Aos que buscam respostas intermináveis.
Estudar não nos parece uma luta vã. Bastam olhar para vocês mesmos; para muitos de seus pais e de suas mães que não tiveram oportunidade de estudar e de como vivem hoje; para os professores de vocês que tiram o sustento do ofício de ensinar; para o mundo ou para a realidade selvagem do capitalismo que aí está, não deixando os bons prevalecerem sobre os maus, nem simplesmente os melhores sobre os piores, mas infelizmente se sobressaem os que têm aos que não têm ou nada têm. Essa é a lógica da sobrevivência moderna que nos desafia a rompê-la pela perseverança, pela dedicação, pelo trabalho e, sobretudo, pela paciência ao estudar.
Não poucos, por serem pobres ou por não terem o suficiente para estudar, conseguem quebrar o padrão vantajoso do capitalismo, pois nossos governantes com base nesse padrão, investem pouquíssimo na Educação brasileira. Para termos uma idéia, de cada 100 alunos que ingressam no ensino fundamental, apenas 12 concluem o ensino médio e 06 entram na Universidade. Este quadro, segundo o Banco Mundial, custa 2,5 bilhões de dólares por ano para o país. Partindo desse ponto, poderíamos perguntar: o Brasil tem dinheiro para investir na Educação? Se tem, por que não investe? Se não tem, que significa esse custo que acabamos de mencionar? Será que estão utilizando mal o nosso dinheiro?
Talvez seja por isso que muitos não queiram que usemos a nossa inteligência. Esta serve para percebermos o grau de injustiça que fazem conosco. Vejam só, é porque vivemos numa civilização das vantagens sobre a infelicidade alheia que somos levados a perguntar para que serve isso e aquilo e também o estudo. Ah, quantos de vocês nos perguntam: “Para que serve estudar, professor?” Jogamos fora então a pergunta? Não.
Diremos, então, que o estudo tem a ver, como tem, com certo exercício de liberdade? Que o estudo, toda vez que serve, deixa de ser estudo, porque abandona sua liberdade? Que, neste sentido, o estudo não serve a ninguém nem a nada? Diremos que o estudo é uma forma de felicidade? É possível. Mas o aluno que está longe de ser tolo pode devolver a pergunta: não perguntei a quem serve o estudo, ou a quê, mas o que posso fazer com ele e, se não posso fazer nada com ele, o que ele pode fazer comigo.
Digamos, então, que a Educação ou o estudo, como exercício de liberdade, pode nos ajudar a nos livrar dos preconceitos, aceitos sem nenhum questionamento, e que, exatamente por não terem sido discutidos, impedem a possibilidade de nos relacionarmos de uma forma diferente com o mundo e com os outros, acreditando que a fraternidade elimina a violência porque somos vistos como irmãos e que a solidariedade diminui a distância entre nós pela sensibilidade da fraqueza ou do poder do outro.
Quando aprendemos, de fato, a pensar para além do modo como nos ensinaram que seria o certo ou o errado, quando duvidarmos das nossas certezas “absolutas”, quando abrirmos mão de nossa liberdade e quando indagarmos se isso que chamamos “nossa liberdade” é mesmo uma liberdade, pode ficar sob alerta porque estamos colocando para funcionar o “desconfiômetro” da educação. Estamos começando a aprender.
Portanto, que o mesmo Espírito que soprou o hálito da vida sobre Adão, que envolveu de proteção o menino Jesus no ventre de Maria ao ser gerado, que fez Jesus entregar sua alma à vontade do Pai na hora de sua morte, que deu unidade a todos os povos em Pentecostes, que inspirou Machado de Assis a compor, com apenas 23 letras do alfabeto, uma pequena grande obra “Dom Casmurro”, mova nossos corações para uma vida digna e abundante com sabor de esperança.
Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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