segunda-feira, 19 de abril de 2010

A descoberta da justa medida

“Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando vos darão; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo”(Lucas 6.38).


O efeito férias, diga-se de passagem, é recompensador quando alivia o "stress" de um ano cheio de trabalhos e preocupações. Mas, quando provoca sedentarismo, aumenta o tédio e desenvolve o apetite comestível devido à quietude agradável do ambiente familiar, traz consequências sérias a nossa saúde.

Se por um lado, as férias promovem descanso e recarregamento das baterias gastas, por outro lado facilita o acúmulo de gordura em nosso organismo, acarretando doenças como o diabetes, altas taxas de triglicerídeos e de colesterol no sangue, uma vez que se levam as férias sem atividades físicas e num alto comodismo, entregues ao parasitismo.

Digo isso porque vivi essa experiência nas últimas férias. Tive que retomar imediatamente as atividades físicas e levar a vida com uma alimentação balanceada. Uma alimentação mais saudável e muito mais equilibrada, à base de frutas, legumes e bastante líquido.

Foi assim que acabei percebendo na prática a valiosa sabedoria dos gregos antigos ao falar e ao passar a viver de Filosofia. Eles tinham uma fascinação incomparável pelo corpo e pelo cuidado da alma. Eram obcecados por uma vida virtuosa.

O que antes era uma exigência natural e espontânea da própria “phýsis”(natureza), hoje parece ser uma necessidade maior de se desprender dos excessos imputados por uma liberal sociedade demasiadamente consumista. O mundo respira consumo e desperdício, futilidades, gerando uma má qualidade de vida nas pessoas. Muitas, por não conseguirem pautar um ritmo de vida adequado conforme a natureza, acabam por submeter-se a produtos light e diet, quando não a remédios para emagrecimentos relâmpagos.

No entanto, a questão fundamental da ética grega é propor a existência de limites para a natureza humana que não venham a ser transgredidos, a fim de obter equilíbrio necessário, constituindo assim uma vida sábia.

Sem dúvida, com essa busca constante pela cultura da macerridade em função de uma qualidade de vida a duras penas com dietas variadas, como não lembrar maravilhosamente dos termos “hýbris” e “sophrosýne”.

“Hýbris” é excesso, desmedida, transgressão. Também significa impetuosidade, violência, orgulho, arrogância. No dicionário Liddel e Scott(Cf. H. G. Liddel and R. Scott, Greec-English Lexicon, p. 1841), a primeira definição de “hýbris” é “violência temerária que resulta do orgulho pela força ou pelo poder que se possui”. Traduz-se “hýbris” ainda por paixão, luxúria e lascívia. Na contramão vem o substantivo “sophrosýne” com a mesma raiz do verbo “sophronéo” que significa ter a mente sã; ser temperante, adquirir moderação. Daí também o adjetivo “sóphron”, prudente, moderado, aquele que tem controle sobre os apetites e os desejos.

É evidente que qualquer experiência com dietas possibilita ao indivíduo uma descoberta da “hýbris” e uma ligação imediata com “sophrosýne”, de modo que, segundo Aristóteles, passamos à existência moral com relação aos prazeres indicando o meio termo, a justa medida. É a dieta, atualmente, responsável por nos fazer compreender e respeitar a medida certa, nossos limites. Porém, se as dietas não nos fazem repensar o que comemos ao invés de trazer sofrimento e inconformismo, certamente ainda não descobrimos o grandioso valor que há por trás deste novo modo de reeducação alimentar. Precisamos desbanalizar a falsa ideia corriqueira da dieta, que é o de trazer benefícios fantásticos e milagrosos para a beleza, em curto prazo.

Na contracultura do individualismo é precioso comer com, comer junto. Na contracultura do consumismo é saudável comer o menos possível, na medida da saciedade e do bom senso, terminando a refeição com vontade de “quero mais”. Este é o segredo. Não há milagres. A descoberta da justa medida, de certo modo, acaba se encontrando com a felicidade, segundo as palavras de Sólon, “no nada em demasia” e “no conhece-te a ti mesmo”, como estava escrito no oráculo de Delfos. Portanto, continuemos a nossa dieta com sabedoria!

