quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Lampejos do Eros(Amor) em Platão

Tratado no “Banquete” descreve-se como sendo o mito do nascimento de Eros. Quem fala sobre o nascimento de Eros não é diretamente Sócrates, mas ele recebeu a narração do nascimento de uma mulher, chamada Diotima. Esta mulher é uma invenção platônica. A personagem enriquece a trama, tão bem discorrida no diálogo contado aqui superficialmente sem as miudezas dos detalhes postos pelo autor.
Por ocasião da festa de Afrodite(deusa do amor) e para os festejos, os deuses fazem uma grande festa e a esta convidam deuses e semi-deuses. A esta festa é convidado POROS(riqueza, recurso) pai de Eros. De repente, aparece a mulher que tem duas características:
§ Peneia(pobreza) é feia. Entra para mendigar as migalhas da festa. Da união dos dois(POROS E PENEIA) nasce EROS.
Platão diz: “Eros tem as características do pai e da mãe. Ele não é belo e não é feio, porém é desejo de beleza, desejo de verdade”. O homem é Eros.
No início, Platão tinha colocado uma pergunta: “o amor é belo, bruto ou feio?” Não é nem belo, nem feio e nem bruto, mas é algo intermediário(uma realidade intermediária).
O homem é, sobretudo, desejo da beleza, é desejo da verdade, é desejo de uma beleza completa; exatamente porque não a possui. O que seria, talvez, um desafio nosso do presente, se a desejássemos quando a possuíssemos!
O amor é desejo do bem e da felicidade em forma completa; é o desejo de procriação do belo.
O homem tem desejo de criar algo que dure, não apenas uma beleza que passa, mas que permanece.
A procriação nos corpos(sexo) é a necessidade de algo que não passe, que se eternize.
O desejo de procriar nos corpos é o nível mais baixo. Existe o nível profundo, aqueles que desejam procriar no espírito(na alma).
Quem tem a capacidade de procriar verdadeiramente é a alma, porque por meio da alma se chega a perceber a realidade do mundo verdadeiro. Nesse sentido o desejo do bem e do belo é inseparável do desejo da imortalidade. Para chegar à beleza eterna existem vários graus no caminho do Eros.
1. O homem chega à beleza eterna começando com o amor aos corpos belos;
2. O amor às almas belas;
3. O amor aos costumes belos e às leis morais;
4. O amor aos conhecimentos científicos e idéias;
5. O amor à ciência das ciências(que é contemplação da verdade e da beleza do mundo ideal-divino) que é conhecimento da beleza em si.
O Eros, desejo de eterna beleza, representa o dinamismo do homem que não fica satisfeito até enquanto não alcança a eterna beleza; aquela que não nasce nem morre; mas que simplesmente é. Existe por si e não por outro, caracterizando no homem concreto a busca por uma beleza intensa, verdadeira e autêntica, que não se cansa de ser desejada porque desejável.
Essas luzes jogadas na obra “O Banquete” de Platão têm o objetivo de nos convidar a ler este diálogo, desejando-o a tal ponto que queiramos, de fato, amá-lo. Lampejos, lampejos, lampejos de idéias que fluem da boca dos personagens, apenas para nos fazer entrar na festa, apenas para nos levar a ler esta admirável obra.

Texto construído com base no diálogo “O Banquete” de Platão, apoiado pela obra:
REALE, G. – ANTISERI, D. História da Filosofia, vol. I, S. Paulo: Paulinas
1990.

Jackislandy Meira de Medeiros Silva, Prof. e filósofo.
Confira os blogs:
http://www.umasreflexoes.blogspot.com/
http://www.chegadootempo.blogspot.com/

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Platão e o sentido de vida verdadeira

