quinta-feira, 31 de julho de 2008

A náusea...

“Eu me encontrava no jardim público. A raiz do castanheiro mergulhava na terra exatamente por baixo de meu banco. Não me lembrava mais do que era uma raiz. As palavras haviam desaparecido, com elas o significado das coisas, os modos de seu emprego, os tênues sinais de identificação que os homens lhe traçaram na superfície. Eu estava sentado, meio inclinado, cabisbaixo, sozinho diante daquela massa negra e nodosa, totalmente grosseira, que me metia medo. Depois tive um lampejo de iluminação. Aquilo me fez perder o fôlego. Eu nunca pressentira antes o que significa ‘existir’. Nisso assemelhava-se aos demais, aos que passeiam à beira do mar em trajes primaveris. Dizia como eles: ‘O mar é verde, aquele ponto branco lá em cima é uma gaivota’, mas não me compenetrara de que de que aquilo existia, que a gaivota era uma gaivota-existente; a existência costuma esconder-se. Está aí, ao redor de nós, somos nós, não se pode dizer duas palavras sem falar dela e, por fim, nela não se toca... E depois, eis que de repente estava ali, clara como a luz do dia; a existência se revelara inopinadamente”.


J. –P. Sartre, La náusea, Mondadori, Milão, 1984, pp. 193s. Sobre o projeto da Modernidade de voltar às coisas, pois elas, de fato, existem.

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quinta-feira, 31 de julho de 2008

A náusea...

“Eu me encontrava no jardim público. A raiz do castanheiro mergulhava na terra exatamente por baixo de meu banco. Não me lembrava mais do que era uma raiz. As palavras haviam desaparecido, com elas o significado das coisas, os modos de seu emprego, os tênues sinais de identificação que os homens lhe traçaram na superfície. Eu estava sentado, meio inclinado, cabisbaixo, sozinho diante daquela massa negra e nodosa, totalmente grosseira, que me metia medo. Depois tive um lampejo de iluminação. Aquilo me fez perder o fôlego. Eu nunca pressentira antes o que significa ‘existir’. Nisso assemelhava-se aos demais, aos que passeiam à beira do mar em trajes primaveris. Dizia como eles: ‘O mar é verde, aquele ponto branco lá em cima é uma gaivota’, mas não me compenetrara de que de que aquilo existia, que a gaivota era uma gaivota-existente; a existência costuma esconder-se. Está aí, ao redor de nós, somos nós, não se pode dizer duas palavras sem falar dela e, por fim, nela não se toca... E depois, eis que de repente estava ali, clara como a luz do dia; a existência se revelara inopinadamente”.


J. –P. Sartre, La náusea, Mondadori, Milão, 1984, pp. 193s. Sobre o projeto da Modernidade de voltar às coisas, pois elas, de fato, existem.

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