por Juan G. Bedoya, do El País
Na Time, uma questão
discutida desde Epicuro
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Entre os filósofos que colocaram a ênfase na morte de Deus costuma
citar-se, sobretudo, Nietzsche e também Hegel. Não tiveram uma ideia
original. Já estava na lógica da tradição luterana, assim como na de
Santo Agostinho e São Paulo. Junto com Hegel, foi este último que
sublinhou, no entanto, que a morte de Deus em Jesus era um aspecto
inevitável da humanidade de Deus. Respaldou sua afirmação apelando ao
grito de “Deus mesmo está morto” procedente de um hino luterano, tão
clássico que J. S. Bach o harmonizou e Brahms o converteu em tema de um
prelúdio para órgão: O Traurigkeit, O Herzeleid (Oh tristeza! Oh
pena do coração!). Nietzsche, simplesmente, inverteu a lógica da
tradição paulina porque considerava que, com a peripécia de Cristo no
calvário, Deus não apenas estava no banco, mas que havia sido condenado e
executado.
Para os teólogos, a questão é mais dramática. A teologia é uma linguagem sobre Deus (um logos sobre theos), assim que não há nada mais raro do que ver um teólogo dizer que Deus está morto, que nunca existiu, ou que ele não o encontra. Naturalmente, se o teólogo está comprometido com o ser humano neste mundo, o problema é de fundo também para os crentes. Trata-se do debate sobre a incompatibilidade de dois atributos de Deus, de seu deus: o da bondade e o da onipotência.
Para os teólogos, a questão é mais dramática. A teologia é uma linguagem sobre Deus (um logos sobre theos), assim que não há nada mais raro do que ver um teólogo dizer que Deus está morto, que nunca existiu, ou que ele não o encontra. Naturalmente, se o teólogo está comprometido com o ser humano neste mundo, o problema é de fundo também para os crentes. Trata-se do debate sobre a incompatibilidade de dois atributos de Deus, de seu deus: o da bondade e o da onipotência.
A questão foi colocada primeiro por Epicuro, em uma formulação que
sempre angustia os estudantes da disciplina que Leibniz batizou de
teodiceia: Deus, diante do mal, ou quer eliminá-lo, mas não pode; ou não
quer; ou não pode e não quer, ou pode e também quer. No primeiro caso,
Deus não seria onipotente, no segundo não seria bondoso ou moralmente
perfeito, no terceiro não seria nem onipotente nem bondoso ou moralmente
perfeito, e no quarto Epicuro coloca a pergunta acerca de qual é a
origem dos males e porque Deus não os elimina. Voltaire se perguntou a
mesma coisa após o terremoto que destruiu Lisboa em 1755, e desde então
não paramos de perguntá-lo aos teólogos diante de tanta tragédia.
William Hamilton (Evanston, Illinois, 1924) foi um dos teólogos com respostas contundentes, desde o polêmico movimento da teologia da morte de Deus, do qual foi um destacado representante (junto com Thomas Altizer, Paul van Buren e Gabriel Vahanian). Com o primeiro assinou um livro de sucesso: "Teologia radical e a morte de Deus", em 1966. Quatro anos antes havia publicado sozinho "A nova essência do cristianismo", obra também traduzida logo para o castelhano, primeira de uma dezena de obras filosóficas ou teológicas. Hamilton morreu no dia 13 passado em Portland (Oregon). Tinha 87 anos.
Um famoso artigo de capa na Time Magazine, publicado há mais de quatro décadas, dá uma ideia da difusão deste movimento. Hamilton conta que se fez a pergunta de Epicuro quando dois amigos seus – um episcopaliano e um católico – morreram em uma explosão de bomba, tanto assim que um terceiro – que era ateu – ficou ileso.
William Hamilton (Evanston, Illinois, 1924) foi um dos teólogos com respostas contundentes, desde o polêmico movimento da teologia da morte de Deus, do qual foi um destacado representante (junto com Thomas Altizer, Paul van Buren e Gabriel Vahanian). Com o primeiro assinou um livro de sucesso: "Teologia radical e a morte de Deus", em 1966. Quatro anos antes havia publicado sozinho "A nova essência do cristianismo", obra também traduzida logo para o castelhano, primeira de uma dezena de obras filosóficas ou teológicas. Hamilton morreu no dia 13 passado em Portland (Oregon). Tinha 87 anos.
Um famoso artigo de capa na Time Magazine, publicado há mais de quatro décadas, dá uma ideia da difusão deste movimento. Hamilton conta que se fez a pergunta de Epicuro quando dois amigos seus – um episcopaliano e um católico – morreram em uma explosão de bomba, tanto assim que um terceiro – que era ateu – ficou ileso.
Perguntou-se porque os inocentes sofrem e se Deus intervém nas vidas das
pessoas. Respondeu: “Dizer que Deus morreu é dizer que deixou de
existir como ser transcendental e se tornou imanente ao mundo. As
explicações não teístas substituíram as teístas. É uma tendência
irreversível; é preciso fazer-se a ideia da morte histórico-cultural de
Deus. É preciso aceitar que Deus se foi e considerar o mundo secular
como normativo intelectualmente e bom eticamente”.
Leia mais em http://www.paulopes.com.br/2012/03/morre-teologo-que-defendeu-que-mundo.html#ixzz1qGBZsibE
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