No diálogo Górgias, Platão desenvolve uma sabedoria para a vida, quando afirma por boca de um personagem, evidentemente de um sofista que a verdade está sempre do lado mais forte e que a vida do homem virtuoso é sem sentido. Já o poeta Eurípedes dizia que quem pode saber se o viver não é morrer e se o morrer não é viver? Nós somos mortos e o corpo significa para nós como um túmulo. Platão retoma de qualquer forma esta afirmação que inverte o sentido comum dado a vida, a morte. A vida verdadeira é aquela vivida não na dimensão do corpo, mas sim, da alma. Viver para o corpo significa viver para aquilo que é destinado a morrer. Viver para a alma significa viver para aquilo que é destinado a existir sempre. Platão fornece também as provas da imortalidade da alma, sobretudo no diálogo Fédon. Ele afirma que a alma humana é capaz de conhecer coisas imutáveis e eternas, quer dizer, as idéias. Ora, para poder conhecer tais coisas ela deve possuir, como condição indispensável, uma natureza dotada de afinidades com essas coisas imateriais e eternas, caso contrário, elas não poderiam ser minimamente entendidas.
Conseqüentemente, como essas coisas que a alma conhece são imutáveis e eternas, a alma também deve ser eterna e imutável. A alma é feita da mesma substância da qual são feitas as idéias. A alma é uma realidade que tem afinidade com as idéias, e portanto, pertencem ao mesmo gênero dos entes mais visíveis e não perceptíveis por meio dos sentidos. A alma é de natureza espiritual e racional. Ela é inteligente e imortal. A imortalidade é uma conseqüência da espiritualidade da alma. Se ela é de natureza espiritual significa que é diferente da matéria. A matéria é corruptível. A alma sendo espiritual é incorruptível. Portanto, a alma permanece sempre. A alma não é sujeita a corrupção, ela é imortal. Assim, Platão afirma que no homem existe o corpo que é destinado à morte e a alma que é destinada à vida, a alma é imortal. Afirmada a existência de algo incorruptível e eterno que existe na vida do próprio homem.
A vida do homem nesta dimensão terrena é uma passagem e é uma prova. Os homens são chamados a viver segundo a alma. Se eles vivem ligados ao corpo, as paixões não conseguem, após a morte, separar-se do elemento corpóreo e portanto estas almas se ligam novamente a outros corpos, não apenas de homens, mas também de animais. As almas que tiverem vivido segundo a alma, elas se reencarnam, mas em formas superiores, sempre mais purificadas da matéria. Estamos assim diante da doutrina da reencarnação ou setempsicose que fala de um ciclo de reencarnações para o homem chegar a uma purificação completa da alma.
Com esta doutrina da imortalidade da alma da qual a reencarnação é o aspecto norteador, Platão revoluciona os valores clássicos do mundo grego que eram em ordem, a saúde física, a beleza do corpo, as riquezas honestas, a juventude de vida com os amigos. Platão planta uma na ordem baseada na descoberta do mundo supra-sensível. Os valores ligados ao mundo corpóreo passam e são efêmeros. Os valores verdadeiros são aqueles ligados ao conhecimento da verdade eterna do mundo das idéias. Portanto, o primado é dado à verdade, à justiça e à fortaleza de ânimos.
O verdadeiro eu é o supra-sensível. Portanto, na vida do homem o aspecto mais importante é, como já dizia Sócrates, o cuidado com a alma, através de um processo pelo qual o homem se purifica, chegando sempre mais ao conhecimento do mundo supra-sensível.
Esta é a verdadeira conversão, conhecendo o mundo verdadeiro, a alma cuida de si mesma e realiza a própria purificação. Converte-se e eleva-se. Nisso consiste a virtude. Para Platão, o filósofo é aquele que deseja o mundo eterno e supra-sensível. Portanto, a filosofia é, a um só tempo, desejo da morte, mas enquanto desejo da verdadeira vida. A filosofia é o exercício de vida verdadeira. Admite-se, assim, a Filosofia como um aprender a morrer, uma preparação para a morte.





Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
Confira os blogs:
www.umasreflexoes.blogspot.com
www.chegadootempo.blogspot.com

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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Lampejos do Eros(Amor) em Platão

Tratado no “Banquete” descreve-se como sendo o mito do nascimento de Eros. Quem fala sobre o nascimento de Eros não é diretamente Sócrates, mas ele recebeu a narração do nascimento de uma mulher, chamada Diotima. Esta mulher é uma invenção platônica. A personagem enriquece a trama, tão bem discorrida no diálogo contado aqui superficialmente sem as miudezas dos detalhes postos pelo autor.
Por ocasião da festa de Afrodite(deusa do amor) e para os festejos, os deuses fazem uma grande festa e a esta convidam deuses e semi-deuses. A esta festa é convidado POROS(riqueza, recurso) pai de Eros. De repente, aparece a mulher que tem duas características:
§ Peneia(pobreza) é feia. Entra para mendigar as migalhas da festa. Da união dos dois(POROS E PENEIA) nasce EROS.
Platão diz: “Eros tem as características do pai e da mãe. Ele não é belo e não é feio, porém é desejo de beleza, desejo de verdade”. O homem é Eros.
No início, Platão tinha colocado uma pergunta: “o amor é belo, bruto ou feio?” Não é nem belo, nem feio e nem bruto, mas é algo intermediário(uma realidade intermediária).
O homem é, sobretudo, desejo da beleza, é desejo da verdade, é desejo de uma beleza completa; exatamente porque não a possui. O que seria, talvez, um desafio nosso do presente, se a desejássemos quando a possuíssemos!
O amor é desejo do bem e da felicidade em forma completa; é o desejo de procriação do belo.
O homem tem desejo de criar algo que dure, não apenas uma beleza que passa, mas que permanece.
A procriação nos corpos(sexo) é a necessidade de algo que não passe, que se eternize.
O desejo de procriar nos corpos é o nível mais baixo. Existe o nível profundo, aqueles que desejam procriar no espírito(na alma).
Quem tem a capacidade de procriar verdadeiramente é a alma, porque por meio da alma se chega a perceber a realidade do mundo verdadeiro. Nesse sentido o desejo do bem e do belo é inseparável do desejo da imortalidade. Para chegar à beleza eterna existem vários graus no caminho do Eros.
1. O homem chega à beleza eterna começando com o amor aos corpos belos;
2. O amor às almas belas;
3. O amor aos costumes belos e às leis morais;
4. O amor aos conhecimentos científicos e idéias;
5. O amor à ciência das ciências(que é contemplação da verdade e da beleza do mundo ideal-divino) que é conhecimento da beleza em si.
O Eros, desejo de eterna beleza, representa o dinamismo do homem que não fica satisfeito até enquanto não alcança a eterna beleza; aquela que não nasce nem morre; mas que simplesmente é. Existe por si e não por outro, caracterizando no homem concreto a busca por uma beleza intensa, verdadeira e autêntica, que não se cansa de ser desejada porque desejável.
Essas luzes jogadas na obra “O Banquete” de Platão têm o objetivo de nos convidar a ler este diálogo, desejando-o a tal ponto que queiramos, de fato, amá-lo. Lampejos, lampejos, lampejos de idéias que fluem da boca dos personagens, apenas para nos fazer entrar na festa, apenas para nos levar a ler esta admirável obra.

