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domingo, 9 de novembro de 2014
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Mais um membro da ABL - Ferreira Gullar
O poeta maranhense Ferreira Gullar é eleito membro da Academia Brasileira de Letras neste dia 09 de outubro. Ele ocupa a cadeira que pertencia ao tradutor Ivan Junqueira, também poeta. Eis nossa homenagem: TRADUZIR-SE, de sua autoria e musicalizada pelo cantor Fagner.
terça-feira, 24 de junho de 2014
Talvez - Pablo Neruda
Talvez
Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,
E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos…
E por amor
Serei… Serás… Seremos…
( Pablo Neruda )
Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,
E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos…
E por amor
Serei… Serás… Seremos…
( Pablo Neruda )
sábado, 22 de março de 2014
A SIBILA
«Nas praças, nos templos e olivais
um grito de louvor à Terra, dançai!
Vim sem o esplendor da aurora, mendiga,
não como as musas de outrora, dadivosas Diotimas,
vim mendigar o que há muito vos ofertei, Poetas:
sopro-vos à garganta dilatada, vossos olhos ceguei
para que o fundo olhar se liberte. Sibila em agonia,
há tanto silenciada, falarei por vossas bocas,
em vossos versos arquejará minha voz embriagada, rouca -
sustos e soluços, gritos, silvos, neblinas de esgares,
mares de canto e pranto. No tempo além do tempo
meus lábios murmuram por ti e perto dos templos derruidos,
a respiração do velho Mar, seus haustos e gemidos.
Mostra-me o silêncio o lacre escarlate, verbo indigente
dos mitos que sempre me uniram às setas de Apolo.
Há tanto minha palavra foi calada, os deuses recuavam...
Mas os poetas mantiveram-me viva. O mais ínfimo
deu-me de beber e em sua hídria refresquei meu rosto.
Sensíveis a meu sopro, os maiores coroaram-me de folhas verdes.
O nascimento do Poema é o silvo que Apolo harmoniza e Orfeu faz cantar.
Rompendo as cisternas escuras eu vim, raiz coleante
por entre as pedras e a secura. Dilacerada, arquejante,
acolhe-me Apolo em seus braços de névoa.
Gemidos rasgam mil caminhos na gruta: Ai, ai, oh...
A Sibila arrasta-se no pó, soluça, seus lábios deliram,
traça no ar os gestos incertos dos agonizantes, colhe flores
na neblina. Ai, ai, oh... Foram-se os deuses da Grécia,
só espelhos reflectem espelhos, o eterno assim se dá e esconde.
Onde Afrodite, a de róseos tornozelos, ungida de óleo incorruptível,
com seus perfumes, colares e pulseiras cintilantes?
Onde Ártemis, a de doçura selvagem? Foram-se as ninfas
e hamadríades! Nunca mais a vida estuante dos bosques,
suas flores e clareiras, onde Zeus e Hera adormeciam ao calor do dia.
Ai, ai, neblina, o que enlaçarão agora nossos braços?
Não mais que névoa e vento. Apolo, assim te afastas, e me deixas presa
à teia indecifrável destes sons selvagens? Aaa Oooo...
Em teu ombro dourado me apoiava, inventando poemas que ditavas
a meu secreto entendimento. Infeliz de mim! Agora
só posso tocar névoa e memória. Dissiparam-se Mundo e Palavra.
A Sibila chorou.
Nesse momento as coisas cessam, silenciosas,
atemorizadas. Os ventos param de soprar,
nas árvores as folhas não se movem.
Os rios adormecem e o gigantesco Mar
é liso e sem ondas. Paira sobre tudo um
SANTO SACRO SILÊNCIO
Perde-se na neblina a medida do Tempo,
tudo se abisma no silêncio, à espera
do alto Deus, meta dos séculos.
A Sibila abre os grandes olhos
e vê o Deus que nasce.
A Mãe, junto ao Menino, parece uma vinha
e enquanto a Lua surge, clara, ela adora
o Filho em seus braços. De ouro vivo é a Criança
e em resplendores toda a gruta se ilumina.
Luz nascida como o orvalho descendo do Céu à Terra
e em torno, suavíssimo aroma.
Anjos perpassam, alígeras borboletas
e cantam: Amém.
A Sibila sorri.
Um cântico novo brota em seus lábios, mas não é seu,
o infinito o modulou:
O aroma de teus perfumes é delicado
e teu nome, óleo que se derrama.
Serás novo júbilo e alegria...
Não repares em minha tez morena, que o sol queimou.
Irados, meus irmãos fizeram-me guardar as vinhas,
eu, esquecida da Vinha!
Ouço a voz do meu Amado batendo à porta
Lentos são meus pés e ao abrir a porta
o Amado já se foi. Corre minha alma
e o busca por toda a parte. Não respondes, Amor,
ao meu chamado?
Eu vos suplico, filhas de Jerusalém,
se o encontrardes
dizei-lhe que estou doente de amor.
O que tem ele - elas perguntam -
o que tem o teu Amado mais do que os outros
para que assim o busques, quase morta?
Meu Amado é róseo e brilhante,
meu Amado vermelho. Sua cabeça é de ouro puro,
seus cachos, negro-azulados.
Seus olhos são duas rolas
perto de um lento riacho.
Destila mirra
o lírio de seus lábios.
Sei que habita um jardim,
companheiros ouvem sua voz...
Oh, faze que eu também te escute!
Quem é essa que vem do deserto
como um cântaro apoiado a um peito amoroso?
Ele é um selo sobre seu coração,
sobre seu braço moreno,
pois o Amor é forte como a Morte,
seus centelhas são de fogo:
uma chama divina!
Dissipa-se na névoa um rosto efêmero,
mas a face do Amado permanece.»
Dora Ferreira da Silva, Poesia Reunida
um grito de louvor à Terra, dançai!
Vim sem o esplendor da aurora, mendiga,
não como as musas de outrora, dadivosas Diotimas,
vim mendigar o que há muito vos ofertei, Poetas:
sopro-vos à garganta dilatada, vossos olhos ceguei
para que o fundo olhar se liberte. Sibila em agonia,
há tanto silenciada, falarei por vossas bocas,
em vossos versos arquejará minha voz embriagada, rouca -
sustos e soluços, gritos, silvos, neblinas de esgares,
mares de canto e pranto. No tempo além do tempo
meus lábios murmuram por ti e perto dos templos derruidos,
a respiração do velho Mar, seus haustos e gemidos.
Mostra-me o silêncio o lacre escarlate, verbo indigente
dos mitos que sempre me uniram às setas de Apolo.
Há tanto minha palavra foi calada, os deuses recuavam...
Mas os poetas mantiveram-me viva. O mais ínfimo
deu-me de beber e em sua hídria refresquei meu rosto.
Sensíveis a meu sopro, os maiores coroaram-me de folhas verdes.
O nascimento do Poema é o silvo que Apolo harmoniza e Orfeu faz cantar.
Rompendo as cisternas escuras eu vim, raiz coleante
por entre as pedras e a secura. Dilacerada, arquejante,
acolhe-me Apolo em seus braços de névoa.
Gemidos rasgam mil caminhos na gruta: Ai, ai, oh...
A Sibila arrasta-se no pó, soluça, seus lábios deliram,
traça no ar os gestos incertos dos agonizantes, colhe flores
na neblina. Ai, ai, oh... Foram-se os deuses da Grécia,
só espelhos reflectem espelhos, o eterno assim se dá e esconde.
Onde Afrodite, a de róseos tornozelos, ungida de óleo incorruptível,
com seus perfumes, colares e pulseiras cintilantes?
Onde Ártemis, a de doçura selvagem? Foram-se as ninfas
e hamadríades! Nunca mais a vida estuante dos bosques,
suas flores e clareiras, onde Zeus e Hera adormeciam ao calor do dia.
Ai, ai, neblina, o que enlaçarão agora nossos braços?
Não mais que névoa e vento. Apolo, assim te afastas, e me deixas presa
à teia indecifrável destes sons selvagens? Aaa Oooo...
Em teu ombro dourado me apoiava, inventando poemas que ditavas
a meu secreto entendimento. Infeliz de mim! Agora
só posso tocar névoa e memória. Dissiparam-se Mundo e Palavra.
A Sibila chorou.
Nesse momento as coisas cessam, silenciosas,
atemorizadas. Os ventos param de soprar,
nas árvores as folhas não se movem.
Os rios adormecem e o gigantesco Mar
é liso e sem ondas. Paira sobre tudo um
SANTO SACRO SILÊNCIO
Perde-se na neblina a medida do Tempo,
tudo se abisma no silêncio, à espera
do alto Deus, meta dos séculos.
A Sibila abre os grandes olhos
e vê o Deus que nasce.
A Mãe, junto ao Menino, parece uma vinha
e enquanto a Lua surge, clara, ela adora
o Filho em seus braços. De ouro vivo é a Criança
e em resplendores toda a gruta se ilumina.
Luz nascida como o orvalho descendo do Céu à Terra
e em torno, suavíssimo aroma.
Anjos perpassam, alígeras borboletas
e cantam: Amém.
A Sibila sorri.
Um cântico novo brota em seus lábios, mas não é seu,
o infinito o modulou:
O aroma de teus perfumes é delicado
e teu nome, óleo que se derrama.
Serás novo júbilo e alegria...
Não repares em minha tez morena, que o sol queimou.
Irados, meus irmãos fizeram-me guardar as vinhas,
eu, esquecida da Vinha!
Ouço a voz do meu Amado batendo à porta
Lentos são meus pés e ao abrir a porta
o Amado já se foi. Corre minha alma
e o busca por toda a parte. Não respondes, Amor,
ao meu chamado?
Eu vos suplico, filhas de Jerusalém,
se o encontrardes
dizei-lhe que estou doente de amor.
