quarta-feira, 5 de março de 2014

Levinas: ponto de subversão



“Mas eu penso que a relação do estrangeiro com o estrangeiro, tornando-se amor e abnegação, atesta mais a ordem de Deus. Sempre admirei, na Bíblia, a fórmula: ‘Amarás o estrangeiro’. Essa relação pode se prolongar nas relações fraternais, mas é certamente na relação com outro homem, em meus deveres, em minhas obrigações, em que lhe diz respeito, que há, para mim, a palavra de Deus. É nesse ponto que a subversão considerável da ordem natural se produz: alguém, que não me diz respeito, me diz respeito, é bem isso o paradoxo do amor do estrangeiro. Inicialmente, ser, é persistir em seu ser. É nesses termos que Spinoza entende a existência. Ser é o esforço de ser, o fato de perseverar em seu ser. E eis de repente uma ruptura desse esforço. Em minha responsabilidade no tocante a outrem, que logicamente nada é, que é outro, que é separado, que é estrangeiro. Eu tenho essa responsabilidade a partir do momento em que abordo o outro homem. Nesse sentido, falo aqui da palavra de Deus que converte a perseverança em meu ser em solicitude para com outrem”

POIRIÉ, François. Emmanuel Lévinas: ensaio e entrevistas. São Paulo: Perspectiva, 2007, p. 99-100.

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quarta-feira, 5 de março de 2014

Levinas: ponto de subversão



“Mas eu penso que a relação do estrangeiro com o estrangeiro, tornando-se amor e abnegação, atesta mais a ordem de Deus. Sempre admirei, na Bíblia, a fórmula: ‘Amarás o estrangeiro’. Essa relação pode se prolongar nas relações fraternais, mas é certamente na relação com outro homem, em meus deveres, em minhas obrigações, em que lhe diz respeito, que há, para mim, a palavra de Deus. É nesse ponto que a subversão considerável da ordem natural se produz: alguém, que não me diz respeito, me diz respeito, é bem isso o paradoxo do amor do estrangeiro. Inicialmente, ser, é persistir em seu ser. É nesses termos que Spinoza entende a existência. Ser é o esforço de ser, o fato de perseverar em seu ser. E eis de repente uma ruptura desse esforço. Em minha responsabilidade no tocante a outrem, que logicamente nada é, que é outro, que é separado, que é estrangeiro. Eu tenho essa responsabilidade a partir do momento em que abordo o outro homem. Nesse sentido, falo aqui da palavra de Deus que converte a perseverança em meu ser em solicitude para com outrem”

POIRIÉ, François. Emmanuel Lévinas: ensaio e entrevistas. São Paulo: Perspectiva, 2007, p. 99-100.

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