terça-feira, 31 de janeiro de 2012
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
A mulher, o bebê e o intelectual
por Luiz Felipe Pondé para Folha
Os comunistas mataram muito mais gente no século 20 do que o nazismo, o que é óbvio para qualquer pessoa minimamente alfabetizada em história contemporânea.
Disse isso recentemente num programa de televisão. Alguns telespectadores indignados (hoje em dia ficar indignado facilmente é quase índice de mau-caratismo) se revoltaram contra o que eu disse.
Claro, a maior parte dos intelectuais de esquerda mente sobre isso para continuar sua pregação evangélica (no mau sentido) e fazer a cabeça dos coitados dos alunos. Junto com eles, também estão os partidos políticos como os que se aproveitam, por exemplo, do caso Pinheirinho para "armar" a população.
O desespero da esquerda no Brasil se dá pelo fato de que, depois da melhoria econômica do país, fica ainda mais claro que as pessoas não gostam de vagabundos, ladrões e drogados travestidos de revolucionários. Bandido bom é bandido preso. A esquerda torce para o mundo dar errado e assim poder exercer seu terror de sempre.
Mas voltemos ao fato histórico sobre o qual os intelectuais de esquerda mentem: os comunistas (Stálin, Lênin, Trótski, Mao Tse-tung, Pol Pot e caterva) mataram mais do que Hitler e em nome das mesmas coisas que nossos intelectuais/políticos radicais de esquerda hoje pregam.
Caro leitor, peço licença para pedir a você que leia com atenção o trecho abaixo e depois explico o que é. Peço principalmente para as meninas que respirem fundo.
"(...) um novo interrogador, um que eu não tinha visto antes, descia a alameda das árvores segurando uma faca longa e afiada. Eu não conseguia ouvir suas palavras, mas ele falava com uma mulher grávida e ela respondia pra ele. O que aconteceu em seguida me dá náuseas só em pensar. (...): Ele tira as roupas dela, abre seu estômago, e arranca o bebê. Eu fugi, mas era impossível escapar do som de sua agonia, os gritos que lentamente deram lugar a gemidos e depois caíram no piedoso silêncio da morte. O assassino passou por mim calmamente segurando o feto pelo pescoço. Quando ele chegou à prisão, (...), amarrou um cordão ao redor do feto e o pendurou junto com outros, que estavam secos e negros e encolhidos."
Este trecho é citado pelo psiquiatra inglês Theodore Dalrymple em seu livro "Anything Goes - The Death of Honesty", Londres, Monday Books, 2011. Trata-se de um relato contido na coletânea organizada pelo "scholar" Paul Hollander, "From Gulag to the Killing Fields", que trata dos massacres cometidos pela esquerda na União Soviética, Leste Europeu, China, Vietnã, Camboja (este relato citado está na parte dedicada a este país), Cuba e Etiópia.
Dalrymple devia ser leitura obrigatória para todo mundo que tem um professor ou segue um guru de esquerda que fala como o mundo é mau e que devemos transformá-lo a todo custo. Ou que a sociedade devia ser "gerida" por filósofos e cientistas sociais.
Pol Pot, o assassino de esquerda e líder responsável por este interrogador descrito no trecho ao lado, estudou na França com filósofos e cientistas sociais (que fizeram sua cabeça) antes de fazer sua revolução, e provavelmente tinha como professor um desses intelectuais (do tipo Alain Badiou e Slavoj Zizek) que tomam vinho chique num ambiente burguês seguro, mas que falam para seus alunos e seguidores que devem "mudar o mundo".
De início, se mostram amantes da "democracia e da liberdade", mas logo, quando podem, revelam que sua democracia ("real", como dizem) não passa de matar quem não concorda com eles ou destruir toda oposição a sua utopia. O século 20 é a prova cabal deste fato.
Escondem isso dos jovens a fim de não ter que enfrentar sua ascendência histórica criminosa, como qualquer idiota nazista careca racista tem que enfrentar seu parentesco com Auschwitz.
Proponho uma "comissão da verdade" para todas as escolas e universidades (trata-se apenas de uma ironia de minha parte), onde se mente dizendo que Stálin foi um louco raro na horda de revolucionários da esquerda no século 20. Não, ele foi a regra.
Com a crise do euro e a Primavera Árabe, o "coro das utopias" está de volta.
Os comunistas mataram muito mais gente no século 20 do que o nazismo, o que é óbvio para qualquer pessoa minimamente alfabetizada em história contemporânea.
Disse isso recentemente num programa de televisão. Alguns telespectadores indignados (hoje em dia ficar indignado facilmente é quase índice de mau-caratismo) se revoltaram contra o que eu disse.
Claro, a maior parte dos intelectuais de esquerda mente sobre isso para continuar sua pregação evangélica (no mau sentido) e fazer a cabeça dos coitados dos alunos. Junto com eles, também estão os partidos políticos como os que se aproveitam, por exemplo, do caso Pinheirinho para "armar" a população.
O desespero da esquerda no Brasil se dá pelo fato de que, depois da melhoria econômica do país, fica ainda mais claro que as pessoas não gostam de vagabundos, ladrões e drogados travestidos de revolucionários. Bandido bom é bandido preso. A esquerda torce para o mundo dar errado e assim poder exercer seu terror de sempre.
Mas voltemos ao fato histórico sobre o qual os intelectuais de esquerda mentem: os comunistas (Stálin, Lênin, Trótski, Mao Tse-tung, Pol Pot e caterva) mataram mais do que Hitler e em nome das mesmas coisas que nossos intelectuais/políticos radicais de esquerda hoje pregam.
Caro leitor, peço licença para pedir a você que leia com atenção o trecho abaixo e depois explico o que é. Peço principalmente para as meninas que respirem fundo.
"(...) um novo interrogador, um que eu não tinha visto antes, descia a alameda das árvores segurando uma faca longa e afiada. Eu não conseguia ouvir suas palavras, mas ele falava com uma mulher grávida e ela respondia pra ele. O que aconteceu em seguida me dá náuseas só em pensar. (...): Ele tira as roupas dela, abre seu estômago, e arranca o bebê. Eu fugi, mas era impossível escapar do som de sua agonia, os gritos que lentamente deram lugar a gemidos e depois caíram no piedoso silêncio da morte. O assassino passou por mim calmamente segurando o feto pelo pescoço. Quando ele chegou à prisão, (...), amarrou um cordão ao redor do feto e o pendurou junto com outros, que estavam secos e negros e encolhidos."
Este trecho é citado pelo psiquiatra inglês Theodore Dalrymple em seu livro "Anything Goes - The Death of Honesty", Londres, Monday Books, 2011. Trata-se de um relato contido na coletânea organizada pelo "scholar" Paul Hollander, "From Gulag to the Killing Fields", que trata dos massacres cometidos pela esquerda na União Soviética, Leste Europeu, China, Vietnã, Camboja (este relato citado está na parte dedicada a este país), Cuba e Etiópia.
Dalrymple devia ser leitura obrigatória para todo mundo que tem um professor ou segue um guru de esquerda que fala como o mundo é mau e que devemos transformá-lo a todo custo. Ou que a sociedade devia ser "gerida" por filósofos e cientistas sociais.
Pol Pot, o assassino de esquerda e líder responsável por este interrogador descrito no trecho ao lado, estudou na França com filósofos e cientistas sociais (que fizeram sua cabeça) antes de fazer sua revolução, e provavelmente tinha como professor um desses intelectuais (do tipo Alain Badiou e Slavoj Zizek) que tomam vinho chique num ambiente burguês seguro, mas que falam para seus alunos e seguidores que devem "mudar o mundo".
De início, se mostram amantes da "democracia e da liberdade", mas logo, quando podem, revelam que sua democracia ("real", como dizem) não passa de matar quem não concorda com eles ou destruir toda oposição a sua utopia. O século 20 é a prova cabal deste fato.
Escondem isso dos jovens a fim de não ter que enfrentar sua ascendência histórica criminosa, como qualquer idiota nazista careca racista tem que enfrentar seu parentesco com Auschwitz.
Proponho uma "comissão da verdade" para todas as escolas e universidades (trata-se apenas de uma ironia de minha parte), onde se mente dizendo que Stálin foi um louco raro na horda de revolucionários da esquerda no século 20. Não, ele foi a regra.
Com a crise do euro e a Primavera Árabe, o "coro das utopias" está de volta.
domingo, 29 de janeiro de 2012
Livros que estou lendo
"Na morada das palavras" de Rubem Alves e "O homem que sabe" de Viviane Mosé. Filosofia e literatura juntas para divertir um pouco as minhas férias. Já comecei e estou gostando muito dos livros. Sendo assim, que tal seguir a pedida? Eu sugiro essas leituras. São indispensáveis para sentir e pensar a realidade.
Dos valores da liberdade
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.
“Não há na Terra, de acordo com minha opinião, felicidade igual à de alcançar a liberdade perdida”. (Cervantes)
A liberdade, a partir das concepções modernas, associa-se a outras virtudes como a justiça e a igualdade. Pela liberdade garante-se a vontade individual, mas cada torna-se responsável por suas atitudes e ações. Como ideia estruturadora das relações sociais, a liberdade move os ideais democráticos. A liberdade humana é sempre um valor pelo qual muitos resolvem pagam alto preço.
Descrever sobre os fenômenos depois que os mesmos aconteceram é sempre mais fácil do que prevê-los, antecipando desfechos. Mas se é tão difícil prever antecipadamente os desfechos, aprendamos com eles a partir de seus substratos (aquilo que forma a essencialidade do ser, sobre o que repousam seus atributos, o que serve de base a um fenômeno).
A queda das ditaduras nas nações árabes da África e do Oriente Médio demonstra que o povo até suporta ditaduras, desde que as mesmas não usem dos mesmos artifícios de opressão daqueles que foram destituídos por estes que por ora estão no poder. O povo não suporta traição, o povo não suporta que alguém se declare dono de tudo e de todos. O povo não tolera privilégios inescrupulosos. Quando isto acontece, levanta a voz, grita por liberdade e luta por possibilidades de vida menos tiranas, mesmo não sabendo prever até quando usufruirá desta nova conquista. A esperança de dias melhores, em todos os sentidos, é sempre o horizonte de quem luta por liberdade.
Fica claro que houve quebra de confiança entre líderes e liderados no momento em que os primeiros se julgaram acima de tudo e de todos. Sintomaticamente, caíram por falta de legitimidade junto àqueles que diziam liderar. Mais do que isto, demonstraram o quão foram incapazes de ler a realidade, julgando que, a fim e a cabo, seus liderados iriam defendê-los e quiçá, morrer por eles.
O desafio dos líderes sempre está na relação construída junto a seus liderados, seja pela representação, seja pela condição de amálgama (mediação). Como afirma Walter Lippmann, "líderes são os guardiões dos ideais de uma nação, das crenças que ela cultiva, de suas esperanças permanentes, da fé que faz uma nação de um mero agregado de indivíduos." Por outro viés, escreve John Maxwell: “meu alvo não é formar seguidores que resultem em uma multidão. Meu alvo é desenvolver líderes que se transformem em um movimento”. Certo é que não há legitimidade de liderança quando os anseios e necessidades do povo não são respeitados. Certo também que os ventos de inspiração não sopram somente aos que se consideram “iluminados”. A realidade, associada à capacidade de resignação e organização do povo, produz efeitos capazes de construir novos horizontes, novas utopias.
Nenhuma ditadura merece defesa. Todas as ditaduras tolhem a liberdade. Liberdade não se reduz a “poder dizer”. Liberdade sempre é “poder viver”: autenticamente, com dignidade, com segurança, com prazer, na ausência de “sofrimentos provocados”, com soberania. Resta perguntar se todos aqueles que pegaram em armas, morreram e pagaram o preço por mais liberdade em seu país sabiam que estas ditaduras, agora em cheque, já não interessam mais nem a seus países nem ao resto do mundo por conta de novos posicionamentos de ordem política e econômica. O que farão agora EUA e Europa: continuarão ditando regras e explorando os povos, sem a escora das ditaduras patrocinadas? O fim das ditaduras significa fim da opressão?
O desafio da liberdade é combater todas as formas de alienação. Onde houver alienação, não há como nascer liberdade. Ainda há muito a aprender, como ensina Eduardo Galeano: “somos o que fazemos, mas principalmente o que fazemos para mudar o que somos”.
Fonte: http://boletimodiad.blogspot.com/
“Não há na Terra, de acordo com minha opinião, felicidade igual à de alcançar a liberdade perdida”. (Cervantes)
A liberdade, a partir das concepções modernas, associa-se a outras virtudes como a justiça e a igualdade. Pela liberdade garante-se a vontade individual, mas cada torna-se responsável por suas atitudes e ações. Como ideia estruturadora das relações sociais, a liberdade move os ideais democráticos. A liberdade humana é sempre um valor pelo qual muitos resolvem pagam alto preço.
Descrever sobre os fenômenos depois que os mesmos aconteceram é sempre mais fácil do que prevê-los, antecipando desfechos. Mas se é tão difícil prever antecipadamente os desfechos, aprendamos com eles a partir de seus substratos (aquilo que forma a essencialidade do ser, sobre o que repousam seus atributos, o que serve de base a um fenômeno).
A queda das ditaduras nas nações árabes da África e do Oriente Médio demonstra que o povo até suporta ditaduras, desde que as mesmas não usem dos mesmos artifícios de opressão daqueles que foram destituídos por estes que por ora estão no poder. O povo não suporta traição, o povo não suporta que alguém se declare dono de tudo e de todos. O povo não tolera privilégios inescrupulosos. Quando isto acontece, levanta a voz, grita por liberdade e luta por possibilidades de vida menos tiranas, mesmo não sabendo prever até quando usufruirá desta nova conquista. A esperança de dias melhores, em todos os sentidos, é sempre o horizonte de quem luta por liberdade.
Fica claro que houve quebra de confiança entre líderes e liderados no momento em que os primeiros se julgaram acima de tudo e de todos. Sintomaticamente, caíram por falta de legitimidade junto àqueles que diziam liderar. Mais do que isto, demonstraram o quão foram incapazes de ler a realidade, julgando que, a fim e a cabo, seus liderados iriam defendê-los e quiçá, morrer por eles.
O desafio dos líderes sempre está na relação construída junto a seus liderados, seja pela representação, seja pela condição de amálgama (mediação). Como afirma Walter Lippmann, "líderes são os guardiões dos ideais de uma nação, das crenças que ela cultiva, de suas esperanças permanentes, da fé que faz uma nação de um mero agregado de indivíduos." Por outro viés, escreve John Maxwell: “meu alvo não é formar seguidores que resultem em uma multidão. Meu alvo é desenvolver líderes que se transformem em um movimento”. Certo é que não há legitimidade de liderança quando os anseios e necessidades do povo não são respeitados. Certo também que os ventos de inspiração não sopram somente aos que se consideram “iluminados”. A realidade, associada à capacidade de resignação e organização do povo, produz efeitos capazes de construir novos horizontes, novas utopias.
Nenhuma ditadura merece defesa. Todas as ditaduras tolhem a liberdade. Liberdade não se reduz a “poder dizer”. Liberdade sempre é “poder viver”: autenticamente, com dignidade, com segurança, com prazer, na ausência de “sofrimentos provocados”, com soberania. Resta perguntar se todos aqueles que pegaram em armas, morreram e pagaram o preço por mais liberdade em seu país sabiam que estas ditaduras, agora em cheque, já não interessam mais nem a seus países nem ao resto do mundo por conta de novos posicionamentos de ordem política e econômica. O que farão agora EUA e Europa: continuarão ditando regras e explorando os povos, sem a escora das ditaduras patrocinadas? O fim das ditaduras significa fim da opressão?
O desafio da liberdade é combater todas as formas de alienação. Onde houver alienação, não há como nascer liberdade. Ainda há muito a aprender, como ensina Eduardo Galeano: “somos o que fazemos, mas principalmente o que fazemos para mudar o que somos”.
Fonte: http://boletimodiad.blogspot.com/
1º Aniversário do Blog "Coisasdeflorania"
Vida longa para o blog "Coisasdeflorania" é o que deseja todos que valorizam a cultura da cidade de Florânia. Parabéns!
Poesia,
música e apresentações culturais, foi assim a noite desta última
sexta-feira dia 27, na Rua João Damata Toscano, com a realização do 1°
Sarau das Coisas de Florânia.