O que tem ele - elas perguntam -
o que tem o teu Amado mais do que os outros
para que assim o busques, quase morta?
Meu Amado é róseo e brilhante,
meu Amado vermelho. Sua cabeça é de ouro puro,
seus cachos, negro-azulados.
Seus olhos são duas rolas
perto de um lento riacho.
Destila mirra
o lírio de seus lábios.
Sei que habita um jardim,
companheiros ouvem sua voz...
Oh, faze que eu também te escute!
Quem é essa que vem do deserto
como um cântaro apoiado a um peito amoroso?
Ele é um selo sobre seu coração,
sobre seu braço moreno,
pois o Amor é forte como a Morte,
seus centelhas são de fogo:
uma chama divina!
Dissipa-se na névoa um rosto efêmero,
mas a face do Amado permanece.»
Dora Ferreira da Silva, Poesia Reunida
quarta-feira, 5 de março de 2014
APRENDE, HOMEM...
Aprende, homem, no refúgio!
Aprende, homem, na prisão!
Mulher na cozinha,
aprende!
Aprende, sexagenário!
Tens de assumir o comando!
Procura a escola, tu que
não tens casa!
Cobre-te de saber, tu que
tens frio!
Tu que tens fome, agarra o
livro, é uma arma!
Tens de assumir o comando/
Bi-rtou
Bbh:mt (1898-1956)
A filosofia da diferença a partir do EU SOU TREZENTOS de Mário de Andrade
Mário de Andrade
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinqüenta,As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as melhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinqüenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.
Fonte: www.geocities.com
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
PÁGINA VIRADA
Eu tentei de tantas formas ser feliz
Mas despreso foi tudo que consegui
Como sofreu o meu coração
Cheguei até pensar que a minha vida era ficcção
Pois num beco sem saida, não via chance de um dia ser feliz
E estando eu naquele triste estado
Corpo ferido e coração magoado,
Tudo se concretizou, Jesus além das forças não me provou
Me fez feliz e a minha hitória ele mudou,
E o meu passado como página virou
Agora já passou
É uma página virada em minha vida
Pois no espelho eu não vejo mais feridas
De um passado que feriu meu coração
Agora tudo mudou,
Sou abençoado e hoje canto assim
Na certeza que Jesus está aqui
Morando dentro lá no fundo,
Do meu coração.
De Shirley Carvalhaes para nossa meditação.
Mas despreso foi tudo que consegui
Como sofreu o meu coração
Cheguei até pensar que a minha vida era ficcção
Pois num beco sem saida, não via chance de um dia ser feliz
E estando eu naquele triste estado
Corpo ferido e coração magoado,
Tudo se concretizou, Jesus além das forças não me provou
Me fez feliz e a minha hitória ele mudou,
E o meu passado como página virou
Agora já passou
É uma página virada em minha vida
Pois no espelho eu não vejo mais feridas
De um passado que feriu meu coração
Agora tudo mudou,
Sou abençoado e hoje canto assim
Na certeza que Jesus está aqui
Morando dentro lá no fundo,
Do meu coração.
De Shirley Carvalhaes para nossa meditação.
sábado, 14 de dezembro de 2013
Supertrabalhador de Gabriel O pensador
De Gabriel O pensador...
Quem trabalha e mata fome não come o pão de ninguém
Mas quem come e não trabalha tá comendo o pão de alguém
Quem trabalha e mata a fome não come o pão de ninguém
Mas quem come e não trabalha tá comendo o pão de alguém
É pra ganhar o pão tem que trabalhar Missão para os heróis que estão dentro do seu lar
O seu pai, sua mãe, são trabalhadores
São os super-heróis, verdadeiros protetores
A superjornalista, o superdoutor
O supermotorista, o supertrocador
O superguitarrista, o superprodutor
E a superprofessora, é que me ensinou
E o supercarteiro, quê que faz, quê que faz?
Manda carta e manda conta pra mamãe e pro papai
E o supergari, o lixeiro, o quê que faz?
Bota o lixo no lixo que aqui tem lixo demais
Cada um faz o que sabe, cada uma sabe o que faz
Ninguém menos ninguém mais, todo mundo corre atrás
E volta pra casa com saudade do filho
Enfrentando o desafio, desviando do gatilho
Mais uma jornada, adivinha quem chegou?
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o supertrabalhador
Alimento minha família com orgulho e amor
Supertrabalhador
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o Supertrabalhador
Enfrento os desafios, o perigo que for
Supertrabalhador
São as aventuras do Supertrabalhador
Demorou
Quem trabalha e mata fome não come o pão de ninguém
Mas quem come e não trabalha tá comendo o pão de alguém
Quem trabalha e mata a fome não come o pão de ninguém
E pra fazer o pão tem que colher o grão
Separar o joio do trigo na plantação
O superlavrador falou com o agricultor,
Que sabe que precisa também do motorista do trator
na cidade, o engenheiro precisa di pedreiro
Mas pra fazer o prédio tem que desenhar primeiro
O sonho do arquiteto, bonito no projeto, virando concreto
Vai virando o concreto!
Eu sou o supertrabalhador
Alimento minha família com orgulho e amor
Supertrabalhador
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o Supertrabalhador
Enfrento os desafios, o perigo que for
Supertrabalhador
São as aventuras do Supertrabalhador
Demorou
Quero ser trabalhador, quem não é um dia quis
Minha mãe sempre falou:"Quem trabalha é mais feliz"
Mas tem que suar pra ganhar o pão
E ainda tem que enfrentar o leão
O leão quer morder nosso pão
Cuidado com o leão, que ele come o nosso pão
O leão quer morder nosso pão
Cuidado com o leão, não dá mole não
Eu sou o supertrabalhador
Alimento minha família com orgulho e amor
Supertrabalhador
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o Supertrabalhador
Enfrento os desafios, o perigo que for
Supertrabalhador
São as aventuras do Supertrabalhador
Demorou
Supertrabalhador
Taxista, motoboy, assistente, diretor
Supertrabalhador
Pipoqueiro, pedagogo, poteiro, pesqisador
Supertrabalhador
Ambulante, feirante, astronauta, ilustrador
Supertrabalhador
Comandante, comissário, caixa, vendedor
Supertrabalhador
Cozinheiro, garçon, bibliotecário, escritor
Supertrabalhador
Maquinista, sambista, surfista, historiador
Supertrabalhador
Marceneiro, carpinteiro, ferreiro, minerador
Supertrabalhador
Telefonista, salva-vidas, bombeiro, mergulhador
Supertrabalhador
Pára-quedista, arqueólogo, filósofo, pintor
Supertrabalhador
Sapateiro, boiadeiro, farmaucêtico, cantor
Super
Quem trabalha e mata fome não come o pão de ninguém
Mas quem come e não trabalha tá comendo o pão de alguém
Quem trabalha e mata a fome não come o pão de ninguém
Mas quem come e não trabalha tá comendo o pão de alguém
É pra ganhar o pão tem que trabalhar Missão para os heróis que estão dentro do seu lar
O seu pai, sua mãe, são trabalhadores
São os super-heróis, verdadeiros protetores
A superjornalista, o superdoutor
O supermotorista, o supertrocador
O superguitarrista, o superprodutor
E a superprofessora, é que me ensinou
E o supercarteiro, quê que faz, quê que faz?
Manda carta e manda conta pra mamãe e pro papai
E o supergari, o lixeiro, o quê que faz?
Bota o lixo no lixo que aqui tem lixo demais
Cada um faz o que sabe, cada uma sabe o que faz
Ninguém menos ninguém mais, todo mundo corre atrás
E volta pra casa com saudade do filho
Enfrentando o desafio, desviando do gatilho
Mais uma jornada, adivinha quem chegou?
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o supertrabalhador
Alimento minha família com orgulho e amor
Supertrabalhador
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o Supertrabalhador
Enfrento os desafios, o perigo que for
Supertrabalhador
São as aventuras do Supertrabalhador
Demorou
Quem trabalha e mata fome não come o pão de ninguém
Mas quem come e não trabalha tá comendo o pão de alguém
Quem trabalha e mata a fome não come o pão de ninguém
E pra fazer o pão tem que colher o grão
Separar o joio do trigo na plantação
O superlavrador falou com o agricultor,
Que sabe que precisa também do motorista do trator
na cidade, o engenheiro precisa di pedreiro
Mas pra fazer o prédio tem que desenhar primeiro
O sonho do arquiteto, bonito no projeto, virando concreto
Vai virando o concreto!
Eu sou o supertrabalhador
Alimento minha família com orgulho e amor
Supertrabalhador
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o Supertrabalhador
Enfrento os desafios, o perigo que for
Supertrabalhador
São as aventuras do Supertrabalhador
Demorou
Quero ser trabalhador, quem não é um dia quis
Minha mãe sempre falou:"Quem trabalha é mais feliz"
Mas tem que suar pra ganhar o pão
E ainda tem que enfrentar o leão
O leão quer morder nosso pão
Cuidado com o leão, que ele come o nosso pão
O leão quer morder nosso pão
Cuidado com o leão, não dá mole não
Eu sou o supertrabalhador
Alimento minha família com orgulho e amor
Supertrabalhador
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o Supertrabalhador
Enfrento os desafios, o perigo que for
Supertrabalhador
São as aventuras do Supertrabalhador
Demorou
Supertrabalhador
Taxista, motoboy, assistente, diretor
Supertrabalhador
Pipoqueiro, pedagogo, poteiro, pesqisador
Supertrabalhador
Ambulante, feirante, astronauta, ilustrador
Supertrabalhador
Comandante, comissário, caixa, vendedor
Supertrabalhador
Cozinheiro, garçon, bibliotecário, escritor
Supertrabalhador
Maquinista, sambista, surfista, historiador
Supertrabalhador
Marceneiro, carpinteiro, ferreiro, minerador
Supertrabalhador
Telefonista, salva-vidas, bombeiro, mergulhador
Supertrabalhador
Pára-quedista, arqueólogo, filósofo, pintor
Supertrabalhador
Sapateiro, boiadeiro, farmaucêtico, cantor
Super
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
A voz da criança não se cale em nós!
