quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Não passamos de pó e cinza



Se tem um tema que realmente demanda muita “metafísica” e nos joga para dentro do drama da existência humana, esse tema é a morte. Essa desconhecida costuma deixar cicatrizes profundas na história e mais ainda na consciência individual e coletiva de todos nós, mas também é capaz de produzir um intenso movimento a favor da vida, quando não, ao menos nos faz refletir e a parar diante dela.
Muitos acidentes de trânsito, tragédias difíceis de apagar, certamente levaram pessoas abnegadas a defender regras mais eficazes de promoção da segurança nas estradas. Assassinatos, homicídios, guerras e catástrofes acabam transformando nossas vidas e até mudando nossos comportamentos a cada momento. Tornamo-nos piores ou melhores, porém alguma coisa muda, alguma coisa sai de lugar com a morte. A morte dá uma guinada na vida da gente.
Por causa da morte do seringueiro Chico Mendes, defensor político dos interesses dos trabalhadores do Estado do Amazonas e contra a exploração irracional da floresta, muitos saíram de suas casas e levantaram a bandeira de luta social e política a favor do meio ambiente, a favor da vida e da desconstrução social. Não é tão diferente com o impacto causado pela morte de centenas de estudantes e trabalhadores cidadãos na época da ditadura militar perseguidos pela censura e pelo cerceamento dos direitos civis. Quem não lembra da revolução que a F1, campeonato de automobilismo, sofreu em virtude da morte de Ayrton Senna! Os EUA ainda não superaram o trauma criado pela morte das quase três mil pessoas, vítimas dos ataques às torres gêmeas em setembro de 2001!
Curioso, mas ainda hoje, depois de mais de sessenta e cinco anos não nos esquecemos da segunda guerra mundial, das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, dos campos de concentração, da morte em massa de mais de seis milhões de judeus. Ora, não sai de nossa memória, após 2013 anos, a morte cruel e brutal de um judeu, Jesus, o tradicional filho do carpinteiro, o Galileu. Como todas as outras, mas, sobretudo, com esta, temos muito o que aprender: Aceitar a morte, uma vez que é a nossa própria condição humana; além disso, vencê-la; atravessar e ser atravessado por ela, de modo a refletir uma vida justa, honesta e corajosa.    
O filósofo francês Jean Paul Sartre, em vida e mesmo após a sua morte, nos deixou um legado praticamente universal, por isso não menos existencial, de que somos condenados à liberdade. Na mesma proporção e talvez mais contundente ainda, essa condenação possa servir para o dado da morte. Somos também condenados à morte porque somos humanos. Parece óbvio, mas basta nascermos, basta estarmos vivos para morrermos.
Ao nos remetermos para o contexto da velhice do Rei Salomão, muitíssimo experimentado em anos, vemos uma corajosa forma de encarar a morte/vida, sacudindo de nós a poeira da vaidade, pois não passamos de pó e cinza. Pensar a morte é encarar a vida com tudo o que ela significa na visão do autor do livro bíblico do Eclesiastes, é saber-se insuficiente, impregnado de vitalidade, é transformar-se em um homem de verdade: “Não te apresses em abrir a boca; que teu coração não se apresse em proferir palavras diante de Deus, porque Deus está no céu, e tu na terra; que tuas palavras sejam, portanto, pouco numerosas. Porque as muitas ocupações geram sonhos, e a torrente de palavras faz nascer resoluções insensatas” (5.1-2).
Fica a pergunta: Sabendo que vamos morrer, e isso não nos escapa, ainda assim nos envaidecemos, como agiríamos, então, acaso não soubéssemos que morreríamos?
Vale aprender do koheleth, como é conhecido o livro do Eclesiastes em hebraico: “[Lembra-te do teu Criador] antes que se quebre a cadeia de prata, e se despedace o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se despedace a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (12. 6,7).


Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bel. em Teologia, Licenciado em Filosofia/UERN, Esp. em Metafísica/UFRN e Esp. em Estudos Clássicos UnB/Archai/Unesco.
www.twitter.com/filoflorania

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A gratuidade do sair-de-si-para-o-outro, texto de Emmanuel Lévinas

Eis que surge, na vida vivida pelo humano, e é aí que, a falar com propriedade, o humano começa, pura eventualidade, mas desde logo eventualidade pura e santa - do devotar-se ao outro. Na economia geral do ser e da sua tensão sobre si, eis que surge uma preocupação pelo outro até o sacrifício, até a possibilidade de morrer por ele: uma responsabilidade por outrem. De modo diferente que ser! É essa ruptura da indiferença - indiferença que pode ser estatisticamente dominante - a possibilidade de um-para-o-outro, um para o outro, que é o acontecimento ético. Na existência humana que interrompe e supera seu esforço de ser - seu conatus essendi espinosista - a vocação de um existir-para-outrem mais forte que a ameaça da morte: a aventura existencial do próximo importa ao eu antes que a sua própria, colocando o eu diretamente como responsável pelo ser de outrem. [...] Tudo se passa como se o surgimento do humano na economia do ser provocasse uma virada no sentido, na intriga e na classe filosófica da ontologia. O em-si do ser persistente-em-ser supera-se na gratuidade do sair-de-si-para-o-outro.


LÉVINAS, E. Entre nós: ensaios sobre a alteridade. Trad. Pergentino Stefano Pivatto (coord.). Petrópolis: Vozes, 2005, pp. 18-9.


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Um exemplo de hospitalidade filosófica






Obviamente que vivemos num mundo da “ecumene”, num mundo habitado, cujas fronteiras estão cada vez mais invisíveis e podemos até nos considerar cidadãos do mundo, quer pela realidade de uma aldeia global quer pela forma como tratamos o outro, o estrangeiro, os de outra pátria ou sem pátria, os andarilhos, forasteiros, enfim. No cenário atual, as discussões diplomáticas a respeito de atos virtuais de espionagem estão quentíssimas, deixando bastante conturbadas as relações éticas entre Brasil e EUA, o que prova o quanto o mundo virtual tornou inseguras nossas fronteiras; a impressão é que elas já não existem mais.
Ainda assim, mesmo com toda a facilidade do que fazemos aqui respingue ali instantaneamente, há recorrentes casos de extremo nacionalismo, acentuada xenofobia nos mais variados rincões. Os preconceitos com o diferente se sucedem em toda parte. Parece que sofremos de uma certa aversão ao diferente, ao que não é do nosso grupo, ao que não pensa como nós.
Só que surgirão os que não admitem ser preconceituosos, xenófobos ou coisa do gênero, etc., mas consideram ser sociáveis, sem problema algum com os outros, tolerantes. Contudo, a conversa muda no momento em que estas situações começam a interferir na minha vida. Desde que determinados problemas não me afetem tudo bem. Geralmente é assim, o tolerar tem limites e transparece superioridade por parte de quem tolera. Bom quem tolera, coitadinho quem é tolerado.
O interessante é que Emmanuel Lévinas, filósofo judeu, lituano, francês, que viveu o turbilhão das guerras do século passado, é um exemplo crucial não de tolerância, e sim de hospitalidade em seu pensamento. Isso é muito forte porque o exemplo de tolerância ainda traz consigo algo de superioridade, pois ao dizer que sou tolerante a você, a enunciação por si só já demonstra algo de superior. Enquanto superior, traduzo a minha bondade sobre você. Ele diz que há algo muito mais generoso, que é precisamente a hospitalidade, o acolher efetivamente o outro, a alteridade, o diferente, e fazer disso um diálogo rico e fértil sob vários aspectos.
Este diálogo se faz entre ideias, linguagens, temas e assim por diante, tal como essa acolhida, essa hospitalidade que ele concede a temas que vem dos apaixonados romances russos, sobretudo Dostoiévski, depois com a leitura da Bíblia e por fim com uma crítica profunda ao espírito do Totalitarismo presente no hitlerismo, por exemplo.
Nesse contexto, a palavra hospitalidade guarda a ideia de duas outras palavras: atenção e acolhimento, de modo que a hospitalidade expressa uma tensão em direção ao outro, intenção também atenta, atenção intencional ao outro. O primeiro movimento que acompanha o acontecimento da hospitalidade, para Lévinas, é o acolhimento: “A noção de rosto significa a anterioridade filosófica do sendo sobre o ser, uma exterioridade que não apela ao poder nem à posse, uma exterioridade que não se reduz, como em Platão, à interioridade da recordação, e que, contudo, protege o eu que o acolhe” (Totalidade e Infinito, p. 22).
Estamos diante de uma hospitalidade infinita e incondicional, aberta à ética, por isso não restrita simplesmente à ordem do político, mas que ultrapassa o pensamento meramente político, do espaço político. O alcance da hospitalidade, segundo Lévinas, está na afirmação de que “A intencionalidade é hospitalidade”. Vejamos o momento de acolhimento à palavra para a decisão divina: “Decisão do Eterno acolhendo a homenagem do Egito (O Eterno é hospedeiro [host] acolhendo o hóspede [guest] que lhe traz sua homenagem numa cena clássica de hospitalidade.). A Bíblia permite prevê-la no Deuteronômio 23. 8, versículo que o próprio Messias, apesar de sua justiça, deve ter esquecido. Pertence-se à ordem messiânica, quando se pode admitir o outro entre os seus. Que um povo aceite aqueles que vêm instalar-se no seu seio, por mais estranhos que sejam, com seus costumes e seus hábitos, com seu falar e seus odores, que ele lhe dê uma akhsania como um lugar de albergue e de que respirar e viver – é um canto de glória do Deus de Israel”(À l'heure des nations, p. 113).

