segunda-feira, 31 de outubro de 2011

As transformações do mundo contemporâneo – Luc Ferry


Luc Ferry – filósofo francês que se tornou best-seller por expor suas idéias de forma leve e bem-humorada, e como ministro da Educação causou polêmica ao banir o uso de véu pelas estudantes muçulmanas nas escolas públicas –, foi o convidado do Café Filosófico CPFL Especial Fronteiras do Pensamento no dia 29 de setembro na CPFL Cultura.
A conferência de Ferry sobre As transformações do mundo contemporâneo teve mediação do psiquiatra e psicanalista Jorge Forbes. Notável defensor do humanismo secular, filosofia baseada na razão, na ética e na justiça, Ferry é professor de Filosofia nas universidades francesas de Lyon II, de Caen, e de Paris VII, e também um dos fundadores do Collège de Philosophie.
Reconhecido por sua didática em ensinar filosofia, suas obras combinam formação acadêmica sólida com um texto acessível. O best-seller Aprender a viver, lançado em 2006, vendeu 700 mil exemplares, 40 mil deles no Brasil. Como ministro da Educação da França, de 2002 a 2004, foi o mentor da polêmica lei que baniu o uso de véu pelas estudantes muçulmanas nas escolas públicas francesas.
A mediação da conferência de Ferry foi feita pelo psicanalista e médico psiquiatra Jorge Forbes, um dos principais introdutores do pensamento de Jacques Lacan no Brasil, de quem frequentou os seminários em Paris, de 1976 a 1981. Forbes teve participação fundamental na criação da Escola Brasileira de Psicanálise, da qual foi o primeiro diretor-geral. Preside o IPLA – Instituto da Psicanálise Lacaniana e o Projeto Análise (www.projetoanalise.com.br) e dirige a Clínica de Psicanálise do Centro do Genoma Humano – USP. Tem vários artigos publicados no Brasil e no exterior. É autor, dentre outros livros, de Você Quer o Que Deseja?, e co-autor de A Invenção do Futuro, em que pensa soluções para viver nessa nova era de quebra dos ideais.
Gravada no dia 29 de setembro de 2011 em Campinas.

http://www.cpflcultura.com.br/site/2011/09/30/cafe-filosofico-cpfl-especial-fronteiras-do-pensamento-2011-%E2%80%93-as-transformacoes-do-mundo-contemporaneo-%E2%80%93-luc-ferry-e-mediacao-de-jorge-forbes-traduzido/

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Dia 17 de Novembro, Eleições da Escola Estadual Cel. Silvino Bezerra - Votem CHAPA 2

Uma escolha democrática, participativa, por isso, livre, deverá atender às exigências atuais da Escola Estadual Cel. Silvino Bezerra da Cidade de Florânia que conta com uma Chapa composta por duas Professoras, conhecedoras da realidade desta comunidade escolar, Daguia Nobre(Diretora) e Mariquinha(Vice), que pretendem desenvolver uma gestão à altura das principais demandas desta Escola, a saber: Laboratório de informática, Sala de recursos multifuncional, Uma ampla diversidade de Profissionais da Educação, Brinquedoteca, Multimídia... E muitas outras demandas que precisarão de uma gestão competente, atuante, responsável e, sobretudo, ética. Com esse perfil de gestão, votem na CHAPA 2

Vazamento das provas do ENEM no Nordeste

Já está se tornando um mau hábito nas edições do ENEM de todos os anos. Essa prática vem trazendo consequências éticas seríssimas para a sociedade brasileira, que não sabe mais em quem confiar, descredenciando assim a própria autonomia ou deliberações do MEC.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Leia trecho de "Borges Oral & Sete Noites", de Jorge Luis Borges



o livro

Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso, sem dúvida, é o livro. Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões de sua vista; o telefone é extensão da voz; depois temos o arado e a espada, extensões de seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.

Em César e Cleópatra, de Shaw, quando se fala da biblioteca de Alexandria diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro é isso, e é também outra coisa: a imaginação. Pois o que é nosso passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? Essa é a função realizada pelo livro.

Já me ocorreu escrever uma história do livro. Não do ponto de vista físico. Não estou interessado nos livros fisicamente (sobretudo nos livros dos bibliófilos, que costumam ser desmesurados), mas nas diversas valorações que o livro já recebeu. Fui antecipado por Spengler, em seu Decadência do Ocidente, em que há páginas belíssimas sobre o livro. Acrescentando algumas observações pessoais, pretendo ater-me ao que diz Spengler.

Os antigos não professavam nosso culto ao livro — fato que me surpreende; eles viam no livro um sucedâneo da palavra oral. Aquela frase que sempre se cita: Scripta manent, verba volant, não significa que a palavra oral seja efêmera, e sim que a palavra escrita é uma coisa duradoura e morta. Em compensação, a palavra oral tem um elemento alado, leve; alado e sagrado, como disse Platão. Todos os grandes mestres da humanidade foram, curiosamente, mestres orais.

Consideremos o primeiro caso: Pitágoras. Sabemos que Pitágoras optou por não escrever. Não escreveu porque não quis se prender a uma palavra escrita. Sentiu, sem dúvida, aquela história de que a letra mata e o espírito vivifica, que depois estaria na Bíblia. Deve ter sentido isso, não quis se prender a uma palavra escrita; por isso Aristóteles nunca fala de Pitágoras, e sim dos pitagóricos. Diz-nos, por exemplo, que os pitagóricos professavam a crença, o dogma, do eterno retorno, que Nietzsche descobriria muito tardiamente. Ou seja, a ideia do tempo cíclico, que foi refutada por Santo Agostinho em A cidade de Deus. Santo Agostinho diz com uma bela metáfora que a cruz de Cristo nos salva do labirinto circular dos estoicos. A ideia de um tempo cíclico também foi aflorada por Hume, por Blanqui… e por tantos outros.

Pitágoras voluntariamente não escreveu, queria que seu pensamento vivesse além de sua morte física, na mente de seus discípulos. Aqui entrou aquela história do (não sei grego, por isso vou dizer em latim) Magister dixit (o mestre disse). Isso não significa que os discípulos estivessem atrelados ao que o mestre havia dito; ao contrário, afirma sua liberdade ao levar adiante o pensamento inicial do mestre.

Não sabemos se foi ele quem iniciou a doutrina do tempo cíclico, mas sabemos que seus discípulos a professavam. Pitágoras morre fisicamente e eles, por uma espécie de transmigração — Pitágoras teria gostado disso —, continuam pensando e repensando o pensamento dele, e, quando criticados por estarem dizendo algo novo, refugiam-se naquela fórmula: o mestre disse (Magister dixit).

Mas temos outros exemplos. Temos o alto exemplo de Platão, quando diz que os livros são como efígies (talvez pensasse em esculturas ou quadros), que dão a impressão de estar vivas, mas que não respondem quando alguém lhes pergunta alguma coisa. Então, para corrigir essa mudez dos livros, ele inventa o diálogo platônico.Ou seja, Platão se multiplica em muitos personagens: Sócrates, Górgias e os outros. Também podemos imaginar que Platão quisesse consolar-se da morte de Sócrates pensando que Sócrates continuava vivo. Diante de todo e qualquer problema, ele se perguntava: o que Sócrates teria dito a esse respeito? Assim, de certo modo ele foi a imortalidade de Sócrates, que não deixou nada escrito, e ao mesmo tempo foi um mestre oral.

De Cristo, sabemos que escreveu uma única vez algumas palavras que a areia se encarregou de apagar. Que se saiba, nada mais escreveu. Buda também foi um mestre oral; ficaram seus sermões. Em seguida, temos uma frase de Santo Anselmo: “Pôr um livro nas mãos de um ignorante é tão perigoso quanto pôr uma espada nas mãos de uma criança”. Era o que se pensava dos livros. Em todo o Oriente existe ainda o conceito de que um livro não deve revelar as coisas; um livro deve, simplesmente, ajudar-nos a descobri-las. Embora eu não saiba hebraico, estudei um pouco a Cabala e li as versões inglesas e alemãs do Zohar (O livro do esplendor), do Sefer Yetsirah (O livro das relações). Sei que esses livros não foram escritos para ser entendidos, mas para ser interpretados, são estímulos para que o leitor acompanhe o pensamento. A Antiguidade clássica não professou nosso respeito pelo livro, embora saibamos que Alexandre da Macedônia guardava a Ilíada e a espada, essas duas armas, debaixo do travesseiro. Havia grande respeito por Homero, mas ele não era considerado um escritor sagrado no sentido que hoje atribuímos à palavra. Não se achava que a Ilíada e a Odisseia fossem textos sagrados: eram livros respeitados,mas também podiam ser atacados.

Platão teve condições de mandar os poetas de sua República para o exílio sem cair na suspeita de heresia. A esses testemunhos dos antigos contra o livro podemos acrescentar um muito curioso de Sêneca. Em suas admiráveis epístolas a Lucílio há uma que se volta contra um indivíduo muito vaidoso, a respeito de quem se dizia que possuía uma biblioteca de cem tomos; e quem — pergunta-se Sêneca — vai ter tempo de ler cem tomos? Hoje em dia, porém, as bibliotecas numerosas são apreciadas.

Na Antiguidade há uma coisa que temos dificuldade para entender, algo que não tem nada a ver com nosso culto ao livro. Sempre se vê no livro um sucedâneo da palavra oral, mas depois chega do Oriente um conceito novo, totalmente estranho à Antiguidade clássica: o do livro sagrado. Tomemos dois exemplos, começando pelo mais recuado: o dos muçulmanos. Para eles, o Corão é anterior à criação, anterior à língua árabe; é um dos atributos de Deus, não uma obra de Deus; é como sua misericórdia ou sua justiça. No Corão fala-se de forma bastante misteriosa da mãe do livro. A mãe do livro é um exemplar do Corão escrito no céu. Viria a ser o arquétipo platônico do Corão, e esse mesmo livro — afirma o Corão —, esse livro está escrito no céu, que é atributo de Deus e anterior à criação. É o que proclamam os ulemás, ou doutores muçulmanos.

Depois temos outros exemplos mais próximos de nós: a Bíblia ou, mais concretamente, a Torá ou o Pentateuco. Considera-se que esses dois livros foram ditados pelo Espírito Santo. Este é um fato curioso: a atribuição de livros de diferentes autores e idades a um único espírito; mas na própria Bíblia se afirma que o Espírito sopra onde quer. Os hebreus tiveram a ideia de reunir diversas obras
literárias de diferentes épocas e de formar com elas um único livro, cujo título é Torá (“Bíblia” é grego). Todos esses livros são atribuídos a um único autor: o Espírito.

Uma vez perguntaram a Bernard Shaw se ele acreditava que o Espírito Santo havia escrito a Bíblia. Ele respondeu: “Todo livro que vale a pena reler foi escrito pelo Espírito”. Ou seja, um livro tem de ir além da intenção de seu autor. A intenção do autor é uma pobre coisa humana, falível, mas no livro tem de haver mais. O Quixote, por exemplo, é mais que uma sátira dos livros de cavalaria. É um texto absoluto no qual não intervém absolutamente, de nenhuma maneira, o acaso.

Pensemos nas consequências dessa ideia. Por exemplo, quando digo:

Correntes águas, puras, cristalinas,
árvores que nelas vos contemplais,
verde prado, de fresca sombra cheio

é evidente que os três versos contam dez sílabas. O autor quis assim, é voluntário.

Mas o que é isso em comparação com uma obra escrita pelo Espírito, o que é isso em comparação com o conceito da Divindade que condescende à literatura e dita um livro? Num livro como esse nada pode ser casual, tudo precisa ter justificativa, as letras precisam ter justificativa. Entende-se, por exemplo, que o início da Bíblia: Bereshit baraelohim comece com um B porque isso está relacionado a benzer. Trata-se de um livro em que nada é casual, absolutamente nada. Isso nos conduz à Cabala, nos conduz ao estudo das letras, a um livro sagrado ditado pela Divindade e que vem a ser o oposto do que os antigos pensavam. Eles pensavam na musa de modo bastante vago.

