quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O carnaval e a sexualidade humana

Estamos às vésperas da maior festa popular brasileira, o carnaval. Oriundo historicamente das festas pagãs da Grécia antiga em honra a Dioniso, o deus do vinho e da festa, caracterizava-se como um verdadeiro bacanal de orgias, comilanças e bebedeiras, incluindo a exaltação do corpo(carne) como princípio da alegria. Carnaval – carrum navalis(carro naval ou carro alegórico) e carne levare(abstenção de carne) – é de origem latina a expressão do termo que há muito deixou de se constituir o “abre-alas” de significativas marchinhas, brincadeiras engraçadas, exposição de fantasias e personagens semelhantes ou próximos do inusitado “entrudo”, festa do “entrudo”, assim chamado o nosso carnaval brasileiro quando trazido pelos portugueses.Passaram-se os tempos e sucederam-se festas e mais festas de carnaval perdendo o vínculo com o passado, distanciando-se saudosamente do encanto pela arte, pela beleza e pela boa música, enredos de cunho artístico e cultural que foram se apagando da memória do carnavalesco ou do que brinca o atual carnaval. Este vem até nós, encontra-nos, com valores diferentes, modificado. O presente carnaval tornou-se uma apologia exagerada do sexo, da droga(maconha, crack, cocaína, lança perfume e do álcool) e de prazeres desmedidos, descontrolados; dissipou-se sua música em palavrões desqualificados e cheios de ambigüidades; degradou-se sua fantasia no pudor ou no glamour de mulheres nuas e por vezes vazias de conteúdo; deixou-se levar pelo embalo do consumo e pela velocidade da perda do sentido da vida...E como se não bastasse, o Ministro da saúde tem a ousadia de autorizar a distribuição, nos postos de saúde de todo o Brasil, da pílula do dia seguinte para os foliões que irão participar do carnaval, admitindo assim, a defesa pública da banalização do ato sexual. Essa declaração do Sr. Ministro não só vulgariza a sexualidade, mas também estimula nos jovens, nos adolescentes, adultos, nas famílias e no público em geral, a promiscuidade dos valores sexuais e a falta de respeito à vida porque a pílula é considerada um diagnóstico abortivo. O Ministro poderia rever essa decisão que contradiz o uso da camisinha e que afronta o inviolável princípio de querer viver! Esta atitude vem causando muita polêmica entre os cristãos e o Estado do Pernambuco.Tentando lutar contra essa cultura, deveríamos insistir que a sexualidade humana não pode estar restrita somente ao âmbito do biológico, isto é, a sexualidade não é qualquer coisa de puramente biológico, mas refere-se antes ao núcleo íntimo da pessoa.A finalidade da sexualidade é a realização da natureza humana e essa realização não se dá somente pela relação sexual ou física. Ela se realiza quando há amor, responsabilidade e quando visa sempre ao bem do outro. O amor, que se exprime e se alimenta no encontro do homem e da mulher é dom de Deus; é, por isso, força positiva, orientada para sua maturação enquanto pessoas; é também uma preciosa reserva para o dom de si que todos, homens e mulheres, são chamados a realizar para a sua própria felicidade, num plano de vida que representa a vocação de todos.Tudo isso merece valor quando corpo e alma lutam pela unidade e integridade física, psicológica e espiritual da pessoa. O homem, como um todo, uma amplitude de valores, não pode banalizar sua dimensão física ou biológica.Por essa razão é que nós, neste carnaval ou fora dele, com tudo o que significa realmente, poderíamos somente admitir o uso da sexualidade como doação física, na medida em que ela for doação pessoal do homem e da mulher até a morte.Uma das formas, um dos caminhos para esta realização é o matrimônio, o casamento, a vida conjugal, pois o que completa felizmente o matrimônio é a relação conjugal, mas não a relação sexual. A relação conjugal compromete toda, digo toda, a vida da pessoa. 
Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.Confira os blogs:www.umasreflexoes.blogspot.comwww.chegadootempo.blogspot.com

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Uma dialética sobre o nada!