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva

www.umasreflexoes.blogspot.com

www.chegadootempo.blogspot.com

www.floraniajacksil.ning.com

www.twitter.com/filoflorania

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A descoberta da justa medida

“Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando vos darão; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo”(Lucas 6.38).


O efeito férias, diga-se de passagem, é recompensador quando alivia o "stress" de um ano cheio de trabalhos e preocupações. Mas, quando provoca sedentarismo, aumenta o tédio e desenvolve o apetite comestível devido à quietude agradável do ambiente familiar, traz consequências sérias a nossa saúde.

Se por um lado, as férias promovem descanso e recarregamento das baterias gastas, por outro lado facilita o acúmulo de gordura em nosso organismo, acarretando doenças como o diabetes, altas taxas de triglicerídeos e de colesterol no sangue, uma vez que se levam as férias sem atividades físicas e num alto comodismo, entregues ao parasitismo.

Digo isso porque vivi essa experiência nas últimas férias. Tive que retomar imediatamente as atividades físicas e levar a vida com uma alimentação balanceada. Uma alimentação mais saudável e muito mais equilibrada, à base de frutas, legumes e bastante líquido.

Foi assim que acabei percebendo na prática a valiosa sabedoria dos gregos antigos ao falar e ao passar a viver de Filosofia. Eles tinham uma fascinação incomparável pelo corpo e pelo cuidado da alma. Eram obcecados por uma vida virtuosa.

O que antes era uma exigência natural e espontânea da própria “phýsis”(natureza), hoje parece ser uma necessidade maior de se desprender dos excessos imputados por uma liberal sociedade demasiadamente consumista. O mundo respira consumo e desperdício, futilidades, gerando uma má qualidade de vida nas pessoas. Muitas, por não conseguirem pautar um ritmo de vida adequado conforme a natureza, acabam por submeter-se a produtos light e diet, quando não a remédios para emagrecimentos relâmpagos.

No entanto, a questão fundamental da ética grega é propor a existência de limites para a natureza humana que não venham a ser transgredidos, a fim de obter equilíbrio necessário, constituindo assim uma vida sábia.

Sem dúvida, com essa busca constante pela cultura da macerridade em função de uma qualidade de vida a duras penas com dietas variadas, como não lembrar maravilhosamente dos termos “hýbris” e “sophrosýne”.

“Hýbris” é excesso, desmedida, transgressão. Também significa impetuosidade, violência, orgulho, arrogância. No dicionário Liddel e Scott(Cf. H. G. Liddel and R. Scott, Greec-English Lexicon, p. 1841), a primeira definição de “hýbris” é “violência temerária que resulta do orgulho pela força ou pelo poder que se possui”. Traduz-se “hýbris” ainda por paixão, luxúria e lascívia. Na contramão vem o substantivo “sophrosýne” com a mesma raiz do verbo “sophronéo” que significa ter a mente sã; ser temperante, adquirir moderação. Daí também o adjetivo “sóphron”, prudente, moderado, aquele que tem controle sobre os apetites e os desejos.

É evidente que qualquer experiência com dietas possibilita ao indivíduo uma descoberta da “hýbris” e uma ligação imediata com “sophrosýne”, de modo que, segundo Aristóteles, passamos à existência moral com relação aos prazeres indicando o meio termo, a justa medida. É a dieta, atualmente, responsável por nos fazer compreender e respeitar a medida certa, nossos limites. Porém, se as dietas não nos fazem repensar o que comemos ao invés de trazer sofrimento e inconformismo, certamente ainda não descobrimos o grandioso valor que há por trás deste novo modo de reeducação alimentar. Precisamos desbanalizar a falsa ideia corriqueira da dieta, que é o de trazer benefícios fantásticos e milagrosos para a beleza, em curto prazo.

Na contracultura do individualismo é precioso comer com, comer junto. Na contracultura do consumismo é saudável comer o menos possível, na medida da saciedade e do bom senso, terminando a refeição com vontade de “quero mais”. Este é o segredo. Não há milagres. A descoberta da justa medida, de certo modo, acaba se encontrando com a felicidade, segundo as palavras de Sólon, “no nada em demasia” e “no conhece-te a ti mesmo”, como estava escrito no oráculo de Delfos. Portanto, continuemos a nossa dieta com sabedoria!

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