“Canta, musa, a cólera de Aquiles”, diz Homero no início da Ilíada. Lá, musa se relaciona à inspiração. Quando se pensa no Espírito, porém, pensa-se em algo mais concreto e mais forte: Deus, que condescende à literatura. Deus, que escreve um livro; nesse livro nada é casual: nem o número de letras, nem a quantidade de sílabas de cada versículo, nem o fato de que é possível fazer jogos de
palavras com as letras, de que é possível calcular o valor numérico das letras. Tudo já foi considerado.

O segundo grande conceito do livro — repito — é o fato de ele poder ser uma obra divina. Talvez isso esteja mais próximo daquilo que sentimos hoje do que da ideia que os antigos faziam do livro: ou seja, de que o livro seria um mero sucedâneo da palavra oral. Depois a crença num livro sagrado declina, substituída por outras crenças. Por exemplo pela crença de que cada país é representado por
um livro. Lembremos que os muçulmanos chamam os israelitas de o povo do livro; lembremos a frase de Heinrich Heine sobre a nação cuja pátria era um livro: a Bíblia, os judeus. Temos então um novo conceito, o de que cada país precisa ser representado por um livro; em todo caso, por um autor que pode ser autor de muitos livros.

É curioso — não creio que isso tenha sido observado até agora — que os países tenham escolhido indivíduos que não se parecem muito com eles. Seria o caso de imaginar, por exemplo, que a Inglaterra escolheria o dr. Johnson como seu representante; mas não, a Inglaterra escolheu Shakespeare, e Shakespeare é — por assim dizer — o menos inglês dos escritores ingleses. O típico da Inglaterra é o understatement, é o fato de dizer um pouco menos das coisas. Shakespeare, porém, tendia à hipérbole
na metáfora, e se ele tivesse sido italiano ou judeu, por exemplo, não haveria nada de surpreendente.

Outro caso é o da Alemanha; um país admirável, tão facilmente fanático, e que escolhe justamente um homem tolerante, que não é fanático e que não está muito preocupado com o conceito de pátria; escolhe Goethe. A Alemanha é representada por Goethe.

A França não escolheu um autor, mas a tendência é Hugo. Evidentemente, sinto uma grande admiração por Hugo, mas Hugo não é tipicamente francês, Hugo é estrangeiro na França; Hugo, com aquelas grandes decorações, com aquelas vastas metáforas, não é típico da França.

Outro caso ainda mais curioso é o da Espanha. A Espanha poderia ter sido representada por Lope, por Calderón, por Quevedo. Mas não, a Espanha é representada por Miguel de Cervantes. Cervantes é um homem contemporâneo da Inquisição, mas é tolerante, é um homem que não tem nem as virtudes nem os vícios espanhóis.

É como se cada país achasse que precisa ser representando por uma pessoa diferente, por uma pessoa que possa ser, um pouco, uma espécie de remédio, uma espécie de teriaga, uma espécie de antídoto para seus defeitos. Nós teríamos podido escolher o Facundo, de Sarmiento, que é nosso livro, mas não; nós, com nossa história militar, com nossa história de espada, escolhemos como livro a crônica de um desertor, escolhemos o Martín Fierro, que, embora mereça ser escolhido como livro… O que pensar do fato de que nossa história está representada por um desertor da conquista do deserto? E contudo é assim; como se cada país sentisse essa necessidade.

Sobre o livro, muitos escritores escreveram brilhantemente. Quero mencionar alguns deles. Em primeiro lugar, mencionarei Montaigne, que dedica um de seus ensaios ao livro. Nesse ensaio há uma frase memorável: “Não faço nada sem alegria”. Montaigne afirma que o conceito de leitura obrigatória é um falso conceito. Diz que, quando encontra uma passagem difícil num livro, deixa-o de lado; porque vê na leitura uma forma de felicidade.

Lembro-me de que há muitos anos realizou-se uma pesquisa de opinião sobre o que seria a pintura. Perguntaram isso a minha irmã Norah e ela respondeu que a pintura é a arte de dar alegria com formas e cores. Eu diria que a literatura também é uma forma da alegria. Se lemos alguma coisa com dificuldade, é que o autor fracassou. Por isso considero que um autor como Joyce essencialmente fracassou, porque sua obra exige um esforço.

Na poesia de Borges, Heráclito de Éfeso.

Heráclito

O segundo crepúsculo.
A noite que mergulha no sono.
A purificação e o esquecimento.
O primeiro crepúsculo.
A manhã que foi a aurora.
O dia que foi a manhã.
O dia numeroso que será a tarde desgastada.
O segundo crepúsculo.
Esse outro hábito do tempo, a noite.
A purificação e o esquecimento.
O primeiro crepúsculo...
A aurora sigilosa e na aurora
a inquietude do grego.
Que trama é esta
do será, do é e do foi?
Que rio é este
pelo qual flui o Ganges?
Que rio é este cuja fonte é inconcebível?
Que rio é este
que arrasta mitologias e espadas?
É inútil que durma.
Corre no sonho, no deserto, num porão.
O rio me arrebata e sou esse rio.
De matéria perecível fui feito, de misterioso tempo.
Talvez o manancial esteja em mim.
Talvez de minha sombra,
fatais e ilusórios, surjam os dias.

Luis Borges. Elogio da sombra.

Jo 1.14 na visão de Jorge Luis Borges

Com base no texto bíblico Jo 1.14

Não será menos enigmática esta página
que as de Meus livros sagrados
nem aquelas outras que repetem
as bocas ignorantes,
por julgá-las de um homem, não espelhos
obscuros do Espírito. Eu que sou o É, o Foi e o Será
torno a condescender com a linguagem,
que é tempo sucessivo e emblema.
Quem brinca com um menino brinca com algo
próximo e misterioso;
eu quis brincar com Meus filhos.
Estive entre eles com assombro e ternura.
Por obra de magia
nasci curiosamente de um ventre.
Vivi enfeitiçado, encarcerado num corpo
e na humildade de uma alma.
Conheci a memória,
essa moeda que não é nunca a mesma.
Conheci a esperança e o temor,
esses dois rostos do incerto futuro.
Conheci a vigília, o sono, os sonhos,
a ignorância, a carne,
os torpes labirintos da razão,
a amizade dos homens,
a misteriosa devoção dos cães.
Fui amado, compreendido, louvado e pendi de uma cruz.
Bebi o cálice até as fezes.
Vi por Meus olhos o que nunca havia visto:
a noite e suas estrelas.
Conheci o polido, o arenoso, o díspar, o áspero,
o sabor do mel e da maçã,
a água na garganta da sede,
o peso de um metal na palma,
a voz humana, o rumor de uns passos sobre a relva,
o odor da chuva na Galiléia,
o alto grito dos pássaros.
Conheci também a amargura.
Encomendei esta escrita a um homem qualquer;
nunca será o que desejo dizer,
não deixará de ser seu reflexo.
De Minha eternidade caem estes signos.
Que outro, não o que é agora seu amanuense, escreva
o poema.
Amanhã serei um tigre entre os tigres
e predicarei Minha lei a sua selva,
ou uma grande árvore na Ásia.
Às vezes penso com nostalgia
no odor dessa carpintaria.

Jorge Luis Borges, Elogio da sombra.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Evento: Dia 06 de Dezembro Grande Louvor da Gratidão em Florânia

Em comemoração a semana do evangelico, a cidade de Florânia vivenciará no dia 06 de Dezembro, no centro da cidade, às 18:00 horas, um dos maiores eventos evangélico da história, o "Grande Louvor de Gratidão" do irmão Hélio Araújo.

O evento que será realizado em Florânia será marcado com o lançamento do novo CD da cantora gospel Alice Maciel e Banda Pentecostal. O Grande louvor de Gratidão terá a participação especial dos irmãos Franklin Araújo, Camilla Braga e a Banda Nordestinos Adoradores.
Venha participar com sua família do Grande Louvor de Gratidão levando um quilo de alimento não perecível que será doado neste Natal para as famílias carentes do nosso município.

Apoio Publicitário: Blog do Claudiano Silva

Fonte: www.claudianosilva.com

domingo, 23 de outubro de 2011

Tecnologia foi o tema de ordem da Redação do ENEM 2011

Um tema bem instigante para adolescentes e jovens que não conseguem viver sem conecção. Com a ausência do PC, o celular ou o iphone fazem também o serviço. Viver em rede, conectado ou plugado é a verdadeira obsessão deste século. Espero que meus alunos tenham gostado e navegado ao máximo não somente nas ondas da net, mas sobretudo, nas ondas da linguagem. Tomara que ninguém tenha caído da "rede" na hora de organizar as ideias. Um resultado satisfatório a todos!

O microcosmo das formigas

Mamãe formiga mostra sua força e agilidade equilibrando o filhote sobre sua própria cabeça. O fotógrafo Adegsm (cujo nome real é Thahn Ta Quang) passou mais de um mês fotografando a vida das formigas. As melhores fotos você confere nessa galeria in http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/fotos/mamae-formiga-brinca-com-o-filhote-em-fotos-incriveis-20111022-8.html#fotos

Mãe e filho formiga "brincam" enquanto se equilibram sobre um pequeno galho de planta

Se existe circo de pulgas, por que não um circo de formigas? Nessa foto, mãe e filhote mostram habilidade e equilíbrio dignos de acrobatas circenses

Mães, filhotes e colegas se esforçam para cuidar de uma larva

Ao melhor estilo Indiana Jones, formigas se aventuram penduradas em um galho
As fotos estão uma preciosidade. Não só pela riqueza em detalhes, mas pelo tema proposto. A prática familiar é uma realidade surpreendente no mundo ínfimo das formigas, que não deixam nada a desejar às sociedades humanas, ditas civilizadas. É simplesmente espetacular a forma de vida das formigas! Parabéns ao fotógrafo. Belo trabalho!

sábado, 22 de outubro de 2011

Escandalosamente feliz


Cuidemos de nossos animais!


