É gratificante ler Lévinas por um motivo muito simples, a minha subjetividade vem afirmada pela proximidade do outro. Sou eu quando o meu eu se permite entrar em contato com o outro. No dizer de Lévinas é assim: “Próximo é o que permite que o Eu seja Eu, se constitua como subjetividade pelo que a significação própria da subjetividade é a proximidade”. É muito comum entre nós se dizer “bom dia”, “como vai?”, “você está bem?”, “Olá”, enfim, antes de se falar com o outro, segundo Lévinas, é uma saudação como esta que provoca abertura a. Num certo sentido, o pensamento, a própria dúvida de Descartes, é sempre palavra. Não se trata aqui da questão meramente psicológica, sentimental, de saber se pode um pensamento sem palavra. Mesmo se isso existir, o pensamento quer ser palavra. E, falando(dirigindo-lhe a palavra), já se encontrou o outro.
Sua proposta filosófica é bastante íngreme, porém permeada de doçura e inteligência a partir do momento em que a relação com o outro se torna uma relação fundamental, pois é sobre ela que se enxertam o ser e o saber. “A partir da experiência da totalidade, pode-se passar a uma situação na qual a totalidade se despedaça, pois essa situação condiciona a própria totalidade. Essa situação é o fulgor da exterioridade ou da transcendência no rosto dos outros. O conceito dessa transcendência rigorosamente desenvolvido se exprime com o termo infinito”(Totalidade e Infinito, p. 23). O outro, pelo simples fato de existir, é razão do viver e do viver junto, porque é desafio a sair de si, a viver o êxodo sem retorno do amor.
Lado a lado com a alteridade, Lévinas afirma que a felicidade baseada no consumo decadente visa apenas alcançar objetivos desenfreados a fim de consumir o sujeito num vácuo de sentido sempre maior. Ao passo que se entrevê a possível felicidade quando se entende que as razões do viver estão em outros e há um motivo verdadeiro para viver na medida em que se tem a quem amar. Contudo, vê-se em Lévinas ou com Lévinas o rosto dos outros, em sua nudez, em sua concretude, no simples pôr-se de seu olhar, é a medida para a falta de fundamento de todas as pretensões totalizantes do eu(Cf. ibidem, p. 23-25).
Portanto, “o outro não é a encarnação de Deus, mas é através de seu rosto, no qual está desencarnado, que a manifestação da majestade de Deus se revela”(Ibidem, p. 77).
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