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bel. em Teologia, Licenciado em Filosofia/UERN, Esp. em Metafísica/UFRN e Esp. em Estudos Clássicos UnB/Archai/Unesco.
        
        


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Prêmio Nobel para os descobridores da "partícula de Deus".

François Englert e Peter Higgs descreveram a partícula em 1964. Somente no ano passado, foi possível provar que eles estavam certos.


O prêmio Nobel de Física, anunciado nesta terça-feira (8) na Suécia, foi para os descobridores da partícula que torna possível a existência de tudo e de todos.
Para o cientista, foi mais fácil explicar o universo do que descrever o que sentia. "Eu não estou triste. É muito bom", disse o belga François Englert.
Em 1964, em estudos separados, ele e o outro vencedor do prêmio, o britânico Peter Higgs, descreveram a chamada 'partícula de Deus.
Eu, você e o universo inteiro somos formados por partículas. O Bósons de Higgs, ou a partícula de Deus, é uma peça fundamental, uma espécie de cola, que une todas as outras.
É difícil entender e pesquisar a existência do Bóson de Higgs. Ele é invisível. Os dois pesquisadores demoraram quase 50 anos para receber o prêmio Nobel porque, somente no ano passado, foi possível provar que estavam certos.
Foi preciso construir um acelerador de partículas, um tubo de 27 quilômetros de extensão na fronteira da França com a Suíça. Nele, os cientistas provocaram choques de núcleos de átomos em altíssima velocidade. Com a separação, os pesquisadores finalmente puderam perceber um rastro do Bóson de Higgs.
Na época, Peter Higgs, na plateia, se emocionou. Ele achava que não viveria o suficiente para ver a comprovação da teoria.
O diretor do centro de pesquisa, o CERN, disse que não conseguiu falar com Higgs, mas é certo que ele está muito feliz com o prêmio.

Fonte: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/10/descobridores-da-particula-de-deus-ganham-premio-nobel-de-fisica.html

domingo, 6 de outubro de 2013

Pondé estreia novo programa na TV Cultura

Luiz Felipe PondéO filósofo Luiz Felipe Pondé estreia nesta sexta-feira (04), à meia-noite, seu novo programa na TV Cultura. Comandado por ele, “Peripatético” trará convidados diferentes a cada edição para debater temas contemporâneos da filosofia. Produzido pela Bossa Nova Films, o programa tem um formato inusitado: as discussões acontecem em clima despojado, numa casa de campo, enquanto os convidados caminham ao ar livre. O programa foi inspirado na escola do filósofo grego Aristóteles, que na Antiguidade costumava caminhar com seus discípulos enquanto discutiam filosofia. ”O objetivo é acabar com a ideia de que a filosofia é só para filósofos profissionais”, diz Pondé. Vaidade é o tema discutido no primeiro episódio. Os temas dos próximos 4 episódios já estão definidos e são: sexo, fé, melancolia e casamento – cada um com um conjunto de convidados diferentes. O programa será exibido sempre às sextas-feiras e tem classificação indicativa para 14 anos.