Tão logo me casei e mal me dei conta de que havia em companhia da minha esposa um cachorro mui amigo da família. Seu nome é Black(preto). Minha esposa cuidava dele desde seu nascimento, desde muito pequeno mesmo. Contava-me que, assim que nasceu, era a coisa mais fofa do mundo, uma espécie de bolinha bem peludinha. A vontade de qualquer pessoa que o via era só mesmo a de apalpar e cheirar. Todos queriam abraçá-lo, apertá-lo e fazer carinho nele, inclusive a família. O cachorro faz parte essencial da família. É um membro que integra, e ao passar o tempo, faz uma falta danada à família.
Blackinho, como o chamamos, já está conosco há 70 anos no tempo dele e há 10 anos na idade das contas da gente. É um animal espertíssimo que, além de proteger a casa e a família, alegra e contagia o ambiente em que estamos. Ele nos disciplina. Faz-nos entender que não existe só o nosso mundo, mas também o mundo dele. É impressionante, mas quando chega a hora de passear, seu relógio biológico não falha. Começa a latir, a pular em cima de nós, a cheirar, dando sinais de que está chamando para andar, pois está na hora. Seu relógio é mais sensível às necessidades do que o nosso. Queremos controlar tudo, até mesmo o nosso relógio biológico, imagine o de um cachorro! É aí que entra o aprendizado. Deixamos tudo e partimos para atender às necessidades do outro, no caso aqui, o meu companheiro de todas as horas, o meu estimado blackinho. Aprendemos a não ser tão egoístas.
É engraçado. Dizemos que somos um povo civilizado, educado, avançado e extremamente inteligente, mas esquecemos ou anestesiamos a consciência ética de que pertinho de nós tem vida animal circulando, até porque os animais, quer sejam gatos, cachorros, aves, etc, são indispensáveis para o equilíbrio ambiental. Se há animais em nosso meio é um ótimo sinal, pois as esferas de vida vegetativa, mineral e humana geralmente estão em boas condições de qualidade de vida. O ecossistema precisa da existência desses seres, que extinguimos, maltratamos e, muitas vezes ignoramos, para preservar os recursos naturais à nossa sobrevivência.
É lamentável, mas não entendemos nossos animais! Pouco, muito pouco sabemos a respeito dos animais, até que um dia passemos a criar algum ou alguns e logo mudemos nossa maneira, muitas vezes, de vê-los e aceitá-los em nosso convívio. Já perdi as contas dos gatos de estimação que criei, tratei e cuidei, tendo que amargar a dor de perdê-los por envenenamento, simplesmente porque pessoas não gostam, não aceitam, melhor dizendo, não entendem seus comportamentos. Animais morrem atropelados, são eliminados todos os dias com tiros e exterminados. Vocês sabiam que nós somos os únicos animais que matamos por maldade!?
Inúmeros fatos ocorrem frequentemente em nossas cidades, bairros e ruas, de pessoas que maltratam sem piedade os animais. Animais existem para ser protegidos, não sacrificados sem motivo algum, só porque vivem soltos na rua. Ora, se são sadios, se não ameaçam a vida de ninguém e são alimentados por moradores, qual a razão para sacrificá-los? Talvez, isso ocorra por falta de punição à altura do dano. As pessoas deveriam ser punidas por isso. Quantos de nós conhecem a Declaração Universal dos Direitos dos Animais pela UNESCO?
Quem chuta animais por bel-prazer ou joga pedras neles precisa rever suas ações e princípios. Os animais são criaturas de Deus e têm uma importância fundamental para o meio ambiente. Segundo a UNESCO, todos os animais têm o mesmo direito à vida; Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem; Nenhum animal dever ser maltratado e por aí vai...
Olhem que curioso, no Japão existe um restaurante com uma enorme e variada quantidade de gatos espalhados por todos os lados. Cada um de dar gosto de ver e de acariciar. Muito bonitos e bem cuidados. A maioria dos clientes que vai ao restaurante está interessada em se divertir e entreter-se com os felinos. Os bichinhos são mimosos, atenciosos e acalmam o pior dos clientes, que escolhem os gatos de sua preferência e pagam pelo serviço. A ideia do restaurante, diz o dono do negócio, é trazer bem-estar, tranquilidade e propor uma terapia natural aos clientes por meio dos pichanos, enquanto se servem dos deliciosos pratos da casa. Uma coisa é certa, tudo vem incluído na conta.
Estaria certo Platão ao afirmar que o homem nada mais é do que “um bípede sem penas”?!

Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Bacharel em Teologia, Licenciado em Filosofia e Especialista em Metafísica
Páginas na net:

Educação e sociedade

A sociedade precisa rever o tratamento que está dando à algumas profissões essenciais ao fiel exercício da cidadania. A educação é o meio por excelência em que as pessoas têm a oportunidade de mudar suas vidas decentemente, sem qualquer manipulação ou distorção de seus direitos. Enquanto a sociedade não chamar para si a responsabilidade pela educação, mais e mais estaremos distantes de um país que quer alcançar a excelência. Sem educação não se sai da miséria, muito menos da pobreza. Sem investimentos consideráveis na educação não somos exemplos para o mundo.

Um bom filme: "O último mestre do Ar"

Um filme fabuloso. Enche os nossos olhos de admiração, pena ou ainda bem que só assisti agora, nesses dias. Há toda uma filosofia oriental por dentro das cenas e dos diálogos de seus personagens. Como dominar os quatro elementos da natureza? Ar, Água, Terra e Fogo. As nações estão divididas e seus dominadores escondidos para não serem descobertos e maltratados pelos dominadores do Fogo. No entanto, todos procuram o Avatar. Alguém que, pela tradição, possui o dom de aprender a dominar os quatro elementos. Só o Avatar consegue essa façanha, dominar os quatro elementos com equidade e justiça, a fim de promover a ordem e a paz. A busca pelo Avatar significa sabedoria.
 Bem, se alguém estiver à procura de um filme bastante curioso e interessante pelo modo como as pessoas se preocupam com o equilíbrio da natureza, é só ir à uma locadora e escolher este filme e curtir uma bela programação para este final de semana.
Quem tem alguma noção de Filosofia ocidental, ao ver o filme, se lembrará imediatamente da "phýsis", se quisermos aqui fazer um paralelo com a cultura filosófica ocidental, partindo da Grécia, onde os primeiros filósofos se maravilhavam com a manifestação da Água(Tales de Mileto), do Ar(Anaxímenes), do Fogo(Heráclito) e da Terra para explicar racionalmente o princípio ordenador de todas as coisas. Os pré-socráticos eram inquietos por buscarem a "Arché", um princípio que os fizessem entender a mudança, o movimento das coisas ou a própria "phýsis", natureza. Quem assim o desejar, poderá assistir ao filme "O último mestre do Ar" nessa ótica.

Prof. Jackislandy Meira

sábado, 15 de outubro de 2011

O PROFESSOR E A VIDA


Elegeu-se um dia no calendário anual para se pensar no Professor. Do contrário, parece ser o dia em que menos se pensa nele, uma vez que muitas questões em volta dele merecem bem mais importância para a sociedade. É o salário o assunto mais cogitado de todos, quando não, tudo o mais é relacionado, menos a condição exclusivamente humana do Professor. A merenda que lhe fora negada; o tão alardeado “Piso Salarial” de valorização profissional que nunca é pago integralmente; as vantagens promocionais relativas ao cargo que não são reconhecidas... Até mesmo as ideias político-educacionais são mais relevantes do que propriamente a figura humana do Professor. Certamente, se todos esses direitos não lhes fossem negados não dariam atenção exagerada a eles. Talvez, sem esses problemas da “Profissão” por perto, pudéssemos enxergar um professor mais humano que sofre, que também é família, que também é gente, se diverte, come, dorme, viaja, adoece e se alegra, ama, tolera, sente e fica indignado. Sem dúvida, haveria um maior destaque à condição humana mesma do Professor.
Que bom seria se todos os Professores vivessem mais como irmãos uns dos outros, sem grandes revanchismos e desafetos; Que bom seria se os Professores fossem mais amigos e criassem um ambiente de família na escola. Que bom seria se os Professores cuidassem uns dos outros como uma verdadeira necessidade de sobrevivência. Que bom seria se os Professores aceitassem seus erros e percebessem, com isso, crescimento e mudança. Que bom seria se os Professores fossem verdadeiros leitores. Que bom seria se os Professores continuassem a ser alunos. Que bom seria se.... Ah! Deixemos de baboseira e vamos ao que interessa. Os professores precisam encarar uma realidade: A CONCORRÊNCIA. Não é a internet, muito menos a praça, nem os barzinhos abertos em hora de aula, tampouco os celulares, mas a vida. Porque mais importante do que a Educação numa escola, é a vida. Maior do que qualquer Escola é a escola da vida. O melhor mestre é o mestre da vida. Mesmo assim, não sejamos pedantes nem suficientes, achando que tudo, inclusive a vida independem dos professores e dos espaços escolares! Menos. Hoje, sobretudo hoje, os Professores são capazes de influenciar pessoas, e principalmente, a vida.
Muitas vezes, o aluno não ouve os pais, não dá atenção à família. O aluno, do mais ao menos rebelde, quando não quer ouvir ou dialogar com a família, raramente busca o seu professor para uma atenção a mais, para uma boa conversa. Porém, quando nada disso funciona. Pai, mãe, irmãos, tios, tias, amigos, professores, enfim. Quando nada o fizer ouvir, só lhe restará, afinal, a vida. As duras quedas, o choque com a existência, a vida nua e crua, sem ou com as máscaras, sem ou com as contradições em que ela está eivada, sem ou com as hipocrisias. Assim, quando nada mais o reprovar, nem mesmo a Escola, a vida estará lá, esperando para reprová-lo sem dó nem piedade. Por isso, ainda é tempo de ouvir o professor.
Se o aluno e as pessoas de um modo geral souberem ouvir e aprender com seu Professor, felizmente a vida sorrirá para elas sem ter que reprová-las, tampouco a escola. O bom professor é aquele que ajuda a por ordem à vida de seus alunos, formando não guias, mas verdadeiros líderes. É lamentável perceber que grande parte das pessoas não foi bem sucedida na vida porque não ouviu seus professores. Nesse sentido, o professor é o nosso maior conselheiro. Um pai. Um amigo. Um confidente. Um irmão. Jamais um fardo a ser tolerado, mas um ser apaixonado pela vida que merece ser celebrado.
No entanto, o aluno saberá a quem deve ouvir. Ele consigo mesmo saberá. Só ele saberá quem, de fato, o ensinará muito melhor do que todas as desventuras da vida, o professor. Este, sim, lhe mostrará uma verdade magnífica: A vida é uma aprendizagem. Sempre precisamos aprender com ela, porém o Professor tem o dom maravilhoso de se antecipar a ela e mostrar a seus alunos, em meio a pior das concorrências, que é possível ser feliz. Sem dúvida, o Professor tem a vocação de Deus para ser um Profeta, semelhantemente ao último nascido de mulher, segundo as palavras de Jesus Cristo, João Batista que clamava em pleno deserto a vinda salvadora do Messias, o filho de Deus. Como este Profeta, o Professor tem a graça feliz de, neste dia, anunciar para todos que só é possível redimir a sociedade dos políticos corruptos pela educação. O professor é a voz dos que tem fome e sede de justiça. É o professor quem acredita que a educação transforma vidas, que a educação não perde vidas, mas as encontra e as ensina como viver diferente,com sucesso e dignamente.
As adversidades da vida – Quer sejam os concursos, quer sejam as perdas, quer sejam as decepções ou até mesmo as doenças – não poderão ser mais fortes do que as ideias que construímos e reconstruimos, fazemos e refazemos, criamos e recriamos e, depois, compartilhamos com nossos professores a partir dos livros didáticos e das experiências adquiridas. Possivelmente, os professores nos ensinam muito mais do que a vida, uma vez que nos ensinam com, por, da e para a vida. Daí, os professores serem parte significativa e indispensável de crescimento e prosperidade para uma sociedade que se perde num mar profundo de consumo e ambição, o contraponto necessário de discussão dos problemas que precisam ser revistos.
Só mesmo os Professores para nos ensinar a olhar diferente! Eles nos ajudam a arrumar a cabeça, a escolher melhor, a sair das ciladas da vida e a rever valores através da Educação. Eles, só eles preservam e zelam pela ideia de que a Educação é a base da sociedade.
Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Especialista em Metafísica

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Posto aqui uma piada sem graça, mas com alguma filosofia. Kkkkkkkkkkkkk

Calvin: Algumas pessoas são pragmáticas, aceitam as coisas como são e tiram o melhor partido das oportunidades que têm.
Calvin: Outras são idealistas, defendem princípios e recusam compromissos.
Calvin: Outras ainda, só obedecem aos caprichos que lhes passam pela cabeça.
Hobbes: E tu, de que tipo és?
Calvin: Pragmaticamente transformo os meus caprichos em princípios.

In "É um Mundo Mágico", Calvin and Hobbes by Bill Watterson, pág. 84

Horário de não verão. Veremos esse verão da charge? Kkkkkkkkk

Boa mesmo!

Maior do que a crise econômica é a crise da EDUCAÇÃO


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A mais nova febre da FOX: Série "Terra Nova"

A série é simplesmente maravilhosa e empolgante do início ao fim. Além de prender nossa atenção, a série possibilita-nos viajar na imaginação do autor para um novo mundo, bem mais natural e instintivo; do que o mundo  atual, cheio de poluição e destruição dos recursos naturais. A série é repleta de mistérios que nos permitem assisti-la para que, pouco a pouco, possamos nos surpreender. TERRA NOVA pode ser assistida todas as segundas-feiras, a partir das 22h, no canal FOX. Vejam a sinopse:

"Terra Nova acompanha uma família comum numa jornada incrível de volta à Terra no período pré-histórico como uma pequena parte de uma experiência ousada para salvar a humanidade.

