Se na história não
procurarmos só uma data ou um facto descarnado, mas tentarmos nela
descobrir alguma coisa mais, um princípio harmônico e as leis que
governam esses factos, ainda nas suas menores evoluções, veremos que a
história da civilização da mulher, do seu desenvolvimento e da sua
moralidade, anda sempre ligada aos factos do desenvolvimento da
civilização e da moralidade dos povos: veremos que aonde a sua condição
se amesquinha, onde desce em dignidade, onde a mulher em vez do triplo e
sagrado caráter de amante, esposa e mãe passa a ser escrava sem
liberdade nem vontade, só destinada a saciar as paixões brutais dum
senhor devasso, aí também veremos descer o nível da civilização e
moralidade: à doçura dos costumes suceder a fereza e a brutalidade; e em
vez do amor, essa flor do sentimento pura e recatada, só apareceram a
paixão instintiva e brutal, necessidade puramente física do animal que
obedece à lei da reprodução, à devassidão e à poligamia!
Antero de Quental, in 'Prosas da Época de Coimbra'
Antero de Quental, in 'Prosas da Época de Coimbra'
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