Circula no imaginário de cada um a noção de que fortuna é muito
dinheiro, muitos bens, riqueza, prosperidade e coisa do gênero, até
que é mesmo no vocabulário português, mas no italiano fortuna
não tem nada a ver com isso, pois significa oportunidade, sorte ou
destino, uma certa felicidade, digamos assim. Para alguns políticos,
já começou o tempo da oportunidade, em que concorrerão a um lugar
na câmara dos vereadores ou a um lugar exclusivo, cada vez mais
vazio, na cadeira do executivo municipal. Há os que querem apenas
tomar o lugar, mas há os que usarão o lugar para trazer outras
oportunidades para o povo. Estes abraçam a carreira política como
um serviço público de mão dupla. Ganham, mas fazem outros
ganharem. Quando ganham, todos ganham. São os menos egoístas.
Vislumbra-se um tempo cheio de oportunidades. Subverter um pouco as
coisas nesse tempo não é arte só dos políticos, mas também dos
eleitores. Eleitores também precisam de oportunidades. Eis a hora da
festa política, onde o povo saberá ou não fazer suas escolhas,
saberá, acima de tudo, aproveitar cada tantinho de oportunidade.
Afinal de contas, a roda girando sinaliza ainda o caráter dinâmico da política, de modo que no regime democrático o poder é sempre rotativo, cheio de alternâncias. A roda da fortuna nos ajuda a entender o sentido da alternância do poder democrático. Essa é uma das façanhas da democracia.
Aproveitar as oportunidades não significa sair correndo loucamente
atrás de uma destas vagas, mas respeitar obedientemente o momento
certo de arriscar-se a isso, uma vez que o povo espera ver homens,
cidadãos mergulhados na vida da sua cidade, sendo servidores do povo
e de suas reais necessidades. Quanto a isso, não há dúvidas de que
o serviço público se constitui um espaço único para o político -
aquele que se identifica de fato com as leis, a ordem e a gestão da
coisa pública - poder desenvolver sua aptidões na arte de governar
e colocar à disposição do povo sua aplicação em coletividade e
em cidadania.
Vale lembrar sempre que o político ou o candidato a político
profissional deve ser o mais cidadão de todos os cidadãos.
Certamente, caberá a ele ou a ela trabalhar mesmo num esforço
natural de fazer o melhor para a gente da sua terra. Gente que
suporta os mil sofrimentos com criatividade, sem nunca perder a
esperança. Maquiavel, pensador italiano, não estava só do lado do
Príncipe e de sua permanência no poder, mas concebeu em seus
escritos filosóficos políticos um imenso desejo pela democracia:
“(...) as ideias já democráticas aparecem veladamente também
no cap. IX de O príncipe, quando Maquiavel
discorre sobre a necessidade de o governante ter o apoio do povo,
sempre melhor do que o apoio dos grandes, que podem ser
traiçoeiros”(in ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando.
Introdução à Filosofia. São Paulo: Moderna, 2009. p. 299).
Voltando, pois, à fortuna, por que não nos remetermos aqui à
mitologia? A Fortuna é uma deusa romana que representa a abundância
e que também move a roda da sorte. Daí, fortuna vir identificada
com ocasião, acaso, sorte que se liga com a ideia do político, em
Maquiavel, não deixar escapar nunca a ocasião oportuna. Porém, de
nada adianta ser oportuno sem virtù, virtude, para o político
não deixar seu senso de oportunidade se transformar em oportunismo.
Que o político saiba respeitar a oportunidade com virtude para não
se transformar num tirano, ligado apenas em seus próprios
interesses.
Que gire a roda da fortuna! Quem serão os felizardos? Quem serão os
afortunados?
Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia, Bacharel em
Teologia, Pós-graduando em Estudos Clássicos pela UnB e Archai
Unesco.
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