quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Nossos dias


o enigma de um dia – Giorgio de Chirico

Há dias que são mais generosos do que outros. Tem dia que não sinto um só nó na garganta, mas tem dia que os instantes são muito angustiantes. Há dias de ira, de guerras e muito barulho, mas também dias de muita paz, calmaria e silêncio.
Como nuvens escuras, alguns dias são carregados de solidão e angústia. Mas, os dias não são todos assim. O que nos consola é que os dias obedecem a uma lei de continuidade natural. Os dias se sucedem, um após outro. Costumamos chamar os dias menos generosos, mais cheios de contrariedades e aflições, de dias maus.
Aqueles mais amenos e cheios de graça são como nuvens claras e luminosas carregadas de alegrias e menos tristezas, chamamos, estes, de dias bons.
Por que chamá-los assim? Não são apenas dias? Os mais otimistas se esforçam para que os dias sejam melhores, mesmo que não sejam. Alimentados por um psicologismo da autoestima e da motivação, os otimistas correm pra algum lugar longe das dores e tristezas do mundo. Não suportam um dia infeliz. Não aceitam a natureza dos dias. Temem a própria natureza das coisas, a natureza humana nua.
Não é função do pessimista vestir a natureza, tampouco escondê-la em trajes de preconceito e hipocrisia social. Os mais pessimistas tendem a ser menos moralistas e primam pelo despojamento de qualquer tipo de modelo politicamente correto. Não ser politicamente correto nesse caso faz bem a alma. Livrar-se dos preconceitos de uma mente escrupulosa e doente é a obsessão dos que não miram somente no melhor para suas vidas. Quem disse que só o melhor, assim como só o pior, existe?
O curioso é que, certa vez, um admirável professor meu me disse: Pense sempre no pior para que o melhor aconteça”. Como se o pensamento pior atraísse o melhor.
Esses dois modos de pensar parecem ser bem pertinentes, uma vez que ambos nos ajudam a enxergar possibilidades de leitura do próprio mundo. Alinhar-se a um desses possíveis requer de nossa parte dialogar com a sociedade e seus diferentes modelos de comportamentos e de valores.
Como disse, talvez imbuídos de valores judaico-cristãos, sejamos levados a ler nossos dias sob o paradigma do bem ou do mal, da graça ou do pecado, da vida ou da morte, do melhor ou do pior, quase sempre embalados de supostos melhoramentos. No entanto, “a vida como ela é”, pelas lentes de Nelson Rodrigues, cronista e “filósofo” do cotidiano brasileiro, nos enchem de provocação, de espírito crítico e de deboche em relação à pretensa seriedade com que tratamos a vida: “Toda unanimidade é burra”; “Deus só frequenta igrejas vazias”; “A dúvida é autora das insônias mais cruéis”; “Nunca a mulher foi menos amada do que em nossos dias”; “O desejo é triste”.
Quiçá, os nossos dias suscitem questões que nos incomodem, nos façam pensar e nos provoquem, de tal modo que os escrúpulos e moralismos não nos impeçam de refletir, de despir os preconceitos em busca de uma vida nua.

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva.
Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia e Bel. Em Teologia e Pós-graduando em Estudos Clássicos pela UnB/Archai Unesco.

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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Nossos dias


o enigma de um dia – Giorgio de Chirico

Há dias que são mais generosos do que outros. Tem dia que não sinto um só nó na garganta, mas tem dia que os instantes são muito angustiantes. Há dias de ira, de guerras e muito barulho, mas também dias de muita paz, calmaria e silêncio.
Como nuvens escuras, alguns dias são carregados de solidão e angústia. Mas, os dias não são todos assim. O que nos consola é que os dias obedecem a uma lei de continuidade natural. Os dias se sucedem, um após outro. Costumamos chamar os dias menos generosos, mais cheios de contrariedades e aflições, de dias maus.
Aqueles mais amenos e cheios de graça são como nuvens claras e luminosas carregadas de alegrias e menos tristezas, chamamos, estes, de dias bons.
Por que chamá-los assim? Não são apenas dias? Os mais otimistas se esforçam para que os dias sejam melhores, mesmo que não sejam. Alimentados por um psicologismo da autoestima e da motivação, os otimistas correm pra algum lugar longe das dores e tristezas do mundo. Não suportam um dia infeliz. Não aceitam a natureza dos dias. Temem a própria natureza das coisas, a natureza humana nua.
Não é função do pessimista vestir a natureza, tampouco escondê-la em trajes de preconceito e hipocrisia social. Os mais pessimistas tendem a ser menos moralistas e primam pelo despojamento de qualquer tipo de modelo politicamente correto. Não ser politicamente correto nesse caso faz bem a alma. Livrar-se dos preconceitos de uma mente escrupulosa e doente é a obsessão dos que não miram somente no melhor para suas vidas. Quem disse que só o melhor, assim como só o pior, existe?
O curioso é que, certa vez, um admirável professor meu me disse: Pense sempre no pior para que o melhor aconteça”. Como se o pensamento pior atraísse o melhor.
Esses dois modos de pensar parecem ser bem pertinentes, uma vez que ambos nos ajudam a enxergar possibilidades de leitura do próprio mundo. Alinhar-se a um desses possíveis requer de nossa parte dialogar com a sociedade e seus diferentes modelos de comportamentos e de valores.
Como disse, talvez imbuídos de valores judaico-cristãos, sejamos levados a ler nossos dias sob o paradigma do bem ou do mal, da graça ou do pecado, da vida ou da morte, do melhor ou do pior, quase sempre embalados de supostos melhoramentos. No entanto, “a vida como ela é”, pelas lentes de Nelson Rodrigues, cronista e “filósofo” do cotidiano brasileiro, nos enchem de provocação, de espírito crítico e de deboche em relação à pretensa seriedade com que tratamos a vida: “Toda unanimidade é burra”; “Deus só frequenta igrejas vazias”; “A dúvida é autora das insônias mais cruéis”; “Nunca a mulher foi menos amada do que em nossos dias”; “O desejo é triste”.
Quiçá, os nossos dias suscitem questões que nos incomodem, nos façam pensar e nos provoquem, de tal modo que os escrúpulos e moralismos não nos impeçam de refletir, de despir os preconceitos em busca de uma vida nua.

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva.
Especialista em Metafísica, Licenciado em Filosofia e Bel. Em Teologia e Pós-graduando em Estudos Clássicos pela UnB/Archai Unesco.

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