No ano de 2149, o mundo está morrendo. O planeta está superexplorado e superpovoado, está extinta a maioria das vidas vegetal e animal. O futuro da humanidade está em xeque e a única esperança de sobrevivência está no passado distante..."




Às crianças grandes e pequenas...

"Peço perdão às crianças por dedicar este livro a uma pessoa grande. Tenho uma desculpa séria: essa pessoa grande é o melhor amigo que possuo no mundo. Tenho uma outra desculpa: essa pessoa grande é capaz de compreender todas as coisas, até mesmo os livros de criança. Tenho ainda uma terceira: essa pessoa grande mora na França, e ela tem fome e frio. Ela precisa de consolo. Se todas essas desculpas não bastam, eu dedico então esse livro à criança que essa pessoa grande já foi. Todas as pessoas grandes foram um dia crianças (mas poucas se lembram disso). Corrijo, portanto, a dedicatória: A LÉON WERTH QUANDO ELE ERA PEQUENINO"

(Saint'Exupèry. Dedicatória da maravilhosa e inesquecível obra O Pequeno Príncipe)

Todas as crianças grandes e pequenas deviam ler este livro tão fantástico e ao mesmo tempo tão filosófico. Num dia como este, em que comemoramos o dia das crianças, sua leitura seria um enorme presente para os que querem entrar um pouquinho no mundo misterioso do principezinho que, antes de mais nada, nos representa a todos por sua sede de respostas diante do deserto, das flores, do homem, da raposa, do carneiro, da serpente, enfim, da vida. Sinta-se, como eu, perplexo com a leitura e releitura deste livro.

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A ética de Eva

por Luiz Felipe Pondé para Folha
Você acha que seria ético uma mulher usar da beleza pra conseguir o que quer na vida? E uma mulher usar seu belo corpo pra dar uma má notícia pro marido, como no comercial da lingerie Hope?
Esse comercial fala do poder feminino sobre o desejo do homem por ela e não sobre ela ser objeto indefeso do homem.

Aliás, desde o jardim do Éden. Apesar de Deus ter dito a Adão "não pode comer a maçã!", Adão não resistiu a Eva: "Come meu amor, come!". E Adão caiu de boca. O velho poder feminino.

Você pode ser uma daquelas pessoas que não entendem nada de mulher e dizer "isso é um absurdo!", mas o fato é que usar a beleza como instrumento de vida é um dado natural da experiência humana, e não necessariamente um ato canalha ou de submissão.

A beleza é como a cerveja: um "gesto" do corpo entre a devassidão e a moderação.

Antes de tudo, a palavra "ética" é hoje tão banal quanto "energia". Todo mundo tem um entendimento "pessoal" do que seria ética. Quando você escutar alguém começar com "a questão da ética", fuja. Só vem blá-blá-blá.

Na filosofia, não há consenso sobre o que é ético. Para alguns britânicos, como Hume, Oakeshott ou os darwinistas, a ética é uma disciplina que estuda hábitos de pensamento, de afeto e de comportamento, estabilizados numa comunidade (num sentido mais restrito) ou na humanidade (no sentido mais amplo), que se revelam hegemônicos e bem-sucedidos em garantir uma certa ordem e um certo sucesso no convívio comum ao longo do tempo.

Estamos aqui a anos-luz de distância da mania de "perfeição ética" de gente como Kant ou Singer (o cara que acha que bicho é gente).

Analisemos a ideia de mulheres (caso mais comum) usarem da beleza física pra conseguir coisas na vida, à luz dessa ética do hábito.

Devemos separar o uso abusivo da beleza do uso ético da mesma.

Uma mulher bonita X se veste com uma saia curta para uma entrevista, entra numa sala com outras pessoas e se senta de pernas abertas. Isso é abusivo. Uma mulher bonita Y se veste com uma saia menos curta do que a mulher X, mas que ainda assim revela, escondendo, sua beleza, entra numa sala com outras pessoas e se senta de modo discreto. Isso é ético.

Neste nosso "experimento", a mulher Y age de modo ético. Espera-se que mulheres bonitas revelem sua beleza (o mundo respira melhor onde há mulheres bonitas e a beleza é um gradiente, não um "ponto isolado no espaço"), mas essa revelação é pautada pela expectativa de que ela não esfregue sua beleza na cara de pessoas estranhas; na cara do marido, ela pode esfregá-la.

A ética aqui é antes de tudo o bom senso de que quem tem beleza pra revelar pode ser discreta; por extensão, quem tem beleza pra revelar e não é discreta é porque é "feia" por dentro.

A sutil relação entre ser bela e ser discreta compõe o campo dos hábitos morais desejáveis nas mulheres bonitas. Pode usar a beleza, mas com moderação, assim como o álcool.

O caso dos homens é um pouco diferente, não porque neles a beleza não conte, mas porque as mulheres erotizam facilmente o intelecto masculino, enquanto os homens dificilmente erotizam a inteligência feminina. Pouco adianta as meninas ficarem bravas com isso.

Se o entrevistador for um homem, provavelmente ele levará primeiro em conta a beleza das duas em detrimento das mais feinhas. Mas a vulgar sempre poderá perder a vaga no caso de o entrevistador ser também ele alguém de bom senso.
Todo mundo prefere gente bonita à sua volta. O ambiente de trabalho fica muito melhor quando tem mulher bonita, cheirosa e bem vestida por perto.
Mas isso não deve ser o critério último da decisão. Entre duas capazes, uma bonita e outra mais feinha, entretanto, a bonita leva.

Claro que a raiva contra argumentos como esse nasce dos chatinhos.

É a falta do "recurso" contingente (a beleza até hoje é em grande parte obra do acaso, ainda que cada vez mais passe a ser, em parte, obra da grana) que causa o rancor. Temo que uma hora dessas inventem uma cota de feinhas para as faculdades, as empresas e a publicidade.

Ou que proíbam as mulheres de ficarem de calcinha em casa.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

Serenidade




Antes mesmo de encerrar algumas linhas sob o aspecto da serenidade, é importante ressaltar que desde Epicuro até Heidegger, o grande sábio é aquele que atinge a serenidade, a paz.
No correr desses dias, de altos assuntos tecnológicos, principalmente pela morte recente de Steve Jobs, acionista majoritário da “apple”, um gênio da informática e idealista do “imac”, do “iphone” e do “ipad”, insurge-se em torno de nós uma preocupação extrema com as próximas novidades tecnológicas, uma vez que Steve era obcecado pelo novo, pelas mudanças. A pergunta que não quer calar vem à tona: O que virá agora? Muitos jovens, adolescentes e até adultos, bem como uma parte considerável da população mundial, certamente, está se perguntando agora. O que virá depois da morte de Steve Jobs? Mas, pergunto-me, o que tem a ver a serenidade com tudo isso? Ah! Veremos.
Com tantos achados tecnológicos e a incrível emancipação humana frente à ciência, será possível ainda que o mundo venha a se perguntar por novidades tecnológicas? É... Não estamos satisfeitos! Quanto mais entramos e nos infiltramos no interior das máquinas de ponta do mundo contemporâneo, mais e mais nos sentimos seduzidos por elas. Quem seduz quem? É a inversão(confusão) do sistema capitalista. Nos relacionamos muito mais com os nossos notbooks, iphones e ipads; do que com os nossos irmãos, pais e amigos. Isso produz, compulsivamente, sujeitos de desejos que se atraem por novas e cada vez mais novíssimas máquinas com designers diferentes. As pessoas não se contêm e correm avassaladoramente para as incríveis, não menos tentadoras, invenções tecnológicas.
Dessa forma, dificilmente conseguimos pensar. A esfera tecnológica, repleta de entretenimentos, nos faz suspender o pensamento, ou pelo menos, pensar de outro modo. Porém, se sentimos falta da reflexão, do pensamento, do verdadeiro pensar, é porque precisamos repensar a serenidade. Coisa parecida escreve Heidegger: “Há dois tipos de pensar, cada um dos quais é, por sua vez e a sua maneira, justificado e necessário: o pensar calculador (rechenende Denken) e a reflexão meditativa (besinnliche Nachdenken). É a esta última a que nos referimos quando dizemos que o homem de hoje foge ante o pensar”(Cf. M. Heidegger, Serenidade, trad. M.M. Andrade e O. Santos, Lisboa, Ed.Instituto Piaget, 1959, p.13-13).
Aí está o caminho da reflexão. Nessa direção se dá o anúncio dessa estranha tendência filosófica que supõe a Serenidade no dizer de Heidegger: “Podemos utilizar os objetos técnicos tal como eles têm de ser utilizados. Mas podemos, simultaneamente, deixar esses objetos descansar em si mesmos, como algo que não interessa àquilo que temos de mais íntimo e de mais próprio. Podemos dizer sim à utilização inevitável dos objetos técnicos e podemos ao mesmo tempo dizer não impedindo que nos absorvam e, desse modo, verguem, confundam e, por fim, esgotem a nossa natureza (...) Deixemos os objetos técnicos entrar em nosso mundo cotidiano e ao mesmo tempo deixemos-los repousar em si mesmos como coisas que não são algo de absoluto, mas que dependem elas próprias de algo superior”(idem, p. 22-23s).
Heidegger viveu numa época de deslumbramento da técnica, ao ponto de reivindicar uma melhor relação da ciência com a filosofia. Aliás, dificilmente se fazia filosofia sem ciência. Nietzsche, Heidegger e outros foram o grande contraponto desse momento. Mesmo assim, a ciência insistia em se impor. Os dias de Heidegger não eram tão diferentes dos nossos. O início do séc. XX provou ser o alvorecer dos encantos e desencantos da ciência: Criação e testes da bomba atômica, criação de armas químicas, guerras, fome no mundo, doenças... Um século que se mostrou contraditório e por demais desumano que viu morrer 6 milhões, senão mais, de judeus e outras inúmeras pessoas, submissas ao ódio de um tirano no poder. Tempos horríveis que despertaram no humano uma tremenda sede de paz, de serenidade. Fomos marcados, injustificavelmente, por duas grandes guerras mundiais com consequências terríveis de destruição em massa.
Os tempos são outros, mas com algumas semelhanças. Como se não bastasse, já somos herdeiros de uma ideologia norte-americana que tem ódio do terror do Oriente Médio. Vimos o assustador 11 de setembro de 2001. Não obstante, há um certo maravilhamento comparado à época de Heidegger, em que se vislumbram inovações tecnológicas capazes de nos deixar perplexos pelo conforto, pela praticidade, pela mobilidade e, mais que isso, pelo entretenimento oferecido aos usuários das inventividades de Steve Jobs. Este é o mundo de Bill Gates, Steve Jobs e de outros mais. Querendo ou não, este é o nosso mundo!
Todavia, não é deste mundo que vem a nossa paz, tal como afirma a Sagrada Escritura: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá”(Jo 14.27). Somente com a experiência da serenidade é que podemos dizer sim ou não a este mundo, pois a serenidade ou o estado sereno diante da vida ou das coisas nos permite ascender a um outro estágio de mistério e contemplação que é a sabedoria segundo Heidegger. Na linha da natureza e da vida sem ascendê-las, Epicuro nos assegura que a serenidade é uma espécie de impertubabilidade da alma que culmina numa vida boa, não numa boa vida, chamando a isso também de vida sábia. Portanto, serenidade é sim sabedoria.