“O que antigamente, agora e sempre se tem buscado e tem sido objeto de dúvida, o que é o ser?”(Metafísica V, Aristóteles).
Por incrível que pareça todas as atenções hoje são voltadas para uma visão negativa do aspecto do não-ser. O não-ser se revela como um objeto de estudo e de análise positiva para entendermos o comportamento e o pensar modernos. Transformamos, em virtude de Nietzsche, o não-ser metafísico clássico no niilismo ético moderno. Ou seja, passamos de um estágio absoluto da filosofia para um outro relativo e superficial que aponta para o nada, desprovido de conceitos, de ideias, de valores, de sentido. Nietzsche reduziu o ser ao nada! Mas, deu a este nada grandes e incomparáveis poderes, capaz até de o personificar.
Voltemos aos antigos, Aristóteles dá margem para um outro problema na História da Filosofia que já vinha sido posto por Parmênides de Eléia, o não-ser. Quando um filósofo, um poeta, um artista ou um leigo como qualquer outro ou até o homem do vulgo se empenham, de fato, na busca pelo ser acabam dando conta de que há um limite para o ser que é o não-ser.
O saber dos antigos parece não encontrar muito respaldo para a geração atual, uma vez que não reconhecemos verdades ou convicções que nos prendam ou nos remetam ao que é duradouro, eterno, imutável, essencial, infinito, constante, profundo, desconhecido... Essas expressões são consideradas quase que obsoletas numa época de esvaziamento de todos os sentidos absolutos, de deserto, de dor, de falta de sentidos. Não por acaso a poesia de T. S. Eliot vem sendo afirmada: “Deserto e vazio. Deserto e vazio. E as trevas à beira do abismo”.
No entanto, o não-ser representa a fecundidade da idéia de ser, ou seja, o nada é uma espécie de limite de ser. Limite aqui deve ser entendido como simples negação do ser. Em sentido absoluto, o não-ser equivale ao nada que é a exclusão total de ser, o aniquilamento do ser.
O nada nem sequer pode ser pensado. O nada é, neste caso, uma destruição do ser e de toda inteligibilidade. Nessa direção continuamos com Parmênides em seu poema sobre o ser, quando assim se expressa: “Necessário é o dizer e pensar que o ente é; pois é ser. E nada não é. Isto eu te mando considerar.” Neste poema que só citamos o finalzinho, o filósofo admite também que a deusa lhe comunica uma verdade, o ser é, o não-ser não é, justificando assim pra toda história do pensamento o princípio de contradição. Toda vez que eu penso afirmo o ser. Toda vez que uso a inteligência dou imagem ao ser. Pensar em si mesmo significa afirmar o ser. Daí, pensar o nada significa não pensar. O nada é impensável. Este princípio passou pra história como princípio de Parmênides ou de Contradição. Ao mesmo tempo, não se pode ser e não ser. Tem que ser ou não ser.
Muito embora o princípio de Contradição de Parmênides se faça visível e pertinente em nosso filosofar e em nosso viver, é bem verdade que fugimos aqui e acolá da autêntica identidade de mostrarmos quem realmente somos! Pretos ou brancos, índios ou negros, pardos ou amarelos, homem ou mulher, magros ou gordos, altos ou baixos, pobres ou ricos, brasileiros ou não, trabalhadores ou não, crentes ou não, políticos ou não, violentos ou não... O certo é que nada disso importa, não somos nem uma coisa nem outra. Nada faz diferença. Não existe mais o princípio de contradição, de identidade e nem o do terceiro excluído. Tudo é incluído. Nada é excluído e a lógica clássica foi superada ou rompida. Enfim, não poucas vezes dizemos mais o que não somos a dizer o que, de fato, somos. Se isso importa em nossos dias, é melhor afirmarmos o que realmente somos, antes que algo venha a se levantar contra nós para nos denunciar, o não-ser. Pois, para o não-ser não existe a verdade, só existe o que posso dizer sobre ela. Não há mais identidade, só há pluralidade exposta pelo não-ser, uma vez que é bastante divertido dizer muitas “verdades” sobre mim do que dizer a única verdade pensada sobre mim.
Portanto, para ilustrar esse devaneio sobre o não-ser, gostaríamos de retomar Nietzsche em relação à Platão. O primeiro diz: “A mentira é o poder”(fragmentos póstumos). O segundo afirma: “A verdade jamais é refutada”(diálogo Górgias). À medida que a história prossegue, o peso do não-ser se torna maior do que o ser. E tome Filosofia!!!

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Metafísica... mas, afinal, que nome é esse?



Cena clássica dos cisnes que se enamoram pelas mulheres gregas, a fim de mostrar-lhes o amor. O importante na pintura é a imagem dos cisnes que simboliza o grito de libertação da alma aos grilhões do corpo. Para os gregos, o canto do cisne é o anúncio da morte do corpo, da aparência, da ignorância que dá lugar à uma nova dimensão na vida humana, a verdade, a alma, a idéia.(ver foto)


Metafísica... mas, afinal, que nome é esse?

