Nei Alberto Pies
"A rebeldia nos jovens não é um crime. Pelo contrário: é o fogo da alma que se recusa a
conformar-se, que está insatisfeito com o status quo,
que proclama querer mudar o mundo e está frustrado por não saber como"(http://www.chabad.org.br)
Controlar ou emancipar a juventude é um dos dilemas de nossos tempos. Como escreveu Moisés Mendes, em artigo Esses jovens:
“O jovem com vontades é uma invenção recente da humanidade. E o jovem
capaz de influenciar os outros com suas vontades é uma invenção com
pouco mais de 40 anos”. (ZH 13/11/11) Ao longo dos tempos, os jovens
resistem e mantém acesa a ideia de mudar o mundo. Desejam,
profundamente, que ideais e mundo sejam uma nota só. Seus sonhos
projetam ideias em teimosia. Eles têm consciência que precisam controlar
o seu “fogo ardente”, mas desejariam que este controle fosse deles, não
daqueles que representam qualquer autoridade (pais, professores,
psicólogos, legisladores, juízes, polícia). Rejeitam serem pensados
pelos outros.
Os
jovens sempre gostaram de desafiar os adultos, embora nunca tenham
dispensado o apoio sincero e franco, a escuta compreensiva e a
orientação bem intencionada dos mais velhos. A novidade de agora é que
se apoderaram, como antes nunca visto na história, de uma poderosa
ferramenta de comunicação e interação: a internet e as redes sociais.
Parece, no entanto, que sua fragilidade está no fato de que ainda não
terem vislumbrado uma filosofia capaz de dar envergadura para sustentar
as causas de sua rebeldia. Faltam-lhes frases, bordões; falta-lhes
filosofia.
O
inconformismo que caracteriza os jovens é a força renovadora que move o
mundo, mas também algo que incomoda os já acomodados. Acomodados,
despreparados ou desconhecendo a realidade do universo juvenil, muitos
desqualificam a juventude, vendo-a como um incômodo ou como uma fase de
passageira rebeldia. Ao invés de emancipar, desejam controlar, dominar,
moralizar. A rebeldia é o sinal de que a juventude continua sadia,
cumprindo com o seu papel de provocadora de mudanças. A rebeldia, aos
olhos da filosofia, é atitude de quem quer ser sujeito de sua história,
não seu coadjuvante. A filosofia, como o inconformismo, motiva cada um
na busca de seus próprios caminhos. Se os jovens mantiverem senso de
direção, terão o poder de mover mundos.
O
filósofo Sócrates, na Grécia Antiga, acreditando na emancipação humana,
desenvolveu a maiêutica. Concebeu o papel dos sábios a um trabalho de
parteira (que ajudam a dar a luz). Ele acreditava que a verdade e o
conhecimento estão com cada um e cada uma de nós, e cada indivíduo pode
descobrir as razões e verdades que motivam seu viver. Não por acaso,
fora considerado um incômodo para Atenas. Uma das razões de sua
condenação à morte foi insuflar a juventude a pensar por sua conta.
O
fato é que os jovens de hoje vivem o seu tempo a partir de suas
percepções, vivências e leituras. Seremos capazes de
compreendê-los em nosso momento histórico? Teremos disposição para o
diálogo e a escuta, buscando entender os desejos, sonhos, medos e
angústias que os movem?
Neste
mês em que comemoramos o dia mundial da Filosofia vale pensar que
filosofia e rebeldia desencadeiam atitudes altivas e saudáveis, próprios
daqueles que decidem pensar. Jovens e adultos, no entanto, precisam
discernir que causas valem uma vida. A violência e a agressão, em forma
de rebeldia, não podem ser toleradas. Mas, acima de tudo, a opção é da
sociedade: apostar e empenhar-se na emancipação e inclusão da juventude
ou considerá-la como constante ameaça contra a ordem social. Cada opção,
com seu preço.
Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos
Nenhum comentário:
Postar um comentário