O tempo é muito violento conosco. Digo isso porque com o passar dos segundos, minutos, horas, dias, meses e até anos, a gente envelhece, o cabelo embranquece, a pele enruguece e as dores teimam em querer ficar. Tudo parece passar e nada ficar, a não ser as dores. Mas, por dentro, algo toca muito bem o nosso íntimo, é a felicidade de amar. Amar é participar da grande alegria do outro. O outro que nos deixa muitas lembranças, apesar de toda a distância e de todo contratempo. Sim, talvez envelheceremos, ao menos, a vida concorre para isso. No entanto, sorrimos com a felicidade de viver que ainda transcorre em nossas veias. Nunca perderemos o brilho dos olhos, porque é a expressão de nossa esperança!
Há... O tempo! Este, sim, é motivo de reflexão. Pois, estando inerente às situações de nossas vidas é que ele nos provoca a isso. Agostinho de Hipona que viveu no séc. IV d. C., magnificamente o tratou sob o aspecto subjetivo, destacando mais a sua qualidade do que a sua quantidade: “Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser me explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. Porém, atrevo-me a declarar, sem receio de contestação, que, se nada sobreviesse, não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse, não existiria o tempo presente"[1]. Já Aristóteles se deteve mais no aspecto quantitativo ou nas causas aparentes do tempo, o que o levou à famosa definição ligada ao instante, pois seria uma duração segundo um antes e um depois.
Ora, tanto Agostinho quanto Aristóteles mostraram suas preocupações humanas em pensar o tempo, o que não é uma tarefa fácil, pois o tempo a todo instante parece nos escapar. Esta foi uma observação não menos genial de Agostinho nas suas Confissões, quando afirmou que o tempo ao simplesmente existir é que ele, de fato, tende a não mais existir.
Diante dessas reflexões acerca do tempo, podemos pontuar um aspecto, digo, mais intenso do tempo que implica diretamente na tentativa de sermos mais felizes ou um pouco menos infelizes, se assim quiserem. É o aspecto do presente no tempo que, diferentemente do passado e do futuro, parece conter com mais intensidade o conteúdo magnífico de viver, pairando no tempo um sabor de eternidade, tornando-o mais leve e cada vez mais ameno.
Nessa direção, observa um filósofo contemporâneo, André Comte-Sponville[2] que o presente permanece presente, de modo que a única coisa que nos autoriza a afirmar que o tempo é, é que ele não cessa de se manter. É o que Spinoza[3] define como duração: não a soma de um passado e de um futuro, que só tem uma existência imaginária, mas a continuação indefinida de uma existência, em outras palavras, a perduração do presente.
Meus caros, com esse pensamento, passeamos por alguns instantes nos meandros do tempo, compartilhamos alguns minutos de eternidade. Acreditamos que o que segura, o que sustenta o tempo é o presente, ou seja, a eternidade. E eternidade aqui entendida como salvação mesmo, pois não há nada mais absurdo do que esperar a eternidade, uma vez que é preciso estar nela já, viver nela já, experimentando o tempo como presente. Mas, não confundamos presente com imobilidade, inércia. Aí já é uma outra história, um outro pensar...
Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
Confira os blogs: www.umasreflexoes.blogspot.com
www.chegadootempo.blogspot.com
[1] AGOSTINHO. As Confissões. Os Pensadores. São Paulo, SP: Nova Cultural, 1999, pp. 322.[2] A Felicidade, desesperadamente. São Paulo: Martins fontes, pp. 93.[3] Ética, II, definição 5. Ver também O ser-tempo, pp. 59s.
Há... O tempo! Este, sim, é motivo de reflexão. Pois, estando inerente às situações de nossas vidas é que ele nos provoca a isso. Agostinho de Hipona que viveu no séc. IV d. C., magnificamente o tratou sob o aspecto subjetivo, destacando mais a sua qualidade do que a sua quantidade: “Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser me explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei. Porém, atrevo-me a declarar, sem receio de contestação, que, se nada sobreviesse, não haveria tempo futuro, e se agora nada houvesse, não existiria o tempo presente"[1]. Já Aristóteles se deteve mais no aspecto quantitativo ou nas causas aparentes do tempo, o que o levou à famosa definição ligada ao instante, pois seria uma duração segundo um antes e um depois.
Ora, tanto Agostinho quanto Aristóteles mostraram suas preocupações humanas em pensar o tempo, o que não é uma tarefa fácil, pois o tempo a todo instante parece nos escapar. Esta foi uma observação não menos genial de Agostinho nas suas Confissões, quando afirmou que o tempo ao simplesmente existir é que ele, de fato, tende a não mais existir.
Diante dessas reflexões acerca do tempo, podemos pontuar um aspecto, digo, mais intenso do tempo que implica diretamente na tentativa de sermos mais felizes ou um pouco menos infelizes, se assim quiserem. É o aspecto do presente no tempo que, diferentemente do passado e do futuro, parece conter com mais intensidade o conteúdo magnífico de viver, pairando no tempo um sabor de eternidade, tornando-o mais leve e cada vez mais ameno.
Nessa direção, observa um filósofo contemporâneo, André Comte-Sponville[2] que o presente permanece presente, de modo que a única coisa que nos autoriza a afirmar que o tempo é, é que ele não cessa de se manter. É o que Spinoza[3] define como duração: não a soma de um passado e de um futuro, que só tem uma existência imaginária, mas a continuação indefinida de uma existência, em outras palavras, a perduração do presente.
Meus caros, com esse pensamento, passeamos por alguns instantes nos meandros do tempo, compartilhamos alguns minutos de eternidade. Acreditamos que o que segura, o que sustenta o tempo é o presente, ou seja, a eternidade. E eternidade aqui entendida como salvação mesmo, pois não há nada mais absurdo do que esperar a eternidade, uma vez que é preciso estar nela já, viver nela já, experimentando o tempo como presente. Mas, não confundamos presente com imobilidade, inércia. Aí já é uma outra história, um outro pensar...
Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
Confira os blogs: www.umasreflexoes.blogspot.com
www.chegadootempo.blogspot.com
[1] AGOSTINHO. As Confissões. Os Pensadores. São Paulo, SP: Nova Cultural, 1999, pp. 322.[2] A Felicidade, desesperadamente. São Paulo: Martins fontes, pp. 93.[3] Ética, II, definição 5. Ver também O ser-tempo, pp. 59s.
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