Mas, assim como a vida, a ingenuidade ou a pureza ou os interesses da adulação têm seus limites, têm seus dias contados! O limite da vida é a morte, o da bajulação é a sensatez, o amor próprio e o compromisso com a verdade. Acredita-se que só o pacto com a verdade é mais honrada e mais elevada que a amizade: “Amicus Platô, amicus Sócrates, sed amica veritas”(Aristóteles) – Amigo Platão, amigo Sócrates, mas mais amiga é a verdade. Ninguém é tão forte que possa resistir aos apelos da verdade para si e para os outros, sobretudo no mundo político, pois aqui e acolá, apesar da sua vida exposta, a verdade dá sinais de sobrevivência, haja vista o escândalo de corrupção do atual Presidente do Senado, Renan Calheiros. Alguém jamais conseguirá, embora forte política, social e economicamente, a todo instante, viver disfarçado de certinho, bonzinho e amável à custa de abraços, beijos e aplausos, encoberto pelas bajulações de algumas pessoas que beiram ao ridículo. Lembre-se, Jesus fora traído com um beijo!
“Todos te aplaudem, tudo bem, isto que é vida” afirma a Bíblia, no Livro dos Salmos. Ora, esta é a grande vantagem para aqueles que gozam do exercício do poder, servir-se do banquete do “status”, cujo alimento é regado à base de muita adulação para todos os gostos. Em virtude disso, corre-se o risco da autoridade pública ficar dividida entre o pleno cumprimento da justiça e a doce satisfação em atender aos caprichos de seus bajuladores, fiéis protetores que seguem à risca os fracassos e os desmandos de tal autoridade, ignorando a democracia e a sensibilidade à crítica, uma vez que todos são passíveis à crítica para o perfeito desenvolvimento de seus serviços.
Permitiu-se, desde muito tempo, inclusive na Grécia antiga, nos dias de Sócrates até hoje, na esfera política do mundo inteiro, abrir-se uma chaga chamada bajulação que, não tomada como arte da persuasão ou artifício para as negociações de caráter ético, passa a maquiar a personalidade dos representantes do povo, falsificando a autenticidade dos discursos, das idéias e das verdadeiras ações destes em relação aos seus subalternos e aos demais.
Platão, no seu diálogo Górgias, destacou que a Retórica é apenas uma parte da adulação, isto é, um simulacro de uma parte da política. Retórica, adulação e política estão intimamente relacionadas porque buscam a satisfação do bem-estar e do engano, descomprometidas com a verdade, ao passo que a Filosofia estava sempre interessada pelo exercício da sabedoria, da verdade e da justiça[1]. Nessa época, Platão contrapõe Filosofia à política, o que não vai acontecer com a Filosofia Moderna, ambas estão eminentemente ligadas, basta ler a teoria do Príncipe em Maquiavel.
Jackislandy Meira de M. Silva, Professor e Filósofo.
[1]Cf. PLATÃO, Górgias, 463a – 464a.
Um comentário:
Amigo filósofo, sonhador, idealista, Jackislandy, parabéns pelo blog. O adicionei no meu blog À Flor da Terra. Faça uma visita por lá. Sobre seu texto, posso afirmar que tenho dó do bajulador e do bajulado. O bajulador, coitado, se acha tão pequeno que se sujeita a sempre rastejar, a procura de uma sombra e água fresca. Um simples tapinha nas costas já o satisfaz...coitado, precisa disso para sentir-se gente. Já o bajulado, parece ser pior ainda...só sente-se enaltecido e forte se tiver a sua volta os bajuladores, que ele mesmo sabe que não têm significado algum. Ele grita, esperneia, faz alarmes, tudo por meia dúzia de bajuladores, porque acredita que assim, os olhos mais sensatos também irão olhar pra ele... doce engano. Os sensatos enxergam a verdade.
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