Que é isto, não segundo suas aparências fenomenais, mas em sua existência racional e profunda?
O nome permite apenas comunicar interrogando e respondendo. Que é o ser dessa realidade? Eis uma interrogação fundamental que abre uma via de acesso ao conhecimento metafísico.
Dessa interrogação nada é excluído: eu mesmo quando interrogo posso ser objeto dela; se me pergunto o que sou, é aí mesmo que minha interrogação cobra todo o sentido e toda a sua força.
Que é, para mim, existir? Que é a verdade? Teria eu o direito de parar interrogando, sem saber se haveria uma resposta satisfatória, resposta que me permitiria ir mais longe para manter com o mundo um contato normal? Por em xeque a interrogação não seria por em questão o espírito?
A metafísica é isso; não me contentar com nomes. Não me contentar com a primeira vista que tenho das coisas, e sim buscar as profundezas, os significados das coisas. A gente acaba a curiosidade, a sede da criança, acalmando-a com nomes, sempre respondemos às perguntas das pessoas e principalmente às crianças pelos nomes, permanecendo implícito o significado, não respondemos além dos nomes, não respondemos às profundezas das coisas.
Desde crianças, lutamos contra nossa ignorância! Esta foi também a luta de Sócrates, que não lutava apenas com palavras, mas sobretudo com idéias, combatendo a ignorância sua e a de seus interlocutores, deixando para a história uma famosa frase: “Só sei que nada sei”. Aquele que pergunta ignora a sua realidade. Mas não quer saber apenas a aparência das coisas, mas sim quer ir mais longe. Temos que ir no escondido das coisas, mergulhar no que é oculto. Temos que rasgar o véu da realidade aparente.
O filósofo é aquele sobretudo que conhece a si mesmo, antes de conhecer os outros. É por isso que Sócrates utilizou em seu pensamento um método bastante eficaz nesse aspecto, tendo por base, por finalidade acordar a mente do sujeito. A maiêutica é isso; uma espécie de parto no homem para descobrir a verdade, fazendo com que a inteligência desse o parto, parindo a verdade.


Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Escolha a via da vida!


A lembrança de um dia ter sido melhor toma-me de angústia e de pesar porque, talvez, parei por algum tempo de evoluir em etapas. A história(entendam aqui a vida pessoal de cada um) é um longo percurso convidativo para o homem perseguir. É um caminho capaz de levar-nos a parar numa encruzilhada que aponta para duas vielas: a da vida e a da morte. Não sei se as duas nos merecem! Mas devo dizer que apenas uma nos atrai com um peso de verdade, a da vida.
O ser humano, munido de inteligência e vontade, portanto, liberdade, pode se servir desta, digo da liberdade, para fazer a escolha certa. Escolher a vida deve ser a prioridade de nossas atitudes, até porque somos frutos de nossas escolhas! Aí entra a função da liberdade que só existe, de fato, quando tomamos o rumo certo, verdadeiro. A razão, com isso, encontra motivos para prosseguir, seguir adiante, pois não é fácil deixar-se de ser convencido por moções artificiais e nebulosas ligadas à morte.
Assim, a razão jamais irá enganar o coração, porque, como diria Blaise Pascal, “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. É próprio do coração humano encher-se de amor, no entanto há esse motivo que move qualquer homem, estanque em suas dúvidas e preconceitos a superar-se e a permanecer melhorando a cada novo dia pela via da vida. Porém, mais do que levar alguém a convecer-se pela razão é cativá-lo pelo amor, um amor que propõe aceitação para viver de modo íntegro uma indispensável condição, a de filhos de Deus.
A dimensão de filhos de Deus é a condição básica para o ser humano permanecer sempre disposto a lutar contra todas as dificuldades hodiernas que a vida, inevitavelmente, impõe. O que tem a ver, afinal, a questão da filiação divina com a preocupação de escolher a via da vida? Muito tem a ver. Além do fato de possuirmos o caráter cristão, temos a grandeza de que com isso permaneceremos no caminho proposto por Cristo como verdadeiro, o da vida. A conseqüência disso tudo, meus caros, é a nossa comunhão com Deus.
Abrir-se a Deus no decorrer de toda a vida é uma necessidade e uma satisfação eterna, pois seremos, dessa forma, habitação, lugar onde mora Deus: “Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos uma morada”(Jo 14.23).