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bacharel em Teologia, Licenciado em Filosofia e Especialista em Metafísica

sábado, 8 de outubro de 2011

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Bookshelf tour – um turismo por seus livros

Uma prática que parece muito saudável, isto é, mostrar suas prateleiras de livros
hans-christian-andersen
Hans Christian Andersen e ao fundo uma prateleira de livros ₢ Corbis
Dizem que as melhores viagens que podemos fazer estão em nossas mentes. Sim, por que é com a imaginação que atingimos os confins do Universo e também as mais abissais profundidades dos Oceanos e também, respectivamente a amplitude própria de uma sociedade bem como a profundidade do indivíduo.
Se você realmente gosta de ler sentirá um baita orgulho de suas prateleiras e poderá criar uma bookshelf tour, nada mais nada menos que um giro por suas prateleiras, ou um turismo literário por suas prateleiras, que poderá muito bem demonstrar não apenas o seu gosto literário como a sua personalidade.
Então, você começa a imaginar tudo e todas as coisas que sua mente pode proporcionar e um dia resolve escrever um livro para contar suas histórias e, assim, quem sabe também ser conhecido além da pluralidade de histórias individuais. Ao mesmo tempo, você pode demonstrar quem é pelo tipo de vestimenta, hábitos alimentares e tudo mais que envolva sua personalidade.
Veja um vídeo em que você pode ter uma noção do que é um Bookshelf Tour
Já pensou ser conhecido pelos livros que lê? Sim, você pode se destacar por ler este ou aquele livro ou nos recônditos de seu local preferido de leitura, que tanto pode ser um banco de coletivo – trem, ônibus ou metrô, por exemplo –, ou o seu banheiro (leia o artigo Livros para ler no banheiro), ou como na maioria dos casos sua poltrona. Porém, como esse é um daqueles hábitos solitários que caracterizam o ser humano… O quê? Não, minha senhora, não foi feita qualquer referência a Onan. Sabemos bem que ao se ler em algum coletivo a bisbilhotice é uma saudável prática, que pode ajudar a iniciar uma bela história de amor mesmo que com o advento dos leitores eletrônicos este ato talvez não venha mais a existir devido ao advento dos leitores eletrônicos (1 ).
É notório que em muitos escritórios espalhados por aí, sempre há grandes prateleiras com livros esmeradamente encadernados e isso demonstra que o seu proprietário é um homem culto, mesmo que aqueles livros sejam apenas enfeite e, na maioria dos casos, uma imitação de lombadas de livros feitas para “decorar” o ambiente. Em filmes de espionagem não faltam livros que, ao ser puxados de seu lugar na estante, abrem portas secretas. Portanto, as prateleiras repletas de livros são todas de mentirinha para enganar os desavisados.

A seleção hoje é sua própria adversária.

Brasil x Costa Rica. Alguém aí arriscaria um placar?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Do direito de dizer-se

Nei Alberto Pies 
“O que nos falta é a capacidade de traduzir em proposta aquilo que ilumina a nossa inteligência
 e mobiliza nossos corações: a construção de um novo mundo” (Herbert de Souza, Betinho)

Todos os cidadãos e cidadãs têm o direito de dizer algo sobre sua cidade. As Câmaras de Vereadores, também chamadas “Casas do Povo”, instaladas em todos os municípios de nosso país, com raras exceções  garantem espaços para que a comunidade possa expressar, livremente, os problemas que afligem a sua vida na cidade. Os obstáculos à cidadania e à manifestação popular que as casas legislativas impõem a seu povo não constituem importante contradição da própria democracia?

A cidadania precisa de um lugar de fala e de escuta pública. Ao falar do seu lugar, do seu bairro, da sua realidade, dos seus problemas e de suas conquistas, o povo diz-se a si mesmo. Deste modo, elabora um jeito de viver a cidade e conviver socialmente. Na medida em que os agentes políticos oferecem oportunidades para a população dizer-se, maiores serão as possibilidades de integração social e de resolução dos problemas que envolvem a coletividade. 

Vivemos sob o regime da democracia representativa, mas felizmente uma parcela significativa da população vê também as Câmaras de Vereadores como um espaço que, por excelência, deveria acolher as suas demandas, sugestões e reclamações. As Câmaras de Vereadores, por acolherem a pluralidade das diferentes ideologias partidárias, poderiam organizar-se para oportunizar espaços de discussão sobre os destinos de uma cidade. Sem uma interlocução permanente com a população, o legislativo não cumpre com a sua finalidade de representar as demandas e os interesses desta mesma população. 

Depois de eleitos, todos os vereadores passam a ser vereadores de toda a população de uma cidade. Infelizmente, muitos vereadores adotam posicionamentos direcionados somente àqueles grupos ou pessoas que tiveram interesse na sua eleição, deixando de cumprir sua missão de homens públicos, eleitos para legislar, acolher e encaminhar as demandas da comunidade, fiscalizar e acompanhar todas as obras públicas executadas pelo poder executivo. Por sua condição de homens públicos, suas atitudes, falas e intervenções públicas sempre são passíveis de questionamento, explicações e responsabilização, por mais que gozem de “imunidade parlamentar”.

A socióloga Maria Alice Canzi Ames, ao comentar sobre a impossibilidade de manifestação pública na Câmara de Vereadores de Santa Rosa, RS, afirma que “as ideias e as opiniões, mesmo sendo divergentes devem circular de forma livre. As pessoas têm direito dentro de um estado democrático de manifestar livremente a sua palavra”. Manifesta ainda que a atitude de barrar manifestações numa Câmara de Vereadores fere os princípios da democracia, que significa a autoridade e a força do povo.

A cidadania preconiza que tenhamos asseguradas possibilidades de todos viverem e dizerem a cidade da qual são parte. O que nos une, na democracia, são os interesses coletivos. Na sua cidade há espaços para o povo dizer-se? Os espaços sociais de sua cidade permitem a construção de uma nova sociedade?
 


FELICIDADE E SERENIDADE EM LUC FERRY

Luc Ferry: “A felicidade não existe. Só a serenidade”

Para o filósofo francês, todas as grandes filosofias tentaram fazer com que os homens vencessem seus medos. Hoje, a ecologia se baseia na proliferação do medo

Branca Nunes
Luc Ferry em seu escritório em Paris Luc Ferry em seu escritório em Paris (Bassignac Gilles/Gamma)
Todas as filosofias querem a mesma coisa: salvar os homens do medo que os impede de viver bem. Só que as grandes filosofias são as doutrinas da salvação sem Deus e sem a fé.
A popularidade do filósofo francês Luc Ferry, 60 anos, também é alicerçada na originalidade de suas frases de efeito. Por exemplo: “A felicidade não existe, o que existe é a serenidade”. Ou: “Todas as grandes filosofias e religiões tentaram fazer com que os homens vencessem seus medos. Hoje, a ecologia política se baseia na proliferação do medo”. Lançada em 2006, Aprender a viver, sua obra de maior sucesso, vendeu mais de 700.000 exemplares em dezenas de idiomas. Entre seus últimos livros estão Famílias, amo vocês e A tentação do cristianismo. Ministro da Educação da França de 2002 a 2004, foi o idealizador da lei que proibiu o uso de véu por estudantes muçulmanas nas escolas públicas francesas. Alto, cabelos negros e ondulados, Ferry expôs, entre uma tragada e outra, um pouco da teoria que mistura filosofia, psicanálise e irresistíveis pitadas de autoajuda.
Qual é o maior obstáculo à felicidade? A felicidade não existe. Temos momentos de alegria, mas não existe um estado permanente de satisfação. Separações, a morte de pessoas queridas, doenças e acidentes são inevitáveis. É por isso que a busca pela felicidade plena não faz sentido. O que podemos almejar é a serenidade, algo completamente diferente. Só se atinge a serenidade vencendo o medo. É o medo que nos torna egoístas e nos paralisa, que nos impede de sorrir e de pensar de forma inteligente, com liberdade. Os filósofos gregos costumavam dizer que o sábio é aquele que consegue vencer o medo.
O medo da morte é o maior obstáculo para o homem? Existem basicamente três grandes medos. O primeiro é a timidez. Ele aparece, por exemplo, quando somos apresentados a alguém muito importante, ou quando precisamos falar em público. É a pressão da sociedade. O segundo medo são as fobias. Medo do escuro, de insetos, de ficar preso num elevador. O terceiro é o medo da morte. Tememos mais a morte de pessoas que amamos do que a nossa própria morte. Não me refiro apenas à morte biológica, mas a tudo o que é irreversível. O corvo do poema homônimo de Edgar Alan Poe exemplifica isso perfeitamente. Repete a todo momento, como um papagaio, a expressão “nunca mais”. Essa é a morte dentro da vida. Para uma criança, pode ser o divórcio dos pais, já que nunca mais os verá juntos. O nunca mais, a irreversibilidade da vida, nos dá a experiência da morte. A grande questão da serenidade, e não da felicidade, é como vencer esse medo. Toda a filosofia, desde Homero e Platão até Schopenhauer e Nietzsche está baseada na doutrina da serenidade.
Além das fobias conhecidas, existem as modernas? Vivemos a sociedade do medo. Aos três grandes medos que eu falei, adiciona-se outro, tipicamente ocidental: o medo que se desenvolveu com a ecologia politica. Medo do eleito estufa, do buraco na camada de ozônio, do aquecimento global, de micróbios, da poluição, do fim dos recursos naturais. A cada ano, um novo medo se adiciona a todos os outros: medo da carne vermelha, da gripe aviária, da aids, do sexo, do tabaco, da velocidade dos carros. Os grandes ecologistas e os filmes que tratam do tema têm como objetivo principal trazer o medo. No livro O princípio da responsabilidade, do filósofo alemão Hans Jonas, há um capítulo chamado Heurística do medo. Nele, o medo é descrito como uma paixão positiva e útil. Em toda a história da filosofia ocidental, o medo é o inimigo, é algo infantil, que faz mal. A ecologia inverte essa tradição filosófica ao sustentar que o medo é o começo de uma nova sabedoria e que, graças ao medo, os seres humanos vão tomar consciência dos perigos que existem no planeta. O medo não é mais visto como algo infantilizado, mas como o primeiro passo no caminho da sabedoria. É o que os ecologistas chamam de princípio da precaução. Isso não quer dizer que os ecologistas estejam errados. Há um componente de verdade no que dizem, mas há também muita mentira. Não aceito a ideia de um movimento político que se baseie exclusivamente no medo.
Qual a diferença entre a angústia vista pela psicanálise e pela filosofia? A filosofia e a psicanálise lidam com angústias distintas. A psicanálise luta contra a angústia patológica, o conflito entre o desejo e a moral, uma tentativa de reconciliar o indivíduo consigo próprio. No entanto, mesmo se atingíssemos uma perfeita saúde mental, depois de 20 anos de análise bem sucedida, restaria a angústia metafísica. Aí começa a filosofia, que ensina a alcançar a sabedoria no sentido da serenidade, não da felicidade.
O que há na filosofia que a religião não tem? Tanto a grande religião quanto a grande filosofia pretendem fazer com que as pessoas deixem de ter medo. Essencialmente, o que a religião diz é que, se alguém tem fé, se acredita em Deus, não precisa ter medo. Não precisa, por exemplo, temer a morte. As religiões são a doutrina da salvação pela fé. Todas as filosofias querem a mesma coisa: salvar os homens do medo que os impede de viver bem. Só que as grandes filosofias são as doutrinas da salvação sem Deus e sem a fé.
Com a disseminação do medo, ficou mais difícil superá-lo? A primeira grande resposta a essa pergunta nasce na Odisséia, de Homero. O poema conta como Ulisses vencerá os maiores medos da existência humana: o medo do passado e do futuro. Ulisses, que vive em Ítaca, uma cidade grega, com sua mulher Penélope, precisa partir para a Guerra de Tróia. Fica 20 anos longe de casa, imerso no caos da guerra. A história mostra como Ulisses vai do caos à harmonia, da guerra à paz, do ódio ao amor de Penélope. Durante 20 anos ele se agarra ao passado, ou ao futuro, à nostalgia de Ítaca, ou à esperança de voltar a Ítaca. Quando retorna à terra natal depois de tanto tempo, pode, enfim, viver no presente. Os filósofos gregos diziam que o sábio é aquele que consegue pensar menos no passado e ter menos esperança. Se eu me separar, se mudar de casa, se trocar de emprego. O passado já aconteceu. O futuro é uma ilusão.
Por que o título do seu livro é Aprender a viver? Houve uma mudança no ensino da filosofia, uma guinada da prática para o discurso decorrente da vitória do cristianismo sobre o mundo ocidental. A partir da Idade Média a religião assume um papel mais importante que a filosofia. Ela detém o monopólio do que é a vida beata, do que é a salvação, e proíbe a filosofia de cuidar dessa questão. É aí que a filosofia se torna apenas um discurso, uma análise de conceitos e não mais uma prática que tem por objetivo ensinar a viver. Escolhi o título Aprender a viver para difundir a ideia de que a filosofia não é apenas um discurso, mas um aprendizado da vida. Resumidamente, a filosofia é uma concorrente da religião e da psicanálise.
O ensino da filosofia deveria ser obrigatório nas escolas? Tudo depende da forma como ensinamos. Infelizmente, a maior parte do tempo, ao menos na França, reduzimos a filosofia a um tipo de instrução civil. Apresentamos aos alunos questões sem respostas possíveis: “O que é o belo?”, “o que é o bem?”, “o que é o tempo?”. Isso não tem nada a ver com a filosofia. É uma imbecilidade, uma estupidez. É melhor não ensinar filosofia do que ensinar dessa forma. Se um dia quisermos que as crianças pensem por si próprias, precisamos ensinar a história de grandes visões do mundo. Contar, por exemplo, que na filosofia existem cinco grandes respostas para a pergunta “o que é a vida boa”: a grega, a cristã, a do humanismo moderno, a de pensadores como Nietzsche e a contemporânea. Isso é apaixonante. A filosofia não consiste em tentar construir um argumento para responder a uma questão absurda. A filosofia é aprender a viver.
Como se ensinava filosofia nas grandes escolas gregas? Ao contrário do que ocorre nas nossas, nas escolas gregas não havia discursos, mas exercícios de aprendizado da sabedoria. Um exemplo: na escola estóica, no século IV A.C., Zenão de Cítio, o primeiro estóico, pedia a seus alunos que pegassem um peixe morto na feira e o amarrassem em uma coleira para levá-lo para passear como se fosse um cachorro. Quando passavam, quase todos olhavam e zombavam. O que pretendiam? Que os alunos não temessem o que os outros diziam. O sábio não é apenas aquele que vence o medo do olhar alheio, do que os outros pensam. O sábio não se importa com as convenções artificiais dessas “boas pessoas”. Ele desvia o olhar para concentrar-se na natureza, no cosmos. Vive em harmonia com a ordem natural, com ele próprio e com o mundo.
Como ministro da Educação, o senhor provocou controvérsia ao banir o uso de véu pelas estudantes muçulmanas e do solidéu pelos judeus nas escolas públicas. O que o senhor pensa hoje dessa polêmica? Na França, a polêmica não foi tão grande quanto nos outros países que não entenderam a nossa posição. Temos a maior comunidade judaica do mundo, depois de Israel e Nova York, assim como temos a maior comunidade muçulmana da Europa. Depois da segunda intifada (2000), que aguçou o conflito entre israelenses e palestinos, houve um aumento enorme de atos violentos dentro das escolas. As crianças muçulmanas se sentiam palestinas, embora fossem francesas. E os judeus retrucavam como sendo israelenses. Mesmo sendo, antes de tudo, franceses. Limitei-me a dizer que, no ensino fundamental, até os 16 anos, todos os sinais religiosos estavam proibidos. Mão só o véu islâmico, mas o quipá e a cruz. A decisão se limitou às crianças, não atingiu as ruas, os adultos. O professor não precisa saber qual é a religião dos alunos, se são judeus, católicos ou muçulmanos. Ao mesmo tempo, temos que lutar pela libertação das nossas mulheres e proteger nossas crianças. O islamismo radical é o nazismo dos nossos dias.
Por que os maiores filósofos do mundo são gregos e alemães? Tanto no caso grego, quanto no alemão, o grande motivo é a proximidade entre religião e filosofia. A filosofia sempre foi a secularização e a laicização de uma religião já existente. A filosofia grega, por exemplo, é uma versão secular e laica da mitologia grega. Da mesma forma, toda a filosofia alemã é uma apresentação racional da teologia protestante de Lutero. Ao afirmar “eu não quero ler a bíblia com a tradução latina”, “eu desconfio daqueles que estão no Vaticano”, Lutero resumiu o grande gesto do protestantismo: a busca pela verdade absoluta. Esse gesto abarca toda a filosofia alemã. Antes da filosofia, os dois povos viveram momentos muito importantes na religião. Você não tem isso nos Estados Unidos, nem na França. Ao contrário do que pensam os franceses, Descartes não é um bom filósofo.