O evento realizado pelos professores Júnior Galdino e Domingos Toscano (Didi), que também são redatores do primeiro Blog Cultural de nossa cidade, que é carimbado de Coisas de Florânia, comemorou o aniversário de um ano do blog.
O Sarau das Coisas de Florânia contou com apresentações musicais de artistas da terra, apresentação teatral e principalmente declamações de vários poemas de poetas de poetisas e nossa cidade.
Prof. Domingos Toscano (Didi) |
Na oportunidade foi realizado o lançamento do Livreto de Cordel das Coisas de Florânia do autor cordelista, o Prof. Domingos Toscano (Didi), que em seu cordel conta um pouco sobre a história de nossa terra e o cotidiano das Coisas de Florânia. Quem também lançou em primeira mão uma música de sua autoria intitulada de A Ladeira, foi o professor Junior Galdino.
Prof. Junior Galdino |
O público foi presenteado com a primeira edição do Livreto de Cordel das Coisas de Florânia, além de se deliciar com uma saborosa sopa e um delicioso coquetel. Um fato interessante no evento foi o encontro de blogueiros da cidade.
A
redação do blog também esteve prestigiando e parabeniza os professores
Junior Galdino e Domingos Toscano pelo trabalho de resgate da cultura
das Coisas de Florânia.
Fonte: www.claudianosilva.com
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Repúdio da ANPOF ao projeto de lei que regulariza a profissão de "filósofo"
Tramita no Congresso Nacional, em regime conclusivo, o projeto de lei nº 2533/11, elaborado pelo depudado Giovani Cherini (PDT/RS)* . Seu objetivo é regulamentar a profissão de filósofo no Brasil. Conforme a proposta do deputado Cherini, o desenvolvimento de projetos socioeconômicos regionais, setoriais ou globais deverão contar com a participação de filósofos devidamente registrados no Ministério do Trabalho. Estarão qualificados para o exercício da profissão todos aqueles que possuírem título de bacharel em filosofia, os diplomados “em cursos similares” no exterior, após terem seus diplomas revalidados, além de mestres e doutores não diplomados que exerçam a atividade há mais de cinco anos. O mencionado projeto de lei também assegura que a profissão de “filósofo” poderá ser exercida por membros titulares da Academia Brasileira de Filosofia e “aos por ela diplomados”. Para conferir a íntegra do projeto de lei, acesse:
http://www.camara.gov.br/
Como representante da comunidade de pós-graduação dos cursos de filosofia no Brasil, a ANPOF vem manifestar seu repúdio a tal projeto.
Cursos de filosofia formam professores de filosofia, que podem ou não ser filósofos. Assim também, cursos de literatura formam professores de literaratura, que podem ou não ser literatos. Finalmente, há filósofos e literatos sem titulação acadêmica. É tão absurdo exigir diplomação específica para alguém ser filósofo quanto seria exigir diplomação específica para alguém ser escritor. A filosofia não é e nem deve tornar-se competência exclusiva de um segmento qualquer, seja ele de natureza estamental, profissional ou ideológico.
Acima de tudo, causa-nos estranheza a prerrogativa que o projeto pretende dar à Academia Brasileira de Filosofia, que qualifica como filósofos João Avelange e Carlos Alberto Torres, capitão da seleção de futebol de 1970. Trata-se de uma associação absolutamente inexpressiva no que concerne aos estudos, projetos de pesquisa e ensino da filosofia em nível universitário. A despeito disso, o referido projeto quer transformar essa entidade na representante da filosofia e da “língua filosófica” nacionais” (artigo 7).
Por essas razões, endossamos o abaixo‑assinado que circula na Internet contra o mencionado projeto, que pode ser acessado a partir do link que inserimos abaixo.
http://www.change.org/
Cordialmente,
Vinicius de Figueiredo (Presidente da Diretoria da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia – ANPOF)
Fonte: Boletim da ANPOF
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Blog do Beethoven
NÃO ADIANTA GRITAR QUE ELA É SURDA
Sim, até eu já escutei ai se eu te pego... O método da insistência derrota qualquer barreira fisiológica.
Que época paradoxal. Nunca houve tanta música disponível e tantos músicos em atividade. Mas nas rádios, nas pistas, nos fones, celulares só se escuta delícia, delícia...
Antes de mais nada, quero dizer que gostei da música cantada por Teló. Não a acho o mal do século, como muitos têm dito no Facebook e Twitter. A estes peço calma. O século está apenas começando.
A música tem qualidades. Faz parte de um gênero incompreendido: o sertanejo universitário. O sertanejo tem apanhado da crítica e o universitário da polícia paulista.
Invejo Teló. Demorei bem mais tempo para ter um clássico. E nunca um jogador famoso coreografou uma sonata minha.
Como um dos primeiros românticos e apaixonado pelo lirismo dramático, implico um pouco com o verso que diz:
A galera começou a dançar
E passou a menina mais linda
Poderia ter sido escrito assim:
Um conjunto de pessoas com afinidades se pôs a bailar
Quando transcorreu diante de meus olhos a mais formosa criatura
Já vejo todo mundo cantando-a desse jeito no carnaval.
Além do mais, tenho uma ligação com a música popular e sou chegado numa sanfona. Luiz Tatit e José Miguel Wisnik, na canção Baião de Quatro Toques, radiografaram bem esse aspecto. Conhece? http://migre.me/7umqP. Nela eles usaram a estrutura de minha mais famosa sinfonia para fazer um baião.
Uma parte da letra diz assim, ó:
Pra quem compôs, pra quem tocou
e pra quem ouve
É o destino que sempre se quis
É uma quinta sinfonia de Beethoven
Que decantou e só ficou a raiz
Aliás, gostaria que soubessem que a 5ª Sinfonia nem é a preferida de meu repertório. Gosto mais da Nona de Beethoven, que compus em homenagem à minha avó italiana.
Agora queria mudar de assunto. Pulemos de faixa. A motivação inicial deste post foi a minha audição, que anda meio esquisita.
Esses dias, sentei-me na frente da tevê para assistir à implosão de um moinho. Olha o que provoca o recesso do futebol. Achei que ia só ver, mas fiquei feliz ao notar que eu estava reconhecendo o som de um apito de segurança. Logo depois, para minha surpresa, ouvi também o que parecia ser uma explosão. Mas o prédio não caiu, ficou quase intacto. A julgar pela imagem, o ouvido me enganou. Fiquei com dó maior do prefeito.
Mas o fato que me tem deixado intrigado depois que voltei a ouvir algumas coisas é o enorme silêncio da grande mídia em relação ao lançamento do A Privataria Tucana. Será que só eu escutei o barulho retumbante que o livro provocou nas redes sociais? Não pode ser. Ignorar esses sons é um tiro audível no pé. Não sou especialista em comunicação, meu negócio é música. Mesmo assim recomendo aos que silenciaram até agora que escutem o conselho de Teló: tomem coragem e comecem a falar. Senão vocês se matam
Fonte: http://www.blogsdoalem.com.br/Beethoven/
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
O "homo otarius"
Como filhos do Ocidente no séc. XXI, não mais herdeiros saudosistas
de um tonto racionalismo que nos levou à duas grandes guerras
mundiais, menos ainda dispostos a zombar de uma ciência que quis
ilusoriamente exterminar a doença e a fome no mundo, mas
descendentes da máscara do terror disseminado pelos EUA, pós-11 de
setembro de 2001, de onde partiu para o mundo todo imagens
fortíssimas de desabamento de uma das mais poderosas potências
econômicas da terra, mostrando a nossa real fragilidade, estamos
sendo agora tentados a perpetuar a espécie em vários campos da
atividade humana. Na ciência ou na política, na ecologia ou na
religião, nas artes ou na culinária, na filosofia ou no mundo do
trabalho, o discurso é o mesmo: “Que mundo queremos deixar para
os nossos filhos?” Isso gera
conformismo, passividade política e, ao mesmo tempo, subestima
outros povos ao risco, uma vez que odiamos o risco. Queremos
controlar a vida, não mais arriscá-la!
A notícia de que assumimos
a colocação de 6ª economia mundial nos deixou meio tontos, senão
bestas. O tão almejado sonho
de viver uma realidade econômica semelhante ao dos países mais
desenvolvidos sempre foi uma marca presa ao imaginário cultural
coletivo de nosso povo. A cultura do conforto e da pasmaceira
ideológica de que está tudo bem, três refeições ao dia, salário
no final do mês, estabilidade econômica, casa própria, emprego e
renda sendo criados, dinheiro
no bolso 24 horas, “nunca
antes na história desse país”,
enfim, toda essa zona de conforto e “calmaria” apenas nos afoga
numa dimensão de “sobrevivencialismo” , cuja ideia importo aqui
da filosofia de Zizek: “(...) Parece que a divisão
entre o Primeiro Mundo e o Terceiro está mais na oposição entre
viver uma vida longa e satisfatória cheia de riqueza material e
cultural e viver uma vida dedicada a uma Causa transcendente(...).
Duas referências filosóficas se apresentam imediatamente a
propósito do antagonismo ideológico entre o modo de vida consumista
do Ocidente e o radicalismo muçulmano: Hegel e Nietzsche. Não
seria esse antagonismo o que existe entre o niilismo 'passivo' e o
'ativo' de Nietzsche? Nós, no Ocidente, somos os Últimos Homens de
Nietzsche, imersos na estupidez dos prazeres diários, ao passo que
os radicais muçulmanos engajados na luta estão prontos a arriscar
tudo, até a autodestruição(...)”(S. Zizek, Bem-vindo
ao Deserto do Real, São Paulo, Boitempo, 2003, p. 57).
Segundo
Zizek, paira sobre nós uma distorcida ideologia de que o bom mesmo é
prolongar a
vida, conservá-la ao máximo e purificá-la. Esse
falso clima de sustentabilidade econômica e tudo mais é gritante em
nossos dias. As pessoas estão estagnadas no conforto e na
burocracia. A fajuta ideia de zona de conforto econômico pelo estado
brasileiro está produzindo pessoas não só sedentárias, cômodas e
preguiçosas, mas indivíduos bestas que renunciaram sua
subjetividade em função de um estado de coisas prontas, dotadas do
espírito do capitalismo, cheias de fantasias, insensíveis ao que há
em volta, amargas com a realidade, seduzidas pelo virtual. É
tão patente essa mentalidade que o próprio Zizek expressou-se assim
sobre a importância que damos ao virtual: “Hoje
encontramos no mercado uma série de produtos desprovidos de suas
propriedades malignas: café sem cafeína, creme de leite sem
gordura, cerveja sem álcool, sexo sem sexo, guerra sem guerra, a
realidade virtual é sentida como a realidade sem o ser. Mas o que
acontece no final desse processo de virtualização é que começamos
a sentir a própria 'realidade real' como uma entidade virtual”(idem,
p. 24-25). É
o que está acontecendo conosco no Brasil. Vivemos uma certa
satisfação econômica sem saber até quando e qual a real
implicação que tem tudo isso para a totalidade da população e não
apenas para uma parte.
O mais engraçado disso é que
achamos que conquistamos algo. Não conquistamos nada ainda, basta
olharmos o nosso mais recente IDH, a infraestrutura de nossos
municípios, as estradas, a educação que não avança, os serviços
públicos à saúde que sucumbem diariamente, altos gastos em
campanhas eleitoreiras para políticos corruptos e analfabetos,
pousando de letrados. Além de acharmos que somos a 6ª, porém falsa
economia mundial, ainda criamos o engodo de que vivemos o melhor dos
mundos possíveis. Não temos
vida boa coisa nenhuma. Estamos sendo enganados o tempo todo por
discursos políticos desgastados e por índices de pesquisa que não
sabemos se correspondem aos fatos.
Somos esses homens prenunciados por
Nietzsche, o “homo otarius”, que não sabe realmente a vida que
tem, a vida que leva, a vida sem vida talvez. Vejamos o que diz
Slavoj Zizek ao retomar a pergunta paulina, “Quem está realmente
vivo hoje?”: “E não se percebe claramente a mesma
reversão no impasse dos Últimos Homens, indivíduos pós-modernos
que rejeitam como terroristas todos os objetivos mais altos e dedicam
a própria vida a sobreviver, a uma vida cheia de prazeres menores
cada vez mais refinados e artificialmente excitados?(...) O
que torna a vida digna de ser vivida é o próprio excesso de vida: a
consciência da existência de algo pelo que alguém se dispõe a
arriscar a vida(podemos chamar esse excesso de liberdade, honra,
dignidade, autonomia, etc.). Somente quando prontos a assumir esse
risco estamos realmente vivos”(idem, p. 108-109).
Deixamos o risco de vida pra
lá e optamos por essa pasmaceira econômica que camufla a vida até
a raiz da sua realidade, de tal modo que está anestesiando as nossas
condições subjetivas de fazer a clínica, a análise da existência
com toda sua carga de dramaticidade, transformando-nos em “homo
otarius”.
Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia, Bacharel em
Teologia
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Notícia de ontem: “Desenvolvimento do país depende da educação”, diz presidenta
"O
desenvolvimento do país depende da educação e por isso esses programas
são tão importantes, são tão estratégicos para o jovem, para a sua
família e, sobretudo, para o Brasil", disse. "Nossa intenção é garantir a
todos os jovens que queiram frequentar a universidade uma chance, uma
oportunidade", completou.
Dilma
lembrou que o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) permite que o
estudante financie até 100% da mensalidade, com juros de 3,4% ao ano. O
programa prevê ainda que o aluno só comece a pagar o empréstimo um ano e
meio após o término da faculdade. O prazo é três vezes mais que a
duração do curso.
Além
disso, segundo a presidenta, jovens que optarem por cursos de
licenciatura ou de medicina e que forem trabalhar dando aulas em escolas
públicas ou atendendo pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) em
locais em que há carência de médicos poderão ter o débito do Fies
reduzido.
"A
educação é a principal ferramenta para a conquista dos sonhos de cada
um e também para que o Brasil continue crescendo, distribuindo renda,
para que seja um país de oportunidade para todas as pessoas. Nada é mais
importante que a educação quando se trata de distribuição de renda e de
garantia de futuro", concluiu Dilma.
*Fonte: Agência Brasil
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
ESCOLA ESTADUAL DE FLORÂNIA É CONTEMPLADA COM O PROGRAMA DO ENSINO MÉDIO INOVADOR
No dia 9 de janeiro de 2012
foi lançado na Secretaria Estadual de Educação o ProEMI - Programa do
Ensino Médio Inovador em uma reunião com a participação das escolas
estaduais. Representaram a Escola Teônia Amaral o vice-diretor Francisco
Canindé da Silva e a Coordenadora Pedagógica Maria do Socorro Araújo
Silva Santos. "O ProEMI surgiu como uma forma de incentivar as redes
estaduais de educação a criar iniciativas inovadoras para o ensino
médio. Busca estimular as redes estaduais de educação a pensar novas
soluções que diversifiquem os currículos com atividades integradoras, a
partir dos eixos trabalho, ciência, tecnologia e cultura, para melhorar a
qualidade da educação oferecida nessa faze de ensino tornando-o mais
atraente" (MEC/2009). Na Escola Teônia Amaral já estão sendo realizadas
reuniões com a equipe pedagógica e professores para dar andamento ao
programa que divide-se em macrocampos: 1- Acompanhamento Pedagógico; 2 -
Iniciação Científica e Pesquisa; 3 - Cultura Corporal; 4 - Comunicação e
Uso de Mídias; 5 - Cultura Digital; 6 - Cultura e Artes; 7 -
Participação Estudantil; 8 - Leitura e Letramento. Os três primeiros são
obrigatórios. Os professores podem aderir ao programa diminuindo a
carga horária para 20h acrescentando 5h para o desenvolvimento dos
projetos, ou permanecer com a carga horára completa e acrescentar 10h
suplementares. A previsão é que na Escola Teônia Amaral sejam
desenvolvidos pelo menos 04 (quatro) projetos no Acompanhamento
pedagógico, Iniciação Científica e Pesquisa, Cultura Corporal e Leitura e
Letramento.
A dor na face
por Luiz Felipe Pondé para Folha
Muitas vezes apenas gostaríamos de dizer "não". Coisa difícil dizer "não", porque o "sim" é civilizado na sua condição de hipocrisia necessária para a vida em grupo.
Não dizer bom-dia, não dizer que gostou, não dizer que quer ir, não dizer que ama, dizer apenas "não".