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Sinopse dos episódios

1º episódio – Vaidade
“Vaidade das vaidades. Tudo é vaidade.” Será que esta frase do Eclesiastes traduz bem a nossa época? Para tratar do assunto, o Peripatético convidou a cineasta Paula Trabulsi, o cirurgião plástico Ed Wilson Rossoe, a atriz Grace Gianoukas e a ex-modelo Silene Zepter.  Para falar de vaidade é preciso sinceridade e autocrítica. Afinal, ela é a mentira que contamos sobre nós mesmos para não encararmos as nossas verdades.
2º episódio – Sexo
Quando sexo é o tema, nos mostramos muito esclarecidos e resolvidos. Todos têm uma opinião, uma experiência pra compartilhar, nem que seja uma mentira pra contar. Será que com a revolução sexual, a “conquistada” igualdade entre os sexos fez mulheres e homens mais felizes na cama? A sexóloga Gina Strozzi, a católica Regina Fasanella, estudante disposta a casar virgem, o artista plástico Junior Tupiná e a atriz de filmes pornô Vivi Fernandez foram convidados pelo programa Peripatético, com Luiz Felipe Pondé, para falar, falar e falar sobre sexo.
3º episódio – Fé
Falar de religião é uma forma de interrogar sobre a condição humana; é caminhar entre a fé e a razão. Hoje se discute Deus com palavras de ordem e frases feitas. Definitivamente perdemos de vista a tradição que as grandes religiões carregam. Luiz Felipe Pondé conversa com o teólogo Ed René Kivitz, o gerente de TI ateu Jaime Alves, o católico praticante Italo Fasanella e Ma Dhyan Bavhia, adepta da meditação.
4º episódio – Melancolia
Transtornos e sofrimentos psicológicos parecem se espalhar pelo ar nos nossos dias, como um vírus que contamina a vida moderna. Para cada nova doença, um novo remédio. E organizações de saúde já falam em uma epidemia de depressão. O que não muda nunca é o sofrimento humano, mas em um mundo hedonista não há espaço para angústias, coisa de gente mal resolvida. Por isso é preciso falar sobre melancolia. Falar de melancolia é falar da dor humana e do sentido da vida. O psiquiatra Marco Antonio Marcolin, o ator Carlos Meceni, a psicóloga Ciça Azevedo e a funcionária pública Nelzi Ribeiro são os convidados de Luiz Felipe Pondé deste Peripatético.
5º episódio – Casamento
Falar de casamento nos dias de hoje não é mais falar de uma comunhão para a vida eterna. É falar dos nossos ideais particulares de felicidade e realização; é falar de nossas carências, de nossos desejos. Em tempos de relações líquidas é raro encontrar quem quer viver para o outro, fortalecer a união e muito menos abrir mão de seus planos individuais em nome da sagrada família. Numa discussão em torno da vida a dois estão: Nadia Bucallon – advogada de família, Sergio Savian – terapeuta de casais, Priscila Stucky (solteira) e André Leite Carvalhaes – empresário, casado há 30 anos com a mesma mulher

Fonte: http://charlezine.com.br/ponde-estreia-novo-programa-na-tv-cultura-sobre-temas-filosoficos/

Tv cultura apresenta programa filosófico com Luiz Felipe Pondé - PERIPATÉTICO

Reunir diferentes grupos de pessoas em uma casa de campo para debater temas pertinentes ao mundo e a sociedade contemporânea. Essa é a proposta de Peripatético, nova série de cinco episódios produzida pela BossaNovaFilms que a TV Cultura coloca no ar a partir desta sexta-feira (4/10), à 0h.
O anfitrião é Luiz Felipe Pondé, que, além de conduzir a narrativa, polemiza as discussões à luz da filosofia. A proposta é que convivência e reflexão filosófica se combinem para buscar a compreensão da vida cotidiana de cada um dos convidados entorno de um tema em questão.
Dirigida por Marta Maia e Sérgio Zeigler, a série se inspirou no programa Café Filosófico, realizado pelo Instituto CPFL Cultura. Peripatético tem o patrocínio da CPFL Energia.
No episódio de estreia, Vaidade, Pondé recebe a publicitária Paula Trabulsi, o cirurgião plástico Ed Wilson Rossoe, a atriz Grace Gianoukas e a ex-modelo Silene Zepter para falar sobre o tema.
Os demais capítulos, seguindo a ordem de exibição, são Fé (11/10), Sexo (18/10), Melancolia (25/10) e Casamento (1º/11).
Inspirado pela escola de Aristóteles, que levava seus discípulos ao ar livre para pensar e compreender o mundo em que viviam, Peripatético usa a filosofia como um instrumento prático para a vida, provocando o pensamento filosófico no homem comum.
A concepção do programa surgiu nos bastidores do Café Filosófico CPFL e dos diversos trabalhos que os diretores realizaram juntos, onde os temas da vida cotidiana geravam boas discussões com a equipe. As experiências demonstravam que as idéias mais sofisticadas da filosofia não precisam ficar protegidas atrás das cátedras, entre os muros acadêmicos. No Peripatético, as ideias filosóficas se debatem com casos concretos, relatos de pessoas reais escolhidas especialmente para cada tema.