Texto construído com base no diálogo “O Banquete” de Platão, apoiado pela obra:
REALE, G. – ANTISERI, D. História da Filosofia, vol. I, S. Paulo: Paulinas
1990.

Jackislandy Meira de Medeiros Silva, Prof. e filósofo.
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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Platão e o sentido de vida verdadeira

No diálogo Górgias, Platão desenvolve uma sabedoria para a vida, quando afirma por boca de um personagem, evidentemente de um sofista que a verdade está sempre do lado mais forte e que a vida do homem virtuoso é sem sentido. Já o poeta Eurípedes dizia que quem pode saber se o viver não é morrer e se o morrer não é viver? Nós somos mortos e o corpo significa para nós como um túmulo. Platão retoma de qualquer forma esta afirmação que inverte o sentido comum dado a vida, a morte. A vida verdadeira é aquela vivida não na dimensão do corpo, mas sim, da alma. Viver para o corpo significa viver para aquilo que é destinado a morrer. Viver para a alma significa viver para aquilo que é destinado a existir sempre. Platão fornece também as provas da imortalidade da alma, sobretudo no diálogo Fédon. Ele afirma que a alma humana é capaz de conhecer coisas imutáveis e eternas, quer dizer, as idéias. Ora, para poder conhecer tais coisas ela deve possuir, como condição indispensável, uma natureza dotada de afinidades com essas coisas imateriais e eternas, caso contrário, elas não poderiam ser minimamente entendidas.
Conseqüentemente, como essas coisas que a alma conhece são imutáveis e eternas, a alma também deve ser eterna e imutável. A alma é feita da mesma substância da qual são feitas as idéias. A alma é uma realidade que tem afinidade com as idéias, e portanto, pertencem ao mesmo gênero dos entes mais visíveis e não perceptíveis por meio dos sentidos. A alma é de natureza espiritual e racional. Ela é inteligente e imortal. A imortalidade é uma conseqüência da espiritualidade da alma. Se ela é de natureza espiritual significa que é diferente da matéria. A matéria é corruptível. A alma sendo espiritual é incorruptível. Portanto, a alma permanece sempre. A alma não é sujeita a corrupção, ela é imortal. Assim, Platão afirma que no homem existe o corpo que é destinado à morte e a alma que é destinada à vida, a alma é imortal. Afirmada a existência de algo incorruptível e eterno que existe na vida do próprio homem.
A vida do homem nesta dimensão terrena é uma passagem e é uma prova. Os homens são chamados a viver segundo a alma. Se eles vivem ligados ao corpo, as paixões não conseguem, após a morte, separar-se do elemento corpóreo e portanto estas almas se ligam novamente a outros corpos, não apenas de homens, mas também de animais. As almas que tiverem vivido segundo a alma, elas se reencarnam, mas em formas superiores, sempre mais purificadas da matéria. Estamos assim diante da doutrina da reencarnação ou setempsicose que fala de um ciclo de reencarnações para o homem chegar a uma purificação completa da alma.
Com esta doutrina da imortalidade da alma da qual a reencarnação é o aspecto norteador, Platão revoluciona os valores clássicos do mundo grego que eram em ordem, a saúde física, a beleza do corpo, as riquezas honestas, a juventude de vida com os amigos. Platão planta uma na ordem baseada na descoberta do mundo supra-sensível. Os valores ligados ao mundo corpóreo passam e são efêmeros. Os valores verdadeiros são aqueles ligados ao conhecimento da verdade eterna do mundo das idéias. Portanto, o primado é dado à verdade, à justiça e à fortaleza de ânimos.
O verdadeiro eu é o supra-sensível. Portanto, na vida do homem o aspecto mais importante é, como já dizia Sócrates, o cuidado com a alma, através de um processo pelo qual o homem se purifica, chegando sempre mais ao conhecimento do mundo supra-sensível.
Esta é a verdadeira conversão, conhecendo o mundo verdadeiro, a alma cuida de si mesma e realiza a própria purificação. Converte-se e eleva-se. Nisso consiste a virtude. Para Platão, o filósofo é aquele que deseja o mundo eterno e supra-sensível. Portanto, a filosofia é, a um só tempo, desejo da morte, mas enquanto desejo da verdadeira vida. A filosofia é o exercício de vida verdadeira. Admite-se, assim, a Filosofia como um aprender a morrer, uma preparação para a morte.





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