Nestes 20 anos sem Ayrton Senna nas pistas de
automobilismo da F1, é preciso fazer uma possível reflexão sobre a sua morte ao
destacarmos os outros 34 anos de sua vida como os que permitiram fazê-lo nascer
todos os dias na memória do povo brasileiro e do mundo. Segundo Lucrécio, discípulo
de Epicuro, são os anos de nossas vidas responsáveis por escaparmos da “mors
aeterna”. Há 20 anos não, mas há 54 anos que Ayrton certamente escapou natural
e conscientemente da “mors aeterna”.
Por isso, fiquemos a pensar um precioso texto de Fernando Savater in Perguntas da vida: “ ‘Vê também os séculos infinitos que precederam nosso nascimentos e nada são para a vida nossa. Natureza neles nos oferece como um espelho do futuro tempo, por último, depois de nossa morte. Há algo aqui de horrível e enfadonho? Não é mais seguro do que um profundo sonho?’[Lucrécio, De rerum natura, livro III]. Preocupar-nos com os anos e os séculos em que já não estaremos entre os vivos é tão infundado quanto preocupar-nos com os anos e os séculos em que ainda não tínhamos vindo ao mundo. Nem antes nos doeu não estar nem é razoável supor que depois vá nos doer nossa ausência definitiva. No fundo, quando a morte nos fere através da imaginação – coitado de mim, todos tão felizes desfrutando do sol e do amor, todos menos eu, que nunca mais, nunca mais...! – é precisamente agora que ainda estamos vivos. Talvez devêssemos refletir um pouco mais sobre o assombro de ter nascido, que é tão grande quanto o espantoso assombro da morte. Se a morte é não ser, já a vencemos uma vez: no dia em que nascemos. É o próprio Lucrécio que fala, em seu poema filosófico, da mors aeterna, a morte eterna do que nunca foi nem será. Pois bem, nós seremos mortais, mas da morte eterna já escapamos. A essa morte enorme roubamos um certo tempo – os dias, meses ou anos que vivemos, cada instante que continuamos vivendo – , e esse tempo, aconteça o que acontecer, sempre será nosso, dos triunfalmente nascidos, e nunca seu, apesar de que depois também devamos, irremediavelmente, morrer. No século XVIII, um dos espíritos mais perspicazes que já houve – Lichtenberg – dava razão a Lucrécio em um de seus célebres aforismos: “Por acaso já não ressuscitamos? De fato, provimos de um estado em que sabíamos do presente menos do que sabemos do futuro. Nosso estado anterior é para o presente o que o presente é para o futuro”(p. 23-24).
Por isso, fiquemos a pensar um precioso texto de Fernando Savater in Perguntas da vida: “ ‘Vê também os séculos infinitos que precederam nosso nascimentos e nada são para a vida nossa. Natureza neles nos oferece como um espelho do futuro tempo, por último, depois de nossa morte. Há algo aqui de horrível e enfadonho? Não é mais seguro do que um profundo sonho?’[Lucrécio, De rerum natura, livro III]. Preocupar-nos com os anos e os séculos em que já não estaremos entre os vivos é tão infundado quanto preocupar-nos com os anos e os séculos em que ainda não tínhamos vindo ao mundo. Nem antes nos doeu não estar nem é razoável supor que depois vá nos doer nossa ausência definitiva. No fundo, quando a morte nos fere através da imaginação – coitado de mim, todos tão felizes desfrutando do sol e do amor, todos menos eu, que nunca mais, nunca mais...! – é precisamente agora que ainda estamos vivos. Talvez devêssemos refletir um pouco mais sobre o assombro de ter nascido, que é tão grande quanto o espantoso assombro da morte. Se a morte é não ser, já a vencemos uma vez: no dia em que nascemos. É o próprio Lucrécio que fala, em seu poema filosófico, da mors aeterna, a morte eterna do que nunca foi nem será. Pois bem, nós seremos mortais, mas da morte eterna já escapamos. A essa morte enorme roubamos um certo tempo – os dias, meses ou anos que vivemos, cada instante que continuamos vivendo – , e esse tempo, aconteça o que acontecer, sempre será nosso, dos triunfalmente nascidos, e nunca seu, apesar de que depois também devamos, irremediavelmente, morrer. No século XVIII, um dos espíritos mais perspicazes que já houve – Lichtenberg – dava razão a Lucrécio em um de seus célebres aforismos: “Por acaso já não ressuscitamos? De fato, provimos de um estado em que sabíamos do presente menos do que sabemos do futuro. Nosso estado anterior é para o presente o que o presente é para o futuro”(p. 23-24).
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