Na ordem capitalista em que vivemos, onde tudo circula na velocidade do vento que nos constitui como miserável mercadoria que somos, o "não" aparentemente vende mal.
Mas não é verdade. O "não" é a alma do luxo. "Não quero" pode ser a diferença entre sua banalidade e sua sofisticação não afetada. Mas como tudo que é luxo, o "não" é difícil de achar, de cultivar, de sustentar.
Vende-se muito livro de autoajuda por aí. O leitor que me acompanha sabe como detesto autoajuda. Uma indústria que cresce na mesma proporção em que tudo perde o valor. Mas com isso não quero dizer que não precisemos de ajuda na vida. Somos uns coitados. Mas tem coisa melhor do que esse lixo.
Outro problema é que umas das maiores contradições da vida é que o cotidiano das relações quase sempre inviabiliza afetos espontâneos e nos arremessa a convivência estratégica que apenas "lida" com problemas.
Em resumo, quase sempre os membros da nossa família não são nossos melhores amigos e não é gente em que podemos confiar nossos desesperos porque sempre esperam de nós soluções para as demandas do dia a dia.
Maridos, esposas, filhos, irmãos, pais, quase sempre não servem para ouvir nossos segredos, mas apenas servem para constatar nossas misérias secretas.
Não há relação evidente entre família e paixões alegres (como diria, mais ou menos, o filósofo do século 17 Baruch Spinoza).
As responsabilidades são muitas, as expectativas excessivas, o que era amor se transforma em exigência de sucesso material e segurança previdenciária.
Comumente ataco manifestações de jovens e do povo. Não porque ache que a vida como está seja grande coisa, mas porque considero a infelicidade eterna e atávica do homem a razão final de todo desconforto político, moral e afetivo.
Quem diz que a solução do homem é política é sempre um mau caráter que gosta de política. Seja na universidade, seja em Brasília. A vida é uma prisão e não gosto de rotas de fuga falsas.
No fundo, sou mais "anos 60" do que aqueles que dizem ser "anos 60", mas que viraram "ambientalista de terno e gravata", "defensores da qualidade de vida" ou "roqueiros que cantam para as crianças da África". Para mim vale sempre uma regra básica: não confio em nada em que departamentos de recursos humanos confiam.
Nutro profunda simpatia por dois pensadores utópicos, Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau, ambos do século 19, representantes do movimento libertário americano.
Há uma dor característica causada por sorrisos falsos. Os músculos da face doem por conta do sorriso mentiroso, que é sempre o mais comum em nosso cotidiano, dizia Emerson, autor de Self-Reliance ("Autoconfiança"), de 1841, um clássico do movimento libertário.
Os homens em sua maioria vivem uma vida de sereno desespero, dizia Thoreau, autor de "Walden" (1854), narrativa de um período de sua vida em que se isolou numa casa num bosque.
Thoreau ficou mais conhecido como o criador do conceito de "desobediência civil", quando disse que o melhor governo é o que governa menos ou de forma nenhuma.
Hoje o pensamento público tornou-se monótono porque todo mundo quer agradar e salvar o mundo. Eu não quero salvar ninguém, nem aspiro a um mundo melhor.
Como dizia Emerson, existem grandes vantagens em sermos mal compreendidos (misunderstood).
A mania de sermos completamente compreendidos nada mais é do que o desejo de agradar a todos o tempo todo, uma das pragas típicas de um mundo marcado pelo marketing de tudo.
Em 2012 espero ser muito mal compreendido por todos aqueles que quiserem fazer de mim seu ídolo, positivo ou negativo, supondo que sabem exatamente o que eu penso ou o que sou.
Espero, acima de tudo, como dizia Thoreau, que não tenha que ir a lugar nenhum para o qual eu precise comprar uma roupa nova.
Muitas vezes apenas gostaríamos de dizer "não". Coisa difícil dizer "não", porque o "sim" é civilizado na sua condição de hipocrisia necessária para a vida em grupo.
Não dizer bom-dia, não dizer que gostou, não dizer que quer ir, não dizer que ama, dizer apenas "não".
Na ordem capitalista em que vivemos, onde tudo circula na velocidade do vento que nos constitui como miserável mercadoria que somos, o "não" aparentemente vende mal.
Mas não é verdade. O "não" é a alma do luxo. "Não quero" pode ser a diferença entre sua banalidade e sua sofisticação não afetada. Mas como tudo que é luxo, o "não" é difícil de achar, de cultivar, de sustentar.
Vende-se muito livro de autoajuda por aí. O leitor que me acompanha sabe como detesto autoajuda. Uma indústria que cresce na mesma proporção em que tudo perde o valor. Mas com isso não quero dizer que não precisemos de ajuda na vida. Somos uns coitados. Mas tem coisa melhor do que esse lixo.
Outro problema é que umas das maiores contradições da vida é que o cotidiano das relações quase sempre inviabiliza afetos espontâneos e nos arremessa a convivência estratégica que apenas "lida" com problemas.
Em resumo, quase sempre os membros da nossa família não são nossos melhores amigos e não é gente em que podemos confiar nossos desesperos porque sempre esperam de nós soluções para as demandas do dia a dia.
Maridos, esposas, filhos, irmãos, pais, quase sempre não servem para ouvir nossos segredos, mas apenas servem para constatar nossas misérias secretas.
Não há relação evidente entre família e paixões alegres (como diria, mais ou menos, o filósofo do século 17 Baruch Spinoza).
As responsabilidades são muitas, as expectativas excessivas, o que era amor se transforma em exigência de sucesso material e segurança previdenciária.
Comumente ataco manifestações de jovens e do povo. Não porque ache que a vida como está seja grande coisa, mas porque considero a infelicidade eterna e atávica do homem a razão final de todo desconforto político, moral e afetivo.
Quem diz que a solução do homem é política é sempre um mau caráter que gosta de política. Seja na universidade, seja em Brasília. A vida é uma prisão e não gosto de rotas de fuga falsas.
No fundo, sou mais "anos 60" do que aqueles que dizem ser "anos 60", mas que viraram "ambientalista de terno e gravata", "defensores da qualidade de vida" ou "roqueiros que cantam para as crianças da África". Para mim vale sempre uma regra básica: não confio em nada em que departamentos de recursos humanos confiam.
Nutro profunda simpatia por dois pensadores utópicos, Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau, ambos do século 19, representantes do movimento libertário americano.
Há uma dor característica causada por sorrisos falsos. Os músculos da face doem por conta do sorriso mentiroso, que é sempre o mais comum em nosso cotidiano, dizia Emerson, autor de Self-Reliance ("Autoconfiança"), de 1841, um clássico do movimento libertário.
Os homens em sua maioria vivem uma vida de sereno desespero, dizia Thoreau, autor de "Walden" (1854), narrativa de um período de sua vida em que se isolou numa casa num bosque.
Thoreau ficou mais conhecido como o criador do conceito de "desobediência civil", quando disse que o melhor governo é o que governa menos ou de forma nenhuma.
Hoje o pensamento público tornou-se monótono porque todo mundo quer agradar e salvar o mundo. Eu não quero salvar ninguém, nem aspiro a um mundo melhor.
Como dizia Emerson, existem grandes vantagens em sermos mal compreendidos (misunderstood).
A mania de sermos completamente compreendidos nada mais é do que o desejo de agradar a todos o tempo todo, uma das pragas típicas de um mundo marcado pelo marketing de tudo.
Em 2012 espero ser muito mal compreendido por todos aqueles que quiserem fazer de mim seu ídolo, positivo ou negativo, supondo que sabem exatamente o que eu penso ou o que sou.
Espero, acima de tudo, como dizia Thoreau, que não tenha que ir a lugar nenhum para o qual eu precise comprar uma roupa nova.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Filosofia da saúde
A cada ano vislumbramos uma explosão avassaladora de
pessoas que querem buscar a boa forma. O verão já chegou e um certo
“frenesi” acompanha aqueles que, a qualquer custo, não poupam
esforços por um corpo sarado, sem os famosos culotes, barriguinhas,
etc. As academias estão lotadas e os calçadões das cidades
repletos de gente que não se cansa de lutar contra os excessos de
peso no corpo, sinônimo de feiúra e de incontinência alimentar.
A sociedade, que agora se apresenta, estampa em suas
vitrines de cultura televisiva e virtual diversos padrões de
comportamentos, dentre os quais são vendidos sem nenhuma reflexão,
mas simplesmente negociados à revelia dos desejos desmedidos e
irresponsáveis da população. Isso é muito preocupante porque as
pessoas estão emagrecendo e engordando sem qualidade de vida, sem
saúde. A saúde, bem como a doença que é a sua falta, desponta
aqui como um alerta ou indicador de que precisamos urgentemente
pensar a saúde. Às vezes, muita atenção ao corpo ou uma
alucinadora inquietação para com ele pode representar doença e não
saúde: “(...) Diferentemente da enfermidade, a saúde não é
nunca causa de preocupação, antes, quase nunca somos conscientes de
estarmos sadios. Não é condição que convida ou adverte a cuidar
de si próprios: de fato, implica a surpreendente possibilidade de
ser esquecido de si”(Gadamer, Dove si nasconde la salute, … In
REALE, Giovanni. Corpo, Alma e Saúde. O conceito de homem de Homero
a Platão. São Paulo: Paulus, 2002, pág. 185).
Estranho,
enquanto damos muita atenção ao
corpo a ponto de nos preocuparmos com ele demasiadamente, mais
próximos estamos
da enfermidade. Não seria uma doença moderna essa excessiva
obsessão por exercícios físicos?
A
corrida por um corpo malhado, sarado e fisicamente em forma não pode
ser motivada apenas pela estética, pelo prazer de desfilá-lo nas
praias, clubes, calçadões e ruas, mas tem de existir também um
sentido de satisfação interna, conforto e bem-estar, felicidade e
enchimento de si. Ou seja, tudo começa com um corpo bem cuidado na
“medida certa”, na “justa medida”, como diz a metafísica de
Platão. Os filósofos se esmeravam nisso, numa saúde do corpo e da
alma voltada para o equilíbrio. É óbvio que a educação física
constante e frequente tira o enfado, a preguiça e aumenta a
concentração e a disposição para o trabalho! Parece até que
voltamos à Grécia, à disciplina com relação ao corpo e com o
perfeccionismo atlético, no entanto, falta-nos o equilíbrio físico
e intelectual, falta-nos metafísica, falta-nos “justa medida”.
A rotina de malhação
e educação física aumenta cada vez mais. É cada vez mais comum
vermos gente caminhando, pedalando, correndo e se exercitando nas
academias, pois, enquanto muitos têm de suar para deixar o corpo em
dia, pronto para o verão, outros vêm fazendo o possível em
continuar a frequência extenuante de exercícios físicos para
manter a saúde do corpo, debilitado pelo tempo ou pelo excesso de
trabalho.
A saúde é um tema
emblemático. Veja que ao pronunciarmos a palavra “saúde”
enchemos a boca quase que completamente de vida, de gozo, de saliva.
Ela tem importância. Representa o ponto de equilíbrio e saciedade
da pessoa humana. A saúde reveste os binômios filosóficos
“aparência/ideia”, “corpo/alma”, “sensível/inteligível”,
“experiência/razão”, “existência/essência” de unidade, de
beleza e de bem-estar no ser humano, de tal modo que a vida mesma com
saúde se torna mais leve, mais amena e muito mais feliz. Quando isso
de fato está ocorrendo é porque a educação está funcionando como
uma tomada de consciência do sujeito frente aos desequilíbrios
naturais de seu organismo.
Sendo assim, a
nossa saúde depende da Filosofia a fim de encontrar os meios mais
sábios de equilíbrio de tudo aquilo que há na natureza, de
restaurar a “justa medida”em nossa natureza. Saber o “mais”,
o “menos”, “proporção”, “peso”, “excessos”, enfim.
Lidar com isso é fazer Filosofia da saúde, uma se liga com a outra:
“O médico é chamado a restaurar a medida oculta, quando
a doença vem alterá-la. Em estado de saúde, a própria natureza se
encarrega de implantá-la, ou antes, é ela própria a justa medida.
O conceito de mistura, tão importante, e que na realidade representa
uma espécie de justo equilíbrio entre as diversas forças do
organismo, anda estreitamente relacionado com os de medida e de
simetria. É de acordo com esta norma – assim a devemos denominar –
cheia de sentido que a natureza age...”(Jaeger, Paideia, … In
idem, p. 186).
Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia e
Bacharel em Teologia
domingo, 8 de janeiro de 2012
Tudo começou na Grécia e tudo acabará na Grécia?(Leonardo Boff)
Nossa civilização ocidental hoje mundializada tem sua origem
histórica na Grécia do século VI antes de nossa era. Ruira o mundo do
mito e da religião que era o eixo organizador da sociedade. Para pôr
ordem àquele momento crítico fez-se, num lapso de pouco mais de 50 anos,
uma das maiores criações intelectuais da humanidade. Surgiu a era da
razão critica que se expressou pela filosofia, pela política, pela
democracia, pelo teatro, pela poesia e pela estética. Figuras
exponenciais foram Sócrates, Platão, Aristóteles e os sofistas que
gestaram a arquitetônica do saber, subjacente ao nosso paradigma
civilizacional: foi Péricles como governante à frente da democracia; foi
Fídias da estética elegante; foram os grandes autores das tragédias
como Sófocles, Eurípides e Ésquilo; foram os jogos olímpicos e outras
manifestações culturais que não cabe aqui referir.
Esse paradigma se caracteriza pelo predomínio da razão que deixou
para trás a percepção do Todo, o sentido da unidade da realidade que
caracterizava os pensadores chamados pré-socráticos, os portadores do
pensamento originário. Agora se introduzem os famosos dualismos:
mundo-Deus, homem-natureza, razão-sensibilidade, teoria-prática. A razão
criou a metafísica que na compreensão de Heidegger faz de tudo objeto e
se instaura como instância de poder sobre este objeto. O ser humano
deixa de se sentir parte da natureza para se confrontar com ela e
submetê-la ao projeto de sua vontade.
Este paradigma ganhou sua expressão acabada mil anos depois, no
século XVI, com os fundadores do paradigma moderno, Descartes, Newton,
Bacon e outros. Com eles se consagrou a cosmovisão mecanicista e
dualista: a natureza de um lado e o ser humano de outro de frente e
encima dela como seu “mestre e dono”(Descartes) e coroa da criação em
função do qual tudo existe. Elaborou-se o ideal do progresso ilimitado
que supõe a dominação da natureza, no pressuposto de que esse progresso
poderia caminhar infinitamente na direção do futuro. Nos últimos
decênios a cobiça de acumular transformou tudo em mercadoria a ser
negociada e consumida. Esquecemos que os bens e serviços da natureza são
para todos e não podem ser apropriados apenas por alguns.
Depois de quatro séculos de vigência desta metafísica, quer dizer,
deste modo de ser e de ver, verificamos que a natureza teve que pagar um
preço alto para custear esse modelo de crescimento/desenvolvimento.
Agora tocamos nos limites de sua possibilidades. A civilização
técnico-científica chegou a um ponto em que ela pode por fim a si mesma,
degradar profundamente a natureza, eliminar grande parte do
sistema-vida e, eventualmente, erradicar a espécie humana. Seria a
realização de um armgedon ecológico-social.
Tudo começou há milênios na Grécia. E agora parece terminar na
Grécia, uma das primeiras vitimas do horror econômico, cujos banqueiros,
para salvar seus ganhos, lançaram toda uma sociedade no desespero.
Chegou à Irlanda, a Portugal, à Itália, podendo-se se estender à Espanha
e à França e, quiçá, a todo o sistema mundial.
Estamos assistindo a agonia de um paradigma milenar que está, parece, encerrando sua trajetória histórica. Pode demorar ainda dezenas de anos, como um moribundo que resiste, mas o fim é previsível. Com seus recursos internos não tem condições de se reproduzir.
Estamos assistindo a agonia de um paradigma milenar que está, parece, encerrando sua trajetória histórica. Pode demorar ainda dezenas de anos, como um moribundo que resiste, mas o fim é previsível. Com seus recursos internos não tem condições de se reproduzir.
Temos que encontrar outro tipo de relação para com a natureza, outra
forma de produzir e de consumir, desenvolvendo um sentido geral de
interdependência face à comunidade de vida e de responsabilidade
coletiva pelo nosso futuro comum. A não encetarmos esta conversão,
ditaremos para nós mesmos o veredito de desaparecimento. Ou nos
transformamos ou desapareceremos.