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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Não passamos de pó e cinza



Se tem um tema que realmente demanda muita “metafísica” e nos joga para dentro do drama da existência humana, esse tema é a morte. Essa desconhecida costuma deixar cicatrizes profundas na história e mais ainda na consciência individual e coletiva de todos nós, mas também é capaz de produzir um intenso movimento a favor da vida, quando não, ao menos nos faz refletir e a parar diante dela.
Muitos acidentes de trânsito, tragédias difíceis de apagar, certamente levaram pessoas abnegadas a defender regras mais eficazes de promoção da segurança nas estradas. Assassinatos, homicídios, guerras e catástrofes acabam transformando nossas vidas e até mudando nossos comportamentos a cada momento. Tornamo-nos piores ou melhores, porém alguma coisa muda, alguma coisa sai de lugar com a morte. A morte dá uma guinada na vida da gente.
Por causa da morte do seringueiro Chico Mendes, defensor político dos interesses dos trabalhadores do Estado do Amazonas e contra a exploração irracional da floresta, muitos saíram de suas casas e levantaram a bandeira de luta social e política a favor do meio ambiente, a favor da vida e da desconstrução social. Não é tão diferente com o impacto causado pela morte de centenas de estudantes e trabalhadores cidadãos na época da ditadura militar perseguidos pela censura e pelo cerceamento dos direitos civis. Quem não lembra da revolução que a F1, campeonato de automobilismo, sofreu em virtude da morte de Ayrton Senna! Os EUA ainda não superaram o trauma criado pela morte das quase três mil pessoas, vítimas dos ataques às torres gêmeas em setembro de 2001!
Curioso, mas ainda hoje, depois de mais de sessenta e cinco anos não nos esquecemos da segunda guerra mundial, das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, dos campos de concentração, da morte em massa de mais de seis milhões de judeus. Ora, não sai de nossa memória, após 2013 anos, a morte cruel e brutal de um judeu, Jesus, o tradicional filho do carpinteiro, o Galileu. Como todas as outras, mas, sobretudo, com esta, temos muito o que aprender: Aceitar a morte, uma vez que é a nossa própria condição humana; além disso, vencê-la; atravessar e ser atravessado por ela, de modo a refletir uma vida justa, honesta e corajosa.    
O filósofo francês Jean Paul Sartre, em vida e mesmo após a sua morte, nos deixou um legado praticamente universal, por isso não menos existencial, de que somos condenados à liberdade. Na mesma proporção e talvez mais contundente ainda, essa condenação possa servir para o dado da morte. Somos também condenados à morte porque somos humanos. Parece óbvio, mas basta nascermos, basta estarmos vivos para morrermos.
Ao nos remetermos para o contexto da velhice do Rei Salomão, muitíssimo experimentado em anos, vemos uma corajosa forma de encarar a morte/vida, sacudindo de nós a poeira da vaidade, pois não passamos de pó e cinza. Pensar a morte é encarar a vida com tudo o que ela significa na visão do autor do livro bíblico do Eclesiastes, é saber-se insuficiente, impregnado de vitalidade, é transformar-se em um homem de verdade: “Não te apresses em abrir a boca; que teu coração não se apresse em proferir palavras diante de Deus, porque Deus está no céu, e tu na terra; que tuas palavras sejam, portanto, pouco numerosas. Porque as muitas ocupações geram sonhos, e a torrente de palavras faz nascer resoluções insensatas” (5.1-2).
Fica a pergunta: Sabendo que vamos morrer, e isso não nos escapa, ainda assim nos envaidecemos, como agiríamos, então, acaso não soubéssemos que morreríamos?
Vale aprender do koheleth, como é conhecido o livro do Eclesiastes em hebraico: “[Lembra-te do teu Criador] antes que se quebre a cadeia de prata, e se despedace o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se despedace a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (12. 6,7).


Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bel. em Teologia, Licenciado em Filosofia/UERN, Esp. em Metafísica/UFRN e Esp. em Estudos Clássicos UnB/Archai/Unesco.
www.twitter.com/filoflorania

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A gratuidade do sair-de-si-para-o-outro, texto de Emmanuel Lévinas

Eis que surge, na vida vivida pelo humano, e é aí que, a falar com propriedade, o humano começa, pura eventualidade, mas desde logo eventualidade pura e santa - do devotar-se ao outro. Na economia geral do ser e da sua tensão sobre si, eis que surge uma preocupação pelo outro até o sacrifício, até a possibilidade de morrer por ele: uma responsabilidade por outrem. De modo diferente que ser! É essa ruptura da indiferença - indiferença que pode ser estatisticamente dominante - a possibilidade de um-para-o-outro, um para o outro, que é o acontecimento ético. Na existência humana que interrompe e supera seu esforço de ser - seu conatus essendi espinosista - a vocação de um existir-para-outrem mais forte que a ameaça da morte: a aventura existencial do próximo importa ao eu antes que a sua própria, colocando o eu diretamente como responsável pelo ser de outrem. [...] Tudo se passa como se o surgimento do humano na economia do ser provocasse uma virada no sentido, na intriga e na classe filosófica da ontologia. O em-si do ser persistente-em-ser supera-se na gratuidade do sair-de-si-para-o-outro.


LÉVINAS, E. Entre nós: ensaios sobre a alteridade. Trad. Pergentino Stefano Pivatto (coord.). Petrópolis: Vozes, 2005, pp. 18-9.


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Um exemplo de hospitalidade filosófica






Obviamente que vivemos num mundo da “ecumene”, num mundo habitado, cujas fronteiras estão cada vez mais invisíveis e podemos até nos considerar cidadãos do mundo, quer pela realidade de uma aldeia global quer pela forma como tratamos o outro, o estrangeiro, os de outra pátria ou sem pátria, os andarilhos, forasteiros, enfim. No cenário atual, as discussões diplomáticas a respeito de atos virtuais de espionagem estão quentíssimas, deixando bastante conturbadas as relações éticas entre Brasil e EUA, o que prova o quanto o mundo virtual tornou inseguras nossas fronteiras; a impressão é que elas já não existem mais.
Ainda assim, mesmo com toda a facilidade do que fazemos aqui respingue ali instantaneamente, há recorrentes casos de extremo nacionalismo, acentuada xenofobia nos mais variados rincões. Os preconceitos com o diferente se sucedem em toda parte. Parece que sofremos de uma certa aversão ao diferente, ao que não é do nosso grupo, ao que não pensa como nós.
Só que surgirão os que não admitem ser preconceituosos, xenófobos ou coisa do gênero, etc., mas consideram ser sociáveis, sem problema algum com os outros, tolerantes. Contudo, a conversa muda no momento em que estas situações começam a interferir na minha vida. Desde que determinados problemas não me afetem tudo bem. Geralmente é assim, o tolerar tem limites e transparece superioridade por parte de quem tolera. Bom quem tolera, coitadinho quem é tolerado.
O interessante é que Emmanuel Lévinas, filósofo judeu, lituano, francês, que viveu o turbilhão das guerras do século passado, é um exemplo crucial não de tolerância, e sim de hospitalidade em seu pensamento. Isso é muito forte porque o exemplo de tolerância ainda traz consigo algo de superioridade, pois ao dizer que sou tolerante a você, a enunciação por si só já demonstra algo de superior. Enquanto superior, traduzo a minha bondade sobre você. Ele diz que há algo muito mais generoso, que é precisamente a hospitalidade, o acolher efetivamente o outro, a alteridade, o diferente, e fazer disso um diálogo rico e fértil sob vários aspectos.
Este diálogo se faz entre ideias, linguagens, temas e assim por diante, tal como essa acolhida, essa hospitalidade que ele concede a temas que vem dos apaixonados romances russos, sobretudo Dostoiévski, depois com a leitura da Bíblia e por fim com uma crítica profunda ao espírito do Totalitarismo presente no hitlerismo, por exemplo.
Nesse contexto, a palavra hospitalidade guarda a ideia de duas outras palavras: atenção e acolhimento, de modo que a hospitalidade expressa uma tensão em direção ao outro, intenção também atenta, atenção intencional ao outro. O primeiro movimento que acompanha o acontecimento da hospitalidade, para Lévinas, é o acolhimento: “A noção de rosto significa a anterioridade filosófica do sendo sobre o ser, uma exterioridade que não apela ao poder nem à posse, uma exterioridade que não se reduz, como em Platão, à interioridade da recordação, e que, contudo, protege o eu que o acolhe” (Totalidade e Infinito, p. 22).
Estamos diante de uma hospitalidade infinita e incondicional, aberta à ética, por isso não restrita simplesmente à ordem do político, mas que ultrapassa o pensamento meramente político, do espaço político. O alcance da hospitalidade, segundo Lévinas, está na afirmação de que “A intencionalidade é hospitalidade”. Vejamos o momento de acolhimento à palavra para a decisão divina: “Decisão do Eterno acolhendo a homenagem do Egito (O Eterno é hospedeiro [host] acolhendo o hóspede [guest] que lhe traz sua homenagem numa cena clássica de hospitalidade.). A Bíblia permite prevê-la no Deuteronômio 23. 8, versículo que o próprio Messias, apesar de sua justiça, deve ter esquecido. Pertence-se à ordem messiânica, quando se pode admitir o outro entre os seus. Que um povo aceite aqueles que vêm instalar-se no seu seio, por mais estranhos que sejam, com seus costumes e seus hábitos, com seu falar e seus odores, que ele lhe dê uma akhsania como um lugar de albergue e de que respirar e viver – é um canto de glória do Deus de Israel”(À l'heure des nations, p. 113).

