terça-feira, 23 de outubro de 2007

Amor Fati(amor do momento presente, do "destino")


Meus caros leitores, a expressão do título sugerido foi polidamente cunhada pelo filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche, nascido em Röcken, Alemanha, no dia 15 de outubro de 1844, onde desenvolveu grande parte de seu pensamento voltado para a superação dos limites humanos, vindo a falecer com apenas 56 anos de idade no dia 25 de agosto de 1900, em Weimar.
Conhecido popularmente por Nietzsche, esse filósofo contemporâneo depois de quase um século e meio da existência de seu pensamento, ainda nos convida, hoje, a viver de tal modo que nem os arrependimentos nem os remorsos tenham mais nenhum espaço, nenhum sentido em nossas histórias. O critério agora, para ele, é resgatar alguns momentos de alegria, sem dúvida, de amor, de lucidez, de serenidade... Que eu possa me exercitar em refletir nos momentos de minha vida, utilizando o critério do eterno retorno? Por que não? Mas como isso pode me salvar dos medos e dos ressentimentos? Isso, de fato, pode ser a saída para a insegurança? Qual a relação que isso tem a ver com as minhas angústias do ponto de vista da finitude humana?
A razão dessas e de outras perguntas fazia Nietzsche se debater consigo mesmo, a tal ponto que o levou a desenhar uma noção fundamental de superação, de poder mesmo sobre os problemas referentes ao passado e ao futuro que impediam o homem de viver realmente o presente, de amar o presente com toda carga de eternidade. É a noção de eternidade que pode nos mostrar o caminho, a saída para as alegrias da vida, cultivando elementos tão caros ao cristianismo – o que para ele soava estranho, no entanto era preciso admitir –, ter fé e cultivar o amor.
“Ah! Como não me consumiria de desejo de eternidade, de desejo do anel dos anéis, do anel nupcial do Retorno? Ainda não encontrei a mulher de quem eu quisesse filhos, a não ser esta mulher que amo, pois eu te amo, ó eternidade! Pois eu te amo, ó eternidade!”[1]
O amor do que é no presente exige, antes de tudo, fugir do peso do passado, assim como das promessas do futuro. É o que vai afirmar, com seus próprios meios, o velho Nietzsche, de modo esplêndido e magnífico:
“Minha fórmula para o que há de grande no homem é o amor fati: nada desejar além daquilo que é, nem diante de si, nem atrás de si, nem nos séculos dos séculos. Não se contentar em suportar o inelutável, e ainda menos dissimulá-lo – todo idealismo é uma maneira de mentir diante do inelutável - , mas amá-lo”.[2]
Não desejar nada, a não ser aquilo que é! A expressão poderia ser assinada por Epicteto ou Marco Aurélio – aqueles de cuja cosmologia ele não se fatigou em zombar. No entanto, Nietzsche insiste, como neste fragmento de A Vontade de Poder:
“Uma filosofia experimental como a que vivo começa suprimindo, a título de experiência, até a possibilidade do pessimismo absoluto... Ela quer antes atingir o extremo oposto, uma afirmação dionisíaca do universo tal como ele é, sem possibilidade de subtração, de exceção ou de escolha. Ela quer o ciclo eterno: as mesmas coisas, a mesma lógica ou o mesmo ilogismo dos encadeamentos. Estado mais elevado a que possa um filósofo atingir: minha fórmula para isso é o amor fati. Isso implica que os aspectos até então negados da existência sejam concebidos não apenas como necessários, mas como desejáveis...”[3]
A grosso modo, o que esse filósofo quer dizer é que devemos esperar um pouco menos, lamentar um pouco menos, amar um pouco mais. Nunca permanecer nas dimensões não reais do tempo, no passado e no futuro, mas tentar, ao contrário, habitar tanto quanto possível o presente, dizer-lhe sim com amor(numa afirmação dionisíaca, diz Nietzsche, referindo-se a Dioniso, o deus grego do vinho, da festa e da alegria, aquele que, por excelência, ama a vida).


[1] Zaratustra, III, “Os sete selos”.
[2] Ecce Homo, “Por que sou tão sábio”.
[3] Tradução Bianquis, II, Introdução. Parágrafo 14.


Jackislandy Meira de M. Silva, Professor e Filósofo.

