sexta-feira, 28 de maio de 2010

As três fases da vida de um Professor em Roland Barthes por Rubem Alves...


Certa vez, numa palestra de Educação para a cidadania, em Santos São Paulo, o educador e escritor Rubem Alves pediu para que ninguém tomasse nota de suas palavras porque essa não era a maneira de levar a sério um assunto, mas o contrário, não levar a sério. Dizia ele que quando se está envolvido numa conversa afetuosa é até indelicadeza tomar nota. E brincava: “Não se toma nota quando se está fazendo amor”. Segundo ele, toda experiência de conversa é uma experiência de fazer amor. Tal motivo, o levou, na palestra, a citar o comentado Roland Barthes que emprestou algumas ideias suas para ilustrar o caminho da exposição de Rubem Alves naquela ocasião. Para Rubem Alves, este é o educador que ele mais ama, pois tinha a capacidade de extrair a beleza das coisas que seus alunos falavam. Era de uma delicadeza incomparável, uma vez que todos se sentiam inteligentes em sua companhia, afirmou Rubem.

Sendo assim, transcrevo um pouco aqui da sensibilidade de Roland Barthes em sua obra “A Aula”(Texto que produziu para uma aula inaugural como Professor de Semiologia no Collège de France) sobre as três fases da vida de um professor a partir das palavras de Rubem Alves.

“Na primeira fase, ensina-se o que se sabe. E é verdade, a gente ensina o que sabe, a gente ensina a criança a dar nó no sapato, a andar de bicicleta, a somar, a subtrair, a escrever, a gente ensina as coisas que sabe, a gente ensina a subir numa árvore, a pintar, a desenhar, enfim. Esse “ensinar as coisas que sabe” é um ato de transmitir as receitas de como viver o que a gente aprendeu. Parte dos nossos saberes são receitas, como receita culinária do livro da Dona Benta. Na segunda fase, então ele diz: mas a gente vive um pouco mais e começa a ensinar as coisas que a gente não sabe. Aí as pessoas perguntam: mas como é que a gente pode ensinar aquilo que a gente não sabe? Imagine que a minha filha me pergunte: pai, onde é que fica a Rua Sampainho? Sampainho é uma rua lá em Campinas. Então eu digo a ela: não sei onde fica a Rua Sampainho, mas na lista telefônica tem uma série de mapas, você procura o nome da rua, na lista dos endereços, e lá tem indicação do mapa e você vai achar. Eu não sei onde é a Rua Sampainho, mas, apesar de não saber, ensinei minha filha a achar a Rua Sampainho. Essa é uma das coisas mais lindas sobre a vida de um professor. Não é aquele professor que sabe o programa, isso é banal. Os programas estão em livros, os professores que sabem o programa vão desaparecer: eles serão substituídos por disquetes, programas e livros. Mas ensinar a encontrar é a coisa mais importante: isso tem o nome de “fazer pesquisa”... É isso que a gente faz, não é? Quando a gente está ensinando a fazer pesquisa, está ensinando a coisa que a gente mesmo não sabe. O orientador da pesquisa é aquele que não sabe nada, quem sabe é o aluno, o aluno vai lá, visita a coisa, vem e conta para o professor e o professor aprende. Na situação de pesquisa, o orientador se torna aluno do aluno que faz a pesquisa.Finalmente, com a terceira fase, chegou o momento supremo da minha vida, eu me entrego à maior de todas as forças da vida viva. Eu me entrego ao poder do esquecimento, procuro esquecer, desaprender tudo o que eu aprendi. Vejam que coisa curiosa, dizer que ele, professor de semiologia, estava se dedicando a desaprender tudo. Parece o contrário do ideal de aprendizagem, de educação, de que a gente vai cada vez saber mais. Ele está dizendo que queria saber menos, saber menos”(Rubem Alves, in Palestra sobre Educação para a Cidadania).

Estas são as três fases da vida de um professor na concepção de Roland Barthes conforme o jeito e o linguajear de contar do escritor Rubem Alves. Todo bom professor que se preze deveria ler e reler esse texto, antes de acharmos que estamos envelhecendo no prazeroso percurso do ensino-aprendizagem.

