(Pintura do Cristo na Cruz, 1949, de Samson Flexor)
A pessoa de Jesus é crucial para entendermos como se modificou a
história após Ele. Você já leu o Evangelho olhando para Jesus?
Sentiu o som da sua voz enquanto falava com seus discípulos? Já
percebeu a autoridade e o respeito que emanam de sua presença?! Cada
palavra sua tem um peso de eternidade. Jesus é especial. Sua
presença simplesmente enche os espaços vazios de qualquer ambiente.
Se tem alguém que nos coloca de volta no tempo e no espaço de nossa
história, esse alguém é Jesus Cristo. Este judeu que modificou a
cultura religiosa judaica e que abriu uma fenda entre o céu e a
terra para nos salvar integralmente revirou de cabeça para baixo a
noção de justiça em todas as culturas em sua volta. Homem algum
foi tão bom quanto Ele, por isso sua afirmação como Deus. Ninguém
foi tão justo ao ponto de não abrir a boca, mesmo sabendo que iria
morrer injustamente, cumprindo uma nova lei, a lei do amor. Uma lei
desconcertante e com lógica divina. Viveu eternamente por obediência
a esta Lei que poucos ainda conheciam!
A reviravolta que Jesus deu no pensamento cultural de seu tempo é
extraordinário. Se admiramos Sócrates pela virada filosófica do
cosmos para o humano, por ter chamado à atenção para si mesmo; se
vimos Platão, em suas obras, responder às refutações do Mestre
como ninguém; se Aristóteles possibilitou à filosofia se expandir
ao estágio de ciência; se fomos capazes de nos deslumbrar com as
inúmeras conquistas de Alexandre Magno; como reagir à surpreendente
forma de Jesus de Nazaré se dirigir ao “status quo” do
mundo pagão, legalista e religioso da Grécia, de Roma e de Israel
de então, respectivamente? Jesus põe à prova sua ética por
questões caducas, pesadas e tradicionais dessas culturas que mais
aprisionavam o povo com interesses provincianos do que o libertava
dos grilhões da insensatez e da tremenda falta de tolerância.
Jesus entra num mundo intolerante e perverso que não o aceita, isto
é, “os seus não o receberam”(Jo 1. 11). Essas culturas
não absorvem o seu novo pensamento presente em suas palavras, em seu
discurso fino e afiado, muito menos em seu comportamento, acompanhe
alguns registros de suas testemunhas nos Evangelhos: “E
tendo feito um azorrague de cordas, lançou todos fora do templo, bem
como os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e
derribou as mesas, e disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes
e não façais da casa de meu Pai casa de vendas”(Jo 2. 15-16); “O
sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do
sábado. Assim, o Filho do Homem é Senhor até do sábado”(Mc 2.
27-28); “Não necessitam de médico os sãos, mas os
doentes”(Mt 9. 9-13); “Quem não tiver pecado, atire a primeira
pedra”(Jo 8. 7); “Filho, perdoados estão os teus pecados”(Mc
2. 5); “O que Deus ajuntou não separe o homem”(Mt 19. 6);
“O meu Reino não é deste mundo”(Jo 18. 36); “Aquele
que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no Reino
dos céus”(Mt 18. 4); “Bem-aventurados os que tem fome e
sede de justiça, porque serão fartos”(Mt 5. 6);
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”(Jo 15. 12). O
quanto não incomodaram estas e outras palavras!!!
Permitam-me usar um termo dos tempos do Renascimento, cunhado talvez
por Nicolau Copérnico quando da sua famosa descoberta da teoria do
“heliocentrismo”, derrocando a tão pretensa lei do
“geocentrismo”, o termo é “Revolução” bastante desgastado
pelas ideologias socialistas do século passado, porém, com um
sentido de mudança de posição, de valores, de reviravolta mesmo, é
que a “Revolução” do amor cai muito bem em Jesus. Nesse
sentido, Jesus foi um grande revolucionário, porque, mergulhado no
amor pleno, no “ágape”, mostrou a todos o verdadeiro
sentido da “koinonia”, da comunhão fraterna
entre os irmãos que era o serviço e a partilha do pão. Jesus
pregava que todos deviam viver em comunhão.
Vejam que os gregos viviam com sede de vingança, assoberbados pela
honra e pela glória, corriam atrás de seus heróis e de seus deuses
fascinados por conquistas e guerras. Os romanos não admitiam aliviar
a pena de seus criminosos, eram extremamentes obedientes a César. Os
judeus, atrelados à Lei mosaica e ao código de Hamurabi do olho por
olho, dente por dente, virou às costas ao que era seu, Jesus de
Nazaré, da descendência de Davi, do tronco de Jessé, como dizem as
Escrituras. No entanto, da boca deste homem, que vivia como um Deus
entre nós, brotou uma semente de vida e de esperança para todas as
gerações, a semente do amor, do dar a outra face, do não revidar,
da cura, do perdão, do “hoje estarás comigo no
Paraíso”(Lc 23. 43).
Prof.
Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bacharel
em Teologia, Licenciado em Filosofia e Especialista em Metafísica