quarta-feira, 14 de março de 2012

O silêncio das massas


O provérbio bíblico “as palavras são de prata, mas o silêncio vale ouro” tem muito a nos dizer. O silêncio, tantas vezes criticado, é a melhor maneira de não dar com a língua nos dentes. O “quem cala consente” não é verdade, principalmente quando o silêncio é uma presença de indignação. Uma indignação que exige respeito e tolerância do “tudo tem limite”. Às vezes, precisamos calar pra não sermos mal compreendidos ou pra reclamar, com ausência da voz, o limite do outro.
No entanto, lanço-me completamente em direção a quem se expressa, a quem tem atitude, a quem se manifesta. Numa democracia, mesmo disfarçada de outras coisas, não podemos abrir mão da fala, não devemos sublimar o grito das massas, o desengasgo daqueles que são reprimidos pela violência dos poderes acéfalos. Acontece também que tem muita gente se escondendo atrás do seu próprio silêncio, fingindo sensatez, mas não tem nada disso, é apenas oportunismo e covardia. Oportunismo para tirar vantagens em cima dos outros e covardia para não mostrar a cara, para não mostrar quem é, para não expor suas posições. Bobagem, uma hora ou outra tudo vem à tona.
Repare bem, a ditadura cerceou nossos direitos de defesa; declarou legítima a tortura e a indigência de inocentes; sufocou sonhos de jovens lideranças; arruinou centenas de milhares de vidas; disseminou o medo e o terror pelo mundo; destruiu inúmeras carreiras bem sucedidas. Passados mais de vinte cinco anos, ainda não aprendemos com a Democracia e continuamos a interferir onde não devemos. Queremos meter o nariz onde não nos convém. Por que temos que desgraçar o que é público em nome do privado? Por que as autoridades insistem em sufocar as liberdades individuais? Ora, se nem Deus se permite a isso, por que nos permitimos a um descalabro desses?
Quem não lembra da Alemanha nazista, da União Soviética stalinista e da Itália fascista! Guardando as devidas proporções, sem nenhum saudosismo, existem alguns focos espalhados no Brasil desse tipo cruel de regime político que vem favorecendo a classe dominadora e excluindo os dominados de uma sociedade esfacelada pela corrupção. Em nome da corrupção se mata, se esconde e se oprime muita gente no estado que se diz democrático de direito. Não é brincadeira o que se faz nas eleições brasileiras, de norte a sul, de leste a oeste do país. Se barganha quase nada pelo voto em tempos de eleição. É lamentável! Vivemos um certo esfriamento da consciência política, justamente por não vermos as transformações acontecerem com mais eficácia no campo social e político. No jurídico, as leis não são efetivamente cumpridas e isso facilita o aumento de casos de corrupção no país.
O problema da corrupção política no Brasil é crônico. Das pequenas às grandes cidades são inúmeros os casos de desvio de verba pública para fins particulares dos próprios políticos que exercem o governo. Um governo de si mesmo. Muitos governam para si mesmo. “Sua autoridade termina onde principia a autocracia da minoria dominante. Ela regula as oscilações de promessas falsas e de opressão real, incrustadas nas instituições quimericamente 'constitucionais'” (FERNANDES, Florestan. Herança maldita. Folha de S. Paulo, 10 out. 1994, p. 1).
Levantar a voz contra esse problema devia ser função legítima nossa, sem medo algum, até porque conquistamos efetivamente nossa democracia. Manifestar-se contra as arbitrariedades de um governo irresponsável é exercício nosso de cidadania e faz bem à consciência e ao patrimônio público. Infelizmente, o silêncio das massas nunca foi tão sentido quanto agora, talvez por um certo “conforto” econômico por que passa o país ou pela nova mentalidade ecológica de conservação do planeta, sinceramente não sei. E sei, sim, que o silêncio guarda algo que não quer calar. Vejam só o que dizem Chico Buarque e Gilberto Gil na música “cálice”, um tremendo trocadilho de “cale-se” para expressar a indignação popular contra a censura:
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
Não se deixe calar, permita-se falar. Exerça um direito seu que já foi proibido!
Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia e Bacharel em Teologia

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quarta-feira, 14 de março de 2012