In http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/luc-ferry-%E2%80%9Ca-felicidade-nao-existe-o-que-existe-e-a-serenidade%E2%80%9D

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Brasileiros se preparam para o horário de verão

 
À meia-noite do dia 16 de Outubro, começa o horário de verão nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil. A mudança ocorre sempre no terceiro domingo de outubro e se estende até o terceiro domingo de fevereiro, dia 26.
A alteração cronológica visa reduzir o consumo de energia durante a estação mais quente do ano. No último verão, o gasto de energia caiu 4,4% entre o fim da tarde e início da noite, horário de pico, de acordo com o Ministério de Minas e Energia.

Fotos no Facebook

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

As transformações do mundo contemporâneo – Luc Ferry


Luc Ferry – filósofo francês que se tornou best-seller por expor suas idéias de forma leve e bem-humorada, e como ministro da Educação causou polêmica ao banir o uso de véu pelas estudantes muçulmanas nas escolas públicas –, foi o convidado do Café Filosófico CPFL Especial Fronteiras do Pensamento no dia 29 de setembro na CPFL Cultura.
A conferência de Ferry sobre As transformações do mundo contemporâneo teve mediação do psiquiatra e psicanalista Jorge Forbes. Notável defensor do humanismo secular, filosofia baseada na razão, na ética e na justiça, Ferry é professor de Filosofia nas universidades francesas de Lyon II, de Caen, e de Paris VII, e também um dos fundadores do Collège de Philosophie.
Reconhecido por sua didática em ensinar filosofia, suas obras combinam formação acadêmica sólida com um texto acessível. O best-seller Aprender a viver, lançado em 2006, vendeu 700 mil exemplares, 40 mil deles no Brasil. Como ministro da Educação da França, de 2002 a 2004, foi o mentor da polêmica lei que baniu o uso de véu pelas estudantes muçulmanas nas escolas públicas francesas.
A mediação da conferência de Ferry foi feita pelo psicanalista e médico psiquiatra Jorge Forbes, um dos principais introdutores do pensamento de Jacques Lacan no Brasil, de quem frequentou os seminários em Paris, de 1976 a 1981. Forbes teve participação fundamental na criação da Escola Brasileira de Psicanálise, da qual foi o primeiro diretor-geral. Preside o IPLA – Instituto da Psicanálise Lacaniana e o Projeto Análise (www.projetoanalise.com.br) e dirige a Clínica de Psicanálise do Centro do Genoma Humano – USP. Tem vários artigos publicados no Brasil e no exterior. É autor, dentre outros livros, de Você Quer o Que Deseja?, e co-autor de A Invenção do Futuro, em que pensa soluções para viver nessa nova era de quebra dos ideais.
Gravada no dia 29 de setembro de 2011 em Campinas.

http://www.cpflcultura.com.br/site/2011/09/30/cafe-filosofico-cpfl-especial-fronteiras-do-pensamento-2011-%E2%80%93-as-transformacoes-do-mundo-contemporaneo-%E2%80%93-luc-ferry-e-mediacao-de-jorge-forbes-traduzido/

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Dia 17 de Novembro, Eleições da Escola Estadual Cel. Silvino Bezerra - Votem CHAPA 2

Uma escolha democrática, participativa, por isso, livre, deverá atender às exigências atuais da Escola Estadual Cel. Silvino Bezerra da Cidade de Florânia que conta com uma Chapa composta por duas Professoras, conhecedoras da realidade desta comunidade escolar, Daguia Nobre(Diretora) e Mariquinha(Vice), que pretendem desenvolver uma gestão à altura das principais demandas desta Escola, a saber: Laboratório de informática, Sala de recursos multifuncional, Uma ampla diversidade de Profissionais da Educação, Brinquedoteca, Multimídia... E muitas outras demandas que precisarão de uma gestão competente, atuante, responsável e, sobretudo, ética. Com esse perfil de gestão, votem na CHAPA 2

Vazamento das provas do ENEM no Nordeste

Já está se tornando um mau hábito nas edições do ENEM de todos os anos. Essa prática vem trazendo consequências éticas seríssimas para a sociedade brasileira, que não sabe mais em quem confiar, descredenciando assim a própria autonomia ou deliberações do MEC.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Leia trecho de "Borges Oral & Sete Noites", de Jorge Luis Borges



o livro

Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso, sem dúvida, é o livro. Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio, o telescópio, são extensões de sua vista; o telefone é extensão da voz; depois temos o arado e a espada, extensões de seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.

Em César e Cleópatra, de Shaw, quando se fala da biblioteca de Alexandria diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro é isso, e é também outra coisa: a imaginação. Pois o que é nosso passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? Essa é a função realizada pelo livro.

Já me ocorreu escrever uma história do livro. Não do ponto de vista físico. Não estou interessado nos livros fisicamente (sobretudo nos livros dos bibliófilos, que costumam ser desmesurados), mas nas diversas valorações que o livro já recebeu. Fui antecipado por Spengler, em seu Decadência do Ocidente, em que há páginas belíssimas sobre o livro. Acrescentando algumas observações pessoais, pretendo ater-me ao que diz Spengler.

Os antigos não professavam nosso culto ao livro — fato que me surpreende; eles viam no livro um sucedâneo da palavra oral. Aquela frase que sempre se cita: Scripta manent, verba volant, não significa que a palavra oral seja efêmera, e sim que a palavra escrita é uma coisa duradoura e morta. Em compensação, a palavra oral tem um elemento alado, leve; alado e sagrado, como disse Platão. Todos os grandes mestres da humanidade foram, curiosamente, mestres orais.

Consideremos o primeiro caso: Pitágoras. Sabemos que Pitágoras optou por não escrever. Não escreveu porque não quis se prender a uma palavra escrita. Sentiu, sem dúvida, aquela história de que a letra mata e o espírito vivifica, que depois estaria na Bíblia. Deve ter sentido isso, não quis se prender a uma palavra escrita; por isso Aristóteles nunca fala de Pitágoras, e sim dos pitagóricos. Diz-nos, por exemplo, que os pitagóricos professavam a crença, o dogma, do eterno retorno, que Nietzsche descobriria muito tardiamente. Ou seja, a ideia do tempo cíclico, que foi refutada por Santo Agostinho em A cidade de Deus. Santo Agostinho diz com uma bela metáfora que a cruz de Cristo nos salva do labirinto circular dos estoicos. A ideia de um tempo cíclico também foi aflorada por Hume, por Blanqui… e por tantos outros.

Pitágoras voluntariamente não escreveu, queria que seu pensamento vivesse além de sua morte física, na mente de seus discípulos. Aqui entrou aquela história do (não sei grego, por isso vou dizer em latim) Magister dixit (o mestre disse). Isso não significa que os discípulos estivessem atrelados ao que o mestre havia dito; ao contrário, afirma sua liberdade ao levar adiante o pensamento inicial do mestre.

Não sabemos se foi ele quem iniciou a doutrina do tempo cíclico, mas sabemos que seus discípulos a professavam. Pitágoras morre fisicamente e eles, por uma espécie de transmigração — Pitágoras teria gostado disso —, continuam pensando e repensando o pensamento dele, e, quando criticados por estarem dizendo algo novo, refugiam-se naquela fórmula: o mestre disse (Magister dixit).