"Que jamais a voz da criança nela se cale, que caia como um presente dos céus oferecendo às palavras ressecadas o brilho de seu riso, o sal de suas lágrimas, sua todo-poderosa selvageria."
(L.-R. Des Florêts, trecho de Ostinato)
domingo, 18 de agosto de 2013
Uma pérola de Paulo Leminski: "minifesto"
ave a raiva desta noite
a baita lasca fúria abrupta
louca besta vaca solta
ruiva luz que contra o dia
tanto e tarde madrugastes
morra a calma desta tarde
morra em ouro
enfim, mais seda
a morte, essa fraude,
quando próspera
viva e morra sobretudo
este dia, metal vil,
surdo, cego e mudo,
nele tudo foi e, se ser foi tudo,
já nem tudo nem sei
se vai saber a primavera
ou se um dia saberei
que nem eu saber nem ser nem era
Vim pelo caminho difícil,
a linha que nunca termina,
a linha bate na pedra,
a palavra quebra uma esquina,
mínima linha vazia,
a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha.De seu livro "Toda a poesia".
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Sonho impossível
Sonhar,
mais um sonho
impossível
Lutar
quando é fácil ceder
Vencer
o inimigo invencível
Negar
quando a regra é vender
Sofrer
a tortura implacável
Romper
a incabível prisão
Voar
num limite improvável
Tocar
o inacessível chão
É
minha lei
É
minha questão
Virar
esse mundo
Crivar
esse chão
Não
importa saber
Se
é terrível demais
Quantas
guerras
terei
de vencer
Por
um pouco de paz
E
amanhã
Se
esse chão que eu beijei
For
meu leito e perdão
Vou
saber que valeu
Delirar
e morrer de paixão
E
assim,
Seja
lá como for,
Vai
ter fim
A
infinita aflição
E
o mundo
Vai
ver uma flor
Brotar
do
impossível chão
Chico Buarque
segunda-feira, 25 de março de 2013
ÍTACA
Odisseu (Ulisses) amarrado ao mastro de sua embarcação para se salvar
das Sirenes na Odisséia de Homero, o grande poema épico Grego. Mosaico
Romano do século III AD, Tunísia.
Se partires um dia rumo
à Ítaca
Faz votos de que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Posídon te intimidem!
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Posídon hás de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais com que prazer, com que alegria
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
E perfumes sensuais de toda espécie
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrinas
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas, não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.
Constantino Kabvafis (1863-1933)
in: O Quarteto de Alexandria - trad. José Paulo Paz.
Faz votos de que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Posídon te intimidem!
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Posídon hás de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais com que prazer, com que alegria
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
E perfumes sensuais de toda espécie
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrinas
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas, não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.
Constantino Kabvafis (1863-1933)
in: O Quarteto de Alexandria - trad. José Paulo Paz.
sexta-feira, 15 de março de 2013
O acaso e o jogo
Já falei aqui da influência do acaso em tudo o que fazemos e no que a vida faz da gente.
Observei que, no amor como na arte, ele influi decisivamente, mas, apesar disso, para que não pensem que vejo a vida como um mero jogo de acasos, sobre o qual não exerceríamos qualquer influência, afirmo que, na maioria das vezes, o acaso é neutralizado ou aceito pela nossa necessidade, ou seja, o acaso não é tudo.
Até na poesia é assim: se é verdade que a primeira palavra que escrevo na página em branco surge, às vezes, sem que eu saiba por que, ela já determina a segunda palavra, a terceira e, assim, à medida que o poema ganha corpo e sentido, só entra nele a palavra necessária. No fundo, o que fazemos quase todo o tempo é transformar o casual em necessário.
Pois bem, outro dia percebi que o mesmo --ou quase o mesmo-- ocorre nos esportes, onde o fator casual é, sem dúvida, decisivo. Pense só nisto: o tiro de escanteio, num jogo de futebol. Quantos jogadores dos dois times estão dentro da área? Sete? Oito? Dez? Como saber na cabeça de qual deles a bola cairá?
Se for na cabeça de um jogador do time que bate a falta, pode ser gol; se for na cabeça de alguém do outro time, o gol pode ser evitado. O fato é que o grau de imprevisibilidade, nestes casos, é enorme.
Por isso, o escanteio é um dos momentos mais críticos de qualquer partida de futebol, uma vez que é quando há menos possibilidade de controlar o acaso.
Claro, o escanteio é um exemplo extremo, mas, durante todo o jogo, 11 contra 11, é impossível prever tudo o que pode ocorrer. A verdade, porém, é que quem der menos chance ao azar, isto é, ao acaso, ganhará a partida.
No tênis, numa partida individual, o acaso terá, sem dúvida, menos chance, embora a coisa não seja tão simples como pode parecer; é que, se aqui a ação dos jogadores é mais previsível do que no futebol, com tanta gente atuando, em compensação, por serem apenas dois os tenistas, têm menos controle sobre os fatores de espaço e tempo implicados em cada lance. Ainda assim, o controle sobre a probabilidade é maior.
Caso bastante especial é o do vôlei, quando duas equipes de seis jogadores disputam o controle sobre uma bola num campo dividido por uma rede.
Por suas características, parece que o vôlei é o esporte em que se tem maior possibilidade de neutralizar o acaso, ou seja, a probabilidade.
Advirto o leitor que estou pensando essas coisas, agora, pela primeira vez. Estou "sacando" quase como um jogador de vôlei e espero confirmar o meu saque.
Se estou pensando certo, o vôlei, de todos esses esportes, parece ser aquele em que o técnico melhor consegue anular consideravelmente o incontrolável e, consequentemente, a ação do adversário. Isso se deve, creio eu, às características desse esporte e fundamentalmente ao fato de estar a quadra, que não é muito grande, dividida por uma rede.
Como os jogadores têm de passar a bola por cima dela, isso possibilita bloquear-lhes a ação e evitar que a bola caia do lado de cá da quadra. O bloqueio é, por isso mesmo, um recurso decisivo e, consequentemente, a cortada, que procura superá-lo e fazer o ponto.
Nisso tudo, o técnico tem papel fundamental, bem mais que, por exemplo, no futebol, cujo campo é grande demais, tornando imprevisível o deslocamento dos jogadores adversários.
O tamanho do campo, combinado com o número de jogadores em ação, influi decisivamente na impossibilidade de o técnico prever como o adversário se comportará e, por isso mesmo, como deve ele orientar os jogadores de seu time para chegarem ao gol, evitando, ao mesmo tempo, que o outro o consiga antes ou mais vezes.
A influência desses fatores é determinante e de tal modo que, em função dela, por exemplo, enquanto no tênis o saque favorece a quem saca, no vôlei é o contrário: quem saca mais provavelmente perde o ponto.
Em face de todas essas "sacações", concluo afirmando que, nesses diversos esportes, a função do técnico é tornar a ação dos jogadores inteiramente previsível, do seu e do time adversário, ou seja, anular o acaso. Mas isso nem Deus consegue.
Ferreira Gullar é cronista, crítico de arte e poeta. Escreve aos domingos na versão impressa de "Ilustrada".
Observei que, no amor como na arte, ele influi decisivamente, mas, apesar disso, para que não pensem que vejo a vida como um mero jogo de acasos, sobre o qual não exerceríamos qualquer influência, afirmo que, na maioria das vezes, o acaso é neutralizado ou aceito pela nossa necessidade, ou seja, o acaso não é tudo.
Até na poesia é assim: se é verdade que a primeira palavra que escrevo na página em branco surge, às vezes, sem que eu saiba por que, ela já determina a segunda palavra, a terceira e, assim, à medida que o poema ganha corpo e sentido, só entra nele a palavra necessária. No fundo, o que fazemos quase todo o tempo é transformar o casual em necessário.
Pois bem, outro dia percebi que o mesmo --ou quase o mesmo-- ocorre nos esportes, onde o fator casual é, sem dúvida, decisivo. Pense só nisto: o tiro de escanteio, num jogo de futebol. Quantos jogadores dos dois times estão dentro da área? Sete? Oito? Dez? Como saber na cabeça de qual deles a bola cairá?
Se for na cabeça de um jogador do time que bate a falta, pode ser gol; se for na cabeça de alguém do outro time, o gol pode ser evitado. O fato é que o grau de imprevisibilidade, nestes casos, é enorme.
Por isso, o escanteio é um dos momentos mais críticos de qualquer partida de futebol, uma vez que é quando há menos possibilidade de controlar o acaso.
Claro, o escanteio é um exemplo extremo, mas, durante todo o jogo, 11 contra 11, é impossível prever tudo o que pode ocorrer. A verdade, porém, é que quem der menos chance ao azar, isto é, ao acaso, ganhará a partida.
No tênis, numa partida individual, o acaso terá, sem dúvida, menos chance, embora a coisa não seja tão simples como pode parecer; é que, se aqui a ação dos jogadores é mais previsível do que no futebol, com tanta gente atuando, em compensação, por serem apenas dois os tenistas, têm menos controle sobre os fatores de espaço e tempo implicados em cada lance. Ainda assim, o controle sobre a probabilidade é maior.
Caso bastante especial é o do vôlei, quando duas equipes de seis jogadores disputam o controle sobre uma bola num campo dividido por uma rede.
Por suas características, parece que o vôlei é o esporte em que se tem maior possibilidade de neutralizar o acaso, ou seja, a probabilidade.
