É
um prazer falar de Afrodite, uma vez que faz bem aos ouvidos e aos
olhos. Digo, pelo simples fato de nos referirmos a ela não só como
uma deusa louvada na Grécia, mas também na Ásia, no mundo
oriental, recheada de simbolismo e encanto. Vale salientar aqui a
importância da poesia grega orada, feita para o ouvido e para o
olho, antes de qualquer teorização sobre o amor. Mais do que falar
Afrodite, é preciso sentir Afrodite no imaginário grego. Esplêndido
este detalhe, na medida em que é perceptível na literatura grega,
quer nas tragédias ou nas obras filosóficas, sobretudo em Platão e
Aristóteles, como também em Homero e Hesíodo, nuances de Afrodite
que age na sensibilidade, no corpo, no físico, ao pé do ouvido.
Como
não lembrar que foi ela própria, Afrodite, chamar Helena, que
encontrou na alta muralha, no meio de uma multidão de Troianas, em
plena guerra. A narrativa é feita no alto da passagem da Ilíada,
III, 383-447. Afrodite expõe toda sua hábil sedução para atrair
Helena até ao leito nupcial e salvar Alexandre da guerra.
No
entanto, a lenda da origem de Afrodite, disseminada no Oriente, que
diz que os peixes do Eufrates tinham encontrado um ovo grande nas
águas do rio e carregaram esse ovo até a praia, onde uma pomba
chegou e quebrou o ovo, e dentro estava Afrodite. Daí, mesmo em
cultura ocidental, Afrodite vir representada junto às águas ou aos
pássaros. Por isso, sua associação do amor a cenários naturais.
Da
tradição grega, herdamos a visão de Afrodite já no Olimpo como
filha de Zeus junto a Eros. “Mas dos órgãos
sexuais do Céu surgiu também uma outra deusa, que não pertence
mais a Eris, mas sim, pelo contrário, a Eros, não mais à discórdia
e ao conflito, mas ao amor(proximidade das duas palavras, em grego,
parece indicar também uma proximidade nos fatos: muito facilmente se
passa do amor ao ódio, de Eros a Eris): trata-se de Afrodite, a
deusa da beleza e, justamente, do amor. Você se lembra que o sangue
do sexo de Urano caiu na terra, mas o sexo, propriamente, Cronos
jogou longe, por cima do ombro, e ele foi se perder no mar. E boiou!
Flutuou na água, no meio da espuma branca – espuma que, em grego,
se diz, afros,
a qual, misturando-se à outra espuma que saía do sexo de Urano,
gerou uma sublimíssima jovem: Afrodite, a mais bela de todas as
divindades. É a deusa da doçura, do carinho, dos sorrisos trocados
pelos apaixonados, mas também a da sexualidade brutal e da
duplicidade do que se diz quando se quer seduzir o outro, querendo
agradar, palavras que no mínimo são sempre fiéis à verdade, a
duplicidade serve para atrair afetos,(…).
Afrodite é tudo isso: a sedução e a mentira, o charme e a vaidade,
o amor e o ciúme que dele nasce, a ternura, mas também as crises de
raiva e de ódio geradas pelas paixões contrariadas. No que, mais
uma vez, Eros nunca está muito longe de Eris, o amor sempre na
vizinhança da disputa. Se dermos ouvido a Hesíodo, quando ela sai
das águas, em Chipre,
está sempre acompanhada por duas outras divindades menores que lhe
servem, de certa maneira, de 'acompanhantes', companheiros e
confidentes: Eros, justamente, mas dessa vez se trata de Eros número
2, o pequeno personagem de que falei ainda a pouco e frequentemente
será representado, mas bem posteriormente a Hesíodo, como um menino
bochechudo, armado com um arco e flechas. E, ao lado de Eros, há
Imeros, o desejo, que sempre abre caminho para o amor propriamente
dito...”(FERRY, Luc. A sabedoria dos mitos gregos. Aprender a viver
II. Trad. de Jorge Bastos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009, p. 54-55).
Afrodite
é impressionante pelo páthos
que ela provoca nos corpos, devido ao seu deleite físico. O que
seria de nós sem o prazer, o cheiro e a visão do amor que emana do
poder afrodisíaco da bela Afrodite em todos os seres? Pascal,
filósofo francês, acreditava que é impossível fazer alguma coisa
de grande sem paixão. É isso que Afrodite estimula nos seres, nas
pessoas, o desejo incessante de seduzir o outro. Talvez seja ela a
maior responsável por acordar o amor em nós, despertando-nos do
sono dos sentidos.
Prof.
Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Especialista
em Metafísica, Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e
Pós-graduando em Estudos Clássicos pela UnB em parceria com Archai
Unesco.
2 comentários:
Olá jackislandy, eu cliquei no link "Filosofia Clássica 1- Os pré-socráticos" a não carrega a tela, você tirou ela do blog?
Ezequiel
Oi Ezequiel, é um prazer recebê-lo aqui no meu blog. Espero que tenha gostado e o visite sempre que puder. Olhe, já solucionei o problema de baixar os arquivos. É que tive que atualizá-lo no Shared. Agora pode ficar à vontade e baixar o arquivo de seu interesse.
Att,
Jackislandy
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