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bel. em Teologia, Licenciado em Filosofia/UERN, Esp. em Metafísica/UFRN e Esp. em Estudos Clássicos UnB/Archai/Unesco.
        
        


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Prêmio Nobel para os descobridores da "partícula de Deus".

François Englert e Peter Higgs descreveram a partícula em 1964. Somente no ano passado, foi possível provar que eles estavam certos.


O prêmio Nobel de Física, anunciado nesta terça-feira (8) na Suécia, foi para os descobridores da partícula que torna possível a existência de tudo e de todos.
Para o cientista, foi mais fácil explicar o universo do que descrever o que sentia. "Eu não estou triste. É muito bom", disse o belga François Englert.
Em 1964, em estudos separados, ele e o outro vencedor do prêmio, o britânico Peter Higgs, descreveram a chamada 'partícula de Deus.
Eu, você e o universo inteiro somos formados por partículas. O Bósons de Higgs, ou a partícula de Deus, é uma peça fundamental, uma espécie de cola, que une todas as outras.
É difícil entender e pesquisar a existência do Bóson de Higgs. Ele é invisível. Os dois pesquisadores demoraram quase 50 anos para receber o prêmio Nobel porque, somente no ano passado, foi possível provar que estavam certos.
Foi preciso construir um acelerador de partículas, um tubo de 27 quilômetros de extensão na fronteira da França com a Suíça. Nele, os cientistas provocaram choques de núcleos de átomos em altíssima velocidade. Com a separação, os pesquisadores finalmente puderam perceber um rastro do Bóson de Higgs.
Na época, Peter Higgs, na plateia, se emocionou. Ele achava que não viveria o suficiente para ver a comprovação da teoria.
O diretor do centro de pesquisa, o CERN, disse que não conseguiu falar com Higgs, mas é certo que ele está muito feliz com o prêmio.

Fonte: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/10/descobridores-da-particula-de-deus-ganham-premio-nobel-de-fisica.html

domingo, 6 de outubro de 2013

Pondé estreia novo programa na TV Cultura

Luiz Felipe PondéO filósofo Luiz Felipe Pondé estreia nesta sexta-feira (04), à meia-noite, seu novo programa na TV Cultura. Comandado por ele, “Peripatético” trará convidados diferentes a cada edição para debater temas contemporâneos da filosofia. Produzido pela Bossa Nova Films, o programa tem um formato inusitado: as discussões acontecem em clima despojado, numa casa de campo, enquanto os convidados caminham ao ar livre. O programa foi inspirado na escola do filósofo grego Aristóteles, que na Antiguidade costumava caminhar com seus discípulos enquanto discutiam filosofia. ”O objetivo é acabar com a ideia de que a filosofia é só para filósofos profissionais”, diz Pondé. Vaidade é o tema discutido no primeiro episódio. Os temas dos próximos 4 episódios já estão definidos e são: sexo, fé, melancolia e casamento – cada um com um conjunto de convidados diferentes. O programa será exibido sempre às sextas-feiras e tem classificação indicativa para 14 anos.