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Amor Fati(amor do momento presente, do "destino")


Meus caros leitores, a expressão do título sugerido foi polidamente cunhada pelo filósofo Friedrich Wilhelm Nietzsche, nascido em Röcken, Alemanha, no dia 15 de outubro de 1844, onde desenvolveu grande parte de seu pensamento voltado para a superação dos limites humanos, vindo a falecer com apenas 56 anos de idade no dia 25 de agosto de 1900, em Weimar.
Conhecido popularmente por Nietzsche, esse filósofo contemporâneo depois de quase um século e meio da existência de seu pensamento, ainda nos convida, hoje, a viver de tal modo que nem os arrependimentos nem os remorsos tenham mais nenhum espaço, nenhum sentido em nossas histórias. O critério agora, para ele, é resgatar alguns momentos de alegria, sem dúvida, de amor, de lucidez, de serenidade... Que eu possa me exercitar em refletir nos momentos de minha vida, utilizando o critério do eterno retorno? Por que não? Mas como isso pode me salvar dos medos e dos ressentimentos? Isso, de fato, pode ser a saída para a insegurança? Qual a relação que isso tem a ver com as minhas angústias do ponto de vista da finitude humana?
A razão dessas e de outras perguntas fazia Nietzsche se debater consigo mesmo, a tal ponto que o levou a desenhar uma noção fundamental de superação, de poder mesmo sobre os problemas referentes ao passado e ao futuro que impediam o homem de viver realmente o presente, de amar o presente com toda carga de eternidade. É a noção de eternidade que pode nos mostrar o caminho, a saída para as alegrias da vida, cultivando elementos tão caros ao cristianismo – o que para ele soava estranho, no entanto era preciso admitir –, ter fé e cultivar o amor.
“Ah! Como não me consumiria de desejo de eternidade, de desejo do anel dos anéis, do anel nupcial do Retorno? Ainda não encontrei a mulher de quem eu quisesse filhos, a não ser esta mulher que amo, pois eu te amo, ó eternidade! Pois eu te amo, ó eternidade!”[1]
O amor do que é no presente exige, antes de tudo, fugir do peso do passado, assim como das promessas do futuro. É o que vai afirmar, com seus próprios meios, o velho Nietzsche, de modo esplêndido e magnífico:
“Minha fórmula para o que há de grande no homem é o amor fati: nada desejar além daquilo que é, nem diante de si, nem atrás de si, nem nos séculos dos séculos. Não se contentar em suportar o inelutável, e ainda menos dissimulá-lo – todo idealismo é uma maneira de mentir diante do inelutável - , mas amá-lo”.[2]
Não desejar nada, a não ser aquilo que é! A expressão poderia ser assinada por Epicteto ou Marco Aurélio – aqueles de cuja cosmologia ele não se fatigou em zombar. No entanto, Nietzsche insiste, como neste fragmento de A Vontade de Poder:
“Uma filosofia experimental como a que vivo começa suprimindo, a título de experiência, até a possibilidade do pessimismo absoluto... Ela quer antes atingir o extremo oposto, uma afirmação dionisíaca do universo tal como ele é, sem possibilidade de subtração, de exceção ou de escolha. Ela quer o ciclo eterno: as mesmas coisas, a mesma lógica ou o mesmo ilogismo dos encadeamentos. Estado mais elevado a que possa um filósofo atingir: minha fórmula para isso é o amor fati. Isso implica que os aspectos até então negados da existência sejam concebidos não apenas como necessários, mas como desejáveis...”[3]
A grosso modo, o que esse filósofo quer dizer é que devemos esperar um pouco menos, lamentar um pouco menos, amar um pouco mais. Nunca permanecer nas dimensões não reais do tempo, no passado e no futuro, mas tentar, ao contrário, habitar tanto quanto possível o presente, dizer-lhe sim com amor(numa afirmação dionisíaca, diz Nietzsche, referindo-se a Dioniso, o deus grego do vinho, da festa e da alegria, aquele que, por excelência, ama a vida).


[1] Zaratustra, III, “Os sete selos”.
[2] Ecce Homo, “Por que sou tão sábio”.
[3] Tradução Bianquis, II, Introdução. Parágrafo 14.


Jackislandy Meira de M. Silva, Professor e Filósofo.

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