Advirto o leitor que estou pensando essas coisas, agora, pela primeira vez. Estou "sacando" quase como um jogador de vôlei e espero confirmar o meu saque.
Se estou pensando certo, o vôlei, de todos esses esportes, parece ser aquele em que o técnico melhor consegue anular consideravelmente o incontrolável e, consequentemente, a ação do adversário. Isso se deve, creio eu, às características desse esporte e fundamentalmente ao fato de estar a quadra, que não é muito grande, dividida por uma rede.
Como os jogadores têm de passar a bola por cima dela, isso possibilita bloquear-lhes a ação e evitar que a bola caia do lado de cá da quadra. O bloqueio é, por isso mesmo, um recurso decisivo e, consequentemente, a cortada, que procura superá-lo e fazer o ponto.
Nisso tudo, o técnico tem papel fundamental, bem mais que, por exemplo, no futebol, cujo campo é grande demais, tornando imprevisível o deslocamento dos jogadores adversários.
O tamanho do campo, combinado com o número de jogadores em ação, influi decisivamente na impossibilidade de o técnico prever como o adversário se comportará e, por isso mesmo, como deve ele orientar os jogadores de seu time para chegarem ao gol, evitando, ao mesmo tempo, que o outro o consiga antes ou mais vezes.
A influência desses fatores é determinante e de tal modo que, em função dela, por exemplo, enquanto no tênis o saque favorece a quem saca, no vôlei é o contrário: quem saca mais provavelmente perde o ponto.
Em face de todas essas "sacações", concluo afirmando que, nesses diversos esportes, a função do técnico é tornar a ação dos jogadores inteiramente previsível, do seu e do time adversário, ou seja, anular o acaso. Mas isso nem Deus consegue.
domingo, 6 de janeiro de 2013
Uma pergunta
Obra: "A conquista do filósofo", de Giorgio de Chirico
"Gastar a vida é usá-la ou não usá-la? Que é que eu estou exatamente querendo saber?"
Clarice Lispector, in A descoberta do mundo, p. 252.
sábado, 5 de janeiro de 2013
A comunicação muda
"Nostalgia of the infinite", de Giorgio de Chirico, 1913.
"O que nos salva da solidão é a solidão de cada um dos outros. Às vezes, quando duas pessoas estão juntas, apesar de falarem, o que elas comunicam silenciosamente uma à outra é o sentimento de solidão"
Clarice Lispector, in A descoberta do mundo, p. 270.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
"A prova" de Jorge Luís Borges
(Imagem: De Chirino, Canto damore)
Do outro
lado da porta um homem deixa cair sua corrupção. Em vão elevará
esta noite uma prece ao seu curioso deus, que é três, dois, um, e
se dirá que é imortal. Agora ouve a profecia de sua morte e sabe
que é um animal sentado.
És, irmão,
esse homem. Agradeçamos os vermes e o esquecimento.
Jorge Luís Borges
domingo, 28 de outubro de 2012
Arte poética
(foto: Ítaca na Grécia)
Olhar
o rio feito de tempo e água
E
recordar que o tempo é outro rio,
Saber
que nos perdemos como o rio
E
que os rostos passam como a água.
Sentir
que a vigília é outro sonho
Que
sonha não sonhar e que a morte
Que
nossa carne teme é esta morte
De
cada noite, que se chama sonho.
Ver
no dia ou no ano um símbolo
Dos
dias do homem de seus anos,
Converter
o ultraje dos anos
Em
música, rumor e símbolo,
Ver
na morte o sonho, no ocaso
Um
triste ouro, como a poesia
Que
é imortal e pobre. A poesia
retorna
como a aurora e o ocaso.
Às
vezes, em plena tarde, uma face
Nos
observa do fundo do espelho;
A
arte deve ser como esse espelho
Que
nos revela a própria face.
Contam
que Ulisses, farto de prodígios
Chorou
de amor ao avistar sua Ítaca
Verde
e humilde. A arte é esta Ítaca
De
verde eternidade, não de prodígios.
Também
é como o rio interminável
Que
passa e fica e é cristal de um mesmo
Heráclito
inconstante, que é o mesmo
E
outro, como o rio interminável.
Jorge Luis Borges
As coisas
A bengala, as moedas, o
chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos
dias
Que me restam, os naipes e o
tabuleiro.
Um livro e em suas páginas a
seca
Violeta, monumento a uma tarde
Sem dúvida inolvidável e já
olvidada,
O rubro espelho ocidental em
que arde
Uma ilusória aurora. Quantas
coisas,
Limas, umbrais, atlas, taças,
cravos,
Nos servem como tácitos
escravos,
Cegas e estranhamente
sigilosas!
Durarão para além de nosso
esquecimento;
Nunca saberão que nos fomos
num momento.
Jorge Luis Borges
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Flip(A feira literária de Parati) começa hoje com homenagem a Drummond
A feira, orçada em R$ 8,4 milhões, é um dos eventos literários mais caros do Brasil e já perdeu seu clima intimista
Rogério Reis/Veja
O poeta: haverá ainda, entre outras
atividades, uma exposição sobre Carlos Drummond de Andrade, o escritor
homenageado desta edição da Flip
São Paulo - A Festa Literária Internacional de Paraty de hoje faz
lembrar muito pouco o evento que levou 6 mil pessoas e autores do porte
de Eric Hobsbawm e Julian Barnes à cidade fluminense em 2003. O número
de visitantes saltou para 20 mil e o clima intimista se perdeu. Mas a
lista de escritores
cultuados e premiados que Liz Calder, a idealizadora, conseguiu trazer
nos primeiros anos e que os curadores vêm se esforçando para manter,
segue o padrão e é um dos maiores atrativos da festa.
Na edição que começa nesta quarta-feira à noite com uma fala de Luis
Fernando Verissimo sobre os 10 anos da festa, conferência dos críticos
Silviano Santiago e Antonio Cicero sobre Drummond e show do Lenine e
Ciranda de Tarituba, estarão Ian McEwan, Hanif Kureish e Enrique
Vila-Matas, que já participaram de outras edições, e ainda Adonis, James
Shapiro, Stephen Greenblatt, Jonathan Franzen, Dulce Maria Cardoso,
Rubens Figueiredo, Zuenir Ventura, Francisco Dantas e outros.
E isso custa. A Flip, orçada em R$ 8,4 milhões, é um dos eventos
literários mais caros do Brasil. Uma pequena parte desse valor, R$ 1,4
milhão, é destinada às ações da Flipinha e da Flipzona, que envolvem
crianças e adolescentes de Paraty e região.
É também um dos eventos mais charmosos do país, e serve de inspiração
para tantos outros, como a Fliporto, de Olinda. O boom das festas
literárias, aliás, será debatido pelo Itaú Cultural no Museu do Forte na
tarde desta quarta. E o Itaú Cultural não é a única instituição a
organizar eventos paralelos extraoficiais.
A Off-Flip já é tradição e organiza conversas com escritores,
exposições e shows. A Casa Sesc receberá os vencedores de seu prêmio
literário para conversas com o público. Na Casa do Instituto Moreira
Salles, serão gravados programas da Rádio Batuta com os escritores
convidados. Há muitas outras casas espalhadas pela cidade, sempre com
alguma programação cultural, tentando pegar carona na Flip, recebendo
bem seus autores, no caso das editoras, e entretendo o público que não
conseguiu ingresso para os debates - a tenda dos autores comporta 800
pessoas.
A Casa de Cultura hospeda a programação paralela oficial. Lá, João
Ubaldo Ribeiro e Walcyr Carrasco falam sobre Jorge Amado. Haverá ainda,
entre outras atividades, uma exposição sobre Carlos Drummond de Andrade,
o escritor homenageado desta edição. As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Ponto de Vista
Do ponto de vista da terra quem gira é o sol
Do ponto de vista da mãe todo filho é bonito
Do ponto de vista do ponto o círculo é infinito
Do ponto de vista do cego sirene é farol
Do ponto de vista do mar quem balança é a praia
Do ponto de vista da vida um dia é pouco
Guardado no bolso do louco
Há sempre um pedaço de deus
Respeite meus pontos de vista
Que eu respeito os teus
Às vezes o ponto de vista tem certa miopia,
Pois enxerga diferente do que a gente gostaria
Não é preciso por lente nem óculos de grau
Tampouco que exista somente
Um ponto de vista igual
O jeito é manter o respeito e ponto final (2x)
Autoria: Banda Casuarina
Do ponto de vista da mãe todo filho é bonito
Do ponto de vista do ponto o círculo é infinito
Do ponto de vista do cego sirene é farol
Do ponto de vista do mar quem balança é a praia
Do ponto de vista da vida um dia é pouco
Guardado no bolso do louco
Há sempre um pedaço de deus
Respeite meus pontos de vista
Que eu respeito os teus
Às vezes o ponto de vista tem certa miopia,
Pois enxerga diferente do que a gente gostaria
Não é preciso por lente nem óculos de grau
Tampouco que exista somente
Um ponto de vista igual
O jeito é manter o respeito e ponto final (2x)
Autoria: Banda Casuarina
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domingo, 9 de novembro de 2014
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Mais um membro da ABL - Ferreira Gullar
O poeta maranhense Ferreira Gullar é eleito membro da Academia Brasileira de Letras neste dia 09 de outubro. Ele ocupa a cadeira que pertencia ao tradutor Ivan Junqueira, também poeta. Eis nossa homenagem: TRADUZIR-SE, de sua autoria e musicalizada pelo cantor Fagner.
terça-feira, 24 de junho de 2014
Talvez - Pablo Neruda
Talvez
Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,
E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos…
E por amor
Serei… Serás… Seremos…
( Pablo Neruda )
Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando
o meio dia com uma
flor azul,
sem que caminhes mais tarde
pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém
soube que crescia
como a origem vermelha da rosa,
sem que sejas, enfim,
sem que viesses brusca, incitante
conhecer a minha vida,
rajada de roseira,
trigo do vento,
E desde então, sou porque tu és
E desde então és
sou e somos…
E por amor
Serei… Serás… Seremos…
( Pablo Neruda )
sábado, 22 de março de 2014
A SIBILA
«Nas praças, nos templos e olivais
um grito de louvor à Terra, dançai!