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Sinopse dos episódios

1º episódio – Vaidade
“Vaidade das vaidades. Tudo é vaidade.” Será que esta frase do Eclesiastes traduz bem a nossa época? Para tratar do assunto, o Peripatético convidou a cineasta Paula Trabulsi, o cirurgião plástico Ed Wilson Rossoe, a atriz Grace Gianoukas e a ex-modelo Silene Zepter.  Para falar de vaidade é preciso sinceridade e autocrítica. Afinal, ela é a mentira que contamos sobre nós mesmos para não encararmos as nossas verdades.
2º episódio – Sexo
Quando sexo é o tema, nos mostramos muito esclarecidos e resolvidos. Todos têm uma opinião, uma experiência pra compartilhar, nem que seja uma mentira pra contar. Será que com a revolução sexual, a “conquistada” igualdade entre os sexos fez mulheres e homens mais felizes na cama? A sexóloga Gina Strozzi, a católica Regina Fasanella, estudante disposta a casar virgem, o artista plástico Junior Tupiná e a atriz de filmes pornô Vivi Fernandez foram convidados pelo programa Peripatético, com Luiz Felipe Pondé, para falar, falar e falar sobre sexo.
3º episódio – Fé
Falar de religião é uma forma de interrogar sobre a condição humana; é caminhar entre a fé e a razão. Hoje se discute Deus com palavras de ordem e frases feitas. Definitivamente perdemos de vista a tradição que as grandes religiões carregam. Luiz Felipe Pondé conversa com o teólogo Ed René Kivitz, o gerente de TI ateu Jaime Alves, o católico praticante Italo Fasanella e Ma Dhyan Bavhia, adepta da meditação.
4º episódio – Melancolia
Transtornos e sofrimentos psicológicos parecem se espalhar pelo ar nos nossos dias, como um vírus que contamina a vida moderna. Para cada nova doença, um novo remédio. E organizações de saúde já falam em uma epidemia de depressão. O que não muda nunca é o sofrimento humano, mas em um mundo hedonista não há espaço para angústias, coisa de gente mal resolvida. Por isso é preciso falar sobre melancolia. Falar de melancolia é falar da dor humana e do sentido da vida. O psiquiatra Marco Antonio Marcolin, o ator Carlos Meceni, a psicóloga Ciça Azevedo e a funcionária pública Nelzi Ribeiro são os convidados de Luiz Felipe Pondé deste Peripatético.
5º episódio – Casamento
Falar de casamento nos dias de hoje não é mais falar de uma comunhão para a vida eterna. É falar dos nossos ideais particulares de felicidade e realização; é falar de nossas carências, de nossos desejos. Em tempos de relações líquidas é raro encontrar quem quer viver para o outro, fortalecer a união e muito menos abrir mão de seus planos individuais em nome da sagrada família. Numa discussão em torno da vida a dois estão: Nadia Bucallon – advogada de família, Sergio Savian – terapeuta de casais, Priscila Stucky (solteira) e André Leite Carvalhaes – empresário, casado há 30 anos com a mesma mulher

Fonte: http://charlezine.com.br/ponde-estreia-novo-programa-na-tv-cultura-sobre-temas-filosoficos/

Tv cultura apresenta programa filosófico com Luiz Felipe Pondé - PERIPATÉTICO

Reunir diferentes grupos de pessoas em uma casa de campo para debater temas pertinentes ao mundo e a sociedade contemporânea. Essa é a proposta de Peripatético, nova série de cinco episódios produzida pela BossaNovaFilms que a TV Cultura coloca no ar a partir desta sexta-feira (4/10), à 0h.
O anfitrião é Luiz Felipe Pondé, que, além de conduzir a narrativa, polemiza as discussões à luz da filosofia. A proposta é que convivência e reflexão filosófica se combinem para buscar a compreensão da vida cotidiana de cada um dos convidados entorno de um tema em questão.
Dirigida por Marta Maia e Sérgio Zeigler, a série se inspirou no programa Café Filosófico, realizado pelo Instituto CPFL Cultura. Peripatético tem o patrocínio da CPFL Energia.
No episódio de estreia, Vaidade, Pondé recebe a publicitária Paula Trabulsi, o cirurgião plástico Ed Wilson Rossoe, a atriz Grace Gianoukas e a ex-modelo Silene Zepter para falar sobre o tema.
Os demais capítulos, seguindo a ordem de exibição, são Fé (11/10), Sexo (18/10), Melancolia (25/10) e Casamento (1º/11).
Inspirado pela escola de Aristóteles, que levava seus discípulos ao ar livre para pensar e compreender o mundo em que viviam, Peripatético usa a filosofia como um instrumento prático para a vida, provocando o pensamento filosófico no homem comum.
A concepção do programa surgiu nos bastidores do Café Filosófico CPFL e dos diversos trabalhos que os diretores realizaram juntos, onde os temas da vida cotidiana geravam boas discussões com a equipe. As experiências demonstravam que as idéias mais sofisticadas da filosofia não precisam ficar protegidas atrás das cátedras, entre os muros acadêmicos. No Peripatético, as ideias filosóficas se debatem com casos concretos, relatos de pessoas reais escolhidas especialmente para cada tema.

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