Esta expressão atravessou as eras desde que saiu da boca de Deus e
foi ao encontro de um homem que tinha uma missão quase impossível,
a de libertar da escravidão o povo escolhido por Deus para ser sinal
de uma verdadeira aliança entre Ele e os homens.
De lá para cá, em meio a obediências e desobediências, jamais
Deus abandonou o seu povo, fazendo valer a sua fidelidade e a marca
de sua presença maravilhosa em nosso meio, vindo a cumprir tudo que
havia prometido numa única e exclusiva pessoa, seu Filho, Jesus
Cristo.
Deus disse: Eu sou Aquele que É. Esta revelação foi interpretada
pelos exegetas de duas formas: A primeira, num sentido causativo
mesmo, quer dizer, eu sou a causa do ser, de tudo aquilo que existe,
a origem de todas as coisas. A segunda forma é o sentido relativo
que se apresenta assim: Eu Sou Aquele que está a favor do seu povo,
aquele que está em relação ao seu povo. Este segundo sentido
acentua mais o valor histórico da revelação do nome de Deus. Um
Deus que se manifestava ali, na frente de Moisés, como um sinal vivo
e presente de esperança. Um Deus que não só libertará seu povo,
mas que suprirá todas as suas necessidades reais e presentes.
No Sinai, não se trata de uma Revelação Metafísica de Deus, como
afirma a filosofia do ser. Ainda mais porque é uma especulação
abstrata e estranha à mentalidade dos hebreus e dos povos semitas em
geral. Por isso, Êxodo 3.14, nos seus dois sentidos não indica uma
reflexão meramente filosófica, mas pura e simples autocomunicação
de Deus. Deus se revela como presença incorruptível ao lado do
homem, como uma realidade viva que não se desgasta, que não se
consome. Essa é a potência da figura da sarsa ardente e de todas as
circustâncias que envolve este importante episódio bíblico.
Quando Moisés se encontra com Deus no Monte Sinai uma certeza se
abre no horizonte de dúvidas de Moisés: Há uma saída para o meu
povo. Diante da missão que Deus lhe pede, Moisés externa a sua
pequenez, sua incerteza e sua insegurança: “Quem sou eu, que vá
a Faraó e tire do Egito os filhos de Israel?”(Ex 3.11). Moisés
não sabia disso, mas não importa quem seja ele, grande ou pequeno,
rico ou pobre, poderoso ou fraco, o que de fato importa é que Moisés
já tinha sido escolhido para ser sinal ali da presença maravilhosa
e extraordinária de Deus. Deus tinha que usar alguém e usou a
Moisés para ser seu servo e comprovar toda a sua obediência.
Porque, segundo o texto, Deus é simplesmente assim e pronto: “Eu
Sou o que Sou. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou
me enviou a Vós. E Deus disse mais a Moisés: Assim dirás aos
filhos de Israel: O Senhor, o Deus de Vossos pais, o Deus de Abraão,
o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós; este é meu
nome eternamente, e este é meu memorial de geração em geração”(Ex
3.14-15).
Com essas palavras, diria mais, com sua presença majestosa que
preenche tudo, Deus exime todas as suspeitas de uma missão mal
sucedida. Deus também afasta para bem longe as inúmeras espécies
de dúvidas no coração de seu escohido, Moisés. Sendo assim,
restará a Moisés obedecer e confiar em alguém que lhe pôs o Ser.
Em alguém que não só lhe deu o ser, mas que se permitiu por em seu
caminho. Veja bem, Deus saiu de si e permitiu-se entrar na vida dos
homens! Isso é maravilhoso. Será preciso honrar tudo isso. Nas mãos
de Moisés ferve a esperança de um povo e a mudança de uma
história.
Parece ser muito complicado fazer filosofia de um texto dessa
natureza, mas se tentarmos uma aproximação não pode ser somente
pela via da especulação racional, mas da vida. Quem se aproximou um
pouco dessa compreensão foi Tomás de Aquino, cuja Filosofia se
desenvolveu na Alta Idade Média, séc. XII, XIII e XIV, beirando o
Renascimento. Para Tomás, Deus é pura subsistência de ser, Deus é
o ser por excelência. “Ipsum esse subsistens”. É
uma afirmação por via puramente racional. Tomás não usa textos
bíblicos para isso. Porém, o contexto histórico no qual Tomás
vive é um contexto de comunidade cristã, é um contexto impregnado
pela revelação cristã. Os argumentos de Tomás de Aquino não
partem de uma razão abstrata, mas partem de uma vida. É a partir de
uma vida que ele faz um aprofundamento em relação a Aristóteles.
Isso é possível por causa de uma vida, pelo fato de viver num mundo
dominado pela concepção da Revelação.
Prof. Jackislandy Meira de Medeiros
Silva
Licenciado em Filosofia, Bacharel em
Teologia e Especialista em Metafísica
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