudar o estado de coisas.
E uma explicação para o título desta coluna. Na coluna anterior sobre Brasil, optei pelo título Sem Medo. em referência ao embate entre o dito cujo e a esperança (tal narrativa se inspirava no tom das campanhas de Dilme e de Marina). Not bad.
Mas, quando propagandeei a coluna no Twitter, tive uma sacada melhor (se for muito autogeneroso, eu diria premonição) e taquei Esperança, Medo e Aécio, como se o candidato tucano fosse um terceiro sentimento, uma terceira variável, a terceira via por onde o eleitorado finalmente avançaria depois de viajar por semanas na montanha russa.
Gostei tanto da foto daquela coluna, cuja legenda já era o título acima que decidi repeti-la, sem medo de que na corrida do segundo turno Dilma consiga agarrar Marina.
***
Com as eleições pátrias, a coluna está bem menos convencional. Nunca na história desta coluna se falou tanto do Brasil. Que outubro termine logo! Então, até a colher de chá será menos convencional, bem mais provinciana, mais bairrista. Este jornalista paulistano confere a colher de chá para os eleitores paulistas. Deu para entender, né?
E a pedido do Eduardo (dia 6, 14:06), uma também para os eleitores paranenses.
Pessoal, muitos pedidos cívicos de colher de chá. São 17h35, horário de Brasilia, happy hour, colher de chá para quem achou que merece por seu voto a favor de “tirar esta gente do poder”, ok?
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/nova-york/eleicoes-brasil/a-esperanca-o-medo-e-aecio/
sábado, 4 de outubro de 2014
Da infância e das saudades da terra
Nei Alberto Pies
“Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa
mais fina do mundo é o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo: “Coitado, até essa hora no serviço pesado”. Arrumou pão e
café, deixou tacho no fogo com água quente. Não me falou em amor. Essa palavra
de luxo”.
(Poema Ensinamento, Adélia Prado)
Muitos, como eu, nasceram e viveram
a infância na roça. Eu sinto orgulho de ser um filho da roça, porque a vida no
“interior” me ensinou valores muitíssimo finos e refinados. Na companhia de
árvores frutíferas, animais, nascentes, riachos e lavouras, as pessoas que lá
residem formam verdadeira comunidade. Comunidade quer dizer comunhão,
integração, relação. Esta comunhão se perdeu na vida urbana atribulada e
estressante. Todo o tempo na cidade tem que ser um tempo ocupado. Não temos
mais tempo para curtir o próprio ritmo (do tempo).
Roça é um
lugar de fartura, mas também de muito trabalho. Iludem-se aqueles que pensam
que uma “chácara” é um lugar maravilhoso sem dar muito trabalho. Para quem não
pode oferecer seu trabalho, terá de ofertar dinheiro para que alguém cuide,
zele e organize o ambiente, para poder desfrutá-lo lindo, aconchegante e
organizado. Neste sentido, não podemos romantizar o trabalho de quem cuida da
terra; é preciso reconhecê-lo e valorizá-lo com a grandeza que ele merece.
Quantos, como eu, matam saudades de
sua terra visitando propriedades que ainda resistem em levar adiante um estilo
de vida interiorano! Colhem, no inverno abundante das frutas, o sabor de suas
saudades e recordações. Visitam matas, riachos, casas, salões comunitários, em
busca de algo que um dia deixaram para trás: a simplicidade e a compaixão pela
terra.
Como ilustram os versos acima, os
valores da roça confundem-se com as necessidades mais imediatas de quem lá
reside e faz de seu trabalho e suor o próprio modo de vida. Os pequenos
agricultores ou camponeses ainda preservam os valores da gratuidade e da
reciprocidade que aprenderam na relação com os outros, com a natureza e com o
mundo. Nem tudo na roça tem preço, mas tudo na roça tem o seu valor.
As relações com a natureza,
particularmente através das semeaduras, reservam ao homem e à mulher do campo a
noção do tempo, que é a mesma noção da paciência. Quem espera colher, precisa
saber esperar. Quem espera colher, precisa pacientemente acompanhar a renovação
da vida em cada amanhecer e em cada anoitecer. Quem deseja recuperar a terra,
precisa investir insumos, cuidados e tempo.
Só podem sentir saudades aqueles e
aquelas que já experimentaram a vida da roça. Para estes, são necessárias
brechas em sua conturbada agenda urbana para cultivar flores, frutas,
hortaliças, chás, verduras. Não há nada mais contagiante e gratificante do que
o alvorecer de vidas que dependem de terra, de ar, de água e de cuidados
pacientes e permanentes.
A natureza nos
permite a compreensão da própria existência. A vida na roça nos fornece
importantes aprendizagens sobre os próprios desafios do ser humano. Valorizando
a terra, estaremos sempre valorizando a nossa dimensão de humanidade e
dignidade.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos
Fonte: http://boletimodiad.blogspot.com.br/
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