Faço minhas as palavras de Celso Furtado, economista-pensador:”Os
homens de minha geração demonstraram que está ao alcance do engenho
humano conduzir a humanidade ao suicídio. Espero que a nova geração
comprove que também está ao alcance do homem abrir caminho de acesso a
um mundo em que prevaleçam a compaixão, a felicidade, a beleza e a
solidariedade”. Mas à condição de mudarmos de paradigma.
Leonardo Boff é autor: Opção-Terra. A solução para a Terra não cai do céu, Record, Rio 2009.
sábado, 7 de janeiro de 2012
Rebeldes, mas sem filosofia
Nei Alberto Pies
"A rebeldia nos jovens não é um crime. Pelo contrário: é o fogo da alma que se recusa a
conformar-se, que está insatisfeito com o status quo,
que proclama querer mudar o mundo e está frustrado por não saber como"(http://www.chabad.org.br)
Controlar ou emancipar a juventude é um dos dilemas de nossos tempos. Como escreveu Moisés Mendes, em artigo Esses jovens:
“O jovem com vontades é uma invenção recente da humanidade. E o jovem
capaz de influenciar os outros com suas vontades é uma invenção com
pouco mais de 40 anos”. (ZH 13/11/11) Ao longo dos tempos, os jovens
resistem e mantém acesa a ideia de mudar o mundo. Desejam,
profundamente, que ideais e mundo sejam uma nota só. Seus sonhos
projetam ideias em teimosia. Eles têm consciência que precisam controlar
o seu “fogo ardente”, mas desejariam que este controle fosse deles, não
daqueles que representam qualquer autoridade (pais, professores,
psicólogos, legisladores, juízes, polícia). Rejeitam serem pensados
pelos outros.
Os
jovens sempre gostaram de desafiar os adultos, embora nunca tenham
dispensado o apoio sincero e franco, a escuta compreensiva e a
orientação bem intencionada dos mais velhos. A novidade de agora é que
se apoderaram, como antes nunca visto na história, de uma poderosa
ferramenta de comunicação e interação: a internet e as redes sociais.
Parece, no entanto, que sua fragilidade está no fato de que ainda não
terem vislumbrado uma filosofia capaz de dar envergadura para sustentar
as causas de sua rebeldia. Faltam-lhes frases, bordões; falta-lhes
filosofia.
O
inconformismo que caracteriza os jovens é a força renovadora que move o
mundo, mas também algo que incomoda os já acomodados. Acomodados,
despreparados ou desconhecendo a realidade do universo juvenil, muitos
desqualificam a juventude, vendo-a como um incômodo ou como uma fase de
passageira rebeldia. Ao invés de emancipar, desejam controlar, dominar,
moralizar. A rebeldia é o sinal de que a juventude continua sadia,
cumprindo com o seu papel de provocadora de mudanças. A rebeldia, aos
olhos da filosofia, é atitude de quem quer ser sujeito de sua história,
não seu coadjuvante. A filosofia, como o inconformismo, motiva cada um
na busca de seus próprios caminhos. Se os jovens mantiverem senso de
direção, terão o poder de mover mundos.
O
filósofo Sócrates, na Grécia Antiga, acreditando na emancipação humana,
desenvolveu a maiêutica. Concebeu o papel dos sábios a um trabalho de
parteira (que ajudam a dar a luz). Ele acreditava que a verdade e o
conhecimento estão com cada um e cada uma de nós, e cada indivíduo pode
descobrir as razões e verdades que motivam seu viver. Não por acaso,
fora considerado um incômodo para Atenas. Uma das razões de sua
condenação à morte foi insuflar a juventude a pensar por sua conta.
O
fato é que os jovens de hoje vivem o seu tempo a partir de suas
percepções, vivências e leituras. Seremos capazes de
compreendê-los em nosso momento histórico? Teremos disposição para o
diálogo e a escuta, buscando entender os desejos, sonhos, medos e
angústias que os movem?
Neste
mês em que comemoramos o dia mundial da Filosofia vale pensar que
filosofia e rebeldia desencadeiam atitudes altivas e saudáveis, próprios
daqueles que decidem pensar. Jovens e adultos, no entanto, precisam
discernir que causas valem uma vida. A violência e a agressão, em forma
de rebeldia, não podem ser toleradas. Mas, acima de tudo, a opção é da
sociedade: apostar e empenhar-se na emancipação e inclusão da juventude
ou considerá-la como constante ameaça contra a ordem social. Cada opção,
com seu preço.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Brasil, 6ª maior economia do globo.
Uma economia que esconde ainda problemas sérios de desigualdade social, de educação, saúde, moradia, saneamento básico, geração de emprego e renda, salários e corrupção política. Um índice que não diz muito de nossa realidade brasileira. É lamentável!
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
A filosofia em "Asas do Desejo"
Um
diálogo dramático e extremamente existencialista do filme “Asas
do Desejo”
- Então?
- Nascer do Sol 7h22min; Por do Sol 16h28min; Nascer da Lua 19h04min; Por da Lua; Nível das águas do Havel e do Spree... Há vinte anos um caça soviético despenhou-se no lago Stössen... Há 50 anos foram as olimpíadas. Há 200 anos, Nicolas François Blanchard sobrevoou a cidade num balão de ar quente. Os fugitivos fizeram o mesmo no outro dia.
- E hoje... Um homem caminhava pela Lilienthaler Chaussée e olhou para o vago por cima do ombro.
- Hoje, na estação de correios 44, um homem que vai por fim à vida, colou selos especiais nas suas cartas de despedida; um em cada. Depois cá fora falou inglês com um soldado americano pela primeira vez desde os tempos da escola, e fluentemente. Na prisão de Plötzensee, um preso, antes de ir de contra a parede, disse “Agora!”. Na estação de Metro do Zoo, o funcionário, em vez do nome da estação gritou “Terra do fogo”.
- Bonito.
- Nas montanhas de Reh um velho lia a Odisseia a uma criança. O pequeno escutava-o atentamente. E tu, que tens para contar?
- Uma transeunte fechou o chapéu de chuva e ficou encharcada. Um aluno descreveu ao professor como brota um feto da terra, e este ficou espantado. Uma cega tacteou o relógio quando me sentiu. É fantástico viver espiritualmente, o que há de puro, de espiritual nas pessoas. Mas às vezes farto-me desta eterna existência de espírito. Nessas alturas gostaria de não pairar eternamente. Gostaria de sentir um peso que anulasse a infinidade e me segurasse à terra. A cada passo ou a cada golpe de vento gostaria de poder dizer: “Agora, agora, agora” e não “desde sempre” e “para todo o sempre”. Sentar-me à mesa e jogar às cartas, ser cumprimentado, nem que seja só com um aceno. Sempre que o fizemos, foi a fingir. Fingimos que numa luta de boxe deslocávamos uma anca. Fingimos que nos sentamos numa mesa a comer e a beber, que nos serviam borrego assado e vinho, nas tendas no deserto. Era tudo a fingir. Eu não quero gerar um filho, nem plantar uma árvore, mas seria bem agradável chegar em casa cansado e dar de comer ao gato, como Philipp Marlow. Ter febre, ficar com os dedos sujos de ter lido o jornal... Não me entusiasmar só com coisas do espírito, mas com uma refeição, a curva de uma nuca, uma orelha. Mentir à descarada. Ao andar, sentir o esqueleto mexer-se a cada passo. Poder dizer “ah”, “oh”, “ai” em vez de “sim” e “amém”. Poder, ao menos uma vez, entusiasmar-me com o mal. Extrair todos os demônios da Terra, dos que por nós passam, e afugentá-los para bem longe. Ser selvagem. Ou experimentar o que se sente quando se tiram os sapatos debaixo da mesa e se estendem os dedos descalços. Assim. Ficar só. Deixar correr. Ficar sério.
- Só se pode ser feroz na medida em que se fica sério. Não fazer senão olhar, reunir, testemunhar, preservar. Continuar espírito. Manter a distância, a palavra.
Nada mal para quem precisa de uma sacudida de existência. Uma verdadeira lição de Filosofia da Existência!
Transcrito pelo
Professor Jackislandy Meira de M. Silva
Kafka tinha razão: todo amante da burocracia tem cara de rato
por Luiz Felipe Pondé para Folha
Acho o Réveillon uma festa chatíssima. Quando você estiver lendo esta coluna, estarei em Tel Aviv, e ainda bem que aqui não tem Réveillon.
A cidade é patrimônio cultural universal porque tem o maior conjunto arquitetônico Bauhaus do mundo, o que dá a ela um tom entre o blasé (isto é, a soma do cinza e branco típico dos prédios Bauhaus de poucos andares com o desleixo chique característico da população local mediterrânea) e o moderno da primeira modernização, antes de a modernidade virar essa coisa brega de massa.
Tel Aviv é descrita pelos israelenses como sendo "outro mundo", diferente do resto do país, justamente por seu caráter secular, arredio ao fanatismo religioso que cresce por aqui e aberto à convivência mundana.
Diante desse cenário, sempre que estou nesta cidade, meu pessimismo (que tem sua origem provavelmente em alguma forma de disfunção fisiológica) cede. O desleixo e o ar mediterrâneo, associados ao desespero mudo, embutido no cotidiano de quem se sabe uma espécie caçada, me acalmam. Estranho? Sou estranho mesmo.
Segundo reza uma das lendas sobre Franz Kafka, quando perguntaram a ele se não havia esperanças para o mundo, ele teria respondido: "Esperanças há muitas, mas não para nós".
De todas as formas de pessimismo, a de Kafka é a única que me assusta. Não temo pessimismos cosmológicos. Não espero nada da vida na forma de recompensa moral (aquilo que a teologia cristã chama "retribuição pelos méritos").
Antes de tudo porque não sou uma pessoa boa. Raramente me preocupo com os outros, e a África pouco me importa. Nem a fome. Nem as baleias. Nem você.
Não conto com a misericórdia de Deus porque não a mereço. Guerras sempre existirão, e a humanidade faz o que pode para sobreviver ao mundo e a si mesma.
A possível falta de sentido da vida não me interessa. Durmo bem com ela. Sou daqueles que pensam que a metafísica é fruto de indisposição e mau humor. Mas temo o pessimismo kafkiano como nada mais no mundo. Temo a burocracia. Todo amante da burocracia tem cara de rato. Kafka tinha razão.
O pior mundo de Kafka não é sua barata, mas aquele do seu conto "A Construção". O roedor que faz a "construção" em sua casa é a melhor descrição do inferno burocrático em que o mundo se transformou.
Kafka, à diferença da maioria de nossos especialistas em ciências humanas, sabe que construímos a burocracia para nos sentir seguros, e não porque nos obrigam a isso. E o pior é que existem muitas razões para nos sentirmos inseguros, por isso não há saída para o inferno que é a burocracia.
Algumas almas menos brilhantes assumem que um mundo "paperless" (nada mais ridículo do que usar expressões em inglês para se sentir mais científico), ou seja, sem papel, seria menos burocrático. Risadas... Nada mais horroroso do que alguns restaurantes que começam a trocar seus menus "físicos" por iPads. Logo nos farão escolher nossos pratos via rede, e eles acharão isso o máximo.
Um mundo "paperless" afogar-se-á em senhas. Você precisará de uma senha especial para usar sua senha menos especial e assim sucessivamente, ao infinito. Depois, precisará de um programa superavançado para ter acesso a todas as suas senhas e combiná-las de modo secreto (em si, uma outra senha).
Quando você tiver uma crise diante de tudo isso, algum burocrata dirá para você que isso tudo é para sua segurança. E você será obrigado a concordar, assumindo também uma cara de rato.
Mas, dirão as almas menos brilhantes, graças a Deus estamos cortando menos árvores e não estamos gerando papel.
No conto de Kafka "A Construção", nosso roedor atarefado teme um ruído horroroso que vem não sabe de onde e por isso começa a construir "rotas de fuga" em sua moradia subterrânea.
Logo, a rede de "rotas de fuga" é tão grande que ele se esquece onde começou e descobre que, apesar de o ruído aumentar cada vez mais e sua sensação de perigo aumentar junto com o ruído, ele já não sabe como fugir, porque suas rotas de fuga viraram um labirinto infernal.
O mundo de Kafka é uma prisão a céu aberto, e os ratos venceram. Feliz Ano-Novo.
Acho o Réveillon uma festa chatíssima. Quando você estiver lendo esta coluna, estarei em Tel Aviv, e ainda bem que aqui não tem Réveillon.
A cidade é patrimônio cultural universal porque tem o maior conjunto arquitetônico Bauhaus do mundo, o que dá a ela um tom entre o blasé (isto é, a soma do cinza e branco típico dos prédios Bauhaus de poucos andares com o desleixo chique característico da população local mediterrânea) e o moderno da primeira modernização, antes de a modernidade virar essa coisa brega de massa.
Tel Aviv é descrita pelos israelenses como sendo "outro mundo", diferente do resto do país, justamente por seu caráter secular, arredio ao fanatismo religioso que cresce por aqui e aberto à convivência mundana.
Diante desse cenário, sempre que estou nesta cidade, meu pessimismo (que tem sua origem provavelmente em alguma forma de disfunção fisiológica) cede. O desleixo e o ar mediterrâneo, associados ao desespero mudo, embutido no cotidiano de quem se sabe uma espécie caçada, me acalmam. Estranho? Sou estranho mesmo.
Segundo reza uma das lendas sobre Franz Kafka, quando perguntaram a ele se não havia esperanças para o mundo, ele teria respondido: "Esperanças há muitas, mas não para nós".
De todas as formas de pessimismo, a de Kafka é a única que me assusta. Não temo pessimismos cosmológicos. Não espero nada da vida na forma de recompensa moral (aquilo que a teologia cristã chama "retribuição pelos méritos").
Antes de tudo porque não sou uma pessoa boa. Raramente me preocupo com os outros, e a África pouco me importa. Nem a fome. Nem as baleias. Nem você.
Não conto com a misericórdia de Deus porque não a mereço. Guerras sempre existirão, e a humanidade faz o que pode para sobreviver ao mundo e a si mesma.
A possível falta de sentido da vida não me interessa. Durmo bem com ela. Sou daqueles que pensam que a metafísica é fruto de indisposição e mau humor. Mas temo o pessimismo kafkiano como nada mais no mundo. Temo a burocracia. Todo amante da burocracia tem cara de rato. Kafka tinha razão.
O pior mundo de Kafka não é sua barata, mas aquele do seu conto "A Construção". O roedor que faz a "construção" em sua casa é a melhor descrição do inferno burocrático em que o mundo se transformou.
Kafka, à diferença da maioria de nossos especialistas em ciências humanas, sabe que construímos a burocracia para nos sentir seguros, e não porque nos obrigam a isso. E o pior é que existem muitas razões para nos sentirmos inseguros, por isso não há saída para o inferno que é a burocracia.
Algumas almas menos brilhantes assumem que um mundo "paperless" (nada mais ridículo do que usar expressões em inglês para se sentir mais científico), ou seja, sem papel, seria menos burocrático. Risadas... Nada mais horroroso do que alguns restaurantes que começam a trocar seus menus "físicos" por iPads. Logo nos farão escolher nossos pratos via rede, e eles acharão isso o máximo.
Um mundo "paperless" afogar-se-á em senhas. Você precisará de uma senha especial para usar sua senha menos especial e assim sucessivamente, ao infinito. Depois, precisará de um programa superavançado para ter acesso a todas as suas senhas e combiná-las de modo secreto (em si, uma outra senha).
Quando você tiver uma crise diante de tudo isso, algum burocrata dirá para você que isso tudo é para sua segurança. E você será obrigado a concordar, assumindo também uma cara de rato.
Mas, dirão as almas menos brilhantes, graças a Deus estamos cortando menos árvores e não estamos gerando papel.
No conto de Kafka "A Construção", nosso roedor atarefado teme um ruído horroroso que vem não sabe de onde e por isso começa a construir "rotas de fuga" em sua moradia subterrânea.
Logo, a rede de "rotas de fuga" é tão grande que ele se esquece onde começou e descobre que, apesar de o ruído aumentar cada vez mais e sua sensação de perigo aumentar junto com o ruído, ele já não sabe como fugir, porque suas rotas de fuga viraram um labirinto infernal.
O mundo de Kafka é uma prisão a céu aberto, e os ratos venceram. Feliz Ano-Novo.
