Algumas informações essenciais que fruem da Carta VII, provavelmente uma autobiografia platônica escrita de próprio punho ou de autoria de um amigo muito próximo, Espeusipo, são histórica e filosoficamente pertinentes para entendermos o envolvimento político de Platão com o seu tempo, sobretudo, após a morte de seu valoroso mestre, Sócrates.
Nota-se uma propensão inicial para a atividade política, absolutamente normal num jovem ateniense do séc V a.C., nascido numa família de elevada condição social e de evidente vocação política que continha personagens importantes, como os tios Pirilampo(de parte pericleia), Crítias e Cármides(que se destacariam no regime dos Trinta Tiranos): "Quando era jovem, partilhei uma paixão comum a muitos jovens: assim que alcançasse a minha independência, queria entrar na vida política da cidade"(324b).
A convicção, adquirida depois destas experiências, da impossibilidade de uma intervenção pessoal nas vicissitudes políticas atenienses, e da extrema dificuldade em encontrar 'amigos' decididos a comprometerem-se em uma obra radicalmente reformadora, embora "continue a aguardar sempre o momento oportuno para a ação":
"No final, apercebi-me de que todas as cidades de hoje são mal governadas(o seu sistema legislativo é praticamente incurável a não ser que se lhe dediquem extraordinários preparativos acompanhados de fortuna). E fui obrigado a dizer, elogiando a autêntica filosofia, que só ela consente que se identifiquem todas as formas de justiça, no âmbito quer da vida política, quer da pessoal: as gerações humanas não serão libertadas dos seus males enquanto aquele tipo de homens que praticam a filosofia de modo autêntico e verdadeiro não chegarem ao poder político, ou aqueles que governam as cidades, por uma qualquer sorte divina, não começarem a praticá-la(326a-b).
Cf. VEGETTI, Mario. Um paradigma no céu. Platão político, de Aristóteles ao século XX. São Paulo: Annablume, 2010, p. 28-29
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