Professor Jackislandy Meira de Medeiros Silva

www.umasreflexoes.blogspot.com

www.chegadootempo.blogspot.com

www.twitter.com/filoflorania

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As três fases da vida de um Professor em Roland Barthes por Rubem Alves...


Certa vez, numa palestra de Educação para a cidadania, em Santos São Paulo, o educador e escritor Rubem Alves pediu para que ninguém tomasse nota de suas palavras porque essa não era a maneira de levar a sério um assunto, mas o contrário, não levar a sério. Dizia ele que quando se está envolvido numa conversa afetuosa é até indelicadeza tomar nota. E brincava: “Não se toma nota quando se está fazendo amor”. Segundo ele, toda experiência de conversa é uma experiência de fazer amor. Tal motivo, o levou, na palestra, a citar o comentado Roland Barthes que emprestou algumas ideias suas para ilustrar o caminho da exposição de Rubem Alves naquela ocasião. Para Rubem Alves, este é o educador que ele mais ama, pois tinha a capacidade de extrair a beleza das coisas que seus alunos falavam. Era de uma delicadeza incomparável, uma vez que todos se sentiam inteligentes em sua companhia, afirmou Rubem.

Sendo assim, transcrevo um pouco aqui da sensibilidade de Roland Barthes em sua obra “A Aula”(Texto que produziu para uma aula inaugural como Professor de Semiologia no Collège de France) sobre as três fases da vida de um professor a partir das palavras de Rubem Alves.

“Na primeira fase, ensina-se o que se sabe. E é verdade, a gente ensina o que sabe, a gente ensina a criança a dar nó no sapato, a andar de bicicleta, a somar, a subtrair, a escrever, a gente ensina as coisas que sabe, a gente ensina a subir numa árvore, a pintar, a desenhar, enfim. Esse “ensinar as coisas que sabe” é um ato de transmitir as receitas de como viver o que a gente aprendeu. Parte dos nossos saberes são receitas, como receita culinária do livro da Dona Benta. Na segunda fase, então ele diz: mas a gente vive um pouco mais e começa a ensinar as coisas que a gente não sabe. Aí as pessoas perguntam: mas como é que a gente pode ensinar aquilo que a gente não sabe? Imagine que a minha filha me pergunte: pai, onde é que fica a Rua Sampainho? Sampainho é uma rua lá em Campinas. Então eu digo a ela: não sei onde fica a Rua Sampainho, mas na lista telefônica tem uma série de mapas, você procura o nome da rua, na lista dos endereços, e lá tem indicação do mapa e você vai achar. Eu não sei onde é a Rua Sampainho, mas, apesar de não saber, ensinei minha filha a achar a Rua Sampainho. Essa é uma das coisas mais lindas sobre a vida de um professor. Não é aquele professor que sabe o programa, isso é banal. Os programas estão em livros, os professores que sabem o programa vão desaparecer: eles serão substituídos por disquetes, programas e livros. Mas ensinar a encontrar é a coisa mais importante: isso tem o nome de “fazer pesquisa”... É isso que a gente faz, não é? Quando a gente está ensinando a fazer pesquisa, está ensinando a coisa que a gente mesmo não sabe. O orientador da pesquisa é aquele que não sabe nada, quem sabe é o aluno, o aluno vai lá, visita a coisa, vem e conta para o professor e o professor aprende. Na situação de pesquisa, o orientador se torna aluno do aluno que faz a pesquisa.Finalmente, com a terceira fase, chegou o momento supremo da minha vida, eu me entrego à maior de todas as forças da vida viva. Eu me entrego ao poder do esquecimento, procuro esquecer, desaprender tudo o que eu aprendi. Vejam que coisa curiosa, dizer que ele, professor de semiologia, estava se dedicando a desaprender tudo. Parece o contrário do ideal de aprendizagem, de educação, de que a gente vai cada vez saber mais. Ele está dizendo que queria saber menos, saber menos”(Rubem Alves, in Palestra sobre Educação para a Cidadania).

Estas são as três fases da vida de um professor na concepção de Roland Barthes conforme o jeito e o linguajear de contar do escritor Rubem Alves. Todo bom professor que se preze deveria ler e reler esse texto, antes de acharmos que estamos envelhecendo no prazeroso percurso do ensino-aprendizagem.

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