A cada ano vislumbramos uma explosão avassaladora de
pessoas que querem buscar a boa forma. O verão já chegou e um certo
“frenesi” acompanha aqueles que, a qualquer custo, não poupam
esforços por um corpo sarado, sem os famosos culotes, barriguinhas,
etc. As academias estão lotadas e os calçadões das cidades
repletos de gente que não se cansa de lutar contra os excessos de
peso no corpo, sinônimo de feiúra e de incontinência alimentar.
A sociedade, que agora se apresenta, estampa em suas
vitrines de cultura televisiva e virtual diversos padrões de
comportamentos, dentre os quais são vendidos sem nenhuma reflexão,
mas simplesmente negociados à revelia dos desejos desmedidos e
irresponsáveis da população. Isso é muito preocupante porque as
pessoas estão emagrecendo e engordando sem qualidade de vida, sem
saúde. A saúde, bem como a doença que é a sua falta, desponta
aqui como um alerta ou indicador de que precisamos urgentemente
pensar a saúde. Às vezes, muita atenção ao corpo ou uma
alucinadora inquietação para com ele pode representar doença e não
saúde: “(...) Diferentemente da enfermidade, a saúde não é
nunca causa de preocupação, antes, quase nunca somos conscientes de
estarmos sadios. Não é condição que convida ou adverte a cuidar
de si próprios: de fato, implica a surpreendente possibilidade de
ser esquecido de si”(Gadamer, Dove si nasconde la salute, … In
REALE, Giovanni. Corpo, Alma e Saúde. O conceito de homem de Homero
a Platão. São Paulo: Paulus, 2002, pág. 185).
Estranho,
enquanto damos muita atenção ao
corpo a ponto de nos preocuparmos com ele demasiadamente, mais
próximos estamos
da enfermidade. Não seria uma doença moderna essa excessiva
obsessão por exercícios físicos?
A
corrida por um corpo malhado, sarado e fisicamente em forma não pode
ser motivada apenas pela estética, pelo prazer de desfilá-lo nas
praias, clubes, calçadões e ruas, mas tem de existir também um
sentido de satisfação interna, conforto e bem-estar, felicidade e
enchimento de si. Ou seja, tudo começa com um corpo bem cuidado na
“medida certa”, na “justa medida”, como diz a metafísica de
Platão. Os filósofos se esmeravam nisso, numa saúde do corpo e da
alma voltada para o equilíbrio. É óbvio que a educação física
constante e frequente tira o enfado, a preguiça e aumenta a
concentração e a disposição para o trabalho! Parece até que
voltamos à Grécia, à disciplina com relação ao corpo e com o
perfeccionismo atlético, no entanto, falta-nos o equilíbrio físico
e intelectual, falta-nos metafísica, falta-nos “justa medida”.
A rotina de malhação
e educação física aumenta cada vez mais. É cada vez mais comum
vermos gente caminhando, pedalando, correndo e se exercitando nas
academias, pois, enquanto muitos têm de suar para deixar o corpo em
dia, pronto para o verão, outros vêm fazendo o possível em
continuar a frequência extenuante de exercícios físicos para
manter a saúde do corpo, debilitado pelo tempo ou pelo excesso de
trabalho.
A saúde é um tema
emblemático. Veja que ao pronunciarmos a palavra “saúde”
enchemos a boca quase que completamente de vida, de gozo, de saliva.
Ela tem importância. Representa o ponto de equilíbrio e saciedade
da pessoa humana. A saúde reveste os binômios filosóficos
“aparência/ideia”, “corpo/alma”, “sensível/inteligível”,
“experiência/razão”, “existência/essência” de unidade, de
beleza e de bem-estar no ser humano, de tal modo que a vida mesma com
saúde se torna mais leve, mais amena e muito mais feliz. Quando isso
de fato está ocorrendo é porque a educação está funcionando como
uma tomada de consciência do sujeito frente aos desequilíbrios
naturais de seu organismo.
Sendo assim, a
nossa saúde depende da Filosofia a fim de encontrar os meios mais
sábios de equilíbrio de tudo aquilo que há na natureza, de
restaurar a “justa medida”em nossa natureza. Saber o “mais”,
o “menos”, “proporção”, “peso”, “excessos”, enfim.
Lidar com isso é fazer Filosofia da saúde, uma se liga com a outra:
“O médico é chamado a restaurar a medida oculta, quando
a doença vem alterá-la. Em estado de saúde, a própria natureza se
encarrega de implantá-la, ou antes, é ela própria a justa medida.
O conceito de mistura, tão importante, e que na realidade representa
uma espécie de justo equilíbrio entre as diversas forças do
organismo, anda estreitamente relacionado com os de medida e de
simetria. É de acordo com esta norma – assim a devemos denominar –
cheia de sentido que a natureza age...”(Jaeger, Paideia, … In
idem, p. 186).
Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia e
Bacharel em Teologia
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