(Fonte da imagem: www.blogdacompetencia.blogspot.com.br)
Embalados
pela experiência cortante do fim: o encerramento do calendário Maia
para o dia vinte e um de dezembro deste ano como expectativa de final
dos tempos; o Natal que nos lança culturalmente para dentro da
mensagem transformadora de Jesus, segundo a qual é preciso morrer
para viver; e agora a possibilidade de atravessarmos a linha cada vez
mais tênue que divide um ano do outro; em meio a isso, temos a
impressão de que muita coisa ainda está por dizer, muita coisa
precisa ser discutida e digerida com incansável diálogo.
Ano após
ano, a cada experiência de metamorfose, para não dizer revolução,
somos como que balançados pelo encontro com o diferente, pelo
diálogo com o outro. Os macedônios, vistos como bárbaros por não
falar o grego, estavam fora do mundo civilizado até a subida de
Felipe II ao poder, e depois pelo vasto Império de seu filho
Alexandre que diluiu a famosa separação que existia entre gregos e
bárbaros. A partir daí, o mundo começa a se globalizar e a tomar
outra forma, onde o diálogo passa a ser fundamental para o
desaparecimento das fronteiras étnicas. E isso se deve, obviamente,
à política e à filosofia tão próprias ao mundo grego.
Por
elas, o diálogo ganha corpo e se torna uma alternativa eficaz para
cessar as guerras e introduzir no mundo a paz. Com o diálogo, temos
a certeza de que não precisamos nos matar para resolver nossos
problemas, diferenças ou adversidades. Somente o diálogo nos
permite saber até onde podemos recuar ou avançar na relação de
negociação com outros povos, culturas e etnias.
Se a
Grécia mudou muito em contato cultural com o Oriente durante anos,
herdando o alfabeto e outros modos de viver, o que dizer então da
chegada da filosofia, quando alguns conversadores apareceram em algum
lugar às margens do Mar Mediterrâneo. "Uns
quinhentos anos antes da era cristã aconteceu na Magna Grécia a
melhor coisa registrada na história universal: a descoberta do
diálogo. A fé, a certeza, os dogmas, os anátemas, as preces, as
proibições, as ordens, os tabus, as tiranias, as guerras e as
glórias assediavam o orbe; alguns gregos contraíram, nunca sabemos
como, o singular costume de conversar. Duvidaram, persuadiram,
discordaram, mudaram de opinião, adiaram. Quiçá foram ajudados por
sua mitologia, que era, como o shinto, um conjunto de fábulas
imprecisas e de cosmogonias variáveis. Essas dispersas conjecturas
foram a primeira raiz do que hoje chamamos, não sem pompa, de
metafísica. Sem esses poucos gregos conversadores, a cultura
ocidental é inconcebível" (BORGES, J. L. Sobre a
filosofia e outros diálogos.
Trad. John Lionel. SP: Hedra, 1985, p. 27).
Vejam o
quanto o diálogo é importante! O diálogo com outras culturas cria
um intercâmbio de troca de informações que esfria os rumores da
violência, da ira e da vingança; destrói preconceitos; cessam os
medos; prospera a paz; humaniza as relações e o mundo fica mais
civilizado. O que um documento de pedra das longínquas comunidades
maias, ramificadas em países das Américas do Norte e Central, foi
capaz de fazer ultimamente, gerando um clima de repercussão
internacional de que o mundo finalmente ia acabar, é a prova mais
sensacional daquilo que o diálogo pode proporcionar, sobretudo hoje
no mundo informatizado e globalizado. A sensação de fim do mundo
tomou conta de todos pelo simples fato de termos acesso à cultura e
aos materiais de estudos daquele povo.
Numa
sociedade caolha como a nossa, para não dizer cega, de ações
públicas impositoras sem diálogo com o povo, em que impera a égide
da tecnologia e da informação acelerada em massa, dificilmente
encontramos espaços para o valioso exercício do diálogo. Valores
individuais e mesquinhos também nos impedem de praticar esta
atividade tão importante para o aprendizado. Depois que Platão
inventou o diálogo, de lá para cá, passando por Jesus Cristo, o
diálogo tem sido a forma mais autêntica de nos aproximarmos uns dos
outros e de nos libertarmos da ignorância, além de nos abrirmos
para a promoção da paz.
Se
Platão ajudou a educar a Grécia pelo diálogo, Jesus salvou muita
gente em Israel também pelo diálogo.
Contudo,
são nesses momentos de confraternização natalina e ano novo que, a
cada ano, temos a oportunidade graciosa de nos encontrarmos uns com
os outros para retomarmos a experiência única e maravilhosa do
diálogo. Portanto, nesses dias de reunião familiar, não economize
tempo para conversar, tampouco palavras para expressar o que pensa e
o que sente em relação a tudo.
Bons
diálogos e um excelente fim de ano a todos!
Prof.
Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Licenciado
em Filosofia, Bel. em Teologia, Esp. em Metafísica e Pós-graduando
em Estudos Clássicos pela UnB/Archai/Unesco.
Páginas
eletrônicas: www.umasreflexoes.blogspot.com.br
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