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domingo, 15 de julho de 2012

Marcelo Gleiser - A ilusão do saber

Tanto Newton quanto Maxwell estavam certos: a luz é tanto uma partícula quanto uma onda



Muitas vezes o familiar oculta os maiores mistérios. Esse é o caso da luz, um fenômeno tão comum que quase ninguém dá muita bola para ele. Acordamos com ela todos os dias, ligamos e desligamos lâmpadas com descaso, raramente refletindo sobre a sua natureza, sobre o que está por trás dessa intensidade visível, porém impalpável, etérea, porém concreta, discreta, porém essencial.

No seu tratado sobre a luz intitulado "Óptica", publicado em 1704, Isaac Newton defende sua crença de que a luz é constituída de pequenas "partes": "Não são os raios de luz corpúsculos diminutos emitidos por corpos brilhantes?", pergunta. Sugere, além disso, que a luz viaja com velocidade finita, fazendo referência aos resultados de Ole Roemer, o qual, em 1676, mediu a velocidade da luz usando o eclipse de Io, uma das luas de Júpiter.

Em 1865, James Clerk Maxwell publicou o tratado "Teoria Dinâmica do Campo Eletromagnético", no qual descreve a luz como ondulações do campo eletromagnético.

A teoria explica conjuntamente a eletricidade e o magnetismo como manifestações do campo eletromagnético: uma carga elétrica produz um campo elétrico à sua volta, como cabelos rodeando uma cabeça. Tal como a gravidade, seu efeito cai com o quadrado da distância. Campos magnéticos são gerados quando cargas elétricas são aceleradas.

Uma rolha oscilando numa piscina cria ondas circulares. Imagine que a rolha é uma carga elétrica; ao oscilar, ondas eletromagnéticas são irradiadas concentricamente. (A carga as emite em três direções, e não duas.) Se a rolha subir e descer rápido, as ondas estarão próximas, terão frequência alta; se lentamente, a frequência será baixa.

Algo assim ocorre com as ondas eletromagnéticas, que podem ter altas e baixas frequências: o que chamamos de luz visível é um tipo de onda com frequências entre 400 e 790 Terahertz (1 Terahertz=1.012 ciclos/segundo). Já os raios X e gama têm frequências bem mais altas, enquanto o infravermelho e as micro-ondas têm frequências mais baixas.

Maxwell imaginou que, tal como ondas na água ou de som, a luz precisasse de um meio para se propagar. Esse era o estranho éter: transparente, imponderável e muito rígido, uma quase impossibilidade. Mas todos acreditavam nele, mesmo após os experimentos de Michelson e Morley não o terem encontrado.

Só em 1905 o jovem Einstein descartou o éter com a sua teoria da relatividade: ao contrário de todas as outras, as ondas eletromagnéticas podem se propagar no vazio. (É possível que ondas gravitacionais também o façam, assunto que fica para outra semana.)

Para complicar, a luz não tem massa. "Como algo que não tem massa pode existir?", perguntaria o leitor. Em física, energia é mais útil que massa. E a luz tem energia, podendo ser descrita como onda ou partícula: Newton e Maxwell estavam corretos. As partículas de luz, os fótons, têm energia proporcional à frequência. (Vê-se logo a estranheza: uma partícula com frequência, que é propriedade de onda!)

Lembro-me das palavras de Daniel Boorstin: "O maior obstáculo à novas descobertas não é a ignorância; é a ilusão do saber". Mesmo que saibamos tanto sobre o mundo, sabemos ainda tão pouco.
 
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook: goo.gl/93dHI

Folha de S.Paulo
15/07/2012 

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pequenas práticas de saberes II...

É possível criar uma ontologia particular sem citar a Tradição com base na música, no teatro e na poesia, bem como na literatura.

Segundo Nietzsche, a tarefa do saber é: “ver a ciência sob a ótica do artista, mas a arte sob a ótica da vida”. É a dialética entre a Tradição(História) e a Ruptura(indivíduo). Foucault é filho dessa cultura que não precisa pressupor a História para desenvolver a estrutura lógica de seu pensar.

