Muito recentemente, tenho descoberto uma renovada alegria, encontrar-me com a inteligência do pensamento de Emmanuel Lévinas. Sua linguagem bem elaborada faz, de quem o lê, balançar-se, sacolejar-se prá lá e prá cá em temas açucarados da atualidade, como: paz, guerra, violência, pluralismo, responsabilidade, alteridade, liberdade, entre outros.
Filósofo celebrado em seu meio acadêmico, Lévinas é marcadamente aquele que é conhecido, de certo modo, por popularizar a cultura judaica em discussões altamente filosóficas ao rigor ocidental. Faz isso com muita habilidade e maestria, uma vez que transparece uma forte docilidade humana no modo de manifestar suas contundentes ideias em vista de uma concretude fenomenológica, isto é, o desejo de expressar o que realmente a consciência das coisas significa.
Estamos o tempo todo sendo engolidos por uma mentalidade gravíssima de consumismo. Não nos satisfazemos com o que temos, tampouco com o que somos. Não tínhamos um celular ao gosto, logo passamos a tê-lo, mais rápido ainda o desejo de possuí-lo acaba passando. O mesmo ocorre com uma televisão, com um carro, com uma casa, com o casamento, com a namorada, enfim, com quase tudo. Quase tudo é descartável e, rapidamente, num piscar de olhos, tudo isso passa a não mais implicar sentido às nossas vidas. Como escapar dessa mentalidade artificial, passageira, consumista, fútil, monótona que insere o homem moderno num tremendo vazio existencial? Lévinas ousa explicar melhor esse problema e aponta uma possível solução.
“‘Mesmo no riso o coração sofre e na tristeza termina a alegria?’(Prov. 14.13) O mundo contemporâneo, científico, técnico e gozador se vê sem saída – isto é, sem Deus – não porque tudo lhe é permitido e, pela técnica, tudo possível, mas porque nele tudo é igual. O desconhecido logo faz-se familiar e o novo, costumeiro. Nada é novo sob o sol. A crise inscrita no Eclesiastes não está no pecado, mas no tédio. Tudo se absorve, se deturpa pouco a pouco e se enclausura no Mesmo, encantamento dos lugares pitorescos, hipérbole dos conceitos metafísicos, artifício da arte, exaltação das cerimônias, magia das solenidades – em todas as situações se suspeita e se denuncia um aparato teatral, uma transcendência de pura retórica, o jogo. Vaidade das vaidades: o eco de nossas próprias vozes tomado como resposta às poucas orações que ainda nos restam; em toda parte, recaída sobre nós mesmos, como após o êxtase da droga. Com exceção de outrem que, em todo esse tédio, não se pode abandonar.(...) As noções do antigo e do novo, entendidas como qualidades, não são suficientes à noção do absolutamente outro. A diferença absoluta não pode delinear ela mesma o plano comum àqueles que diferem. O outro, absolutamente outro, é Outrem. OUTREM NÃO É UM CASO PARTICULAR, UMA ESPÉCIE DA ALTERIDADE, MAS A ORIGINAL EXCEÇÃO À ORDEM. NÃO É PORQUE OUTREM É NOVIDADE QUE SURGE UMA RELAÇÃO DE TRANSCENDÊNCIA; MAS É PORQUE A RESPONSABILIDADE POR OUTREM É A TRANSCENDÊNCIA QUE PODE SURGIR ALGO DE NOVO SOB O SOL”(In LÉVINAS, Emmanuel. De Deus que vem à ideia. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes. 2008. Pág. 31).
É no finalzinho, lá no fim da linha do horizonte, ou se preferirem, “para além do horizonte” que há um clarão, contraponto da fria existência desmotivadora e monótona, o outro. Como contraponto do Mesmo surge o Outro. A novidade do outro responde aqui as questões da existência humana e aponta, segundo Lévinas, uma saída concreta para a sociedade moderna, bastante louvável aos que amargam a uma vida pessimista e sem sentido algum.
O outro nos motiva. O outro nos renova. O outro nos faz viver. O outro nos eleva. O outro nos cura. O outro nos faz outro. O outro não é o mesmo. O outro nos arranca da mesmice!
Prof. Jackislandy Meira de Medeiros
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