Capitalismo! Uma ideia de ordem que vende sem parar. Passando pelo
que comemos, bebemos e pelo que vestimos, como se não bastasse, pelo
que desejamos, inclusive, a felicidade. Sim, vende-se também
felicidade. Lucra-se com ela, por ela e para ela. Nunca se vendeu
tanta autoajuda como hoje. Vendemos conselhos motivacionais. Eles
valem ouro. As pessoas buscam o tempo todo uma receita para viver
melhor. Uma receita que lhes ensinem a viver. Mas tudo em nome do
capitalismo. Uma dominação política sustentada na ilusão de que
nossos desejos são satisfeitos, quando na verdade não são. Isso
mesmo é uma farsa.
No capitalismo liberal, nem tudo, ou melhor, quase tudo não é o
que parece. As sociedades capitalistas como a nossa se esforçam,
sacrificam-se único e exclusivamente por uma fantasia de satisfação
de desejos. Não refletimos sobre o que se passa conosco.
Simplesmente nos basta o gozo ou o prazer fantasmático de algo
satisfeito, de um conforto mentirosamente alcançado. O capitalismo,
então, nos dá este conforto, e ele, assim como nós, não se dá
por satisfeito, mas cria outros e mais outros novos estímulos, de
modo a nos controlar compulsivamente. Não só nos tornamos
consumidores por necessidade de sobrevivência, mas por manutenção
de prazeres diários.
A verdade é que, por causa do capitalismo, somos incapazes de ver
além de nossos desejos, de dar sentido a eles, de descobrir quem
somos. Com isso, passamos a ser vistos aos poucos como máquinas de
produção de conforto, porém muito conforto. Atolados demais em
conforto, a sociedade fica doente, vulnerável a toda sorte de males.
Nós ficamos doentes, ao ponto de sequer questionar o modo como
vivemos. Não damos mais alternativas ao capitalismo e nem
desconfiamos dele, visto que “parece mais fácil imaginar o fim
do mundo que uma mudança muito mais modesta no modo de produção,
como se o capitalismo liberal fosse o 'real' que de algum modo
sobreviverá, mesmo na eventualidade de uma catástrofe ecológica
global...(...) Pode-se afirmar categoricamente a existência de uma
'qua' matriz geradora que regula a relação entre o visível e o
invisível, o imaginável e o inimaginável, bem como as mudanças
nessa relação”(Slavoj Zizek, in Um Mapa da Ideologia, p. 07).
Repare que paira sobre nós uma
sensação estranha de dominação política, sobretudo em tempos de
realidade virtual, de
sofisticação tecnológica,
outro dado que se junta ao capitalismo para controlar nossos desejos
e ansiedades. Vivemos meio que deslocados do mundo real, fora do
espaço e tempo em que ocupamos. Estamos
nos enchendo de informações via celulares, Ipads e Laptops, e isso
costuma não
dar
em nada, pois nos tornamos
até mais despolitizados. Consumimos ideologia por desejo e não por
reflexão.
Interessa-nos
muito mais a relação amorosa de uma atriz que mora em Londres ou
em New York do que o número alarmante de separações de casais em
nosso país. Rende mais debate um terremoto que ocorre no Japão ou
um desequilíbrio climático ao redor do mundo do que com a carência
de fios de aço para cirurgias na saúde pública do RN. Discussões
sobre o descaso com a infraestrutura do país como transportes,
saneamento, educação, políticas públicas de convivência com o
semiárido... Nada disso importa o quanto importa a realização de
uma Copa do Mundo no Brasil, o
que é preocupante porque nem a Copa e tudo o que dizem dela é o que
parece. Nem tudo é o que parece. A Copa do mundo, bem como o carnaval e uma porção de coisa no Brasil tentam esconder corrupção, altos impostos e inflação que oprimem a população.
Penso que a pauta das discussões
políticas e sociais está indo na onda do capitalismo liberal que
pretende esvaziar mais ainda
o debate cultural entre os povos pela via superficial da informação
virtual cada vez mais disseminada no mundo. O filósofo esloveno
Slavoj
Zizek, numa obra organizada por ele, Um Mapa da Ideologia,
assim nos alerta para o perigo do capitalismo: “Hoje em
dia, muito ouvimos e lemos sobre como a própria sobrevivência da
espécie humana está ameaçada pela perspectiva da catástrofe
ecológica (diminuição da camada de ozônio, o efeito estufa etc.).
O verdadeiro perigo, entretanto, acha-se em outro lugar: o que está
ameaçado, em última análise, é a própria essência do homem. Ao
nos esforçarmos por prevenir a catástrofe ecológica iminente, com
soluções tecnológicas cada vez mais novas, estamos, na
verdade, simplesmente jogando lenha na fogueira e, com isso,
agravando a ameaça à essência espiritual do homem, que não pode
ser reduzido a um animal tecnológico”(p. 22).
Prof. Jackislandy Meira de Medeiros
Silva
Bel. em Teologia, Licenciado em
Filosofia, Esp. em Metafísica e Pós-graduando em Estudos Clássicos
pela UnB/Archai/Unesco.
Um comentário:
Quero dar-lhe meus parabéns pela excelência do seu escrito. O consumismo está à deriva.
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