Quando
se pensa e se faz o trabalho como obra poética em vez de sofrimento
contumaz, sempre vem à mente a questão do “trabalho digno”, isto é,
aqueles ou aquelas que se consideram superiores como seres humanos
apenas porque têm um emprego socialmente mais valorizado.
Aliás, é sempre nesses casos que entra em cena o famoso “sabe com quem você está falando?”
Um
dia procurei representar uma possível resposta científica a essa
arrogante pergunta, e, de forma sintética, registrei essa representação
em um livro meu chamado A escola e o conhecimento (Cortez); agora, de
forma mais extensa e coloquial, aqui vai este relato, partindo do nosso
lugar maior, o universo, até chegar a nós.
Hoje,
em física quântica, não se fala mais um universo, mas em multiverso. A
suposição de que exista um único universo não tem mais lugar na Física. A
ciência fala em multiverso e que estamos em um dos universos possíveis.
Este tem provavelmente o formato cilíndrico, em função da curvatura do
espaço, portanto, ele é finito e tem porta de saída, que são os buracos
negros, por onde ele vai minando e se esvaziando. Até 2002, era quase
certo que o nosso universo fosse cilíndrico, hoje já há alguma suspeita
de que talvez não. Mas a teoria ainda não foi derrubada em sua
totalidade. Supõe-se que este universo possível em que estamos apareceu
há 15 bilhões de anos. Alguns falam em 13 bilhões, outros em 18, mas a
hipótese menos implausível no momento é que estamos num universo que
apareceu há 15 bilhões de anos, resultante de uma grande explosão, que o
cientista inglês Fred Hoyle apelidou de gozação de big-bang, e esse nome pegou.
Qual
é a lógica? Há 15 bilhões de anos, é como se se pegasse uma mola e
fosse apertando, apertando, apertando até o limite, e se amarrasse com
uma cordinha. Imagine o que tem ali de matéria concentrada e energia
retida! Supostamente, nesse período, todo o universo estava num único
ponto adensado, como uma mola apertada e, então, alguém, alguma força –
Deus, não sei, aqui a discussão é de outra natureza – cortou a cordinha.
E aí, essa mola, o nosso universo está em expansão até hoje. E haverá
um momento em que ele chegará ao máximo de elasticidade e irá encolher
outra vez. A ciência já calculou que o encolhimento acontecerá em 12
bilhões de anos. Fique tranqüilo, até lá você já estará aposentado pelas
novas regras.
Você
pode cogitar algo que a Física tem como teoria: ele vai encolher e se
expandir outra vez. Talvez haja uma lei do universo em que o movimento
da vida é expansão e encolhimento. Como é o nosso pulmão, como bate o
nosso coração, com sístole e diástole. Como é o movimento do nosso sexo,
que expande e encolhe, seja o masculino, seja o feminino. Parece que
existe uma lógica nisso, que os orientais, especialmente os chineses e
indianos, capturaram em suas religiões, aquela coisa do inspirar e
expirar. Parece haver uma lógica nisso, a ciência tem isso como
hipótese.
Assim,
há 15 bilhões de anos, houve uma grande explosão atômica, que gerou uma
aceleração inacreditável de matéria e liberação de energia. Essa
matéria se agregou formando o que nós, humanos, chamamos de estrelas e
elas se juntaram, formando o que chamamos de galáxias (do grego galaktos,
leite). A ciência calcula que existam em nosso universo aproximadamente
200 bilhões de galáxias. Uma delas é a nossa, a Via Láctea, que é
“leite”, em latim. Aliás, nem é uma galáxia tão grande; calcula-se que
ela tenha cerca de 100 bilhões de estrelas. Portanto, estamos em uma
galáxia, que é uma entre 200 bilhões de galáxias, num dos universos
possíveis e que vai desaparecer.
Nessa
nossa galáxia, repleta de estrelas, uma delas é o que agora chamam de
estrela-anã, o Sol. Em volta dessa estrelinha giram algumas massas
planetárias sem luz própria, nove ao todo, talvez oito (pela polêmica
classificação em debate). A terceira delas, a partir do Sol, é a Terra. O
que é a Terra?
A
Terra é um planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma
entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre
outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai
desaparecer. Veja como nós somos importantes….
Aliás,
veja como nós temos razão de nos termos considerado na história o
centro do universo. Tem gente que é tão humilde que acha que Deus fez
tudo isso só para nós existirmos aqui. Isso é que é um Deus que entende
da relação custo-benefício. Tem indivíduo que acha coisa pior, que Deus
fez tudo isso só para esta pessoa existir. Com o dinheiro que carrega,
com a cor da pele que tem, com a escola que freqüentou, com o sotaque
que usa, com a religião que pratica.
Nesse
lugarzinho tem uma coisa chamada vida. A ciência calcula que em nosso
planeta haja mais de trinta milhões de espécies de vida, mas até agora
só classificou por volta de três milhões de espécies. Uma delas é a
nossa: homo sapiens. Que é uma entre três milhões de espécies já
classificadas, que vive num planetinha que gira em torno de uma
estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma
galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos
universos possíveis e que vai desaparecer.
Essa espécie tem, em 2007, aproximadamente 6,4 bilhões de indivíduos.
Um deles é você.
Você
é um entre 6,4 bilhões de indivíduos, pertencente a uma única espécie,
entre outras três milhões de espécies classificadas, que vive num
planetinha, que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100
bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200
bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer.
É por isso que todas às vezes na vida que alguém me pergunta: “Você sabe com quem está falando?”, eu respondo: “Você tem tempo?”
Por Mário Sérgio Cortella.
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