Vim sem o esplendor da aurora, mendiga,
não como as musas de outrora, dadivosas Diotimas,
vim mendigar o que há muito vos ofertei, Poetas:
sopro-vos à garganta dilatada, vossos olhos ceguei
para que o fundo olhar se liberte. Sibila em agonia,
há tanto silenciada, falarei por vossas bocas,
em vossos versos arquejará minha voz embriagada, rouca -
sustos e soluços, gritos, silvos, neblinas de esgares,
mares de canto e pranto. No tempo além do tempo
meus lábios murmuram por ti e perto dos templos derruidos,
a respiração do velho Mar, seus haustos e gemidos.
Mostra-me o silêncio o lacre escarlate, verbo indigente
dos mitos que sempre me uniram às setas de Apolo.
Há tanto minha palavra foi calada, os deuses recuavam...
Mas os poetas mantiveram-me viva. O mais ínfimo
deu-me de beber e em sua hídria refresquei meu rosto.
Sensíveis a meu sopro, os maiores coroaram-me de folhas verdes.
O nascimento do Poema é o silvo que Apolo harmoniza e Orfeu faz cantar.
Rompendo as cisternas escuras eu vim, raiz coleante
por entre as pedras e a secura. Dilacerada, arquejante,
acolhe-me Apolo em seus braços de névoa.
Gemidos rasgam mil caminhos na gruta: Ai, ai, oh...
A Sibila arrasta-se no pó, soluça, seus lábios deliram,
traça no ar os gestos incertos dos agonizantes, colhe flores
na neblina. Ai, ai, oh... Foram-se os deuses da Grécia,
só espelhos reflectem espelhos, o eterno assim se dá e esconde.
Onde Afrodite, a de róseos tornozelos, ungida de óleo incorruptível,
com seus perfumes, colares e pulseiras cintilantes?
Onde Ártemis, a de doçura selvagem? Foram-se as ninfas
e hamadríades! Nunca mais a vida estuante dos bosques,
suas flores e clareiras, onde Zeus e Hera adormeciam ao calor do dia.
Ai, ai, neblina, o que enlaçarão agora nossos braços?
Não mais que névoa e vento. Apolo, assim te afastas, e me deixas presa
à teia indecifrável destes sons selvagens? Aaa Oooo...
Em teu ombro dourado me apoiava, inventando poemas que ditavas
a meu secreto entendimento. Infeliz de mim! Agora
só posso tocar névoa e memória. Dissiparam-se Mundo e Palavra.
A Sibila chorou.
Nesse momento as coisas cessam, silenciosas,
atemorizadas. Os ventos param de soprar,
nas árvores as folhas não se movem.
Os rios adormecem e o gigantesco Mar
é liso e sem ondas. Paira sobre tudo um
SANTO SACRO SILÊNCIO
Perde-se na neblina a medida do Tempo,
tudo se abisma no silêncio, à espera
do alto Deus, meta dos séculos.
A Sibila abre os grandes olhos
e vê o Deus que nasce.
A Mãe, junto ao Menino, parece uma vinha
e enquanto a Lua surge, clara, ela adora
o Filho em seus braços. De ouro vivo é a Criança
e em resplendores toda a gruta se ilumina.
Luz nascida como o orvalho descendo do Céu à Terra
e em torno, suavíssimo aroma.
Anjos perpassam, alígeras borboletas
e cantam: Amém.
A Sibila sorri.
Um cântico novo brota em seus lábios, mas não é seu,
o infinito o modulou:
O aroma de teus perfumes é delicado
e teu nome, óleo que se derrama.
Serás novo júbilo e alegria...
Não repares em minha tez morena, que o sol queimou.
Irados, meus irmãos fizeram-me guardar as vinhas,
eu, esquecida da Vinha!
Ouço a voz do meu Amado batendo à porta
Lentos são meus pés e ao abrir a porta
o Amado já se foi. Corre minha alma
e o busca por toda a parte. Não respondes, Amor,
ao meu chamado?
Eu vos suplico, filhas de Jerusalém,
se o encontrardes
dizei-lhe que estou doente de amor.
O que tem ele - elas perguntam -
o que tem o teu Amado mais do que os outros
para que assim o busques, quase morta?
Meu Amado é róseo e brilhante,
meu Amado vermelho. Sua cabeça é de ouro puro,
seus cachos, negro-azulados.
Seus olhos são duas rolas
perto de um lento riacho.
Destila mirra
o lírio de seus lábios.
Sei que habita um jardim,
companheiros ouvem sua voz...
Oh, faze que eu também te escute!
Quem é essa que vem do deserto
como um cântaro apoiado a um peito amoroso?
Ele é um selo sobre seu coração,
sobre seu braço moreno,
pois o Amor é forte como a Morte,
seus centelhas são de fogo:
uma chama divina!
Dissipa-se na névoa um rosto efêmero,
mas a face do Amado permanece.»
Dora Ferreira da Silva, Poesia Reunida
um grito de louvor à Terra, dançai!
Vim sem o esplendor da aurora, mendiga,
não como as musas de outrora, dadivosas Diotimas,
vim mendigar o que há muito vos ofertei, Poetas:
sopro-vos à garganta dilatada, vossos olhos ceguei
para que o fundo olhar se liberte. Sibila em agonia,
há tanto silenciada, falarei por vossas bocas,
em vossos versos arquejará minha voz embriagada, rouca -
sustos e soluços, gritos, silvos, neblinas de esgares,
mares de canto e pranto. No tempo além do tempo
meus lábios murmuram por ti e perto dos templos derruidos,
a respiração do velho Mar, seus haustos e gemidos.
Mostra-me o silêncio o lacre escarlate, verbo indigente
dos mitos que sempre me uniram às setas de Apolo.
Há tanto minha palavra foi calada, os deuses recuavam...
Mas os poetas mantiveram-me viva. O mais ínfimo
deu-me de beber e em sua hídria refresquei meu rosto.
Sensíveis a meu sopro, os maiores coroaram-me de folhas verdes.
O nascimento do Poema é o silvo que Apolo harmoniza e Orfeu faz cantar.
Rompendo as cisternas escuras eu vim, raiz coleante
por entre as pedras e a secura. Dilacerada, arquejante,
acolhe-me Apolo em seus braços de névoa.
Gemidos rasgam mil caminhos na gruta: Ai, ai, oh...
A Sibila arrasta-se no pó, soluça, seus lábios deliram,
traça no ar os gestos incertos dos agonizantes, colhe flores
na neblina. Ai, ai, oh... Foram-se os deuses da Grécia,
só espelhos reflectem espelhos, o eterno assim se dá e esconde.
Onde Afrodite, a de róseos tornozelos, ungida de óleo incorruptível,
com seus perfumes, colares e pulseiras cintilantes?
Onde Ártemis, a de doçura selvagem? Foram-se as ninfas
e hamadríades! Nunca mais a vida estuante dos bosques,
suas flores e clareiras, onde Zeus e Hera adormeciam ao calor do dia.
Ai, ai, neblina, o que enlaçarão agora nossos braços?
Não mais que névoa e vento. Apolo, assim te afastas, e me deixas presa
à teia indecifrável destes sons selvagens? Aaa Oooo...
Em teu ombro dourado me apoiava, inventando poemas que ditavas
a meu secreto entendimento. Infeliz de mim! Agora
só posso tocar névoa e memória. Dissiparam-se Mundo e Palavra.
A Sibila chorou.
Nesse momento as coisas cessam, silenciosas,
atemorizadas. Os ventos param de soprar,
nas árvores as folhas não se movem.
Os rios adormecem e o gigantesco Mar
é liso e sem ondas. Paira sobre tudo um
SANTO SACRO SILÊNCIO
Perde-se na neblina a medida do Tempo,
tudo se abisma no silêncio, à espera
do alto Deus, meta dos séculos.
A Sibila abre os grandes olhos
e vê o Deus que nasce.
A Mãe, junto ao Menino, parece uma vinha
e enquanto a Lua surge, clara, ela adora
o Filho em seus braços. De ouro vivo é a Criança
e em resplendores toda a gruta se ilumina.
Luz nascida como o orvalho descendo do Céu à Terra
e em torno, suavíssimo aroma.
Anjos perpassam, alígeras borboletas
e cantam: Amém.
A Sibila sorri.
Um cântico novo brota em seus lábios, mas não é seu,
o infinito o modulou:
O aroma de teus perfumes é delicado
e teu nome, óleo que se derrama.
Serás novo júbilo e alegria...
Não repares em minha tez morena, que o sol queimou.
Irados, meus irmãos fizeram-me guardar as vinhas,
eu, esquecida da Vinha!
Ouço a voz do meu Amado batendo à porta
Lentos são meus pés e ao abrir a porta
o Amado já se foi. Corre minha alma
e o busca por toda a parte. Não respondes, Amor,
ao meu chamado?
Eu vos suplico, filhas de Jerusalém,
se o encontrardes
dizei-lhe que estou doente de amor.
O que tem ele - elas perguntam -
o que tem o teu Amado mais do que os outros
para que assim o busques, quase morta?
Meu Amado é róseo e brilhante,
meu Amado vermelho. Sua cabeça é de ouro puro,
seus cachos, negro-azulados.
