O antropólogo e etnólogo Claude Lévi-Strauss, morto no fim de semana, deixou um legado importante para as ciências humanas e para pesquisadores de todo o mundo, afirmam os acadêmicos ouvidos por VEJA.com. Por meio de uma obra vasta - ele publicou mais de 30 livros -, o francês contribuiu de forma decisiva para o estabelecimento do estudo moderno das relações entre os homens e da cultura humana.
Parte desse decisivo legado foi construída no Brasil. Nascido na Bélgica em 1908, Lévi-Strauss cresceu e se formou em Paris. Viveu no Brasil entre 1935 e 1939, realizando pesquisas junto a tribos indígenas e lecionando na então recém-criada Universidade de São Paulo (USP). "Como ainda era um jovem pensador, passou um tanto desapercebido na época. Sua influência foi descoberta mais tarde, por volta da década de 1960", conta Oscar Calavia Saez, professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Entre os índios - Por aqui, Lévi-Strauss conduziu projetos etnográficos no Mato Grosso e Amazônia. Viveu entre os índios guaycuru e bororo, mas foi sua experiência entre os nambikwara e tupi-kawahib que consolidou sua identidade como antropólogo. As expedições estão registradas no livro Tristes Trópicos (1955), uma autobiografia intelectual do autor.
Em 1949, publicou As Estruturas Elementares do Parentesco, logo reconhecido como um dos mais importantes trabalhos sobre o tema. "Lévi-Strauss renovou a literatura sobre parentesco lançando uma teoria totalmente diferente", confirma Saez. Através da chamada de "teoria da aliança", ele estudou como as famílias são organizadas examinando as estruturas por trás das relações interpessoais.
Segundo Saez, Lévi-Strauss atingiu seu auge intelectual nos anos 1960, quando publicou seu trabalho mais importante: O Pensamento Selvagem (1962). Depois de um tempo esquecido, reapareceu no início da década de 1990, quando teve sua obra revitalizada. "Cada vez mais autores passaram a se inspirar em seus trabalhos e novas interpretações surgiram, muitas vezes opostas àquelas desenvolvidas antes." O brasileiro lembra ainda outra característica marcante do trabalho do mestre: o texto fluente. "Lévi-Strauss era o Marcel Proust (1871-1922) da literatura antropológica", diz, comparando-o ao autor da série Em Busca do Tempo Perdido.
Além do campo do parentesco, seu trabalho também foi fundamental para o desenvolvimento de projetos em torno da universalidade cultural. "Seu pensamento mudou a ideia que se tinha a respeito dos chamados primitivos. A partir de seus estudos, os pesquisadores passaram a levar mais a sério a 'ciência indígena' - mesmo que Lévi-Strauss não gostasse desse termo", afirma Saez. Outro tema bastante abordado por ele eram as artes. "Curiosamente, ele não vinha de uma família de acadêmicos, mas de artistas. Sempre teve grande paixão pela música e pela pintura e possui escritos muito interessantes sobre as duas áreas", conta.
Nas letras - Leda Tenorio Motta, professora do Programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP, diz que Lévi-Strauss também foi uma figura importante para os críticos literários. "Ele teve uma grande ascendência sobre os mais importantes intelectuais da segunda metade do século XX na França, entre eles o 'chefe de história da crítica', Roland Barthes (1915-1980)", afirma.
Segundo ela, as escolas ligadas ao pensamento de Lévi-Strauss passaram a ler a literatura pelo ângulo dos signos e dos mitos. "Podemos dizer que ele é o mestre da literatura pelos signos e mitos", completa.
Parte desse decisivo legado foi construída no Brasil. Nascido na Bélgica em 1908, Lévi-Strauss cresceu e se formou em Paris. Viveu no Brasil entre 1935 e 1939, realizando pesquisas junto a tribos indígenas e lecionando na então recém-criada Universidade de São Paulo (USP). "Como ainda era um jovem pensador, passou um tanto desapercebido na época. Sua influência foi descoberta mais tarde, por volta da década de 1960", conta Oscar Calavia Saez, professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Entre os índios - Por aqui, Lévi-Strauss conduziu projetos etnográficos no Mato Grosso e Amazônia. Viveu entre os índios guaycuru e bororo, mas foi sua experiência entre os nambikwara e tupi-kawahib que consolidou sua identidade como antropólogo. As expedições estão registradas no livro Tristes Trópicos (1955), uma autobiografia intelectual do autor.
Em 1949, publicou As Estruturas Elementares do Parentesco, logo reconhecido como um dos mais importantes trabalhos sobre o tema. "Lévi-Strauss renovou a literatura sobre parentesco lançando uma teoria totalmente diferente", confirma Saez. Através da chamada de "teoria da aliança", ele estudou como as famílias são organizadas examinando as estruturas por trás das relações interpessoais.
Segundo Saez, Lévi-Strauss atingiu seu auge intelectual nos anos 1960, quando publicou seu trabalho mais importante: O Pensamento Selvagem (1962). Depois de um tempo esquecido, reapareceu no início da década de 1990, quando teve sua obra revitalizada. "Cada vez mais autores passaram a se inspirar em seus trabalhos e novas interpretações surgiram, muitas vezes opostas àquelas desenvolvidas antes." O brasileiro lembra ainda outra característica marcante do trabalho do mestre: o texto fluente. "Lévi-Strauss era o Marcel Proust (1871-1922) da literatura antropológica", diz, comparando-o ao autor da série Em Busca do Tempo Perdido.
Além do campo do parentesco, seu trabalho também foi fundamental para o desenvolvimento de projetos em torno da universalidade cultural. "Seu pensamento mudou a ideia que se tinha a respeito dos chamados primitivos. A partir de seus estudos, os pesquisadores passaram a levar mais a sério a 'ciência indígena' - mesmo que Lévi-Strauss não gostasse desse termo", afirma Saez. Outro tema bastante abordado por ele eram as artes. "Curiosamente, ele não vinha de uma família de acadêmicos, mas de artistas. Sempre teve grande paixão pela música e pela pintura e possui escritos muito interessantes sobre as duas áreas", conta.
Nas letras - Leda Tenorio Motta, professora do Programa de Comunicação e Semiótica da PUC-SP, diz que Lévi-Strauss também foi uma figura importante para os críticos literários. "Ele teve uma grande ascendência sobre os mais importantes intelectuais da segunda metade do século XX na França, entre eles o 'chefe de história da crítica', Roland Barthes (1915-1980)", afirma.
Segundo ela, as escolas ligadas ao pensamento de Lévi-Strauss passaram a ler a literatura pelo ângulo dos signos e dos mitos. "Podemos dizer que ele é o mestre da literatura pelos signos e mitos", completa.
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