Mas temos outros exemplos. Temos o alto exemplo de Platão, quando diz que os livros são como efígies (talvez pensasse em esculturas ou quadros), que dão a impressão de estar vivas, mas que não respondem quando alguém lhes pergunta alguma coisa. Então, para corrigir essa mudez dos livros, ele inventa o diálogo platônico.Ou seja, Platão se multiplica em muitos personagens: Sócrates, Górgias e os outros. Também podemos imaginar que Platão quisesse consolar-se da morte de Sócrates pensando que Sócrates continuava vivo. Diante de todo e qualquer problema, ele se perguntava: o que Sócrates teria dito a esse respeito? Assim, de certo modo ele foi a imortalidade de Sócrates, que não deixou nada escrito, e ao mesmo tempo foi um mestre oral.

De Cristo, sabemos que escreveu uma única vez algumas palavras que a areia se encarregou de apagar. Que se saiba, nada mais escreveu. Buda também foi um mestre oral; ficaram seus sermões. Em seguida, temos uma frase de Santo Anselmo: “Pôr um livro nas mãos de um ignorante é tão perigoso quanto pôr uma espada nas mãos de uma criança”. Era o que se pensava dos livros. Em todo o Oriente existe ainda o conceito de que um livro não deve revelar as coisas; um livro deve, simplesmente, ajudar-nos a descobri-las. Embora eu não saiba hebraico, estudei um pouco a Cabala e li as versões inglesas e alemãs do Zohar (O livro do esplendor), do Sefer Yetsirah (O livro das relações). Sei que esses livros não foram escritos para ser entendidos, mas para ser interpretados, são estímulos para que o leitor acompanhe o pensamento. A Antiguidade clássica não professou nosso respeito pelo livro, embora saibamos que Alexandre da Macedônia guardava a Ilíada e a espada, essas duas armas, debaixo do travesseiro. Havia grande respeito por Homero, mas ele não era considerado um escritor sagrado no sentido que hoje atribuímos à palavra. Não se achava que a Ilíada e a Odisseia fossem textos sagrados: eram livros respeitados,mas também podiam ser atacados.

Platão teve condições de mandar os poetas de sua República para o exílio sem cair na suspeita de heresia. A esses testemunhos dos antigos contra o livro podemos acrescentar um muito curioso de Sêneca. Em suas admiráveis epístolas a Lucílio há uma que se volta contra um indivíduo muito vaidoso, a respeito de quem se dizia que possuía uma biblioteca de cem tomos; e quem — pergunta-se Sêneca — vai ter tempo de ler cem tomos? Hoje em dia, porém, as bibliotecas numerosas são apreciadas.

Na Antiguidade há uma coisa que temos dificuldade para entender, algo que não tem nada a ver com nosso culto ao livro. Sempre se vê no livro um sucedâneo da palavra oral, mas depois chega do Oriente um conceito novo, totalmente estranho à Antiguidade clássica: o do livro sagrado. Tomemos dois exemplos, começando pelo mais recuado: o dos muçulmanos. Para eles, o Corão é anterior à criação, anterior à língua árabe; é um dos atributos de Deus, não uma obra de Deus; é como sua misericórdia ou sua justiça. No Corão fala-se de forma bastante misteriosa da mãe do livro. A mãe do livro é um exemplar do Corão escrito no céu. Viria a ser o arquétipo platônico do Corão, e esse mesmo livro — afirma o Corão —, esse livro está escrito no céu, que é atributo de Deus e anterior à criação. É o que proclamam os ulemás, ou doutores muçulmanos.

Depois temos outros exemplos mais próximos de nós: a Bíblia ou, mais concretamente, a Torá ou o Pentateuco. Considera-se que esses dois livros foram ditados pelo Espírito Santo. Este é um fato curioso: a atribuição de livros de diferentes autores e idades a um único espírito; mas na própria Bíblia se afirma que o Espírito sopra onde quer. Os hebreus tiveram a ideia de reunir diversas obras
literárias de diferentes épocas e de formar com elas um único livro, cujo título é Torá (“Bíblia” é grego). Todos esses livros são atribuídos a um único autor: o Espírito.

Uma vez perguntaram a Bernard Shaw se ele acreditava que o Espírito Santo havia escrito a Bíblia. Ele respondeu: “Todo livro que vale a pena reler foi escrito pelo Espírito”. Ou seja, um livro tem de ir além da intenção de seu autor. A intenção do autor é uma pobre coisa humana, falível, mas no livro tem de haver mais. O Quixote, por exemplo, é mais que uma sátira dos livros de cavalaria. É um texto absoluto no qual não intervém absolutamente, de nenhuma maneira, o acaso.

Pensemos nas consequências dessa ideia. Por exemplo, quando digo:

Correntes águas, puras, cristalinas,
árvores que nelas vos contemplais,
verde prado, de fresca sombra cheio

é evidente que os três versos contam dez sílabas. O autor quis assim, é voluntário.

Mas o que é isso em comparação com uma obra escrita pelo Espírito, o que é isso em comparação com o conceito da Divindade que condescende à literatura e dita um livro? Num livro como esse nada pode ser casual, tudo precisa ter justificativa, as letras precisam ter justificativa. Entende-se, por exemplo, que o início da Bíblia: Bereshit baraelohim comece com um B porque isso está relacionado a benzer. Trata-se de um livro em que nada é casual, absolutamente nada. Isso nos conduz à Cabala, nos conduz ao estudo das letras, a um livro sagrado ditado pela Divindade e que vem a ser o oposto do que os antigos pensavam. Eles pensavam na musa de modo bastante vago.

“Canta, musa, a cólera de Aquiles”, diz Homero no início da Ilíada. Lá, musa se relaciona à inspiração. Quando se pensa no Espírito, porém, pensa-se em algo mais concreto e mais forte: Deus, que condescende à literatura. Deus, que escreve um livro; nesse livro nada é casual: nem o número de letras, nem a quantidade de sílabas de cada versículo, nem o fato de que é possível fazer jogos de
palavras com as letras, de que é possível calcular o valor numérico das letras. Tudo já foi considerado.

O segundo grande conceito do livro — repito — é o fato de ele poder ser uma obra divina. Talvez isso esteja mais próximo daquilo que sentimos hoje do que da ideia que os antigos faziam do livro: ou seja, de que o livro seria um mero sucedâneo da palavra oral. Depois a crença num livro sagrado declina, substituída por outras crenças. Por exemplo pela crença de que cada país é representado por
um livro. Lembremos que os muçulmanos chamam os israelitas de o povo do livro; lembremos a frase de Heinrich Heine sobre a nação cuja pátria era um livro: a Bíblia, os judeus. Temos então um novo conceito, o de que cada país precisa ser representado por um livro; em todo caso, por um autor que pode ser autor de muitos livros.

É curioso — não creio que isso tenha sido observado até agora — que os países tenham escolhido indivíduos que não se parecem muito com eles. Seria o caso de imaginar, por exemplo, que a Inglaterra escolheria o dr. Johnson como seu representante; mas não, a Inglaterra escolheu Shakespeare, e Shakespeare é — por assim dizer — o menos inglês dos escritores ingleses. O típico da Inglaterra é o understatement, é o fato de dizer um pouco menos das coisas. Shakespeare, porém, tendia à hipérbole
na metáfora, e se ele tivesse sido italiano ou judeu, por exemplo, não haveria nada de surpreendente.

Outro caso é o da Alemanha; um país admirável, tão facilmente fanático, e que escolhe justamente um homem tolerante, que não é fanático e que não está muito preocupado com o conceito de pátria; escolhe Goethe. A Alemanha é representada por Goethe.

A França não escolheu um autor, mas a tendência é Hugo. Evidentemente, sinto uma grande admiração por Hugo, mas Hugo não é tipicamente francês, Hugo é estrangeiro na França; Hugo, com aquelas grandes decorações, com aquelas vastas metáforas, não é típico da França.

Outro caso ainda mais curioso é o da Espanha. A Espanha poderia ter sido representada por Lope, por Calderón, por Quevedo. Mas não, a Espanha é representada por Miguel de Cervantes. Cervantes é um homem contemporâneo da Inquisição, mas é tolerante, é um homem que não tem nem as virtudes nem os vícios espanhóis.

É como se cada país achasse que precisa ser representando por uma pessoa diferente, por uma pessoa que possa ser, um pouco, uma espécie de remédio, uma espécie de teriaga, uma espécie de antídoto para seus defeitos. Nós teríamos podido escolher o Facundo, de Sarmiento, que é nosso livro, mas não; nós, com nossa história militar, com nossa história de espada, escolhemos como livro a crônica de um desertor, escolhemos o Martín Fierro, que, embora mereça ser escolhido como livro… O que pensar do fato de que nossa história está representada por um desertor da conquista do deserto? E contudo é assim; como se cada país sentisse essa necessidade.

Sobre o livro, muitos escritores escreveram brilhantemente. Quero mencionar alguns deles. Em primeiro lugar, mencionarei Montaigne, que dedica um de seus ensaios ao livro. Nesse ensaio há uma frase memorável: “Não faço nada sem alegria”. Montaigne afirma que o conceito de leitura obrigatória é um falso conceito. Diz que, quando encontra uma passagem difícil num livro, deixa-o de lado; porque vê na leitura uma forma de felicidade.

Lembro-me de que há muitos anos realizou-se uma pesquisa de opinião sobre o que seria a pintura. Perguntaram isso a minha irmã Norah e ela respondeu que a pintura é a arte de dar alegria com formas e cores. Eu diria que a literatura também é uma forma da alegria. Se lemos alguma coisa com dificuldade, é que o autor fracassou. Por isso considero que um autor como Joyce essencialmente fracassou, porque sua obra exige um esforço.

Na poesia de Borges, Heráclito de Éfeso.

Heráclito

O segundo crepúsculo.
A noite que mergulha no sono.
A purificação e o esquecimento.
O primeiro crepúsculo.
A manhã que foi a aurora.
O dia que foi a manhã.
O dia numeroso que será a tarde desgastada.
O segundo crepúsculo.
Esse outro hábito do tempo, a noite.
A purificação e o esquecimento.
O primeiro crepúsculo...
A aurora sigilosa e na aurora
a inquietude do grego.
Que trama é esta
do será, do é e do foi?
Que rio é este
pelo qual flui o Ganges?
Que rio é este cuja fonte é inconcebível?
Que rio é este
que arrasta mitologias e espadas?
É inútil que durma.
Corre no sonho, no deserto, num porão.
O rio me arrebata e sou esse rio.
De matéria perecível fui feito, de misterioso tempo.
Talvez o manancial esteja em mim.
Talvez de minha sombra,
fatais e ilusórios, surjam os dias.

Luis Borges. Elogio da sombra.

Jo 1.14 na visão de Jorge Luis Borges

Com base no texto bíblico Jo 1.14

Não será menos enigmática esta página
que as de Meus livros sagrados
nem aquelas outras que repetem
as bocas ignorantes,
por julgá-las de um homem, não espelhos
obscuros do Espírito. Eu que sou o É, o Foi e o Será
torno a condescender com a linguagem,
que é tempo sucessivo e emblema.
Quem brinca com um menino brinca com algo
próximo e misterioso;
eu quis brincar com Meus filhos.
Estive entre eles com assombro e ternura.
Por obra de magia
nasci curiosamente de um ventre.
Vivi enfeitiçado, encarcerado num corpo
e na humildade de uma alma.
Conheci a memória,
essa moeda que não é nunca a mesma.
Conheci a esperança e o temor,
esses dois rostos do incerto futuro.
Conheci a vigília, o sono, os sonhos,
a ignorância, a carne,
os torpes labirintos da razão,
a amizade dos homens,
a misteriosa devoção dos cães.
Fui amado, compreendido, louvado e pendi de uma cruz.
Bebi o cálice até as fezes.
Vi por Meus olhos o que nunca havia visto:
a noite e suas estrelas.
Conheci o polido, o arenoso, o díspar, o áspero,
o sabor do mel e da maçã,
a água na garganta da sede,
o peso de um metal na palma,
a voz humana, o rumor de uns passos sobre a relva,
o odor da chuva na Galiléia,
o alto grito dos pássaros.
Conheci também a amargura.
Encomendei esta escrita a um homem qualquer;
nunca será o que desejo dizer,
não deixará de ser seu reflexo.
De Minha eternidade caem estes signos.
Que outro, não o que é agora seu amanuense, escreva
o poema.
Amanhã serei um tigre entre os tigres
e predicarei Minha lei a sua selva,
ou uma grande árvore na Ásia.
Às vezes penso com nostalgia
no odor dessa carpintaria.