É sabido por todos que, após as duas grandes guerras mundiais, a razão como modelo único entra em crise porque não atendeu as necessidades básicas que levam o homem ao progresso. “A razão é a imperfeição da inteligência”, segundo Tomás de Aquino, pois, fora quem melhor compreendeu a modernidade da modernidade.

A modernidade fracassou por duas maneiras: a pretensão de um estado nação assumir o controle do mundo com a queda do muro de Berlim; depois, com a Física quântica, derrogando a razão positivista que acreditava esquadrinhar todas as coisas, inclusive o átomo.

O Racionalismo frustra a modernidade como também a desigualdade social mundial, isto é, com o desenvolvimento econômico sustentado das nações.

O grande pecado da modernidade foi espiritualizar o material e materializar o espiritual, tornando o consumismo a sua marca fundamental.

Massificação e sociedade de consumo são as razões do capitalismo.

A ciência não foi capaz de dar estabilidade e segurança social frente às imprevisibilidades do futuro. Não é suficiente para integrar o homem à cultura que lhe é própria. Newton e Descartes são as duas pernas com as quais andamos. Newton com a gravidade universal e Descartes com o Método.

Sendo assim, ciência e razão nos conduziram a sofrimentos e a desorientações pela garantia de um progresso tecnológico. Não foi capaz de sanar a sede de saúde, paz mundial, importância antropológica, política, social e histórica. Frustrou as perspectivas de progresso no século XX.

Edgar Morin nos ensina que o dever principal da educação é armar cada um para o combate vital à lucidez.

Do séc. passado recebemos a lição de que “não sabemos tudo de nada”. Lutamos contra nossas pretensões bélicas, econômicas e racionalistas, mas nos esquecemos de promover o bem-estar social, ecológico, político sustentado pelo mundo a fora.

Daí, passamos por uma devastadora crise de paradigma. Os modelos educacionais ou até do próprio conhecimento não dão conta das exigências complexas por que passa a humanidade.

“O conhecimento do mundo como mundo é necessidade ao mesmo tempo intelectual e vital. É o problema universal de todo cidadão do novo milênio: como ter acesso às informações sobre o mundo e como ter a possibilidade de articulá-las e organizá-las? Como perceber e conceber o Contexto, o Global ( a relação todo/partes), o Multidimensional, o complexo? Para articular e organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo, é necessária a reforma do pensamento”(Edgar Morin, in Sete Saberes necessários à Educação do Futuro, pág. 35).

Para Morin, a Reforma é paradigmática e, não, programática. Uma educação que fomente a nossa aptidão para organizar o conhecimento.

Aqui é o ponto: Estamos inseridos numa sociedade altamente tecnológica informatizada, onde a Educação precisa mais do que nunca incluir esses valores para tentar responder as expectativas dos alunos e de uma nova compreensão de mundo. Todavia, como unir velocidade de informações e conteúdos via Internet/meios tecnológicos com a capacidade do aluno introjetar/refletir essas mesmas informações? Ou será que a educação está formando sujeitos de desejos ao invés de sujeitos reflexivos?

Uma alternativa ou uma das alternativas para indicar saídas é favorecer a atividade da arte e da filosofia na Educação, ou seja, implementar ações educativas complementares: jogos; filmes; jornal; teatro; música. Tudo isso unido ao poder da reflexão para possibilitar a descoberta de talentos críticos que contribuam na construção de valores e de preservação do meio ambiente.

A conseqüência de tudo isso foi o nosso afastamento de uma vida contemplativa(razão) para nos familiarizar, agora como nunca, com uma vida ativa, interativa audiovisual e lúdica. O desencanto da razão levou-nos ao encanto da música e dos jogos, isto é, do entretenimento midiático. Eis, no entanto, o desafio: educar toda essa massa humana advinda da cultura do entretenimento para as escolas. Se quisermos impactar crianças, adolescentes e jovens com a Educação basta oferecermos a música e o esporte nesse processo, e depois, formar indivíduos reflexivos, cuja meta é a multiplicação dessas práticas de saberes.


Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva

www.umasreflexoes.blogspot.com

www.chegadootempo.blogspot.com

www.twitter.com/filoflorania

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domingo, 15 de julho de 2012

Marcelo Gleiser - A ilusão do saber

Tanto Newton quanto Maxwell estavam certos: a luz é tanto uma partícula quanto uma onda



Muitas vezes o familiar oculta os maiores mistérios. Esse é o caso da luz, um fenômeno tão comum que quase ninguém dá muita bola para ele. Acordamos com ela todos os dias, ligamos e desligamos lâmpadas com descaso, raramente refletindo sobre a sua natureza, sobre o que está por trás dessa intensidade visível, porém impalpável, etérea, porém concreta, discreta, porém essencial.

No seu tratado sobre a luz intitulado "Óptica", publicado em 1704, Isaac Newton defende sua crença de que a luz é constituída de pequenas "partes": "Não são os raios de luz corpúsculos diminutos emitidos por corpos brilhantes?", pergunta. Sugere, além disso, que a luz viaja com velocidade finita, fazendo referência aos resultados de Ole Roemer, o qual, em 1676, mediu a velocidade da luz usando o eclipse de Io, uma das luas de Júpiter.

Em 1865, James Clerk Maxwell publicou o tratado "Teoria Dinâmica do Campo Eletromagnético", no qual descreve a luz como ondulações do campo eletromagnético.

A teoria explica conjuntamente a eletricidade e o magnetismo como manifestações do campo eletromagnético: uma carga elétrica produz um campo elétrico à sua volta, como cabelos rodeando uma cabeça. Tal como a gravidade, seu efeito cai com o quadrado da distância. Campos magnéticos são gerados quando cargas elétricas são aceleradas.

Uma rolha oscilando numa piscina cria ondas circulares. Imagine que a rolha é uma carga elétrica; ao oscilar, ondas eletromagnéticas são irradiadas concentricamente. (A carga as emite em três direções, e não duas.) Se a rolha subir e descer rápido, as ondas estarão próximas, terão frequência alta; se lentamente, a frequência será baixa.

Algo assim ocorre com as ondas eletromagnéticas, que podem ter altas e baixas frequências: o que chamamos de luz visível é um tipo de onda com frequências entre 400 e 790 Terahertz (1 Terahertz=1.012 ciclos/segundo). Já os raios X e gama têm frequências bem mais altas, enquanto o infravermelho e as micro-ondas têm frequências mais baixas.

Maxwell imaginou que, tal como ondas na água ou de som, a luz precisasse de um meio para se propagar. Esse era o estranho éter: transparente, imponderável e muito rígido, uma quase impossibilidade. Mas todos acreditavam nele, mesmo após os experimentos de Michelson e Morley não o terem encontrado.

Só em 1905 o jovem Einstein descartou o éter com a sua teoria da relatividade: ao contrário de todas as outras, as ondas eletromagnéticas podem se propagar no vazio. (É possível que ondas gravitacionais também o façam, assunto que fica para outra semana.)

Para complicar, a luz não tem massa. "Como algo que não tem massa pode existir?", perguntaria o leitor. Em física, energia é mais útil que massa. E a luz tem energia, podendo ser descrita como onda ou partícula: Newton e Maxwell estavam corretos. As partículas de luz, os fótons, têm energia proporcional à frequência. (Vê-se logo a estranheza: uma partícula com frequência, que é propriedade de onda!)

Lembro-me das palavras de Daniel Boorstin: "O maior obstáculo à novas descobertas não é a ignorância; é a ilusão do saber". Mesmo que saibamos tanto sobre o mundo, sabemos ainda tão pouco.
 
MARCELO GLEISER é professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor de "Criação Imperfeita". Facebook: goo.gl/93dHI

Folha de S.Paulo
15/07/2012 

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pequenas práticas de saberes II...

É possível criar uma ontologia particular sem citar a Tradição com base na música, no teatro e na poesia, bem como na literatura.

Segundo Nietzsche, a tarefa do saber é: “ver a ciência sob a ótica do artista, mas a arte sob a ótica da vida”. É a dialética entre a Tradição(História) e a Ruptura(indivíduo). Foucault é filho dessa cultura que não precisa pressupor a História para desenvolver a estrutura lógica de seu pensar.