Seus olhos são duas rolas
perto de um lento riacho.
Destila mirra
o lírio de seus lábios.
Sei que habita um jardim,
companheiros ouvem sua voz...
Oh, faze que eu também te escute!
Quem é essa que vem do deserto
como um cântaro apoiado a um peito amoroso?
Ele é um selo sobre seu coração,
sobre seu braço moreno,
pois o Amor é forte como a Morte,
seus centelhas são de fogo:
uma chama divina!
Dissipa-se na névoa um rosto efêmero,
mas a face do Amado permanece.»
Dora Ferreira da Silva, Poesia Reunida
quarta-feira, 5 de março de 2014
APRENDE, HOMEM...
Aprende, homem, no refúgio!
Aprende, homem, na prisão!
Mulher na cozinha,
aprende!
Aprende, sexagenário!
Tens de assumir o comando!
Procura a escola, tu que
não tens casa!
Cobre-te de saber, tu que
tens frio!
Tu que tens fome, agarra o
livro, é uma arma!
Tens de assumir o comando/
Bi-rtou
Bbh:mt (1898-1956)
A filosofia da diferença a partir do EU SOU TREZENTOS de Mário de Andrade
Mário de Andrade
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinqüenta,As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Ôh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as melhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cinqüenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.
Fonte: www.geocities.com
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
PÁGINA VIRADA
Eu tentei de tantas formas ser feliz
Mas despreso foi tudo que consegui
Como sofreu o meu coração
Cheguei até pensar que a minha vida era ficcção
Pois num beco sem saida, não via chance de um dia ser feliz
E estando eu naquele triste estado
Corpo ferido e coração magoado,
Tudo se concretizou, Jesus além das forças não me provou
Me fez feliz e a minha hitória ele mudou,
E o meu passado como página virou
Agora já passou
É uma página virada em minha vida
Pois no espelho eu não vejo mais feridas
De um passado que feriu meu coração
Agora tudo mudou,
Sou abençoado e hoje canto assim
Na certeza que Jesus está aqui
Morando dentro lá no fundo,
Do meu coração.
De Shirley Carvalhaes para nossa meditação.
Mas despreso foi tudo que consegui
Como sofreu o meu coração
Cheguei até pensar que a minha vida era ficcção
Pois num beco sem saida, não via chance de um dia ser feliz
E estando eu naquele triste estado
Corpo ferido e coração magoado,
Tudo se concretizou, Jesus além das forças não me provou
Me fez feliz e a minha hitória ele mudou,
E o meu passado como página virou
Agora já passou
É uma página virada em minha vida
Pois no espelho eu não vejo mais feridas
De um passado que feriu meu coração
Agora tudo mudou,
Sou abençoado e hoje canto assim
Na certeza que Jesus está aqui
Morando dentro lá no fundo,
Do meu coração.
De Shirley Carvalhaes para nossa meditação.
sábado, 14 de dezembro de 2013
Supertrabalhador de Gabriel O pensador
De Gabriel O pensador...
Quem trabalha e mata fome não come o pão de ninguém
Mas quem come e não trabalha tá comendo o pão de alguém
Quem trabalha e mata a fome não come o pão de ninguém
Mas quem come e não trabalha tá comendo o pão de alguém
É pra ganhar o pão tem que trabalhar Missão para os heróis que estão dentro do seu lar
O seu pai, sua mãe, são trabalhadores
São os super-heróis, verdadeiros protetores
A superjornalista, o superdoutor
O supermotorista, o supertrocador
O superguitarrista, o superprodutor
E a superprofessora, é que me ensinou
E o supercarteiro, quê que faz, quê que faz?
Manda carta e manda conta pra mamãe e pro papai
E o supergari, o lixeiro, o quê que faz?
Bota o lixo no lixo que aqui tem lixo demais
Cada um faz o que sabe, cada uma sabe o que faz
Ninguém menos ninguém mais, todo mundo corre atrás
E volta pra casa com saudade do filho
Enfrentando o desafio, desviando do gatilho
Mais uma jornada, adivinha quem chegou?
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o supertrabalhador
Alimento minha família com orgulho e amor
Supertrabalhador
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o Supertrabalhador
Enfrento os desafios, o perigo que for
Supertrabalhador
São as aventuras do Supertrabalhador
Demorou
Quem trabalha e mata fome não come o pão de ninguém
Mas quem come e não trabalha tá comendo o pão de alguém
Quem trabalha e mata a fome não come o pão de ninguém
E pra fazer o pão tem que colher o grão
Separar o joio do trigo na plantação
O superlavrador falou com o agricultor,
Que sabe que precisa também do motorista do trator
na cidade, o engenheiro precisa di pedreiro
Mas pra fazer o prédio tem que desenhar primeiro
O sonho do arquiteto, bonito no projeto, virando concreto
Vai virando o concreto!
Eu sou o supertrabalhador
Alimento minha família com orgulho e amor
Supertrabalhador
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o Supertrabalhador
Enfrento os desafios, o perigo que for
Supertrabalhador
São as aventuras do Supertrabalhador
Demorou
Quero ser trabalhador, quem não é um dia quis
Minha mãe sempre falou:"Quem trabalha é mais feliz"
Mas tem que suar pra ganhar o pão
E ainda tem que enfrentar o leão
O leão quer morder nosso pão
Cuidado com o leão, que ele come o nosso pão
O leão quer morder nosso pão
Cuidado com o leão, não dá mole não
Eu sou o supertrabalhador
Alimento minha família com orgulho e amor
Supertrabalhador
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o Supertrabalhador
Enfrento os desafios, o perigo que for
Supertrabalhador
São as aventuras do Supertrabalhador
Demorou
Supertrabalhador
Taxista, motoboy, assistente, diretor
Supertrabalhador
Pipoqueiro, pedagogo, poteiro, pesqisador
Supertrabalhador
Ambulante, feirante, astronauta, ilustrador
Supertrabalhador
Comandante, comissário, caixa, vendedor
Supertrabalhador
Cozinheiro, garçon, bibliotecário, escritor
Supertrabalhador
Maquinista, sambista, surfista, historiador
Supertrabalhador
Marceneiro, carpinteiro, ferreiro, minerador
Supertrabalhador
Telefonista, salva-vidas, bombeiro, mergulhador
Supertrabalhador
Pára-quedista, arqueólogo, filósofo, pintor
Supertrabalhador
Sapateiro, boiadeiro, farmaucêtico, cantor
Super
Quem trabalha e mata fome não come o pão de ninguém
Mas quem come e não trabalha tá comendo o pão de alguém
Quem trabalha e mata a fome não come o pão de ninguém
Mas quem come e não trabalha tá comendo o pão de alguém
É pra ganhar o pão tem que trabalhar Missão para os heróis que estão dentro do seu lar
O seu pai, sua mãe, são trabalhadores
São os super-heróis, verdadeiros protetores
A superjornalista, o superdoutor
O supermotorista, o supertrocador
O superguitarrista, o superprodutor
E a superprofessora, é que me ensinou
E o supercarteiro, quê que faz, quê que faz?
Manda carta e manda conta pra mamãe e pro papai
E o supergari, o lixeiro, o quê que faz?
Bota o lixo no lixo que aqui tem lixo demais
Cada um faz o que sabe, cada uma sabe o que faz
Ninguém menos ninguém mais, todo mundo corre atrás
E volta pra casa com saudade do filho
Enfrentando o desafio, desviando do gatilho
Mais uma jornada, adivinha quem chegou?
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o supertrabalhador
Alimento minha família com orgulho e amor
Supertrabalhador
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o Supertrabalhador
Enfrento os desafios, o perigo que for
Supertrabalhador
São as aventuras do Supertrabalhador
Demorou
Quem trabalha e mata fome não come o pão de ninguém
Mas quem come e não trabalha tá comendo o pão de alguém
Quem trabalha e mata a fome não come o pão de ninguém
E pra fazer o pão tem que colher o grão
Separar o joio do trigo na plantação
O superlavrador falou com o agricultor,
Que sabe que precisa também do motorista do trator
na cidade, o engenheiro precisa di pedreiro
Mas pra fazer o prédio tem que desenhar primeiro
O sonho do arquiteto, bonito no projeto, virando concreto
Vai virando o concreto!
Eu sou o supertrabalhador
Alimento minha família com orgulho e amor
Supertrabalhador
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o Supertrabalhador
Enfrento os desafios, o perigo que for
Supertrabalhador
São as aventuras do Supertrabalhador
Demorou
Quero ser trabalhador, quem não é um dia quis
Minha mãe sempre falou:"Quem trabalha é mais feliz"
Mas tem que suar pra ganhar o pão
E ainda tem que enfrentar o leão
O leão quer morder nosso pão
Cuidado com o leão, que ele come o nosso pão
O leão quer morder nosso pão
Cuidado com o leão, não dá mole não
Eu sou o supertrabalhador
Alimento minha família com orgulho e amor
Supertrabalhador
São as aventuras do supertrabalhador
Sou o Supertrabalhador
Enfrento os desafios, o perigo que for
Supertrabalhador
São as aventuras do Supertrabalhador
Demorou
Supertrabalhador
Taxista, motoboy, assistente, diretor
Supertrabalhador
Pipoqueiro, pedagogo, poteiro, pesqisador
Supertrabalhador
Ambulante, feirante, astronauta, ilustrador
Supertrabalhador
Comandante, comissário, caixa, vendedor
Supertrabalhador
Cozinheiro, garçon, bibliotecário, escritor
Supertrabalhador
Maquinista, sambista, surfista, historiador
Supertrabalhador
Marceneiro, carpinteiro, ferreiro, minerador
Supertrabalhador
Telefonista, salva-vidas, bombeiro, mergulhador
Supertrabalhador
Pára-quedista, arqueólogo, filósofo, pintor
Supertrabalhador
Sapateiro, boiadeiro, farmaucêtico, cantor
Super
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
A voz da criança não se cale em nós!
