Pelo texto “Ensaio
sobre a Educação a Distância no Brasil”
da autora Maria Luiza Belloni, no tocante aos Processos de
Socialização, pudemos perceber que é uma tentativa clara e aberta
de preparar os jovens indivíduos das novas gerações para o uso dos
meios técnicos disponíveis na sociedade. Ora, é cada vez mais
comum em nossa sociedade a utilização, mesmo banalizada é claro,
dos instrumentos tecnológicos para fins de comunicação e interação
social. Já é quase impensável viver em sociedade sem um celular ou
um computador plugados à internet. A mediação de máquinas em
nossas relações é quase uma necessidade de sobrevivência. É
muito notório em nosso meio o uso das máquinas para se relacionar.
Sendo assim, é oportuna a observação feita no Ensaio, do ponto de
vista da sociologia, “que não
há mais como constestar que as diferentes mídias eletrônicas
assumem um papel cada vez mais importante no processo de
socialização”(BELLONI, Maria Luiza. Ensaio Sobre a Educação a
Distância no Brasil in Educação & Sociedade, ano XXIII, nº
78, Abril/2002, p. 118). A
partir disso, como negligenciar a evidência desses recursos técnicos
tão presentes na sociedade vigente? De um lado, as crianças
aprendendo sozinhas porque já possuem afinidade com essas novas
teconologias, pois convivem em casa com esse tipo de máquina;
escolas particulares equipando ou aparelhando suas instituições com
máquinas de última geração, sem pessoal eficaz e capaz para
operá-las. Por outro lado, temos as escolas públicas que tentam
acelerar os passos lentos no processo de informatização de suas
instituições. O pessoal dos Governos Municipal, Estadual e Federal
abarrotando as escolas públicas de computadores, data show e outros
recursos não oferece, na mesma medida, o acompanhamento de uma
capacitação para coordenadores pedagógicos e professores. Falta
gerenciamento e muita boa vontade. O resultado disso é que nossas
escolas estão, algumas, diga-se de passagem, repletas de aparelhos
multimídia, laboratórios de infomática e etc, inutilizados, porque
o acelerado processo de midiatização ou informatização das
escolas pelo poder público não tem um acompanhamento de capacitação
de pessoal considerado.
Tenho a impressão de que, por causa
disso, há um sério contraponto nas escolas entre o avanço
teconológico muito imediato e o retrocesso dos profissionais da
educação que não acompanham este avanço. Daí surge a pergunta
que não quer calar: Por que a mesma intimidade que os nossos filhos
tem com as máquinas em casa não pode haver nas escolas? Ou por que
eles não são educados a usá-los de forma adequada na escola? As
escolas públicas deveriam se importar um pouco mais com essa
problemática e já ir inserindo mecanismos metodológicos, como a
internet, para quebrar um pouco mais o ranço tradicional dos
sistemas de ensino. A crítica que a autora faz em relação às
escolas públicas e sua interação com as TIC procede: “as
crianças aprendem sozinhas(autodidaxia), lidando com máquinas
'inteligentes' e 'interativas', conteúdos, formas e normas que a
instituição escolar, despreparada, mal equipada e desprestigiada,
nem sempre aprova e raramente desenvolve”(idem).
Com esse panorama, que não é negativo,
mas processual e conflitivo, ousamos justificar pelo chamado choque
de gerações por que passamos hoje. O mundo não é o mesmo de há
20 anos. Estamos passando por transformações profundas na economia,
na moral, na educação, nas relações sociais, enfim. Por incrível
que pareça, as TIC interferem em todas as áreas de conhecimento
muito mais hoje do que no passado. Os meios tecnológicos de
informação e comunicação não tinham grande influência na vida
das sociedades, - bastam lembrar da queda das ditaduras de Honduras e
Egito, o quanto a sociedade civil do mundo inteiro não participou
via internet, influenciando diretamente na queda desses ditadores -
tampouco no processo de socialização entre os próprios indivíduos.
A TV e o rádio foram ampliados pela presença da internet em grande
parte dos lares brasileiros – Coversamos com as vítimas via
internet, em tempo real, no momento do Tsunami e terremoto que varreu
o nordeste do Japão ano passado. O mais impressionante é não só
absorvermos informação, mas interagirmos com ela. Intervirmos na
comunicação, interferirmos na velocidade da informação. A meu
ver, o problema funda-se aí, na constatação de que não basta
copiar ou repetir informações ou multiplicá-las até, mas
cogitá-las, reformando e interiorizando todo e qualquer tipo de
conteúdo veiculado, dependendo da reflexão crítica, intuitiva, e
da criatividade do usuário. Nesse ponto justamente entra o papel
maravilhoso da educação presencial e à distância.
Ao invés de negligenciar os recursos
técnicos como bem fazem as escolas e academias públicas, devíamos
tentar inserir os meios mais sofisticados da tecnologia mundial a
serviço das escolas, bem como de uma grande parte da população
ainda excluída do acesso ao mundo virtual que presta os mais
variados serviços às pessoas, desde a emissão de contracheque,
compras até cursos de bom nível educacional.
É óbvio que não dá para ficarmos fora
de todos os recursos tecnológicos à nossa disposição. Isso é
praticamente impensável, mas cuidemos, como bem demonstra o Ensaio,
de não entrarmos no jogo capitalista de consumo exacerbado dos bens
tecnológicos, porque isso pode nos anestesiar frente às profundas
desigualdades sociais que nos cercam e nos envolvem. Mesmo com todo
avanço da ciência e da técnica, o mundo ainda não está livre da
fome, da miséria, da pobreza, das doenças, da corrupção. Paira
sobre nós ainda um grande atraso cultural e político. É preciso
alertar: “Nos países
subdesenvolvidos porém industrializados e altamente urbanizados;
pobres e atrasados cultural e politicamente, mas com 'bolsões
tecnificados' e globalizados; nesses países as contradições e as
desigualdades sociais tendem a ser agravadas pelo avanço
tecnológico”(idem, p. 119).
Certamente, como nos afirma a autora do
Ensaio, na contramão do capitalismo e do neoliberalismo selvagem,
eis que surge a entrada da EaD como promotora de uma educação mais
econômica e de qualidade, “(...)
no qual o uso intensivo das TIC se combina com as técnicas de gestão
e marketing, gerando formas inéditas de ensino que podem até
resultar, às vezes e com sorte, em efetiva aprendizagem”(idem, p.
121).
Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Bacharel em Teologia, Licenciado em
Filosofia e Especialização em Metafísica
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