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O carnaval e a sexualidade humana

Estamos às vésperas da maior festa popular brasileira, o carnaval. Oriundo historicamente das festas pagãs da Grécia antiga em honra a Dioniso, o deus do vinho e da festa, caracterizava-se como um verdadeiro bacanal de orgias, comilanças e bebedeiras, incluindo a exaltação do corpo(carne) como princípio da alegria. Carnaval – carrum navalis(carro naval ou carro alegórico) e carne levare(abstenção de carne) – é de origem latina a expressão do termo que há muito deixou de se constituir o “abre-alas” de significativas marchinhas, brincadeiras engraçadas, exposição de fantasias e personagens semelhantes ou próximos do inusitado “entrudo”, festa do “entrudo”, assim chamado o nosso carnaval brasileiro quando trazido pelos portugueses.Passaram-se os tempos e sucederam-se festas e mais festas de carnaval perdendo o vínculo com o passado, distanciando-se saudosamente do encanto pela arte, pela beleza e pela boa música, enredos de cunho artístico e cultural que foram se apagando da memória do carnavalesco ou do que brinca o atual carnaval. Este vem até nós, encontra-nos, com valores diferentes, modificado. O presente carnaval tornou-se uma apologia exagerada do sexo, da droga(maconha, crack, cocaína, lança perfume e do álcool) e de prazeres desmedidos, descontrolados; dissipou-se sua música em palavrões desqualificados e cheios de ambigüidades; degradou-se sua fantasia no pudor ou no glamour de mulheres nuas e por vezes vazias de conteúdo; deixou-se levar pelo embalo do consumo e pela velocidade da perda do sentido da vida...E como se não bastasse, o Ministro da saúde tem a ousadia de autorizar a distribuição, nos postos de saúde de todo o Brasil, da pílula do dia seguinte para os foliões que irão participar do carnaval, admitindo assim, a defesa pública da banalização do ato sexual. Essa declaração do Sr. Ministro não só vulgariza a sexualidade, mas também estimula nos jovens, nos adolescentes, adultos, nas famílias e no público em geral, a promiscuidade dos valores sexuais e a falta de respeito à vida porque a pílula é considerada um diagnóstico abortivo. O Ministro poderia rever essa decisão que contradiz o uso da camisinha e que afronta o inviolável princípio de querer viver! Esta atitude vem causando muita polêmica entre os cristãos e o Estado do Pernambuco.Tentando lutar contra essa cultura, deveríamos insistir que a sexualidade humana não pode estar restrita somente ao âmbito do biológico, isto é, a sexualidade não é qualquer coisa de puramente biológico, mas refere-se antes ao núcleo íntimo da pessoa.A finalidade da sexualidade é a realização da natureza humana e essa realização não se dá somente pela relação sexual ou física. Ela se realiza quando há amor, responsabilidade e quando visa sempre ao bem do outro. O amor, que se exprime e se alimenta no encontro do homem e da mulher é dom de Deus; é, por isso, força positiva, orientada para sua maturação enquanto pessoas; é também uma preciosa reserva para o dom de si que todos, homens e mulheres, são chamados a realizar para a sua própria felicidade, num plano de vida que representa a vocação de todos.Tudo isso merece valor quando corpo e alma lutam pela unidade e integridade física, psicológica e espiritual da pessoa. O homem, como um todo, uma amplitude de valores, não pode banalizar sua dimensão física ou biológica.Por essa razão é que nós, neste carnaval ou fora dele, com tudo o que significa realmente, poderíamos somente admitir o uso da sexualidade como doação física, na medida em que ela for doação pessoal do homem e da mulher até a morte.Uma das formas, um dos caminhos para esta realização é o matrimônio, o casamento, a vida conjugal, pois o que completa felizmente o matrimônio é a relação conjugal, mas não a relação sexual. A relação conjugal compromete toda, digo toda, a vida da pessoa. 
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Uma dialética sobre o nada!