"Que jamais a voz da criança nela se cale, que caia como um presente dos céus oferecendo às palavras ressecadas o brilho de seu riso, o sal de suas lágrimas, sua todo-poderosa selvageria."
(L.-R. Des Florêts, trecho de Ostinato)
domingo, 18 de agosto de 2013
Uma pérola de Paulo Leminski: "minifesto"
ave a raiva desta noite
a baita lasca fúria abrupta
louca besta vaca solta
ruiva luz que contra o dia
tanto e tarde madrugastes
morra a calma desta tarde
morra em ouro
enfim, mais seda
a morte, essa fraude,
quando próspera
viva e morra sobretudo
este dia, metal vil,
surdo, cego e mudo,
nele tudo foi e, se ser foi tudo,
já nem tudo nem sei
se vai saber a primavera
ou se um dia saberei
que nem eu saber nem ser nem era
Vim pelo caminho difícil,
a linha que nunca termina,
a linha bate na pedra,
a palavra quebra uma esquina,
mínima linha vazia,
a linha, uma vida inteira,
palavra, palavra minha.De seu livro "Toda a poesia".
segunda-feira, 17 de junho de 2013
Sonho impossível
Sonhar,
mais um sonho
impossível
Lutar
quando é fácil ceder
Vencer
o inimigo invencível
Negar
quando a regra é vender
Sofrer
a tortura implacável
Romper
a incabível prisão
Voar
num limite improvável
Tocar
o inacessível chão
É
minha lei
É
minha questão
Virar
esse mundo
Crivar
esse chão
Não
importa saber
Se
é terrível demais
Quantas
guerras
terei
de vencer
Por
um pouco de paz
E
amanhã
Se
esse chão que eu beijei
For
meu leito e perdão
Vou
saber que valeu
Delirar
e morrer de paixão
E
assim,
Seja
lá como for,
Vai
ter fim
A
infinita aflição
E
o mundo
Vai
ver uma flor
Brotar
do
impossível chão
Chico Buarque
segunda-feira, 25 de março de 2013
ÍTACA
Odisseu (Ulisses) amarrado ao mastro de sua embarcação para se salvar
das Sirenes na Odisséia de Homero, o grande poema épico Grego. Mosaico
Romano do século III AD, Tunísia.
Se partires um dia rumo
à Ítaca
Faz votos de que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Posídon te intimidem!
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Posídon hás de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais com que prazer, com que alegria
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
E perfumes sensuais de toda espécie
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrinas
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas, não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.
Constantino Kabvafis (1863-1933)
in: O Quarteto de Alexandria - trad. José Paulo Paz.
Faz votos de que o caminho seja longo
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem lestrigões, nem ciclopes,
nem o colérico Posídon te intimidem!
Eles no teu caminho jamais encontrarás
Se altivo for teu pensamento
Se sutil emoção o teu corpo e o teu espírito tocar
Nem lestrigões, nem ciclopes
Nem o bravio Posídon hás de ver
Se tu mesmo não os levares dentro da alma
Se tua alma não os puser dentro de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
Nas quais com que prazer, com que alegria
Tu hás de entrar pela primeira vez um porto
Para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir.
Madrepérolas, corais, âmbares, ébanos
E perfumes sensuais de toda espécie
Quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrinas
Para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas, não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
E fundeares na ilha velho enfim.
Rico de quanto ganhaste no caminho
Sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te ponhas a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu
Se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência.
E, agora, sabes o que significam Ítacas.
Constantino Kabvafis (1863-1933)
in: O Quarteto de Alexandria - trad. José Paulo Paz.
sexta-feira, 15 de março de 2013
O acaso e o jogo
Já falei aqui da influência do acaso em tudo o que fazemos e no que a vida faz da gente.
Observei que, no amor como na arte, ele influi decisivamente, mas, apesar disso, para que não pensem que vejo a vida como um mero jogo de acasos, sobre o qual não exerceríamos qualquer influência, afirmo que, na maioria das vezes, o acaso é neutralizado ou aceito pela nossa necessidade, ou seja, o acaso não é tudo.
Até na poesia é assim: se é verdade que a primeira palavra que escrevo na página em branco surge, às vezes, sem que eu saiba por que, ela já determina a segunda palavra, a terceira e, assim, à medida que o poema ganha corpo e sentido, só entra nele a palavra necessária. No fundo, o que fazemos quase todo o tempo é transformar o casual em necessário.
Pois bem, outro dia percebi que o mesmo --ou quase o mesmo-- ocorre nos esportes, onde o fator casual é, sem dúvida, decisivo. Pense só nisto: o tiro de escanteio, num jogo de futebol. Quantos jogadores dos dois times estão dentro da área? Sete? Oito? Dez? Como saber na cabeça de qual deles a bola cairá?
Se for na cabeça de um jogador do time que bate a falta, pode ser gol; se for na cabeça de alguém do outro time, o gol pode ser evitado. O fato é que o grau de imprevisibilidade, nestes casos, é enorme.
Por isso, o escanteio é um dos momentos mais críticos de qualquer partida de futebol, uma vez que é quando há menos possibilidade de controlar o acaso.
Claro, o escanteio é um exemplo extremo, mas, durante todo o jogo, 11 contra 11, é impossível prever tudo o que pode ocorrer. A verdade, porém, é que quem der menos chance ao azar, isto é, ao acaso, ganhará a partida.
No tênis, numa partida individual, o acaso terá, sem dúvida, menos chance, embora a coisa não seja tão simples como pode parecer; é que, se aqui a ação dos jogadores é mais previsível do que no futebol, com tanta gente atuando, em compensação, por serem apenas dois os tenistas, têm menos controle sobre os fatores de espaço e tempo implicados em cada lance. Ainda assim, o controle sobre a probabilidade é maior.
Caso bastante especial é o do vôlei, quando duas equipes de seis jogadores disputam o controle sobre uma bola num campo dividido por uma rede.
Por suas características, parece que o vôlei é o esporte em que se tem maior possibilidade de neutralizar o acaso, ou seja, a probabilidade.
Advirto o leitor que estou pensando essas coisas, agora, pela primeira vez. Estou "sacando" quase como um jogador de vôlei e espero confirmar o meu saque.
Se estou pensando certo, o vôlei, de todos esses esportes, parece ser aquele em que o técnico melhor consegue anular consideravelmente o incontrolável e, consequentemente, a ação do adversário. Isso se deve, creio eu, às características desse esporte e fundamentalmente ao fato de estar a quadra, que não é muito grande, dividida por uma rede.
Como os jogadores têm de passar a bola por cima dela, isso possibilita bloquear-lhes a ação e evitar que a bola caia do lado de cá da quadra. O bloqueio é, por isso mesmo, um recurso decisivo e, consequentemente, a cortada, que procura superá-lo e fazer o ponto.
Nisso tudo, o técnico tem papel fundamental, bem mais que, por exemplo, no futebol, cujo campo é grande demais, tornando imprevisível o deslocamento dos jogadores adversários.
O tamanho do campo, combinado com o número de jogadores em ação, influi decisivamente na impossibilidade de o técnico prever como o adversário se comportará e, por isso mesmo, como deve ele orientar os jogadores de seu time para chegarem ao gol, evitando, ao mesmo tempo, que o outro o consiga antes ou mais vezes.
A influência desses fatores é determinante e de tal modo que, em função dela, por exemplo, enquanto no tênis o saque favorece a quem saca, no vôlei é o contrário: quem saca mais provavelmente perde o ponto.
Em face de todas essas "sacações", concluo afirmando que, nesses diversos esportes, a função do técnico é tornar a ação dos jogadores inteiramente previsível, do seu e do time adversário, ou seja, anular o acaso. Mas isso nem Deus consegue.
Ferreira Gullar é cronista, crítico de arte e poeta. Escreve aos domingos na versão impressa de "Ilustrada".
Observei que, no amor como na arte, ele influi decisivamente, mas, apesar disso, para que não pensem que vejo a vida como um mero jogo de acasos, sobre o qual não exerceríamos qualquer influência, afirmo que, na maioria das vezes, o acaso é neutralizado ou aceito pela nossa necessidade, ou seja, o acaso não é tudo.
Até na poesia é assim: se é verdade que a primeira palavra que escrevo na página em branco surge, às vezes, sem que eu saiba por que, ela já determina a segunda palavra, a terceira e, assim, à medida que o poema ganha corpo e sentido, só entra nele a palavra necessária. No fundo, o que fazemos quase todo o tempo é transformar o casual em necessário.
Pois bem, outro dia percebi que o mesmo --ou quase o mesmo-- ocorre nos esportes, onde o fator casual é, sem dúvida, decisivo. Pense só nisto: o tiro de escanteio, num jogo de futebol. Quantos jogadores dos dois times estão dentro da área? Sete? Oito? Dez? Como saber na cabeça de qual deles a bola cairá?
Se for na cabeça de um jogador do time que bate a falta, pode ser gol; se for na cabeça de alguém do outro time, o gol pode ser evitado. O fato é que o grau de imprevisibilidade, nestes casos, é enorme.
Por isso, o escanteio é um dos momentos mais críticos de qualquer partida de futebol, uma vez que é quando há menos possibilidade de controlar o acaso.
Claro, o escanteio é um exemplo extremo, mas, durante todo o jogo, 11 contra 11, é impossível prever tudo o que pode ocorrer. A verdade, porém, é que quem der menos chance ao azar, isto é, ao acaso, ganhará a partida.