O silêncio das massas


O provérbio bíblico “as palavras são de prata, mas o silêncio vale ouro” tem muito a nos dizer. O silêncio, tantas vezes criticado, é a melhor maneira de não dar com a língua nos dentes. O “quem cala consente” não é verdade, principalmente quando o silêncio é uma presença de indignação. Uma indignação que exige respeito e tolerância do “tudo tem limite”. Às vezes, precisamos calar pra não sermos mal compreendidos ou pra reclamar, com ausência da voz, o limite do outro.
No entanto, lanço-me completamente em direção a quem se expressa, a quem tem atitude, a quem se manifesta. Numa democracia, mesmo disfarçada de outras coisas, não podemos abrir mão da fala, não devemos sublimar o grito das massas, o desengasgo daqueles que são reprimidos pela violência dos poderes acéfalos. Acontece também que tem muita gente se escondendo atrás do seu próprio silêncio, fingindo sensatez, mas não tem nada disso, é apenas oportunismo e covardia. Oportunismo para tirar vantagens em cima dos outros e covardia para não mostrar a cara, para não mostrar quem é, para não expor suas posições. Bobagem, uma hora ou outra tudo vem à tona.
Repare bem, a ditadura cerceou nossos direitos de defesa; declarou legítima a tortura e a indigência de inocentes; sufocou sonhos de jovens lideranças; arruinou centenas de milhares de vidas; disseminou o medo e o terror pelo mundo; destruiu inúmeras carreiras bem sucedidas. Passados mais de vinte cinco anos, ainda não aprendemos com a Democracia e continuamos a interferir onde não devemos. Queremos meter o nariz onde não nos convém. Por que temos que desgraçar o que é público em nome do privado? Por que as autoridades insistem em sufocar as liberdades individuais? Ora, se nem Deus se permite a isso, por que nos permitimos a um descalabro desses?
Quem não lembra da Alemanha nazista, da União Soviética stalinista e da Itália fascista! Guardando as devidas proporções, sem nenhum saudosismo, existem alguns focos espalhados no Brasil desse tipo cruel de regime político que vem favorecendo a classe dominadora e excluindo os dominados de uma sociedade esfacelada pela corrupção. Em nome da corrupção se mata, se esconde e se oprime muita gente no estado que se diz democrático de direito. Não é brincadeira o que se faz nas eleições brasileiras, de norte a sul, de leste a oeste do país. Se barganha quase nada pelo voto em tempos de eleição. É lamentável! Vivemos um certo esfriamento da consciência política, justamente por não vermos as transformações acontecerem com mais eficácia no campo social e político. No jurídico, as leis não são efetivamente cumpridas e isso facilita o aumento de casos de corrupção no país.
O problema da corrupção política no Brasil é crônico. Das pequenas às grandes cidades são inúmeros os casos de desvio de verba pública para fins particulares dos próprios políticos que exercem o governo. Um governo de si mesmo. Muitos governam para si mesmo. “Sua autoridade termina onde principia a autocracia da minoria dominante. Ela regula as oscilações de promessas falsas e de opressão real, incrustadas nas instituições quimericamente 'constitucionais'” (FERNANDES, Florestan. Herança maldita. Folha de S. Paulo, 10 out. 1994, p. 1).
Levantar a voz contra esse problema devia ser função legítima nossa, sem medo algum, até porque conquistamos efetivamente nossa democracia. Manifestar-se contra as arbitrariedades de um governo irresponsável é exercício nosso de cidadania e faz bem à consciência e ao patrimônio público. Infelizmente, o silêncio das massas nunca foi tão sentido quanto agora, talvez por um certo “conforto” econômico por que passa o país ou pela nova mentalidade ecológica de conservação do planeta, sinceramente não sei. E sei, sim, que o silêncio guarda algo que não quer calar. Vejam só o que dizem Chico Buarque e Gilberto Gil na música “cálice”, um tremendo trocadilho de “cale-se” para expressar a indignação popular contra a censura:
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue
Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta
Como é difícil acordar calado
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa
De muito gorda a porca já não anda
De muito usada a faca já não corta
Como é difícil, pai, abrir a porta
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade
Mesmo calado o peito, resta a cuca
Dos bêbados do centro da cidade
Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
Não se deixe calar, permita-se falar. Exerça um direito seu que já foi proibido!
Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia e Bacharel em Teologia

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