“O que antigamente, agora e sempre se tem buscado e tem sido objeto de dúvida, o que é o ser?”(Metafísica V, Aristóteles).
Por incrível que pareça todas as atenções hoje são voltadas para uma visão negativa do aspecto do não-ser. O não-ser se revela como um objeto de estudo e de análise positiva para entendermos o comportamento e o pensar modernos. Transformamos, em virtude de Nietzsche, o não-ser metafísico clássico no niilismo ético moderno. Ou seja, passamos de um estágio absoluto da filosofia para um outro relativo e superficial que aponta para o nada, desprovido de conceitos, de ideias, de valores, de sentido. Nietzsche reduziu o ser ao nada! Mas, deu a este nada grandes e incomparáveis poderes, capaz até de o personificar.
Voltemos aos antigos, Aristóteles dá margem para um outro problema na História da Filosofia que já vinha sido posto por Parmênides de Eléia, o não-ser. Quando um filósofo, um poeta, um artista ou um leigo como qualquer outro ou até o homem do vulgo se empenham, de fato, na busca pelo ser acabam dando conta de que há um limite para o ser que é o não-ser.
O saber dos antigos parece não encontrar muito respaldo para a geração atual, uma vez que não reconhecemos verdades ou convicções que nos prendam ou nos remetam ao que é duradouro, eterno, imutável, essencial, infinito, constante, profundo, desconhecido... Essas expressões são consideradas quase que obsoletas numa época de esvaziamento de todos os sentidos absolutos, de deserto, de dor, de falta de sentidos. Não por acaso a poesia de T. S. Eliot vem sendo afirmada: “Deserto e vazio. Deserto e vazio. E as trevas à beira do abismo”.
No entanto, o não-ser representa a fecundidade da idéia de ser, ou seja, o nada é uma espécie de limite de ser. Limite aqui deve ser entendido como simples negação do ser. Em sentido absoluto, o não-ser equivale ao nada que é a exclusão total de ser, o aniquilamento do ser.
O nada nem sequer pode ser pensado. O nada é, neste caso, uma destruição do ser e de toda inteligibilidade. Nessa direção continuamos com Parmênides em seu poema sobre o ser, quando assim se expressa: “Necessário é o dizer e pensar que o ente é; pois é ser. E nada não é. Isto eu te mando considerar.” Neste poema que só citamos o finalzinho, o filósofo admite também que a deusa lhe comunica uma verdade, o ser é, o não-ser não é, justificando assim pra toda história do pensamento o princípio de contradição. Toda vez que eu penso afirmo o ser. Toda vez que uso a inteligência dou imagem ao ser. Pensar em si mesmo significa afirmar o ser. Daí, pensar o nada significa não pensar. O nada é impensável. Este princípio passou pra história como princípio de Parmênides ou de Contradição. Ao mesmo tempo, não se pode ser e não ser. Tem que ser ou não ser.
Muito embora o princípio de Contradição de Parmênides se faça visível e pertinente em nosso filosofar e em nosso viver, é bem verdade que fugimos aqui e acolá da autêntica identidade de mostrarmos quem realmente somos! Pretos ou brancos, índios ou negros, pardos ou amarelos, homem ou mulher, magros ou gordos, altos ou baixos, pobres ou ricos, brasileiros ou não, trabalhadores ou não, crentes ou não, políticos ou não, violentos ou não... O certo é que nada disso importa, não somos nem uma coisa nem outra. Nada faz diferença. Não existe mais o princípio de contradição, de identidade e nem o do terceiro excluído. Tudo é incluído. Nada é excluído e a lógica clássica foi superada ou rompida. Enfim, não poucas vezes dizemos mais o que não somos a dizer o que, de fato, somos. Se isso importa em nossos dias, é melhor afirmarmos o que realmente somos, antes que algo venha a se levantar contra nós para nos denunciar, o não-ser. Pois, para o não-ser não existe a verdade, só existe o que posso dizer sobre ela. Não há mais identidade, só há pluralidade exposta pelo não-ser, uma vez que é bastante divertido dizer muitas “verdades” sobre mim do que dizer a única verdade pensada sobre mim.
Portanto, para ilustrar esse devaneio sobre o não-ser, gostaríamos de retomar Nietzsche em relação à Platão. O primeiro diz: “A mentira é o poder”(fragmentos póstumos). O segundo afirma: “A verdade jamais é refutada”(diálogo Górgias). À medida que a história prossegue, o peso do não-ser se torna maior do que o ser. E tome Filosofia!!!

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Metafísica... mas, afinal, que nome é esse?



Cena clássica dos cisnes que se enamoram pelas mulheres gregas, a fim de mostrar-lhes o amor. O importante na pintura é a imagem dos cisnes que simboliza o grito de libertação da alma aos grilhões do corpo. Para os gregos, o canto do cisne é o anúncio da morte do corpo, da aparência, da ignorância que dá lugar à uma nova dimensão na vida humana, a verdade, a alma, a idéia.(ver foto)


Metafísica... mas, afinal, que nome é esse?

