Diferente do que aponta radicalmente
a tradição sobre a figura fascinante de Jesus; sem muita teologia; sem tantos adornos majestosos, fantásticos; entretanto, resgatar a referência de
Jesus como um homem da periferia implica reter em sua história um contexto que
lhe é próprio, modesto, mas que lhe fora negado por séculos. Somente agora nos
últimos vinte ou trinta anos estamos reconstruindo um modo novo de revisitar os
textos bíblicos à luz da historiografia em diálogo com a Arqueologia.
Trata-se, na verdade, de redescobrir
em nossa vida o Jesus histórico. Do contrário, parece que legamos um
cristianismo extremamente ideológico, moralista e autoritário sem abertura para
o diferente de si, porém sistemático, fechado num esquema de autodefesa
ortodoxa de algumas instituições religiosas que nos impedem de pensar um Jesus
humano, trabalhador, atrelado à sua terra, aos seus valores e pronto a
confrontar as estruturas econômicas, políticas, culturais e religiosas de sua
época.
Os últimos estudos históricos de
Jesus afirmam que era um homem do séc. I EC, um galileu situado numa região
geograficamente delimitada na Palestina, sendo a Galileia este lugar no extremo
norte dessa região, muito próxima às fronteiras explosivas de conflito em
contato com outros impérios. É oportuno distinguir aqui um judeu nascido em
Nazaré da Galileia de outro judeu nascido em Jerusalém da Judeia, visto serem
duas regiões muito diferentes; de matrizes geográficas, econômicas, políticas e
culturais muito diversas. Porque Nazaré encontra-se situada na periferia da
Galileia e esta, por sua vez, na periferia da Palestina e do Império Romano,
Jesus é historicamente um homem da periferia.
A partir dessa reflexão que ora fazemos, precisamos continuar
avançando e reelaborando conceitos e valores. O que a tradição cristã elaborou
sobre o Jesus “revelado” nos Evangelhos durante mais de dois mil anos se
cristalizou em nossas cabeças pensantes, de tal modo que nos fez distanciar da
tamanha riqueza de informações das origens de Jesus e do tipo de judaísmo que
ele retinha. Ficamos refém de um discurso dogmático ou ortodoxo sobre Jesus por
muito tempo, ao ponto de não nos interessarmos tanto por esse assunto.
Pressupondo
que Jesus é basicamente um homem da periferia, mais precisamente um camponês de
origens extremamente pobres, somando-se a isso o fato de ser carpinteiro, mas
não um carpinteiro que tinha casa, um lugar para trabalhar, terras para
cultivar, é possível pensá-lo de um contexto simples, concreto; de homens
comuns. Embora a carpintaria na época fosse um ofício de “status” social, a de
Jesus era diferente porque “as raposas têm tocas e as aves do céu, ninhos; mas o
filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8.20). No caso de Jesus, o trabalho
de carpinteiro era inferior ao do camponês, pois fazia ferramentas para a
manutenção do campesinato. Não tendo nada, Jesus precisava andar, sair, migrar
para outros lugares à procura de casas para construir. Provavelmente, devia ser
um construtor em constante caminhar, pronto para trabalhar; um reino a
desbravar.
Se
nos deixarmos guiar por essa ideia catalisadora de um Jesus da periferia,
veremos claramente seu projeto de salvação a caminho para a cruz e configurando-se
como modelo para toda a humanidade. Ao pegarmos os movimentos, as ações e
palavras de Jesus nos textos que nos alcançaram, certamente entenderemos a
preocupação de Jesus com os mais pobres, doentes e excluídos. E somente quando
recuperamos a figura histórica de Jesus como um camponês da periferia,
carpinteiro ou artesão, de Nazaré da Galileia que andou e pregou para muita
gente é que, de fato, conseguimos ver a autenticidade e a coerência de seu
discurso político, econômico, ético, religioso e cultural.
Lembremos:
“Mostrai-me um denário. De quem traz a imagem e a inscrição? Responderam: De
César. Ele disse então: Devolvei, pois, o que é de César a César, e o que é de
Deus a Deus” (Lc 20. 24-25); “Em verdade vos digo que um rico dificilmente
entrará no Reino dos Céus. E vos digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo
buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mt 19. 23-24);
“Tudo aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a
eles, pois esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7. 12); “Destruí este templo, e em
três dias eu o levantarei” (Jo 2. 19); “Uma mulher da Samaria chegou para tirar
água. Jesus lhe disse: Dá-me de beber!(...) Diz-lhe então a Samaritana: Como,
sendo judeu, tu me pedes de beber, a mim que sou samaritana?” (Jo 4. 7-8).
Especialmente nesta semana santa, possamos reconstruir uma imagem diferente e inovadora de um Jesus que experimenta a vasta onda do helenismo de seu tempo; um Jesus que coexiste com o judaísmo e com toda a cultura Greco-macedônica; um Jesus inserido em seu contexto histórico-cultural bastante diverso e plural; um Jesus que nasceu judeu, viveu judeu e morreu judeu. Mas tudo que conhecemos de Jesus está em grego, porém só falou aramaico, provavelmente não leria nada do que fora escrito sobre ele. Esse Jesus, fonte das pesquisas recentes da História, da Antropologia e da Arqueologia desconstrói toda aquela grandeza de um Jesus quase intocável, herdeiro de um discurso glorioso, mágico e fabuloso de algumas culturas religiosas.
Especialmente nesta semana santa, possamos reconstruir uma imagem diferente e inovadora de um Jesus que experimenta a vasta onda do helenismo de seu tempo; um Jesus que coexiste com o judaísmo e com toda a cultura Greco-macedônica; um Jesus inserido em seu contexto histórico-cultural bastante diverso e plural; um Jesus que nasceu judeu, viveu judeu e morreu judeu. Mas tudo que conhecemos de Jesus está em grego, porém só falou aramaico, provavelmente não leria nada do que fora escrito sobre ele. Esse Jesus, fonte das pesquisas recentes da História, da Antropologia e da Arqueologia desconstrói toda aquela grandeza de um Jesus quase intocável, herdeiro de um discurso glorioso, mágico e fabuloso de algumas culturas religiosas.
Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Bel. e Licenciado em Filosofia, Bel. em
Teologia, Esp. em Metafísica e em Estudos Clássicos
Páginas
na net: www.umasreflexoes.blogspot.com
; www.chegadootempo.blogspot.com
; www.twitter.com/filoflorania
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