Quando
Obama disse que ninguém pode viver com segurança e privacidade com 0%
de inconveniência, pensei: Obama virou gente grande. Mas não
foi assim que o mundo reagiu. Quase todo mundo ficou horrorizado, e eu,
fiquei horrorizado com mais um show de infantilidade do mundo em que
vivemos. É um mundo “teenager” mesmo.
E por que o
Brasil seria vigiado? Talvez porque suspeita-se que o Brasil esteja na
rota entre o dinheiro do crime internacional e terroristas. E a América
Latina está à beira de uma virada socialista, só não sabe quem não quer
ver. Corrupção, autoritarismo, gestão inepta da economia e populismo
sempre foram paixões secretas do socialismo.
A CPI do
“Obamagate” é um truque nacionalista (tipo Guerra das Malvinas) para
desviar a atenção da nossa crise econômica, apesar de muitos brincarem
de revolução enquanto a economia vai para o saco nas mãos de um governo
que aumentou os gastos públicos com embaixadas em repúblicas das
bananas, criação de ministérios inúteis e “investimento” na
inadimplência como forma de ganhar votos.
A diferença
entre um “teenager” (ainda que com PhD, PostDoc e livre-docência) e
alguém que sofre para ser um pouco menos “teenager” é saber que o mundo
não é preto e branco e que se você é responsável por muitas coisas, você
nem sempre vive com luvas de pelica.
O mundo é
uma terra abandonada pelos deuses, e temos que nos virar com o pouco que
temos, a começar por uma espécie confusa como a nossa e que ainda
acredita em borboletas azuis como salvação da vida.
Não é bonito
o que o Obama fez. Mas todo mundo que tem as responsabilidades que o
Obama tem faz coisas assim quando ocupa o lugar do Obama. Por muito
menos, vigiamos a geladeira para ver quantos iogurtes tem, os armários
da cozinha para ver quantos sacos de açúcar tem, e as sacolas das
empregadas para ver se elas não estão levando algum pacotinho de carne.
O mundo é um grande Big Brother, George Orwell acertou em cheio. A diferença é que nosso mundo não é uma ditadura pré-histórica como a do livro “1984“,
mas uma sociedade democrática que preserva direitos gays ao mesmo tempo
que quer saber se eu e você estamos envolvidos num ataque a alguma
embaixada no Mali ou que tipo de tênis e comida étnica curtimos.
Nada disso é
bonito, apenas é assim. Para manter as coisas funcionando, pessoas tem
que fazer coisas que não são muito bonitinhas. Eu sei que os
inteligentinhos facilmente entram em surto, mas que vão brincar no
parque, com segurança, de preferência.
As redes
sociais, esse grande bacanal de narcisismo, são um prato cheio para
sermos vigiados. Sites nos dão nosso perfil de consumo e nossa “linha da
vida”. Celulares nos avisam quando algo acontece em nossa conta e em
nosso cartão de crédito, e isso tudo é muito “prático”, não?
Este evento
revela a óbvia violência à privacidade que as redes sociais significam. A
ideia de que elas são uma ferramenta da democracia pode ser uma ideia
também infantil. Além de elas serem um elemento de alto risco com
relação a linchamentos e violência espontânea, elas nos tornam
vulneráveis de modo direto na medida em que estar “na rede” significa
estar dependente de uma “teia” (de aranha) tecnológica de controle
bastante vulnerável a tutela das empresas que nos oferecem a própria
ferramenta. Por isso o nome é TI, tecnologias da informação.
Há muito se
sabe que é mais fácil subornar um blogueiro do que um jornal gigantesco
(o blogueiro é mais barato…). Agora fica mais claro ainda que a
manipulação via redes sociais é muito maior do que via mídia “clássica”.
Todo mundo
sabe que não pode marcar encontros amorosos ilegítimos via e-mail ou
mensagem de celular, como alguém fica escandalizado que a internet não
seja segura? Parece papo de falsa virgem de 50 anos.
Em breve
esqueceremos isso e continuaremos a postar fotos, falar bobagens, marcar
revoluções no final de tarde e propor utopias que requentam a falida
autogestão. E viajar para fazer compras em Miami com segurança e usando
Visa.
Snowden, e seus 15 minutos, é mais um falso herói para falsos adultos.
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