Que é isto, não segundo suas aparências fenomenais, mas em sua existência racional e profunda?
O nome permite apenas comunicar interrogando e respondendo. Que é o ser dessa realidade? Eis uma interrogação fundamental que abre uma via de acesso ao conhecimento metafísico.
Dessa interrogação nada é excluído: eu mesmo quando interrogo posso ser objeto dela; se me pergunto o que sou, é aí mesmo que minha interrogação cobra todo o sentido e toda a sua força.
Que é, para mim, existir? Que é a verdade? Teria eu o direito de parar interrogando, sem saber se haveria uma resposta satisfatória, resposta que me permitiria ir mais longe para manter com o mundo um contato normal? Por em xeque a interrogação não seria por em questão o espírito?
A metafísica é isso; não me contentar com nomes. Não me contentar com a primeira vista que tenho das coisas, e sim buscar as profundezas, os significados das coisas. A gente acaba a curiosidade, a sede da criança, acalmando-a com nomes, sempre respondemos às perguntas das pessoas e principalmente às crianças pelos nomes, permanecendo implícito o significado, não respondemos além dos nomes, não respondemos às profundezas das coisas.
Desde crianças, lutamos contra nossa ignorância! Esta foi também a luta de Sócrates, que não lutava apenas com palavras, mas sobretudo com idéias, combatendo a ignorância sua e a de seus interlocutores, deixando para a história uma famosa frase: “Só sei que nada sei”. Aquele que pergunta ignora a sua realidade. Mas não quer saber apenas a aparência das coisas, mas sim quer ir mais longe. Temos que ir no escondido das coisas, mergulhar no que é oculto. Temos que rasgar o véu da realidade aparente.
O filósofo é aquele sobretudo que conhece a si mesmo, antes de conhecer os outros. É por isso que Sócrates utilizou em seu pensamento um método bastante eficaz nesse aspecto, tendo por base, por finalidade acordar a mente do sujeito. A maiêutica é isso; uma espécie de parto no homem para descobrir a verdade, fazendo com que a inteligência desse o parto, parindo a verdade.


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Escolha a via da vida!


A lembrança de um dia ter sido melhor toma-me de angústia e de pesar porque, talvez, parei por algum tempo de evoluir em etapas. A história(entendam aqui a vida pessoal de cada um) é um longo percurso convidativo para o homem perseguir. É um caminho capaz de levar-nos a parar numa encruzilhada que aponta para duas vielas: a da vida e a da morte. Não sei se as duas nos merecem! Mas devo dizer que apenas uma nos atrai com um peso de verdade, a da vida.
O ser humano, munido de inteligência e vontade, portanto, liberdade, pode se servir desta, digo da liberdade, para fazer a escolha certa. Escolher a vida deve ser a prioridade de nossas atitudes, até porque somos frutos de nossas escolhas! Aí entra a função da liberdade que só existe, de fato, quando tomamos o rumo certo, verdadeiro. A razão, com isso, encontra motivos para prosseguir, seguir adiante, pois não é fácil deixar-se de ser convencido por moções artificiais e nebulosas ligadas à morte.
Assim, a razão jamais irá enganar o coração, porque, como diria Blaise Pascal, “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. É próprio do coração humano encher-se de amor, no entanto há esse motivo que move qualquer homem, estanque em suas dúvidas e preconceitos a superar-se e a permanecer melhorando a cada novo dia pela via da vida. Porém, mais do que levar alguém a convecer-se pela razão é cativá-lo pelo amor, um amor que propõe aceitação para viver de modo íntegro uma indispensável condição, a de filhos de Deus.
A dimensão de filhos de Deus é a condição básica para o ser humano permanecer sempre disposto a lutar contra todas as dificuldades hodiernas que a vida, inevitavelmente, impõe. O que tem a ver, afinal, a questão da filiação divina com a preocupação de escolher a via da vida? Muito tem a ver. Além do fato de possuirmos o caráter cristão, temos a grandeza de que com isso permaneceremos no caminho proposto por Cristo como verdadeiro, o da vida. A conseqüência disso tudo, meus caros, é a nossa comunhão com Deus.
Abrir-se a Deus no decorrer de toda a vida é uma necessidade e uma satisfação eterna, pois seremos, dessa forma, habitação, lugar onde mora Deus: “Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos uma morada”(Jo 14.23).

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