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terça-feira, 31 de janeiro de 2012
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
A mulher, o bebê e o intelectual
por Luiz Felipe Pondé para Folha
Os comunistas mataram muito mais gente no século 20 do que o nazismo, o que é óbvio para qualquer pessoa minimamente alfabetizada em história contemporânea.
Disse isso recentemente num programa de televisão. Alguns telespectadores indignados (hoje em dia ficar indignado facilmente é quase índice de mau-caratismo) se revoltaram contra o que eu disse.
Claro, a maior parte dos intelectuais de esquerda mente sobre isso para continuar sua pregação evangélica (no mau sentido) e fazer a cabeça dos coitados dos alunos. Junto com eles, também estão os partidos políticos como os que se aproveitam, por exemplo, do caso Pinheirinho para "armar" a população.
O desespero da esquerda no Brasil se dá pelo fato de que, depois da melhoria econômica do país, fica ainda mais claro que as pessoas não gostam de vagabundos, ladrões e drogados travestidos de revolucionários. Bandido bom é bandido preso. A esquerda torce para o mundo dar errado e assim poder exercer seu terror de sempre.
Mas voltemos ao fato histórico sobre o qual os intelectuais de esquerda mentem: os comunistas (Stálin, Lênin, Trótski, Mao Tse-tung, Pol Pot e caterva) mataram mais do que Hitler e em nome das mesmas coisas que nossos intelectuais/políticos radicais de esquerda hoje pregam.
Caro leitor, peço licença para pedir a você que leia com atenção o trecho abaixo e depois explico o que é. Peço principalmente para as meninas que respirem fundo.
"(...) um novo interrogador, um que eu não tinha visto antes, descia a alameda das árvores segurando uma faca longa e afiada. Eu não conseguia ouvir suas palavras, mas ele falava com uma mulher grávida e ela respondia pra ele. O que aconteceu em seguida me dá náuseas só em pensar. (...): Ele tira as roupas dela, abre seu estômago, e arranca o bebê. Eu fugi, mas era impossível escapar do som de sua agonia, os gritos que lentamente deram lugar a gemidos e depois caíram no piedoso silêncio da morte. O assassino passou por mim calmamente segurando o feto pelo pescoço. Quando ele chegou à prisão, (...), amarrou um cordão ao redor do feto e o pendurou junto com outros, que estavam secos e negros e encolhidos."
Este trecho é citado pelo psiquiatra inglês Theodore Dalrymple em seu livro "Anything Goes - The Death of Honesty", Londres, Monday Books, 2011. Trata-se de um relato contido na coletânea organizada pelo "scholar" Paul Hollander, "From Gulag to the Killing Fields", que trata dos massacres cometidos pela esquerda na União Soviética, Leste Europeu, China, Vietnã, Camboja (este relato citado está na parte dedicada a este país), Cuba e Etiópia.
Dalrymple devia ser leitura obrigatória para todo mundo que tem um professor ou segue um guru de esquerda que fala como o mundo é mau e que devemos transformá-lo a todo custo. Ou que a sociedade devia ser "gerida" por filósofos e cientistas sociais.
Pol Pot, o assassino de esquerda e líder responsável por este interrogador descrito no trecho ao lado, estudou na França com filósofos e cientistas sociais (que fizeram sua cabeça) antes de fazer sua revolução, e provavelmente tinha como professor um desses intelectuais (do tipo Alain Badiou e Slavoj Zizek) que tomam vinho chique num ambiente burguês seguro, mas que falam para seus alunos e seguidores que devem "mudar o mundo".
De início, se mostram amantes da "democracia e da liberdade", mas logo, quando podem, revelam que sua democracia ("real", como dizem) não passa de matar quem não concorda com eles ou destruir toda oposição a sua utopia. O século 20 é a prova cabal deste fato.
Escondem isso dos jovens a fim de não ter que enfrentar sua ascendência histórica criminosa, como qualquer idiota nazista careca racista tem que enfrentar seu parentesco com Auschwitz.
Proponho uma "comissão da verdade" para todas as escolas e universidades (trata-se apenas de uma ironia de minha parte), onde se mente dizendo que Stálin foi um louco raro na horda de revolucionários da esquerda no século 20. Não, ele foi a regra.
Com a crise do euro e a Primavera Árabe, o "coro das utopias" está de volta.
Os comunistas mataram muito mais gente no século 20 do que o nazismo, o que é óbvio para qualquer pessoa minimamente alfabetizada em história contemporânea.
Disse isso recentemente num programa de televisão. Alguns telespectadores indignados (hoje em dia ficar indignado facilmente é quase índice de mau-caratismo) se revoltaram contra o que eu disse.
Claro, a maior parte dos intelectuais de esquerda mente sobre isso para continuar sua pregação evangélica (no mau sentido) e fazer a cabeça dos coitados dos alunos. Junto com eles, também estão os partidos políticos como os que se aproveitam, por exemplo, do caso Pinheirinho para "armar" a população.
O desespero da esquerda no Brasil se dá pelo fato de que, depois da melhoria econômica do país, fica ainda mais claro que as pessoas não gostam de vagabundos, ladrões e drogados travestidos de revolucionários. Bandido bom é bandido preso. A esquerda torce para o mundo dar errado e assim poder exercer seu terror de sempre.
Mas voltemos ao fato histórico sobre o qual os intelectuais de esquerda mentem: os comunistas (Stálin, Lênin, Trótski, Mao Tse-tung, Pol Pot e caterva) mataram mais do que Hitler e em nome das mesmas coisas que nossos intelectuais/políticos radicais de esquerda hoje pregam.
Caro leitor, peço licença para pedir a você que leia com atenção o trecho abaixo e depois explico o que é. Peço principalmente para as meninas que respirem fundo.
"(...) um novo interrogador, um que eu não tinha visto antes, descia a alameda das árvores segurando uma faca longa e afiada. Eu não conseguia ouvir suas palavras, mas ele falava com uma mulher grávida e ela respondia pra ele. O que aconteceu em seguida me dá náuseas só em pensar. (...): Ele tira as roupas dela, abre seu estômago, e arranca o bebê. Eu fugi, mas era impossível escapar do som de sua agonia, os gritos que lentamente deram lugar a gemidos e depois caíram no piedoso silêncio da morte. O assassino passou por mim calmamente segurando o feto pelo pescoço. Quando ele chegou à prisão, (...), amarrou um cordão ao redor do feto e o pendurou junto com outros, que estavam secos e negros e encolhidos."
Este trecho é citado pelo psiquiatra inglês Theodore Dalrymple em seu livro "Anything Goes - The Death of Honesty", Londres, Monday Books, 2011. Trata-se de um relato contido na coletânea organizada pelo "scholar" Paul Hollander, "From Gulag to the Killing Fields", que trata dos massacres cometidos pela esquerda na União Soviética, Leste Europeu, China, Vietnã, Camboja (este relato citado está na parte dedicada a este país), Cuba e Etiópia.
Dalrymple devia ser leitura obrigatória para todo mundo que tem um professor ou segue um guru de esquerda que fala como o mundo é mau e que devemos transformá-lo a todo custo. Ou que a sociedade devia ser "gerida" por filósofos e cientistas sociais.
Pol Pot, o assassino de esquerda e líder responsável por este interrogador descrito no trecho ao lado, estudou na França com filósofos e cientistas sociais (que fizeram sua cabeça) antes de fazer sua revolução, e provavelmente tinha como professor um desses intelectuais (do tipo Alain Badiou e Slavoj Zizek) que tomam vinho chique num ambiente burguês seguro, mas que falam para seus alunos e seguidores que devem "mudar o mundo".
De início, se mostram amantes da "democracia e da liberdade", mas logo, quando podem, revelam que sua democracia ("real", como dizem) não passa de matar quem não concorda com eles ou destruir toda oposição a sua utopia. O século 20 é a prova cabal deste fato.
Escondem isso dos jovens a fim de não ter que enfrentar sua ascendência histórica criminosa, como qualquer idiota nazista careca racista tem que enfrentar seu parentesco com Auschwitz.
Proponho uma "comissão da verdade" para todas as escolas e universidades (trata-se apenas de uma ironia de minha parte), onde se mente dizendo que Stálin foi um louco raro na horda de revolucionários da esquerda no século 20. Não, ele foi a regra.
Com a crise do euro e a Primavera Árabe, o "coro das utopias" está de volta.
domingo, 29 de janeiro de 2012
Livros que estou lendo
"Na morada das palavras" de Rubem Alves e "O homem que sabe" de Viviane Mosé. Filosofia e literatura juntas para divertir um pouco as minhas férias. Já comecei e estou gostando muito dos livros. Sendo assim, que tal seguir a pedida? Eu sugiro essas leituras. São indispensáveis para sentir e pensar a realidade.
Dos valores da liberdade
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.
“Não há na Terra, de acordo com minha opinião, felicidade igual à de alcançar a liberdade perdida”. (Cervantes)
A liberdade, a partir das concepções modernas, associa-se a outras virtudes como a justiça e a igualdade. Pela liberdade garante-se a vontade individual, mas cada torna-se responsável por suas atitudes e ações. Como ideia estruturadora das relações sociais, a liberdade move os ideais democráticos. A liberdade humana é sempre um valor pelo qual muitos resolvem pagam alto preço.
Descrever sobre os fenômenos depois que os mesmos aconteceram é sempre mais fácil do que prevê-los, antecipando desfechos. Mas se é tão difícil prever antecipadamente os desfechos, aprendamos com eles a partir de seus substratos (aquilo que forma a essencialidade do ser, sobre o que repousam seus atributos, o que serve de base a um fenômeno).
A queda das ditaduras nas nações árabes da África e do Oriente Médio demonstra que o povo até suporta ditaduras, desde que as mesmas não usem dos mesmos artifícios de opressão daqueles que foram destituídos por estes que por ora estão no poder. O povo não suporta traição, o povo não suporta que alguém se declare dono de tudo e de todos. O povo não tolera privilégios inescrupulosos. Quando isto acontece, levanta a voz, grita por liberdade e luta por possibilidades de vida menos tiranas, mesmo não sabendo prever até quando usufruirá desta nova conquista. A esperança de dias melhores, em todos os sentidos, é sempre o horizonte de quem luta por liberdade.
Fica claro que houve quebra de confiança entre líderes e liderados no momento em que os primeiros se julgaram acima de tudo e de todos. Sintomaticamente, caíram por falta de legitimidade junto àqueles que diziam liderar. Mais do que isto, demonstraram o quão foram incapazes de ler a realidade, julgando que, a fim e a cabo, seus liderados iriam defendê-los e quiçá, morrer por eles.
O desafio dos líderes sempre está na relação construída junto a seus liderados, seja pela representação, seja pela condição de amálgama (mediação). Como afirma Walter Lippmann, "líderes são os guardiões dos ideais de uma nação, das crenças que ela cultiva, de suas esperanças permanentes, da fé que faz uma nação de um mero agregado de indivíduos." Por outro viés, escreve John Maxwell: “meu alvo não é formar seguidores que resultem em uma multidão. Meu alvo é desenvolver líderes que se transformem em um movimento”. Certo é que não há legitimidade de liderança quando os anseios e necessidades do povo não são respeitados. Certo também que os ventos de inspiração não sopram somente aos que se consideram “iluminados”. A realidade, associada à capacidade de resignação e organização do povo, produz efeitos capazes de construir novos horizontes, novas utopias.
Nenhuma ditadura merece defesa. Todas as ditaduras tolhem a liberdade. Liberdade não se reduz a “poder dizer”. Liberdade sempre é “poder viver”: autenticamente, com dignidade, com segurança, com prazer, na ausência de “sofrimentos provocados”, com soberania. Resta perguntar se todos aqueles que pegaram em armas, morreram e pagaram o preço por mais liberdade em seu país sabiam que estas ditaduras, agora em cheque, já não interessam mais nem a seus países nem ao resto do mundo por conta de novos posicionamentos de ordem política e econômica. O que farão agora EUA e Europa: continuarão ditando regras e explorando os povos, sem a escora das ditaduras patrocinadas? O fim das ditaduras significa fim da opressão?
O desafio da liberdade é combater todas as formas de alienação. Onde houver alienação, não há como nascer liberdade. Ainda há muito a aprender, como ensina Eduardo Galeano: “somos o que fazemos, mas principalmente o que fazemos para mudar o que somos”.
Fonte: http://boletimodiad.blogspot.com/
“Não há na Terra, de acordo com minha opinião, felicidade igual à de alcançar a liberdade perdida”. (Cervantes)
A liberdade, a partir das concepções modernas, associa-se a outras virtudes como a justiça e a igualdade. Pela liberdade garante-se a vontade individual, mas cada torna-se responsável por suas atitudes e ações. Como ideia estruturadora das relações sociais, a liberdade move os ideais democráticos. A liberdade humana é sempre um valor pelo qual muitos resolvem pagam alto preço.
Descrever sobre os fenômenos depois que os mesmos aconteceram é sempre mais fácil do que prevê-los, antecipando desfechos. Mas se é tão difícil prever antecipadamente os desfechos, aprendamos com eles a partir de seus substratos (aquilo que forma a essencialidade do ser, sobre o que repousam seus atributos, o que serve de base a um fenômeno).
A queda das ditaduras nas nações árabes da África e do Oriente Médio demonstra que o povo até suporta ditaduras, desde que as mesmas não usem dos mesmos artifícios de opressão daqueles que foram destituídos por estes que por ora estão no poder. O povo não suporta traição, o povo não suporta que alguém se declare dono de tudo e de todos. O povo não tolera privilégios inescrupulosos. Quando isto acontece, levanta a voz, grita por liberdade e luta por possibilidades de vida menos tiranas, mesmo não sabendo prever até quando usufruirá desta nova conquista. A esperança de dias melhores, em todos os sentidos, é sempre o horizonte de quem luta por liberdade.
Fica claro que houve quebra de confiança entre líderes e liderados no momento em que os primeiros se julgaram acima de tudo e de todos. Sintomaticamente, caíram por falta de legitimidade junto àqueles que diziam liderar. Mais do que isto, demonstraram o quão foram incapazes de ler a realidade, julgando que, a fim e a cabo, seus liderados iriam defendê-los e quiçá, morrer por eles.
O desafio dos líderes sempre está na relação construída junto a seus liderados, seja pela representação, seja pela condição de amálgama (mediação). Como afirma Walter Lippmann, "líderes são os guardiões dos ideais de uma nação, das crenças que ela cultiva, de suas esperanças permanentes, da fé que faz uma nação de um mero agregado de indivíduos." Por outro viés, escreve John Maxwell: “meu alvo não é formar seguidores que resultem em uma multidão. Meu alvo é desenvolver líderes que se transformem em um movimento”. Certo é que não há legitimidade de liderança quando os anseios e necessidades do povo não são respeitados. Certo também que os ventos de inspiração não sopram somente aos que se consideram “iluminados”. A realidade, associada à capacidade de resignação e organização do povo, produz efeitos capazes de construir novos horizontes, novas utopias.
Nenhuma ditadura merece defesa. Todas as ditaduras tolhem a liberdade. Liberdade não se reduz a “poder dizer”. Liberdade sempre é “poder viver”: autenticamente, com dignidade, com segurança, com prazer, na ausência de “sofrimentos provocados”, com soberania. Resta perguntar se todos aqueles que pegaram em armas, morreram e pagaram o preço por mais liberdade em seu país sabiam que estas ditaduras, agora em cheque, já não interessam mais nem a seus países nem ao resto do mundo por conta de novos posicionamentos de ordem política e econômica. O que farão agora EUA e Europa: continuarão ditando regras e explorando os povos, sem a escora das ditaduras patrocinadas? O fim das ditaduras significa fim da opressão?
O desafio da liberdade é combater todas as formas de alienação. Onde houver alienação, não há como nascer liberdade. Ainda há muito a aprender, como ensina Eduardo Galeano: “somos o que fazemos, mas principalmente o que fazemos para mudar o que somos”.
Fonte: http://boletimodiad.blogspot.com/
1º Aniversário do Blog "Coisasdeflorania"
Vida longa para o blog "Coisasdeflorania" é o que deseja todos que valorizam a cultura da cidade de Florânia. Parabéns!
Poesia,
música e apresentações culturais, foi assim a noite desta última
sexta-feira dia 27, na Rua João Damata Toscano, com a realização do 1°
Sarau das Coisas de Florânia.