É sabido por todos que, após as duas grandes guerras mundiais, a razão como modelo único entra em crise porque não atendeu as necessidades básicas que levam o homem ao progresso. “A razão é a imperfeição da inteligência”, segundo Tomás de Aquino, pois, fora quem melhor compreendeu a modernidade da modernidade.

A modernidade fracassou por duas maneiras: a pretensão de um estado nação assumir o controle do mundo com a queda do muro de Berlim; depois, com a Física quântica, derrogando a razão positivista que acreditava esquadrinhar todas as coisas, inclusive o átomo.

O Racionalismo frustra a modernidade como também a desigualdade social mundial, isto é, com o desenvolvimento econômico sustentado das nações.

O grande pecado da modernidade foi espiritualizar o material e materializar o espiritual, tornando o consumismo a sua marca fundamental.

Massificação e sociedade de consumo são as razões do capitalismo.

A ciência não foi capaz de dar estabilidade e segurança social frente às imprevisibilidades do futuro. Não é suficiente para integrar o homem à cultura que lhe é própria. Newton e Descartes são as duas pernas com as quais andamos. Newton com a gravidade universal e Descartes com o Método.

Sendo assim, ciência e razão nos conduziram a sofrimentos e a desorientações pela garantia de um progresso tecnológico. Não foi capaz de sanar a sede de saúde, paz mundial, importância antropológica, política, social e histórica. Frustrou as perspectivas de progresso no século XX.

Edgar Morin nos ensina que o dever principal da educação é armar cada um para o combate vital à lucidez.

Do séc. passado recebemos a lição de que “não sabemos tudo de nada”. Lutamos contra nossas pretensões bélicas, econômicas e racionalistas, mas nos esquecemos de promover o bem-estar social, ecológico, político sustentado pelo mundo a fora.

Daí, passamos por uma devastadora crise de paradigma. Os modelos educacionais ou até do próprio conhecimento não dão conta das exigências complexas por que passa a humanidade.

“O conhecimento do mundo como mundo é necessidade ao mesmo tempo intelectual e vital. É o problema universal de todo cidadão do novo milênio: como ter acesso às informações sobre o mundo e como ter a possibilidade de articulá-las e organizá-las? Como perceber e conceber o Contexto, o Global ( a relação todo/partes), o Multidimensional, o complexo? Para articular e organizar os conhecimentos e assim reconhecer e conhecer os problemas do mundo, é necessária a reforma do pensamento”(Edgar Morin, in Sete Saberes necessários à Educação do Futuro, pág. 35).

Para Morin, a Reforma é paradigmática e, não, programática. Uma educação que fomente a nossa aptidão para organizar o conhecimento.

Aqui é o ponto: Estamos inseridos numa sociedade altamente tecnológica informatizada, onde a Educação precisa mais do que nunca incluir esses valores para tentar responder as expectativas dos alunos e de uma nova compreensão de mundo. Todavia, como unir velocidade de informações e conteúdos via Internet/meios tecnológicos com a capacidade do aluno introjetar/refletir essas mesmas informações? Ou será que a educação está formando sujeitos de desejos ao invés de sujeitos reflexivos?

Uma alternativa ou uma das alternativas para indicar saídas é favorecer a atividade da arte e da filosofia na Educação, ou seja, implementar ações educativas complementares: jogos; filmes; jornal; teatro; música. Tudo isso unido ao poder da reflexão para possibilitar a descoberta de talentos críticos que contribuam na construção de valores e de preservação do meio ambiente.

A conseqüência de tudo isso foi o nosso afastamento de uma vida contemplativa(razão) para nos familiarizar, agora como nunca, com uma vida ativa, interativa audiovisual e lúdica. O desencanto da razão levou-nos ao encanto da música e dos jogos, isto é, do entretenimento midiático. Eis, no entanto, o desafio: educar toda essa massa humana advinda da cultura do entretenimento para as escolas. Se quisermos impactar crianças, adolescentes e jovens com a Educação basta oferecermos a música e o esporte nesse processo, e depois, formar indivíduos reflexivos, cuja meta é a multiplicação dessas práticas de saberes.


Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva

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