No tênis, numa partida individual, o acaso terá, sem dúvida, menos chance, embora a coisa não seja tão simples como pode parecer; é que, se aqui a ação dos jogadores é mais previsível do que no futebol, com tanta gente atuando, em compensação, por serem apenas dois os tenistas, têm menos controle sobre os fatores de espaço e tempo implicados em cada lance. Ainda assim, o controle sobre a probabilidade é maior.
Caso bastante especial é o do vôlei, quando duas equipes de seis jogadores disputam o controle sobre uma bola num campo dividido por uma rede.
Por suas características, parece que o vôlei é o esporte em que se tem maior possibilidade de neutralizar o acaso, ou seja, a probabilidade.
Advirto o leitor que estou pensando essas coisas, agora, pela primeira vez. Estou "sacando" quase como um jogador de vôlei e espero confirmar o meu saque.
Se estou pensando certo, o vôlei, de todos esses esportes, parece ser aquele em que o técnico melhor consegue anular consideravelmente o incontrolável e, consequentemente, a ação do adversário. Isso se deve, creio eu, às características desse esporte e fundamentalmente ao fato de estar a quadra, que não é muito grande, dividida por uma rede.
Como os jogadores têm de passar a bola por cima dela, isso possibilita bloquear-lhes a ação e evitar que a bola caia do lado de cá da quadra. O bloqueio é, por isso mesmo, um recurso decisivo e, consequentemente, a cortada, que procura superá-lo e fazer o ponto.
Nisso tudo, o técnico tem papel fundamental, bem mais que, por exemplo, no futebol, cujo campo é grande demais, tornando imprevisível o deslocamento dos jogadores adversários.
O tamanho do campo, combinado com o número de jogadores em ação, influi decisivamente na impossibilidade de o técnico prever como o adversário se comportará e, por isso mesmo, como deve ele orientar os jogadores de seu time para chegarem ao gol, evitando, ao mesmo tempo, que o outro o consiga antes ou mais vezes.
A influência desses fatores é determinante e de tal modo que, em função dela, por exemplo, enquanto no tênis o saque favorece a quem saca, no vôlei é o contrário: quem saca mais provavelmente perde o ponto.
Em face de todas essas "sacações", concluo afirmando que, nesses diversos esportes, a função do técnico é tornar a ação dos jogadores inteiramente previsível, do seu e do time adversário, ou seja, anular o acaso. Mas isso nem Deus consegue.
domingo, 6 de janeiro de 2013
Uma pergunta
Obra: "A conquista do filósofo", de Giorgio de Chirico
"Gastar a vida é usá-la ou não usá-la? Que é que eu estou exatamente querendo saber?"
Clarice Lispector, in A descoberta do mundo, p. 252.
sábado, 5 de janeiro de 2013
A comunicação muda
"Nostalgia of the infinite", de Giorgio de Chirico, 1913.
"O que nos salva da solidão é a solidão de cada um dos outros. Às vezes, quando duas pessoas estão juntas, apesar de falarem, o que elas comunicam silenciosamente uma à outra é o sentimento de solidão"
Clarice Lispector, in A descoberta do mundo, p. 270.
terça-feira, 27 de novembro de 2012
"A prova" de Jorge Luís Borges
(Imagem: De Chirino, Canto damore)
Do outro
lado da porta um homem deixa cair sua corrupção. Em vão elevará
esta noite uma prece ao seu curioso deus, que é três, dois, um, e
se dirá que é imortal. Agora ouve a profecia de sua morte e sabe
que é um animal sentado.
És, irmão,
esse homem. Agradeçamos os vermes e o esquecimento.
Jorge Luís Borges
domingo, 28 de outubro de 2012
Arte poética
(foto: Ítaca na Grécia)
Olhar
o rio feito de tempo e água
E
recordar que o tempo é outro rio,
Saber
que nos perdemos como o rio
E
que os rostos passam como a água.
Sentir
que a vigília é outro sonho
Que
sonha não sonhar e que a morte
Que
nossa carne teme é esta morte
De
cada noite, que se chama sonho.
Ver
no dia ou no ano um símbolo
Dos
dias do homem de seus anos,
Converter
o ultraje dos anos
Em
música, rumor e símbolo,
Ver
na morte o sonho, no ocaso
Um
triste ouro, como a poesia
Que
é imortal e pobre. A poesia
retorna
como a aurora e o ocaso.
Às
vezes, em plena tarde, uma face
Nos
observa do fundo do espelho;
A
arte deve ser como esse espelho
Que
nos revela a própria face.
Contam
que Ulisses, farto de prodígios
Chorou
de amor ao avistar sua Ítaca
Verde
e humilde. A arte é esta Ítaca
De
verde eternidade, não de prodígios.
Também
é como o rio interminável
Que
passa e fica e é cristal de um mesmo
Heráclito
inconstante, que é o mesmo
E
outro, como o rio interminável.
Jorge Luis Borges
As coisas
A bengala, as moedas, o
chaveiro,
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos
dias
Que me restam, os naipes e o
tabuleiro.
Um livro e em suas páginas a
seca
Violeta, monumento a uma tarde
Sem dúvida inolvidável e já
olvidada,
O rubro espelho ocidental em
que arde
Uma ilusória aurora. Quantas
coisas,
Limas, umbrais, atlas, taças,
cravos,
Nos servem como tácitos
escravos,
Cegas e estranhamente
sigilosas!
Durarão para além de nosso
esquecimento;
Nunca saberão que nos fomos
num momento.
Jorge Luis Borges
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Flip(A feira literária de Parati) começa hoje com homenagem a Drummond
A feira, orçada em R$ 8,4 milhões, é um dos eventos literários mais caros do Brasil e já perdeu seu clima intimista
Rogério Reis/Veja
O poeta: haverá ainda, entre outras
atividades, uma exposição sobre Carlos Drummond de Andrade, o escritor
homenageado desta edição da Flip
São Paulo - A Festa Literária Internacional de Paraty de hoje faz
lembrar muito pouco o evento que levou 6 mil pessoas e autores do porte
de Eric Hobsbawm e Julian Barnes à cidade fluminense em 2003. O número
de visitantes saltou para 20 mil e o clima intimista se perdeu. Mas a
lista de escritores
cultuados e premiados que Liz Calder, a idealizadora, conseguiu trazer
nos primeiros anos e que os curadores vêm se esforçando para manter,
segue o padrão e é um dos maiores atrativos da festa.
Na edição que começa nesta quarta-feira à noite com uma fala de Luis
Fernando Verissimo sobre os 10 anos da festa, conferência dos críticos
Silviano Santiago e Antonio Cicero sobre Drummond e show do Lenine e
Ciranda de Tarituba, estarão Ian McEwan, Hanif Kureish e Enrique
Vila-Matas, que já participaram de outras edições, e ainda Adonis, James
Shapiro, Stephen Greenblatt, Jonathan Franzen, Dulce Maria Cardoso,
Rubens Figueiredo, Zuenir Ventura, Francisco Dantas e outros.
E isso custa. A Flip, orçada em R$ 8,4 milhões, é um dos eventos
literários mais caros do Brasil. Uma pequena parte desse valor, R$ 1,4
milhão, é destinada às ações da Flipinha e da Flipzona, que envolvem
crianças e adolescentes de Paraty e região.
É também um dos eventos mais charmosos do país, e serve de inspiração
para tantos outros, como a Fliporto, de Olinda. O boom das festas
literárias, aliás, será debatido pelo Itaú Cultural no Museu do Forte na
tarde desta quarta. E o Itaú Cultural não é a única instituição a
organizar eventos paralelos extraoficiais.
A Off-Flip já é tradição e organiza conversas com escritores,
exposições e shows. A Casa Sesc receberá os vencedores de seu prêmio
literário para conversas com o público. Na Casa do Instituto Moreira
Salles, serão gravados programas da Rádio Batuta com os escritores
convidados. Há muitas outras casas espalhadas pela cidade, sempre com
alguma programação cultural, tentando pegar carona na Flip, recebendo
bem seus autores, no caso das editoras, e entretendo o público que não
conseguiu ingresso para os debates - a tenda dos autores comporta 800
pessoas.
A Casa de Cultura hospeda a programação paralela oficial. Lá, João
Ubaldo Ribeiro e Walcyr Carrasco falam sobre Jorge Amado. Haverá ainda,
entre outras atividades, uma exposição sobre Carlos Drummond de Andrade,
o escritor homenageado desta edição. As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Ponto de Vista
Do ponto de vista da terra quem gira é o sol
Do ponto de vista da mãe todo filho é bonito
Do ponto de vista do ponto o círculo é infinito
Do ponto de vista do cego sirene é farol
Do ponto de vista do mar quem balança é a praia
Do ponto de vista da vida um dia é pouco
Guardado no bolso do louco
Há sempre um pedaço de deus
Respeite meus pontos de vista
Que eu respeito os teus
Às vezes o ponto de vista tem certa miopia,
Pois enxerga diferente do que a gente gostaria
Não é preciso por lente nem óculos de grau
Tampouco que exista somente
Um ponto de vista igual
O jeito é manter o respeito e ponto final (2x)
Autoria: Banda Casuarina
Do ponto de vista da mãe todo filho é bonito
Do ponto de vista do ponto o círculo é infinito
Do ponto de vista do cego sirene é farol
Do ponto de vista do mar quem balança é a praia
Do ponto de vista da vida um dia é pouco
Guardado no bolso do louco
Há sempre um pedaço de deus
Respeite meus pontos de vista
Que eu respeito os teus
Às vezes o ponto de vista tem certa miopia,
Pois enxerga diferente do que a gente gostaria
Não é preciso por lente nem óculos de grau
Tampouco que exista somente
Um ponto de vista igual
O jeito é manter o respeito e ponto final (2x)
Autoria: Banda Casuarina
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