O evento realizado pelos professores Júnior Galdino e Domingos Toscano (Didi), que também são redatores do primeiro Blog Cultural de nossa cidade, que é carimbado de Coisas de Florânia, comemorou o aniversário de um ano do blog.
O Sarau das Coisas de Florânia contou com apresentações musicais de artistas da terra, apresentação teatral e principalmente declamações de vários poemas de poetas de poetisas e nossa cidade.
Prof. Domingos Toscano (Didi) |
Na oportunidade foi realizado o lançamento do Livreto de Cordel das Coisas de Florânia do autor cordelista, o Prof. Domingos Toscano (Didi), que em seu cordel conta um pouco sobre a história de nossa terra e o cotidiano das Coisas de Florânia. Quem também lançou em primeira mão uma música de sua autoria intitulada de A Ladeira, foi o professor Junior Galdino.
Prof. Junior Galdino |
O público foi presenteado com a primeira edição do Livreto de Cordel das Coisas de Florânia, além de se deliciar com uma saborosa sopa e um delicioso coquetel. Um fato interessante no evento foi o encontro de blogueiros da cidade.
A
redação do blog também esteve prestigiando e parabeniza os professores
Junior Galdino e Domingos Toscano pelo trabalho de resgate da cultura
das Coisas de Florânia.
Fonte: www.claudianosilva.com
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Repúdio da ANPOF ao projeto de lei que regulariza a profissão de "filósofo"
Tramita no Congresso Nacional, em regime conclusivo, o projeto de lei nº 2533/11, elaborado pelo depudado Giovani Cherini (PDT/RS)* . Seu objetivo é regulamentar a profissão de filósofo no Brasil. Conforme a proposta do deputado Cherini, o desenvolvimento de projetos socioeconômicos regionais, setoriais ou globais deverão contar com a participação de filósofos devidamente registrados no Ministério do Trabalho. Estarão qualificados para o exercício da profissão todos aqueles que possuírem título de bacharel em filosofia, os diplomados “em cursos similares” no exterior, após terem seus diplomas revalidados, além de mestres e doutores não diplomados que exerçam a atividade há mais de cinco anos. O mencionado projeto de lei também assegura que a profissão de “filósofo” poderá ser exercida por membros titulares da Academia Brasileira de Filosofia e “aos por ela diplomados”. Para conferir a íntegra do projeto de lei, acesse:
http://www.camara.gov.br/
Como representante da comunidade de pós-graduação dos cursos de filosofia no Brasil, a ANPOF vem manifestar seu repúdio a tal projeto.
Cursos de filosofia formam professores de filosofia, que podem ou não ser filósofos. Assim também, cursos de literatura formam professores de literaratura, que podem ou não ser literatos. Finalmente, há filósofos e literatos sem titulação acadêmica. É tão absurdo exigir diplomação específica para alguém ser filósofo quanto seria exigir diplomação específica para alguém ser escritor. A filosofia não é e nem deve tornar-se competência exclusiva de um segmento qualquer, seja ele de natureza estamental, profissional ou ideológico.
Acima de tudo, causa-nos estranheza a prerrogativa que o projeto pretende dar à Academia Brasileira de Filosofia, que qualifica como filósofos João Avelange e Carlos Alberto Torres, capitão da seleção de futebol de 1970. Trata-se de uma associação absolutamente inexpressiva no que concerne aos estudos, projetos de pesquisa e ensino da filosofia em nível universitário. A despeito disso, o referido projeto quer transformar essa entidade na representante da filosofia e da “língua filosófica” nacionais” (artigo 7).
Por essas razões, endossamos o abaixo‑assinado que circula na Internet contra o mencionado projeto, que pode ser acessado a partir do link que inserimos abaixo.
http://www.change.org/
Cordialmente,
Vinicius de Figueiredo (Presidente da Diretoria da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia – ANPOF)
Fonte: Boletim da ANPOF
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Blog do Beethoven
NÃO ADIANTA GRITAR QUE ELA É SURDA
Sim, até eu já escutei ai se eu te pego... O método da insistência derrota qualquer barreira fisiológica.
Que época paradoxal. Nunca houve tanta música disponível e tantos músicos em atividade. Mas nas rádios, nas pistas, nos fones, celulares só se escuta delícia, delícia...
Antes de mais nada, quero dizer que gostei da música cantada por Teló. Não a acho o mal do século, como muitos têm dito no Facebook e Twitter. A estes peço calma. O século está apenas começando.
A música tem qualidades. Faz parte de um gênero incompreendido: o sertanejo universitário. O sertanejo tem apanhado da crítica e o universitário da polícia paulista.
Invejo Teló. Demorei bem mais tempo para ter um clássico. E nunca um jogador famoso coreografou uma sonata minha.
Como um dos primeiros românticos e apaixonado pelo lirismo dramático, implico um pouco com o verso que diz:
A galera começou a dançar
E passou a menina mais linda
Poderia ter sido escrito assim:
Um conjunto de pessoas com afinidades se pôs a bailar
Quando transcorreu diante de meus olhos a mais formosa criatura
Já vejo todo mundo cantando-a desse jeito no carnaval.
Além do mais, tenho uma ligação com a música popular e sou chegado numa sanfona. Luiz Tatit e José Miguel Wisnik, na canção Baião de Quatro Toques, radiografaram bem esse aspecto. Conhece? http://migre.me/7umqP. Nela eles usaram a estrutura de minha mais famosa sinfonia para fazer um baião.
Uma parte da letra diz assim, ó:
Pra quem compôs, pra quem tocou
e pra quem ouve
É o destino que sempre se quis
É uma quinta sinfonia de Beethoven
Que decantou e só ficou a raiz
Aliás, gostaria que soubessem que a 5ª Sinfonia nem é a preferida de meu repertório. Gosto mais da Nona de Beethoven, que compus em homenagem à minha avó italiana.
Agora queria mudar de assunto. Pulemos de faixa. A motivação inicial deste post foi a minha audição, que anda meio esquisita.
Esses dias, sentei-me na frente da tevê para assistir à implosão de um moinho. Olha o que provoca o recesso do futebol. Achei que ia só ver, mas fiquei feliz ao notar que eu estava reconhecendo o som de um apito de segurança. Logo depois, para minha surpresa, ouvi também o que parecia ser uma explosão. Mas o prédio não caiu, ficou quase intacto. A julgar pela imagem, o ouvido me enganou. Fiquei com dó maior do prefeito.
Mas o fato que me tem deixado intrigado depois que voltei a ouvir algumas coisas é o enorme silêncio da grande mídia em relação ao lançamento do A Privataria Tucana. Será que só eu escutei o barulho retumbante que o livro provocou nas redes sociais? Não pode ser. Ignorar esses sons é um tiro audível no pé. Não sou especialista em comunicação, meu negócio é música. Mesmo assim recomendo aos que silenciaram até agora que escutem o conselho de Teló: tomem coragem e comecem a falar. Senão vocês se matam
Fonte: http://www.blogsdoalem.com.br/Beethoven/
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
O "homo otarius"
Como filhos do Ocidente no séc. XXI, não mais herdeiros saudosistas
de um tonto racionalismo que nos levou à duas grandes guerras
mundiais, menos ainda dispostos a zombar de uma ciência que quis
ilusoriamente exterminar a doença e a fome no mundo, mas
descendentes da máscara do terror disseminado pelos EUA, pós-11 de
setembro de 2001, de onde partiu para o mundo todo imagens
fortíssimas de desabamento de uma das mais poderosas potências
econômicas da terra, mostrando a nossa real fragilidade, estamos
sendo agora tentados a perpetuar a espécie em vários campos da
atividade humana. Na ciência ou na política, na ecologia ou na
religião, nas artes ou na culinária, na filosofia ou no mundo do
trabalho, o discurso é o mesmo: “Que mundo queremos deixar para
os nossos filhos?” Isso gera
conformismo, passividade política e, ao mesmo tempo, subestima
outros povos ao risco, uma vez que odiamos o risco. Queremos
controlar a vida, não mais arriscá-la!
A notícia de que assumimos
a colocação de 6ª economia mundial nos deixou meio tontos, senão
bestas. O tão almejado sonho
de viver uma realidade econômica semelhante ao dos países mais
desenvolvidos sempre foi uma marca presa ao imaginário cultural
coletivo de nosso povo. A cultura do conforto e da pasmaceira
ideológica de que está tudo bem, três refeições ao dia, salário
no final do mês, estabilidade econômica, casa própria, emprego e
renda sendo criados, dinheiro
no bolso 24 horas, “nunca
antes na história desse país”,
enfim, toda essa zona de conforto e “calmaria” apenas nos afoga
numa dimensão de “sobrevivencialismo” , cuja ideia importo aqui
da filosofia de Zizek: “(...) Parece que a divisão
entre o Primeiro Mundo e o Terceiro está mais na oposição entre
viver uma vida longa e satisfatória cheia de riqueza material e
cultural e viver uma vida dedicada a uma Causa transcendente(...).
Duas referências filosóficas se apresentam imediatamente a
propósito do antagonismo ideológico entre o modo de vida consumista
do Ocidente e o radicalismo muçulmano: Hegel e Nietzsche. Não
seria esse antagonismo o que existe entre o niilismo 'passivo' e o
'ativo' de Nietzsche? Nós, no Ocidente, somos os Últimos Homens de
Nietzsche, imersos na estupidez dos prazeres diários, ao passo que
os radicais muçulmanos engajados na luta estão prontos a arriscar
tudo, até a autodestruição(...)”(S. Zizek, Bem-vindo
ao Deserto do Real, São Paulo, Boitempo, 2003, p. 57).
Segundo
Zizek, paira sobre nós uma distorcida ideologia de que o bom mesmo é
prolongar a
vida, conservá-la ao máximo e purificá-la. Esse
falso clima de sustentabilidade econômica e tudo mais é gritante em
nossos dias. As pessoas estão estagnadas no conforto e na
burocracia. A fajuta ideia de zona de conforto econômico pelo estado
brasileiro está produzindo pessoas não só sedentárias, cômodas e
preguiçosas, mas indivíduos bestas que renunciaram sua
subjetividade em função de um estado de coisas prontas, dotadas do
espírito do capitalismo, cheias de fantasias, insensíveis ao que há
em volta, amargas com a realidade, seduzidas pelo virtual. É
tão patente essa mentalidade que o próprio Zizek expressou-se assim
sobre a importância que damos ao virtual: “Hoje
encontramos no mercado uma série de produtos desprovidos de suas
propriedades malignas: café sem cafeína, creme de leite sem
gordura, cerveja sem álcool, sexo sem sexo, guerra sem guerra, a
realidade virtual é sentida como a realidade sem o ser. Mas o que
acontece no final desse processo de virtualização é que começamos
a sentir a própria 'realidade real' como uma entidade virtual”(idem,
p. 24-25). É
o que está acontecendo conosco no Brasil. Vivemos uma certa
satisfação econômica sem saber até quando e qual a real
implicação que tem tudo isso para a totalidade da população e não
apenas para uma parte.
O mais engraçado disso é que
achamos que conquistamos algo. Não conquistamos nada ainda, basta
olharmos o nosso mais recente IDH, a infraestrutura de nossos
municípios, as estradas, a educação que não avança, os serviços
públicos à saúde que sucumbem diariamente, altos gastos em
campanhas eleitoreiras para políticos corruptos e analfabetos,
pousando de letrados. Além de acharmos que somos a 6ª, porém falsa
economia mundial, ainda criamos o engodo de que vivemos o melhor dos
mundos possíveis. Não temos
vida boa coisa nenhuma. Estamos sendo enganados o tempo todo por
discursos políticos desgastados e por índices de pesquisa que não
sabemos se correspondem aos fatos.
Somos esses homens prenunciados por
Nietzsche, o “homo otarius”, que não sabe realmente a vida que
tem, a vida que leva, a vida sem vida talvez. Vejamos o que diz
Slavoj Zizek ao retomar a pergunta paulina, “Quem está realmente
vivo hoje?”: “E não se percebe claramente a mesma
reversão no impasse dos Últimos Homens, indivíduos pós-modernos
que rejeitam como terroristas todos os objetivos mais altos e dedicam
a própria vida a sobreviver, a uma vida cheia de prazeres menores
cada vez mais refinados e artificialmente excitados?(...) O
que torna a vida digna de ser vivida é o próprio excesso de vida: a
consciência da existência de algo pelo que alguém se dispõe a
arriscar a vida(podemos chamar esse excesso de liberdade, honra,
dignidade, autonomia, etc.). Somente quando prontos a assumir esse
risco estamos realmente vivos”(idem, p. 108-109).
Deixamos o risco de vida pra
lá e optamos por essa pasmaceira econômica que camufla a vida até
a raiz da sua realidade, de tal modo que está anestesiando as nossas
condições subjetivas de fazer a clínica, a análise da existência
com toda sua carga de dramaticidade, transformando-nos em “homo
otarius”.
Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia, Bacharel em
Teologia
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Notícia de ontem: “Desenvolvimento do país depende da educação”, diz presidenta
"O
desenvolvimento do país depende da educação e por isso esses programas
são tão importantes, são tão estratégicos para o jovem, para a sua
família e, sobretudo, para o Brasil", disse. "Nossa intenção é garantir a
todos os jovens que queiram frequentar a universidade uma chance, uma
oportunidade", completou.
Dilma
lembrou que o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) permite que o
estudante financie até 100% da mensalidade, com juros de 3,4% ao ano. O
programa prevê ainda que o aluno só comece a pagar o empréstimo um ano e
meio após o término da faculdade. O prazo é três vezes mais que a
duração do curso.
Além
disso, segundo a presidenta, jovens que optarem por cursos de
licenciatura ou de medicina e que forem trabalhar dando aulas em escolas
públicas ou atendendo pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) em
locais em que há carência de médicos poderão ter o débito do Fies
reduzido.
"A
educação é a principal ferramenta para a conquista dos sonhos de cada
um e também para que o Brasil continue crescendo, distribuindo renda,
para que seja um país de oportunidade para todas as pessoas. Nada é mais
importante que a educação quando se trata de distribuição de renda e de
garantia de futuro", concluiu Dilma.
*Fonte: Agência Brasil
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
ESCOLA ESTADUAL DE FLORÂNIA É CONTEMPLADA COM O PROGRAMA DO ENSINO MÉDIO INOVADOR
No dia 9 de janeiro de 2012
foi lançado na Secretaria Estadual de Educação o ProEMI - Programa do
Ensino Médio Inovador em uma reunião com a participação das escolas
estaduais. Representaram a Escola Teônia Amaral o vice-diretor Francisco
Canindé da Silva e a Coordenadora Pedagógica Maria do Socorro Araújo
Silva Santos. "O ProEMI surgiu como uma forma de incentivar as redes
estaduais de educação a criar iniciativas inovadoras para o ensino
médio. Busca estimular as redes estaduais de educação a pensar novas
soluções que diversifiquem os currículos com atividades integradoras, a
partir dos eixos trabalho, ciência, tecnologia e cultura, para melhorar a
qualidade da educação oferecida nessa faze de ensino tornando-o mais
atraente" (MEC/2009). Na Escola Teônia Amaral já estão sendo realizadas
reuniões com a equipe pedagógica e professores para dar andamento ao
programa que divide-se em macrocampos: 1- Acompanhamento Pedagógico; 2 -
Iniciação Científica e Pesquisa; 3 - Cultura Corporal; 4 - Comunicação e
Uso de Mídias; 5 - Cultura Digital; 6 - Cultura e Artes; 7 -
Participação Estudantil; 8 - Leitura e Letramento. Os três primeiros são
obrigatórios. Os professores podem aderir ao programa diminuindo a
carga horária para 20h acrescentando 5h para o desenvolvimento dos
projetos, ou permanecer com a carga horára completa e acrescentar 10h
suplementares. A previsão é que na Escola Teônia Amaral sejam
desenvolvidos pelo menos 04 (quatro) projetos no Acompanhamento
pedagógico, Iniciação Científica e Pesquisa, Cultura Corporal e Leitura e
Letramento.
A dor na face
por Luiz Felipe Pondé para Folha
Muitas vezes apenas gostaríamos de dizer "não". Coisa difícil dizer "não", porque o "sim" é civilizado na sua condição de hipocrisia necessária para a vida em grupo.
Não dizer bom-dia, não dizer que gostou, não dizer que quer ir, não dizer que ama, dizer apenas "não".
