Quando se fala de corrupção, todo mundo mente.
Quase todo mundo prefere um pai ou marido corrupto a um honesto, mas
pobre. Para resistir à corrupção, você tem que ser radical, ou
religioso, ou moral ou político.
Parafraseando
Hanna Arendt em seu “Eichmann em Jerusalém”, quando ela disse que os
nazistas estavam preocupados com a aposentadoria e chamou isso de
banalidade do mal, eu diria que existe uma “banalidade da corrupção”
inscrita na perversão do que seria uma vida decente.
Não
quero “desculpar” a corrupção, quero trazer à tona uma causa ancestral
de corrupção da qual não se fala no silêncio do cotidiano.
O
julgamento do mensalão não significou nada para o eleitor, mesmo para
aquele que se julga “crítico”. Ninguém dá bola para a corrupção do seu
partido do “coração”. Também foi importante para ver o modo de operação
da corrupção ideologicamente justificada inventada pelo PT: só faltava
dizer que foi a direita de Marte que inventou tudo.
Já
se falou muito que quando classes sociais mais baixas ascendem
socialmente e tentam imitar os hábitos da aristocracia ficam ridículas.
Isso é descrito como “novo rico”. Mas o “novo corrupto” é tão ridículo
quanto. Que “saudade” dos corruptos clássicos do coronelismo nordestino,
que negavam, mas não apelavam para uma inocência ideologicamente
justificada, ou simplesmente não se davam ao trabalho de negar. Os
mensaleiros continuam a agir como um clero de puros de coração.
Mas
não é disso que quero falar. Quero falar do fato de que, para além do
debate político — que acho chatinho e quase sempre um circo –, a
corrupção se alimenta de algo muito mais profundo. Damos
pouca atenção a esse fato porque a substância da moral pública é a
hipocrisia, por isso é melhor brincar de dizer que a causa é só
política, quando na realidade é mais banal do que isso.
Quase
ninguém quer ter um pai ou marido pobre, e sim prefere um pai ou marido
corrupto, mas que dê boas condições de vida. Esta é a verdade que não
se fala.
Imagine
que você é uma jovem mulher que vai casar com um jovem rapaz. Antes que
me acusem de “sexista” (mais um termo usado para quebrar a espinha
dorsal do debate público, semelhante a acusar alguém de pedófilo), o que
vou descrever pode acontecer também com um homem, mas é mais comum ser
mulher, porque elas ainda são mais financeiramente dependentes e
continuam execrando homem sem sucesso profissional, apesar das mentiras
das feministas.
Agora
imagine que seu marido será um policial honesto até o fim da vida. A
chance de ele acabar pobre é enorme. O mesmo pode acontecer, ainda que
num grau mais alto em termos financeiros, com qualquer um que venha
ocupar um cargo nos variados escalões do governo.
Agora
imagine que, no começo, ele seja honesto e com ereção e vigor, e você
também seja uma jovem mulher cheia de vida e expectativas. Agora imagine
que se passaram 20 anos… 30 anos… O que importa? A honestidade dele ou
ele pensar “no bem-estar da família”? Espere, não responda em voz alta,
guarde para si a resposta, senão você mentirá na certa.
Por
“pensar no bem-estar da família”, quero dizer: roupa, comida boa,
escola dos filhos, melhor casa para morar, ajudar os sogros doentes e
idosos, viajar para Miami e Paris, apartamento na praia, iPhone, no
mínimo para as crianças, carro novo, uma bolsa de marca, ainda que “em
conta”, sair com amigos para jantar, levar as crianças para comer pizza
no domingo, poder mostrar para os cunhados que você está melhor de vida
(isso às vezes vale mais do que tudo na escala da miséria moral de todos
nós), viajar de avião, comprar coisas nos EUA, ter TV de 200 polegadas,
iPads, enfim, “ter uma vida”.
Em
situações de risco, em guerras, a covardia é a regra — ao contrário dos
mentirosos que até hoje se dizem filhos de “la résistance française”.
No dia a dia, isso tem outro nome: honestidade não vale nada, o que vale é ter uma “vida decente”:
segurança para os filhos, uma esposa feliz porque pode comprar o que
quiser (dentro do orçamento, claro, mas quanto menor o orçamento menor o
amor…), enfim, um “futuro melhor”.
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