segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Platão e o sentido de vida verdadeira

No diálogo Górgias, Platão desenvolve uma sabedoria para a vida, quando afirma por boca de um personagem, evidentemente de um sofista que a verdade está sempre do lado mais forte e que a vida do homem virtuoso é sem sentido. Já o poeta Eurípedes dizia que quem pode saber se o viver não é morrer e se o morrer não é viver? Nós somos mortos e o corpo significa para nós como um túmulo. Platão retoma de qualquer forma esta afirmação que inverte o sentido comum dado a vida, a morte. A vida verdadeira é aquela vivida não na dimensão do corpo, mas sim, da alma. Viver para o corpo significa viver para aquilo que é destinado a morrer. Viver para a alma significa viver para aquilo que é destinado a existir sempre. Platão fornece também as provas da imortalidade da alma, sobretudo no diálogo Fédon. Ele afirma que a alma humana é capaz de conhecer coisas imutáveis e eternas, quer dizer, as idéias. Ora, para poder conhecer tais coisas ela deve possuir, como condição indispensável, uma natureza dotada de afinidades com essas coisas imateriais e eternas, caso contrário, elas não poderiam ser minimamente entendidas.
Conseqüentemente, como essas coisas que a alma conhece são imutáveis e eternas, a alma também deve ser eterna e imutável. A alma é feita da mesma substância da qual são feitas as idéias. A alma é uma realidade que tem afinidade com as idéias, e portanto, pertencem ao mesmo gênero dos entes mais visíveis e não perceptíveis por meio dos sentidos. A alma é de natureza espiritual e racional. Ela é inteligente e imortal. A imortalidade é uma conseqüência da espiritualidade da alma. Se ela é de natureza espiritual significa que é diferente da matéria. A matéria é corruptível. A alma sendo espiritual é incorruptível. Portanto, a alma permanece sempre. A alma não é sujeita a corrupção, ela é imortal. Assim, Platão afirma que no homem existe o corpo que é destinado à morte e a alma que é destinada à vida, a alma é imortal. Afirmada a existência de algo incorruptível e eterno que existe na vida do próprio homem.
A vida do homem nesta dimensão terrena é uma passagem e é uma prova. Os homens são chamados a viver segundo a alma. Se eles vivem ligados ao corpo, as paixões não conseguem, após a morte, separar-se do elemento corpóreo e portanto estas almas se ligam novamente a outros corpos, não apenas de homens, mas também de animais. As almas que tiverem vivido segundo a alma, elas se reencarnam, mas em formas superiores, sempre mais purificadas da matéria. Estamos assim diante da doutrina da reencarnação ou setempsicose que fala de um ciclo de reencarnações para o homem chegar a uma purificação completa da alma.
Com esta doutrina da imortalidade da alma da qual a reencarnação é o aspecto norteador, Platão revoluciona os valores clássicos do mundo grego que eram em ordem, a saúde física, a beleza do corpo, as riquezas honestas, a juventude de vida com os amigos. Platão planta uma na ordem baseada na descoberta do mundo supra-sensível. Os valores ligados ao mundo corpóreo passam e são efêmeros. Os valores verdadeiros são aqueles ligados ao conhecimento da verdade eterna do mundo das idéias. Portanto, o primado é dado à verdade, à justiça e à fortaleza de ânimos.
O verdadeiro eu é o supra-sensível. Portanto, na vida do homem o aspecto mais importante é, como já dizia Sócrates, o cuidado com a alma, através de um processo pelo qual o homem se purifica, chegando sempre mais ao conhecimento do mundo supra-sensível.
Esta é a verdadeira conversão, conhecendo o mundo verdadeiro, a alma cuida de si mesma e realiza a própria purificação. Converte-se e eleva-se. Nisso consiste a virtude. Para Platão, o filósofo é aquele que deseja o mundo eterno e supra-sensível. Portanto, a filosofia é, a um só tempo, desejo da morte, mas enquanto desejo da verdadeira vida. A filosofia é o exercício de vida verdadeira. Admite-se, assim, a Filosofia como um aprender a morrer, uma preparação para a morte.





Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
Confira os blogs:
www.umasreflexoes.blogspot.com
www.chegadootempo.blogspot.com

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Platão e o sentido de vida verdadeira

No diálogo Górgias, Platão desenvolve uma sabedoria para a vida, quando afirma por boca de um personagem, evidentemente de um sofista que a verdade está sempre do lado mais forte e que a vida do homem virtuoso é sem sentido. Já o poeta Eurípedes dizia que quem pode saber se o viver não é morrer e se o morrer não é viver? Nós somos mortos e o corpo significa para nós como um túmulo. Platão retoma de qualquer forma esta afirmação que inverte o sentido comum dado a vida, a morte. A vida verdadeira é aquela vivida não na dimensão do corpo, mas sim, da alma. Viver para o corpo significa viver para aquilo que é destinado a morrer. Viver para a alma significa viver para aquilo que é destinado a existir sempre. Platão fornece também as provas da imortalidade da alma, sobretudo no diálogo Fédon. Ele afirma que a alma humana é capaz de conhecer coisas imutáveis e eternas, quer dizer, as idéias. Ora, para poder conhecer tais coisas ela deve possuir, como condição indispensável, uma natureza dotada de afinidades com essas coisas imateriais e eternas, caso contrário, elas não poderiam ser minimamente entendidas.
Conseqüentemente, como essas coisas que a alma conhece são imutáveis e eternas, a alma também deve ser eterna e imutável. A alma é feita da mesma substância da qual são feitas as idéias. A alma é uma realidade que tem afinidade com as idéias, e portanto, pertencem ao mesmo gênero dos entes mais visíveis e não perceptíveis por meio dos sentidos. A alma é de natureza espiritual e racional. Ela é inteligente e imortal. A imortalidade é uma conseqüência da espiritualidade da alma. Se ela é de natureza espiritual significa que é diferente da matéria. A matéria é corruptível. A alma sendo espiritual é incorruptível. Portanto, a alma permanece sempre. A alma não é sujeita a corrupção, ela é imortal. Assim, Platão afirma que no homem existe o corpo que é destinado à morte e a alma que é destinada à vida, a alma é imortal. Afirmada a existência de algo incorruptível e eterno que existe na vida do próprio homem.
A vida do homem nesta dimensão terrena é uma passagem e é uma prova. Os homens são chamados a viver segundo a alma. Se eles vivem ligados ao corpo, as paixões não conseguem, após a morte, separar-se do elemento corpóreo e portanto estas almas se ligam novamente a outros corpos, não apenas de homens, mas também de animais. As almas que tiverem vivido segundo a alma, elas se reencarnam, mas em formas superiores, sempre mais purificadas da matéria. Estamos assim diante da doutrina da reencarnação ou setempsicose que fala de um ciclo de reencarnações para o homem chegar a uma purificação completa da alma.
Com esta doutrina da imortalidade da alma da qual a reencarnação é o aspecto norteador, Platão revoluciona os valores clássicos do mundo grego que eram em ordem, a saúde física, a beleza do corpo, as riquezas honestas, a juventude de vida com os amigos. Platão planta uma na ordem baseada na descoberta do mundo supra-sensível. Os valores ligados ao mundo corpóreo passam e são efêmeros. Os valores verdadeiros são aqueles ligados ao conhecimento da verdade eterna do mundo das idéias. Portanto, o primado é dado à verdade, à justiça e à fortaleza de ânimos.
O verdadeiro eu é o supra-sensível. Portanto, na vida do homem o aspecto mais importante é, como já dizia Sócrates, o cuidado com a alma, através de um processo pelo qual o homem se purifica, chegando sempre mais ao conhecimento do mundo supra-sensível.
Esta é a verdadeira conversão, conhecendo o mundo verdadeiro, a alma cuida de si mesma e realiza a própria purificação. Converte-se e eleva-se. Nisso consiste a virtude. Para Platão, o filósofo é aquele que deseja o mundo eterno e supra-sensível. Portanto, a filosofia é, a um só tempo, desejo da morte, mas enquanto desejo da verdadeira vida. A filosofia é o exercício de vida verdadeira. Admite-se, assim, a Filosofia como um aprender a morrer, uma preparação para a morte.





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