Na ordem capitalista em que vivemos, onde tudo circula na velocidade do vento que nos constitui como miserável mercadoria que somos, o "não" aparentemente vende mal.
Mas não é verdade. O "não" é a alma do luxo. "Não quero" pode ser a diferença entre sua banalidade e sua sofisticação não afetada. Mas como tudo que é luxo, o "não" é difícil de achar, de cultivar, de sustentar.
Vende-se muito livro de autoajuda por aí. O leitor que me acompanha sabe como detesto autoajuda. Uma indústria que cresce na mesma proporção em que tudo perde o valor. Mas com isso não quero dizer que não precisemos de ajuda na vida. Somos uns coitados. Mas tem coisa melhor do que esse lixo.
Outro problema é que umas das maiores contradições da vida é que o cotidiano das relações quase sempre inviabiliza afetos espontâneos e nos arremessa a convivência estratégica que apenas "lida" com problemas.
Em resumo, quase sempre os membros da nossa família não são nossos melhores amigos e não é gente em que podemos confiar nossos desesperos porque sempre esperam de nós soluções para as demandas do dia a dia.
Maridos, esposas, filhos, irmãos, pais, quase sempre não servem para ouvir nossos segredos, mas apenas servem para constatar nossas misérias secretas.
Não há relação evidente entre família e paixões alegres (como diria, mais ou menos, o filósofo do século 17 Baruch Spinoza).
As responsabilidades são muitas, as expectativas excessivas, o que era amor se transforma em exigência de sucesso material e segurança previdenciária.
Comumente ataco manifestações de jovens e do povo. Não porque ache que a vida como está seja grande coisa, mas porque considero a infelicidade eterna e atávica do homem a razão final de todo desconforto político, moral e afetivo.
Quem diz que a solução do homem é política é sempre um mau caráter que gosta de política. Seja na universidade, seja em Brasília. A vida é uma prisão e não gosto de rotas de fuga falsas.
No fundo, sou mais "anos 60" do que aqueles que dizem ser "anos 60", mas que viraram "ambientalista de terno e gravata", "defensores da qualidade de vida" ou "roqueiros que cantam para as crianças da África". Para mim vale sempre uma regra básica: não confio em nada em que departamentos de recursos humanos confiam.
Nutro profunda simpatia por dois pensadores utópicos, Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau, ambos do século 19, representantes do movimento libertário americano.
Há uma dor característica causada por sorrisos falsos. Os músculos da face doem por conta do sorriso mentiroso, que é sempre o mais comum em nosso cotidiano, dizia Emerson, autor de Self-Reliance ("Autoconfiança"), de 1841, um clássico do movimento libertário.
Os homens em sua maioria vivem uma vida de sereno desespero, dizia Thoreau, autor de "Walden" (1854), narrativa de um período de sua vida em que se isolou numa casa num bosque.
Thoreau ficou mais conhecido como o criador do conceito de "desobediência civil", quando disse que o melhor governo é o que governa menos ou de forma nenhuma.
Hoje o pensamento público tornou-se monótono porque todo mundo quer agradar e salvar o mundo. Eu não quero salvar ninguém, nem aspiro a um mundo melhor.
Como dizia Emerson, existem grandes vantagens em sermos mal compreendidos (misunderstood).
A mania de sermos completamente compreendidos nada mais é do que o desejo de agradar a todos o tempo todo, uma das pragas típicas de um mundo marcado pelo marketing de tudo.
Em 2012 espero ser muito mal compreendido por todos aqueles que quiserem fazer de mim seu ídolo, positivo ou negativo, supondo que sabem exatamente o que eu penso ou o que sou.
Espero, acima de tudo, como dizia Thoreau, que não tenha que ir a lugar nenhum para o qual eu precise comprar uma roupa nova.
Muitas vezes apenas gostaríamos de dizer "não". Coisa difícil dizer "não", porque o "sim" é civilizado na sua condição de hipocrisia necessária para a vida em grupo.
Não dizer bom-dia, não dizer que gostou, não dizer que quer ir, não dizer que ama, dizer apenas "não".
Na ordem capitalista em que vivemos, onde tudo circula na velocidade do vento que nos constitui como miserável mercadoria que somos, o "não" aparentemente vende mal.
Mas não é verdade. O "não" é a alma do luxo. "Não quero" pode ser a diferença entre sua banalidade e sua sofisticação não afetada. Mas como tudo que é luxo, o "não" é difícil de achar, de cultivar, de sustentar.
Vende-se muito livro de autoajuda por aí. O leitor que me acompanha sabe como detesto autoajuda. Uma indústria que cresce na mesma proporção em que tudo perde o valor. Mas com isso não quero dizer que não precisemos de ajuda na vida. Somos uns coitados. Mas tem coisa melhor do que esse lixo.
Outro problema é que umas das maiores contradições da vida é que o cotidiano das relações quase sempre inviabiliza afetos espontâneos e nos arremessa a convivência estratégica que apenas "lida" com problemas.
Em resumo, quase sempre os membros da nossa família não são nossos melhores amigos e não é gente em que podemos confiar nossos desesperos porque sempre esperam de nós soluções para as demandas do dia a dia.
Maridos, esposas, filhos, irmãos, pais, quase sempre não servem para ouvir nossos segredos, mas apenas servem para constatar nossas misérias secretas.
Não há relação evidente entre família e paixões alegres (como diria, mais ou menos, o filósofo do século 17 Baruch Spinoza).
As responsabilidades são muitas, as expectativas excessivas, o que era amor se transforma em exigência de sucesso material e segurança previdenciária.
Comumente ataco manifestações de jovens e do povo. Não porque ache que a vida como está seja grande coisa, mas porque considero a infelicidade eterna e atávica do homem a razão final de todo desconforto político, moral e afetivo.
Quem diz que a solução do homem é política é sempre um mau caráter que gosta de política. Seja na universidade, seja em Brasília. A vida é uma prisão e não gosto de rotas de fuga falsas.
No fundo, sou mais "anos 60" do que aqueles que dizem ser "anos 60", mas que viraram "ambientalista de terno e gravata", "defensores da qualidade de vida" ou "roqueiros que cantam para as crianças da África". Para mim vale sempre uma regra básica: não confio em nada em que departamentos de recursos humanos confiam.
Nutro profunda simpatia por dois pensadores utópicos, Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau, ambos do século 19, representantes do movimento libertário americano.
Há uma dor característica causada por sorrisos falsos. Os músculos da face doem por conta do sorriso mentiroso, que é sempre o mais comum em nosso cotidiano, dizia Emerson, autor de Self-Reliance ("Autoconfiança"), de 1841, um clássico do movimento libertário.
Os homens em sua maioria vivem uma vida de sereno desespero, dizia Thoreau, autor de "Walden" (1854), narrativa de um período de sua vida em que se isolou numa casa num bosque.
Thoreau ficou mais conhecido como o criador do conceito de "desobediência civil", quando disse que o melhor governo é o que governa menos ou de forma nenhuma.
Hoje o pensamento público tornou-se monótono porque todo mundo quer agradar e salvar o mundo. Eu não quero salvar ninguém, nem aspiro a um mundo melhor.
Como dizia Emerson, existem grandes vantagens em sermos mal compreendidos (misunderstood).
A mania de sermos completamente compreendidos nada mais é do que o desejo de agradar a todos o tempo todo, uma das pragas típicas de um mundo marcado pelo marketing de tudo.
Em 2012 espero ser muito mal compreendido por todos aqueles que quiserem fazer de mim seu ídolo, positivo ou negativo, supondo que sabem exatamente o que eu penso ou o que sou.
Espero, acima de tudo, como dizia Thoreau, que não tenha que ir a lugar nenhum para o qual eu precise comprar uma roupa nova.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Filosofia da saúde
A cada ano vislumbramos uma explosão avassaladora de
pessoas que querem buscar a boa forma. O verão já chegou e um certo
“frenesi” acompanha aqueles que, a qualquer custo, não poupam
esforços por um corpo sarado, sem os famosos culotes, barriguinhas,
etc. As academias estão lotadas e os calçadões das cidades
repletos de gente que não se cansa de lutar contra os excessos de
peso no corpo, sinônimo de feiúra e de incontinência alimentar.
A sociedade, que agora se apresenta, estampa em suas
vitrines de cultura televisiva e virtual diversos padrões de
comportamentos, dentre os quais são vendidos sem nenhuma reflexão,
mas simplesmente negociados à revelia dos desejos desmedidos e
irresponsáveis da população. Isso é muito preocupante porque as
pessoas estão emagrecendo e engordando sem qualidade de vida, sem
saúde. A saúde, bem como a doença que é a sua falta, desponta
aqui como um alerta ou indicador de que precisamos urgentemente
pensar a saúde. Às vezes, muita atenção ao corpo ou uma
alucinadora inquietação para com ele pode representar doença e não
saúde: “(...) Diferentemente da enfermidade, a saúde não é
nunca causa de preocupação, antes, quase nunca somos conscientes de
estarmos sadios. Não é condição que convida ou adverte a cuidar
de si próprios: de fato, implica a surpreendente possibilidade de
ser esquecido de si”(Gadamer, Dove si nasconde la salute, … In
REALE, Giovanni. Corpo, Alma e Saúde. O conceito de homem de Homero
a Platão. São Paulo: Paulus, 2002, pág. 185).
Estranho,
enquanto damos muita atenção ao
corpo a ponto de nos preocuparmos com ele demasiadamente, mais
próximos estamos
da enfermidade. Não seria uma doença moderna essa excessiva
obsessão por exercícios físicos?
A
corrida por um corpo malhado, sarado e fisicamente em forma não pode
ser motivada apenas pela estética, pelo prazer de desfilá-lo nas
praias, clubes, calçadões e ruas, mas tem de existir também um
sentido de satisfação interna, conforto e bem-estar, felicidade e
enchimento de si. Ou seja, tudo começa com um corpo bem cuidado na
“medida certa”, na “justa medida”, como diz a metafísica de
Platão. Os filósofos se esmeravam nisso, numa saúde do corpo e da
alma voltada para o equilíbrio. É óbvio que a educação física
constante e frequente tira o enfado, a preguiça e aumenta a
concentração e a disposição para o trabalho! Parece até que
voltamos à Grécia, à disciplina com relação ao corpo e com o
perfeccionismo atlético, no entanto, falta-nos o equilíbrio físico
e intelectual, falta-nos metafísica, falta-nos “justa medida”.
A rotina de malhação
e educação física aumenta cada vez mais. É cada vez mais comum
vermos gente caminhando, pedalando, correndo e se exercitando nas
academias, pois, enquanto muitos têm de suar para deixar o corpo em
dia, pronto para o verão, outros vêm fazendo o possível em
continuar a frequência extenuante de exercícios físicos para
manter a saúde do corpo, debilitado pelo tempo ou pelo excesso de
trabalho.
A saúde é um tema
emblemático. Veja que ao pronunciarmos a palavra “saúde”
enchemos a boca quase que completamente de vida, de gozo, de saliva.
Ela tem importância. Representa o ponto de equilíbrio e saciedade
da pessoa humana. A saúde reveste os binômios filosóficos
“aparência/ideia”, “corpo/alma”, “sensível/inteligível”,
“experiência/razão”, “existência/essência” de unidade, de
beleza e de bem-estar no ser humano, de tal modo que a vida mesma com
saúde se torna mais leve, mais amena e muito mais feliz. Quando isso
de fato está ocorrendo é porque a educação está funcionando como
uma tomada de consciência do sujeito frente aos desequilíbrios
naturais de seu organismo.
Sendo assim, a
nossa saúde depende da Filosofia a fim de encontrar os meios mais
sábios de equilíbrio de tudo aquilo que há na natureza, de
restaurar a “justa medida”em nossa natureza. Saber o “mais”,
o “menos”, “proporção”, “peso”, “excessos”, enfim.
Lidar com isso é fazer Filosofia da saúde, uma se liga com a outra:
“O médico é chamado a restaurar a medida oculta, quando
a doença vem alterá-la. Em estado de saúde, a própria natureza se
encarrega de implantá-la, ou antes, é ela própria a justa medida.
O conceito de mistura, tão importante, e que na realidade representa
uma espécie de justo equilíbrio entre as diversas forças do
organismo, anda estreitamente relacionado com os de medida e de
simetria. É de acordo com esta norma – assim a devemos denominar –
cheia de sentido que a natureza age...”(Jaeger, Paideia, … In
idem, p. 186).
Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia e
Bacharel em Teologia
domingo, 8 de janeiro de 2012
Tudo começou na Grécia e tudo acabará na Grécia?(Leonardo Boff)
Nossa civilização ocidental hoje mundializada tem sua origem
histórica na Grécia do século VI antes de nossa era. Ruira o mundo do
mito e da religião que era o eixo organizador da sociedade. Para pôr
ordem àquele momento crítico fez-se, num lapso de pouco mais de 50 anos,
uma das maiores criações intelectuais da humanidade. Surgiu a era da
razão critica que se expressou pela filosofia, pela política, pela
democracia, pelo teatro, pela poesia e pela estética. Figuras
exponenciais foram Sócrates, Platão, Aristóteles e os sofistas que
gestaram a arquitetônica do saber, subjacente ao nosso paradigma
civilizacional: foi Péricles como governante à frente da democracia; foi
Fídias da estética elegante; foram os grandes autores das tragédias
como Sófocles, Eurípides e Ésquilo; foram os jogos olímpicos e outras
manifestações culturais que não cabe aqui referir.
Esse paradigma se caracteriza pelo predomínio da razão que deixou
para trás a percepção do Todo, o sentido da unidade da realidade que
caracterizava os pensadores chamados pré-socráticos, os portadores do
pensamento originário. Agora se introduzem os famosos dualismos:
mundo-Deus, homem-natureza, razão-sensibilidade, teoria-prática. A razão
criou a metafísica que na compreensão de Heidegger faz de tudo objeto e
se instaura como instância de poder sobre este objeto. O ser humano
deixa de se sentir parte da natureza para se confrontar com ela e
submetê-la ao projeto de sua vontade.
Este paradigma ganhou sua expressão acabada mil anos depois, no
século XVI, com os fundadores do paradigma moderno, Descartes, Newton,
Bacon e outros. Com eles se consagrou a cosmovisão mecanicista e
dualista: a natureza de um lado e o ser humano de outro de frente e
encima dela como seu “mestre e dono”(Descartes) e coroa da criação em
função do qual tudo existe. Elaborou-se o ideal do progresso ilimitado
que supõe a dominação da natureza, no pressuposto de que esse progresso
poderia caminhar infinitamente na direção do futuro. Nos últimos
decênios a cobiça de acumular transformou tudo em mercadoria a ser
negociada e consumida. Esquecemos que os bens e serviços da natureza são
para todos e não podem ser apropriados apenas por alguns.
Depois de quatro séculos de vigência desta metafísica, quer dizer,
deste modo de ser e de ver, verificamos que a natureza teve que pagar um
preço alto para custear esse modelo de crescimento/desenvolvimento.
Agora tocamos nos limites de sua possibilidades. A civilização
técnico-científica chegou a um ponto em que ela pode por fim a si mesma,
degradar profundamente a natureza, eliminar grande parte do
sistema-vida e, eventualmente, erradicar a espécie humana. Seria a
realização de um armgedon ecológico-social.
Tudo começou há milênios na Grécia. E agora parece terminar na
Grécia, uma das primeiras vitimas do horror econômico, cujos banqueiros,
para salvar seus ganhos, lançaram toda uma sociedade no desespero.
Chegou à Irlanda, a Portugal, à Itália, podendo-se se estender à Espanha
e à França e, quiçá, a todo o sistema mundial.
Estamos assistindo a agonia de um paradigma milenar que está, parece, encerrando sua trajetória histórica. Pode demorar ainda dezenas de anos, como um moribundo que resiste, mas o fim é previsível. Com seus recursos internos não tem condições de se reproduzir.
Estamos assistindo a agonia de um paradigma milenar que está, parece, encerrando sua trajetória histórica. Pode demorar ainda dezenas de anos, como um moribundo que resiste, mas o fim é previsível. Com seus recursos internos não tem condições de se reproduzir.
Temos que encontrar outro tipo de relação para com a natureza, outra
forma de produzir e de consumir, desenvolvendo um sentido geral de
interdependência face à comunidade de vida e de responsabilidade
coletiva pelo nosso futuro comum. A não encetarmos esta conversão,
ditaremos para nós mesmos o veredito de desaparecimento. Ou nos
transformamos ou desapareceremos.
Faço minhas as palavras de Celso Furtado, economista-pensador:”Os
homens de minha geração demonstraram que está ao alcance do engenho
humano conduzir a humanidade ao suicídio. Espero que a nova geração
comprove que também está ao alcance do homem abrir caminho de acesso a
um mundo em que prevaleçam a compaixão, a felicidade, a beleza e a
solidariedade”. Mas à condição de mudarmos de paradigma.
Leonardo Boff é autor: Opção-Terra. A solução para a Terra não cai do céu, Record, Rio 2009.
sábado, 7 de janeiro de 2012
Rebeldes, mas sem filosofia
Nei Alberto Pies
"A rebeldia nos jovens não é um crime. Pelo contrário: é o fogo da alma que se recusa a
conformar-se, que está insatisfeito com o status quo,
que proclama querer mudar o mundo e está frustrado por não saber como"(http://www.chabad.org.br)
Controlar ou emancipar a juventude é um dos dilemas de nossos tempos. Como escreveu Moisés Mendes, em artigo Esses jovens:
“O jovem com vontades é uma invenção recente da humanidade. E o jovem
capaz de influenciar os outros com suas vontades é uma invenção com
pouco mais de 40 anos”. (ZH 13/11/11) Ao longo dos tempos, os jovens
resistem e mantém acesa a ideia de mudar o mundo. Desejam,
profundamente, que ideais e mundo sejam uma nota só. Seus sonhos
projetam ideias em teimosia. Eles têm consciência que precisam controlar
o seu “fogo ardente”, mas desejariam que este controle fosse deles, não
daqueles que representam qualquer autoridade (pais, professores,
psicólogos, legisladores, juízes, polícia). Rejeitam serem pensados
pelos outros.
Os
jovens sempre gostaram de desafiar os adultos, embora nunca tenham
dispensado o apoio sincero e franco, a escuta compreensiva e a
orientação bem intencionada dos mais velhos. A novidade de agora é que
se apoderaram, como antes nunca visto na história, de uma poderosa
ferramenta de comunicação e interação: a internet e as redes sociais.
Parece, no entanto, que sua fragilidade está no fato de que ainda não
terem vislumbrado uma filosofia capaz de dar envergadura para sustentar
as causas de sua rebeldia. Faltam-lhes frases, bordões; falta-lhes
filosofia.
O
inconformismo que caracteriza os jovens é a força renovadora que move o
mundo, mas também algo que incomoda os já acomodados. Acomodados,
despreparados ou desconhecendo a realidade do universo juvenil, muitos
desqualificam a juventude, vendo-a como um incômodo ou como uma fase de
passageira rebeldia. Ao invés de emancipar, desejam controlar, dominar,
moralizar. A rebeldia é o sinal de que a juventude continua sadia,
cumprindo com o seu papel de provocadora de mudanças. A rebeldia, aos
olhos da filosofia, é atitude de quem quer ser sujeito de sua história,
não seu coadjuvante. A filosofia, como o inconformismo, motiva cada um
na busca de seus próprios caminhos. Se os jovens mantiverem senso de
direção, terão o poder de mover mundos.
O
filósofo Sócrates, na Grécia Antiga, acreditando na emancipação humana,
desenvolveu a maiêutica. Concebeu o papel dos sábios a um trabalho de
parteira (que ajudam a dar a luz). Ele acreditava que a verdade e o
conhecimento estão com cada um e cada uma de nós, e cada indivíduo pode
descobrir as razões e verdades que motivam seu viver. Não por acaso,
fora considerado um incômodo para Atenas. Uma das razões de sua
condenação à morte foi insuflar a juventude a pensar por sua conta.
O
fato é que os jovens de hoje vivem o seu tempo a partir de suas
percepções, vivências e leituras. Seremos capazes de
compreendê-los em nosso momento histórico? Teremos disposição para o
diálogo e a escuta, buscando entender os desejos, sonhos, medos e
angústias que os movem?
Neste
mês em que comemoramos o dia mundial da Filosofia vale pensar que
filosofia e rebeldia desencadeiam atitudes altivas e saudáveis, próprios
daqueles que decidem pensar. Jovens e adultos, no entanto, precisam
discernir que causas valem uma vida. A violência e a agressão, em forma
de rebeldia, não podem ser toleradas. Mas, acima de tudo, a opção é da
sociedade: apostar e empenhar-se na emancipação e inclusão da juventude
ou considerá-la como constante ameaça contra a ordem social. Cada opção,
com seu preço.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos
sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Brasil, 6ª maior economia do globo.
Uma economia que esconde ainda problemas sérios de desigualdade social, de educação, saúde, moradia, saneamento básico, geração de emprego e renda, salários e corrupção política. Um índice que não diz muito de nossa realidade brasileira. É lamentável!
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
A filosofia em "Asas do Desejo"
Um
diálogo dramático e extremamente existencialista do filme “Asas
do Desejo”
- Então?
- Nascer do Sol 7h22min; Por do Sol 16h28min; Nascer da Lua 19h04min; Por da Lua; Nível das águas do Havel e do Spree... Há vinte anos um caça soviético despenhou-se no lago Stössen... Há 50 anos foram as olimpíadas. Há 200 anos, Nicolas François Blanchard sobrevoou a cidade num balão de ar quente. Os fugitivos fizeram o mesmo no outro dia.
- E hoje... Um homem caminhava pela Lilienthaler Chaussée e olhou para o vago por cima do ombro.
- Hoje, na estação de correios 44, um homem que vai por fim à vida, colou selos especiais nas suas cartas de despedida; um em cada. Depois cá fora falou inglês com um soldado americano pela primeira vez desde os tempos da escola, e fluentemente. Na prisão de Plötzensee, um preso, antes de ir de contra a parede, disse “Agora!”. Na estação de Metro do Zoo, o funcionário, em vez do nome da estação gritou “Terra do fogo”.
- Bonito.
- Nas montanhas de Reh um velho lia a Odisseia a uma criança. O pequeno escutava-o atentamente. E tu, que tens para contar?
- Uma transeunte fechou o chapéu de chuva e ficou encharcada. Um aluno descreveu ao professor como brota um feto da terra, e este ficou espantado. Uma cega tacteou o relógio quando me sentiu. É fantástico viver espiritualmente, o que há de puro, de espiritual nas pessoas. Mas às vezes farto-me desta eterna existência de espírito. Nessas alturas gostaria de não pairar eternamente. Gostaria de sentir um peso que anulasse a infinidade e me segurasse à terra. A cada passo ou a cada golpe de vento gostaria de poder dizer: “Agora, agora, agora” e não “desde sempre” e “para todo o sempre”. Sentar-me à mesa e jogar às cartas, ser cumprimentado, nem que seja só com um aceno. Sempre que o fizemos, foi a fingir. Fingimos que numa luta de boxe deslocávamos uma anca. Fingimos que nos sentamos numa mesa a comer e a beber, que nos serviam borrego assado e vinho, nas tendas no deserto. Era tudo a fingir. Eu não quero gerar um filho, nem plantar uma árvore, mas seria bem agradável chegar em casa cansado e dar de comer ao gato, como Philipp Marlow. Ter febre, ficar com os dedos sujos de ter lido o jornal... Não me entusiasmar só com coisas do espírito, mas com uma refeição, a curva de uma nuca, uma orelha. Mentir à descarada. Ao andar, sentir o esqueleto mexer-se a cada passo. Poder dizer “ah”, “oh”, “ai” em vez de “sim” e “amém”. Poder, ao menos uma vez, entusiasmar-me com o mal. Extrair todos os demônios da Terra, dos que por nós passam, e afugentá-los para bem longe. Ser selvagem. Ou experimentar o que se sente quando se tiram os sapatos debaixo da mesa e se estendem os dedos descalços. Assim. Ficar só. Deixar correr. Ficar sério.
- Só se pode ser feroz na medida em que se fica sério. Não fazer senão olhar, reunir, testemunhar, preservar. Continuar espírito. Manter a distância, a palavra.
Nada mal para quem precisa de uma sacudida de existência. Uma verdadeira lição de Filosofia da Existência!
Transcrito pelo
Professor Jackislandy Meira de M. Silva
Kafka tinha razão: todo amante da burocracia tem cara de rato
por Luiz Felipe Pondé para Folha
Acho o Réveillon uma festa chatíssima. Quando você estiver lendo esta coluna, estarei em Tel Aviv, e ainda bem que aqui não tem Réveillon.
A cidade é patrimônio cultural universal porque tem o maior conjunto arquitetônico Bauhaus do mundo, o que dá a ela um tom entre o blasé (isto é, a soma do cinza e branco típico dos prédios Bauhaus de poucos andares com o desleixo chique característico da população local mediterrânea) e o moderno da primeira modernização, antes de a modernidade virar essa coisa brega de massa.
Tel Aviv é descrita pelos israelenses como sendo "outro mundo", diferente do resto do país, justamente por seu caráter secular, arredio ao fanatismo religioso que cresce por aqui e aberto à convivência mundana.
Diante desse cenário, sempre que estou nesta cidade, meu pessimismo (que tem sua origem provavelmente em alguma forma de disfunção fisiológica) cede. O desleixo e o ar mediterrâneo, associados ao desespero mudo, embutido no cotidiano de quem se sabe uma espécie caçada, me acalmam. Estranho? Sou estranho mesmo.
Segundo reza uma das lendas sobre Franz Kafka, quando perguntaram a ele se não havia esperanças para o mundo, ele teria respondido: "Esperanças há muitas, mas não para nós".
De todas as formas de pessimismo, a de Kafka é a única que me assusta. Não temo pessimismos cosmológicos. Não espero nada da vida na forma de recompensa moral (aquilo que a teologia cristã chama "retribuição pelos méritos").
Antes de tudo porque não sou uma pessoa boa. Raramente me preocupo com os outros, e a África pouco me importa. Nem a fome. Nem as baleias. Nem você.
Não conto com a misericórdia de Deus porque não a mereço. Guerras sempre existirão, e a humanidade faz o que pode para sobreviver ao mundo e a si mesma.
A possível falta de sentido da vida não me interessa. Durmo bem com ela. Sou daqueles que pensam que a metafísica é fruto de indisposição e mau humor. Mas temo o pessimismo kafkiano como nada mais no mundo. Temo a burocracia. Todo amante da burocracia tem cara de rato. Kafka tinha razão.
O pior mundo de Kafka não é sua barata, mas aquele do seu conto "A Construção". O roedor que faz a "construção" em sua casa é a melhor descrição do inferno burocrático em que o mundo se transformou.
Kafka, à diferença da maioria de nossos especialistas em ciências humanas, sabe que construímos a burocracia para nos sentir seguros, e não porque nos obrigam a isso. E o pior é que existem muitas razões para nos sentirmos inseguros, por isso não há saída para o inferno que é a burocracia.
Algumas almas menos brilhantes assumem que um mundo "paperless" (nada mais ridículo do que usar expressões em inglês para se sentir mais científico), ou seja, sem papel, seria menos burocrático. Risadas... Nada mais horroroso do que alguns restaurantes que começam a trocar seus menus "físicos" por iPads. Logo nos farão escolher nossos pratos via rede, e eles acharão isso o máximo.
Um mundo "paperless" afogar-se-á em senhas. Você precisará de uma senha especial para usar sua senha menos especial e assim sucessivamente, ao infinito. Depois, precisará de um programa superavançado para ter acesso a todas as suas senhas e combiná-las de modo secreto (em si, uma outra senha).
Quando você tiver uma crise diante de tudo isso, algum burocrata dirá para você que isso tudo é para sua segurança. E você será obrigado a concordar, assumindo também uma cara de rato.
Mas, dirão as almas menos brilhantes, graças a Deus estamos cortando menos árvores e não estamos gerando papel.
No conto de Kafka "A Construção", nosso roedor atarefado teme um ruído horroroso que vem não sabe de onde e por isso começa a construir "rotas de fuga" em sua moradia subterrânea.
Logo, a rede de "rotas de fuga" é tão grande que ele se esquece onde começou e descobre que, apesar de o ruído aumentar cada vez mais e sua sensação de perigo aumentar junto com o ruído, ele já não sabe como fugir, porque suas rotas de fuga viraram um labirinto infernal.
O mundo de Kafka é uma prisão a céu aberto, e os ratos venceram. Feliz Ano-Novo.
Acho o Réveillon uma festa chatíssima. Quando você estiver lendo esta coluna, estarei em Tel Aviv, e ainda bem que aqui não tem Réveillon.
A cidade é patrimônio cultural universal porque tem o maior conjunto arquitetônico Bauhaus do mundo, o que dá a ela um tom entre o blasé (isto é, a soma do cinza e branco típico dos prédios Bauhaus de poucos andares com o desleixo chique característico da população local mediterrânea) e o moderno da primeira modernização, antes de a modernidade virar essa coisa brega de massa.
Tel Aviv é descrita pelos israelenses como sendo "outro mundo", diferente do resto do país, justamente por seu caráter secular, arredio ao fanatismo religioso que cresce por aqui e aberto à convivência mundana.
Diante desse cenário, sempre que estou nesta cidade, meu pessimismo (que tem sua origem provavelmente em alguma forma de disfunção fisiológica) cede. O desleixo e o ar mediterrâneo, associados ao desespero mudo, embutido no cotidiano de quem se sabe uma espécie caçada, me acalmam. Estranho? Sou estranho mesmo.
Segundo reza uma das lendas sobre Franz Kafka, quando perguntaram a ele se não havia esperanças para o mundo, ele teria respondido: "Esperanças há muitas, mas não para nós".
De todas as formas de pessimismo, a de Kafka é a única que me assusta. Não temo pessimismos cosmológicos. Não espero nada da vida na forma de recompensa moral (aquilo que a teologia cristã chama "retribuição pelos méritos").
Antes de tudo porque não sou uma pessoa boa. Raramente me preocupo com os outros, e a África pouco me importa. Nem a fome. Nem as baleias. Nem você.
Não conto com a misericórdia de Deus porque não a mereço. Guerras sempre existirão, e a humanidade faz o que pode para sobreviver ao mundo e a si mesma.
A possível falta de sentido da vida não me interessa. Durmo bem com ela. Sou daqueles que pensam que a metafísica é fruto de indisposição e mau humor. Mas temo o pessimismo kafkiano como nada mais no mundo. Temo a burocracia. Todo amante da burocracia tem cara de rato. Kafka tinha razão.
O pior mundo de Kafka não é sua barata, mas aquele do seu conto "A Construção". O roedor que faz a "construção" em sua casa é a melhor descrição do inferno burocrático em que o mundo se transformou.
Kafka, à diferença da maioria de nossos especialistas em ciências humanas, sabe que construímos a burocracia para nos sentir seguros, e não porque nos obrigam a isso. E o pior é que existem muitas razões para nos sentirmos inseguros, por isso não há saída para o inferno que é a burocracia.
Algumas almas menos brilhantes assumem que um mundo "paperless" (nada mais ridículo do que usar expressões em inglês para se sentir mais científico), ou seja, sem papel, seria menos burocrático. Risadas... Nada mais horroroso do que alguns restaurantes que começam a trocar seus menus "físicos" por iPads. Logo nos farão escolher nossos pratos via rede, e eles acharão isso o máximo.
Um mundo "paperless" afogar-se-á em senhas. Você precisará de uma senha especial para usar sua senha menos especial e assim sucessivamente, ao infinito. Depois, precisará de um programa superavançado para ter acesso a todas as suas senhas e combiná-las de modo secreto (em si, uma outra senha).
Quando você tiver uma crise diante de tudo isso, algum burocrata dirá para você que isso tudo é para sua segurança. E você será obrigado a concordar, assumindo também uma cara de rato.
Mas, dirão as almas menos brilhantes, graças a Deus estamos cortando menos árvores e não estamos gerando papel.
No conto de Kafka "A Construção", nosso roedor atarefado teme um ruído horroroso que vem não sabe de onde e por isso começa a construir "rotas de fuga" em sua moradia subterrânea.
Logo, a rede de "rotas de fuga" é tão grande que ele se esquece onde começou e descobre que, apesar de o ruído aumentar cada vez mais e sua sensação de perigo aumentar junto com o ruído, ele já não sabe como fugir, porque suas rotas de fuga viraram um labirinto infernal.
O mundo de Kafka é uma prisão a céu aberto, e os ratos venceram. Feliz Ano-Novo.
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