Jorge Luis Borges, Elogio da sombra.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Evento: Dia 06 de Dezembro Grande Louvor da Gratidão em Florânia

Em comemoração a semana do evangelico, a cidade de Florânia vivenciará no dia 06 de Dezembro, no centro da cidade, às 18:00 horas, um dos maiores eventos evangélico da história, o "Grande Louvor de Gratidão" do irmão Hélio Araújo.

O evento que será realizado em Florânia será marcado com o lançamento do novo CD da cantora gospel Alice Maciel e Banda Pentecostal. O Grande louvor de Gratidão terá a participação especial dos irmãos Franklin Araújo, Camilla Braga e a Banda Nordestinos Adoradores.
Venha participar com sua família do Grande Louvor de Gratidão levando um quilo de alimento não perecível que será doado neste Natal para as famílias carentes do nosso município.

Apoio Publicitário: Blog do Claudiano Silva

Fonte: www.claudianosilva.com

domingo, 23 de outubro de 2011

Tecnologia foi o tema de ordem da Redação do ENEM 2011

Um tema bem instigante para adolescentes e jovens que não conseguem viver sem conecção. Com a ausência do PC, o celular ou o iphone fazem também o serviço. Viver em rede, conectado ou plugado é a verdadeira obsessão deste século. Espero que meus alunos tenham gostado e navegado ao máximo não somente nas ondas da net, mas sobretudo, nas ondas da linguagem. Tomara que ninguém tenha caído da "rede" na hora de organizar as ideias. Um resultado satisfatório a todos!

O microcosmo das formigas

Mamãe formiga mostra sua força e agilidade equilibrando o filhote sobre sua própria cabeça. O fotógrafo Adegsm (cujo nome real é Thahn Ta Quang) passou mais de um mês fotografando a vida das formigas. As melhores fotos você confere nessa galeria in http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/fotos/mamae-formiga-brinca-com-o-filhote-em-fotos-incriveis-20111022-8.html#fotos

Mãe e filho formiga "brincam" enquanto se equilibram sobre um pequeno galho de planta

Se existe circo de pulgas, por que não um circo de formigas? Nessa foto, mãe e filhote mostram habilidade e equilíbrio dignos de acrobatas circenses

Mães, filhotes e colegas se esforçam para cuidar de uma larva

Ao melhor estilo Indiana Jones, formigas se aventuram penduradas em um galho
As fotos estão uma preciosidade. Não só pela riqueza em detalhes, mas pelo tema proposto. A prática familiar é uma realidade surpreendente no mundo ínfimo das formigas, que não deixam nada a desejar às sociedades humanas, ditas civilizadas. É simplesmente espetacular a forma de vida das formigas! Parabéns ao fotógrafo. Belo trabalho!

sábado, 22 de outubro de 2011

Escandalosamente feliz


Cuidemos de nossos animais!


Tão logo me casei e mal me dei conta de que havia em companhia da minha esposa um cachorro mui amigo da família. Seu nome é Black(preto). Minha esposa cuidava dele desde seu nascimento, desde muito pequeno mesmo. Contava-me que, assim que nasceu, era a coisa mais fofa do mundo, uma espécie de bolinha bem peludinha. A vontade de qualquer pessoa que o via era só mesmo a de apalpar e cheirar. Todos queriam abraçá-lo, apertá-lo e fazer carinho nele, inclusive a família. O cachorro faz parte essencial da família. É um membro que integra, e ao passar o tempo, faz uma falta danada à família.
Blackinho, como o chamamos, já está conosco há 70 anos no tempo dele e há 10 anos na idade das contas da gente. É um animal espertíssimo que, além de proteger a casa e a família, alegra e contagia o ambiente em que estamos. Ele nos disciplina. Faz-nos entender que não existe só o nosso mundo, mas também o mundo dele. É impressionante, mas quando chega a hora de passear, seu relógio biológico não falha. Começa a latir, a pular em cima de nós, a cheirar, dando sinais de que está chamando para andar, pois está na hora. Seu relógio é mais sensível às necessidades do que o nosso. Queremos controlar tudo, até mesmo o nosso relógio biológico, imagine o de um cachorro! É aí que entra o aprendizado. Deixamos tudo e partimos para atender às necessidades do outro, no caso aqui, o meu companheiro de todas as horas, o meu estimado blackinho. Aprendemos a não ser tão egoístas.
É engraçado. Dizemos que somos um povo civilizado, educado, avançado e extremamente inteligente, mas esquecemos ou anestesiamos a consciência ética de que pertinho de nós tem vida animal circulando, até porque os animais, quer sejam gatos, cachorros, aves, etc, são indispensáveis para o equilíbrio ambiental. Se há animais em nosso meio é um ótimo sinal, pois as esferas de vida vegetativa, mineral e humana geralmente estão em boas condições de qualidade de vida. O ecossistema precisa da existência desses seres, que extinguimos, maltratamos e, muitas vezes ignoramos, para preservar os recursos naturais à nossa sobrevivência.
É lamentável, mas não entendemos nossos animais! Pouco, muito pouco sabemos a respeito dos animais, até que um dia passemos a criar algum ou alguns e logo mudemos nossa maneira, muitas vezes, de vê-los e aceitá-los em nosso convívio. Já perdi as contas dos gatos de estimação que criei, tratei e cuidei, tendo que amargar a dor de perdê-los por envenenamento, simplesmente porque pessoas não gostam, não aceitam, melhor dizendo, não entendem seus comportamentos. Animais morrem atropelados, são eliminados todos os dias com tiros e exterminados. Vocês sabiam que nós somos os únicos animais que matamos por maldade!?
Inúmeros fatos ocorrem frequentemente em nossas cidades, bairros e ruas, de pessoas que maltratam sem piedade os animais. Animais existem para ser protegidos, não sacrificados sem motivo algum, só porque vivem soltos na rua. Ora, se são sadios, se não ameaçam a vida de ninguém e são alimentados por moradores, qual a razão para sacrificá-los? Talvez, isso ocorra por falta de punição à altura do dano. As pessoas deveriam ser punidas por isso. Quantos de nós conhecem a Declaração Universal dos Direitos dos Animais pela UNESCO?
Quem chuta animais por bel-prazer ou joga pedras neles precisa rever suas ações e princípios. Os animais são criaturas de Deus e têm uma importância fundamental para o meio ambiente. Segundo a UNESCO, todos os animais têm o mesmo direito à vida; Todos os animais têm direito ao respeito e à proteção do homem; Nenhum animal dever ser maltratado e por aí vai...
Olhem que curioso, no Japão existe um restaurante com uma enorme e variada quantidade de gatos espalhados por todos os lados. Cada um de dar gosto de ver e de acariciar. Muito bonitos e bem cuidados. A maioria dos clientes que vai ao restaurante está interessada em se divertir e entreter-se com os felinos. Os bichinhos são mimosos, atenciosos e acalmam o pior dos clientes, que escolhem os gatos de sua preferência e pagam pelo serviço. A ideia do restaurante, diz o dono do negócio, é trazer bem-estar, tranquilidade e propor uma terapia natural aos clientes por meio dos pichanos, enquanto se servem dos deliciosos pratos da casa. Uma coisa é certa, tudo vem incluído na conta.
Estaria certo Platão ao afirmar que o homem nada mais é do que “um bípede sem penas”?!

Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Bacharel em Teologia, Licenciado em Filosofia e Especialista em Metafísica
Páginas na net:

Educação e sociedade

A sociedade precisa rever o tratamento que está dando à algumas profissões essenciais ao fiel exercício da cidadania. A educação é o meio por excelência em que as pessoas têm a oportunidade de mudar suas vidas decentemente, sem qualquer manipulação ou distorção de seus direitos. Enquanto a sociedade não chamar para si a responsabilidade pela educação, mais e mais estaremos distantes de um país que quer alcançar a excelência. Sem educação não se sai da miséria, muito menos da pobreza. Sem investimentos consideráveis na educação não somos exemplos para o mundo.

Um bom filme: "O último mestre do Ar"

Um filme fabuloso. Enche os nossos olhos de admiração, pena ou ainda bem que só assisti agora, nesses dias. Há toda uma filosofia oriental por dentro das cenas e dos diálogos de seus personagens. Como dominar os quatro elementos da natureza? Ar, Água, Terra e Fogo. As nações estão divididas e seus dominadores escondidos para não serem descobertos e maltratados pelos dominadores do Fogo. No entanto, todos procuram o Avatar. Alguém que, pela tradição, possui o dom de aprender a dominar os quatro elementos. Só o Avatar consegue essa façanha, dominar os quatro elementos com equidade e justiça, a fim de promover a ordem e a paz. A busca pelo Avatar significa sabedoria.
 Bem, se alguém estiver à procura de um filme bastante curioso e interessante pelo modo como as pessoas se preocupam com o equilíbrio da natureza, é só ir à uma locadora e escolher este filme e curtir uma bela programação para este final de semana.
Quem tem alguma noção de Filosofia ocidental, ao ver o filme, se lembrará imediatamente da "phýsis", se quisermos aqui fazer um paralelo com a cultura filosófica ocidental, partindo da Grécia, onde os primeiros filósofos se maravilhavam com a manifestação da Água(Tales de Mileto), do Ar(Anaxímenes), do Fogo(Heráclito) e da Terra para explicar racionalmente o princípio ordenador de todas as coisas. Os pré-socráticos eram inquietos por buscarem a "Arché", um princípio que os fizessem entender a mudança, o movimento das coisas ou a própria "phýsis", natureza. Quem assim o desejar, poderá assistir ao filme "O último mestre do Ar" nessa ótica.

Prof. Jackislandy Meira

sábado, 15 de outubro de 2011

O PROFESSOR E A VIDA


Elegeu-se um dia no calendário anual para se pensar no Professor. Do contrário, parece ser o dia em que menos se pensa nele, uma vez que muitas questões em volta dele merecem bem mais importância para a sociedade. É o salário o assunto mais cogitado de todos, quando não, tudo o mais é relacionado, menos a condição exclusivamente humana do Professor. A merenda que lhe fora negada; o tão alardeado “Piso Salarial” de valorização profissional que nunca é pago integralmente; as vantagens promocionais relativas ao cargo que não são reconhecidas... Até mesmo as ideias político-educacionais são mais relevantes do que propriamente a figura humana do Professor. Certamente, se todos esses direitos não lhes fossem negados não dariam atenção exagerada a eles. Talvez, sem esses problemas da “Profissão” por perto, pudéssemos enxergar um professor mais humano que sofre, que também é família, que também é gente, se diverte, come, dorme, viaja, adoece e se alegra, ama, tolera, sente e fica indignado. Sem dúvida, haveria um maior destaque à condição humana mesma do Professor.
Que bom seria se todos os Professores vivessem mais como irmãos uns dos outros, sem grandes revanchismos e desafetos; Que bom seria se os Professores fossem mais amigos e criassem um ambiente de família na escola. Que bom seria se os Professores cuidassem uns dos outros como uma verdadeira necessidade de sobrevivência. Que bom seria se os Professores aceitassem seus erros e percebessem, com isso, crescimento e mudança. Que bom seria se os Professores fossem verdadeiros leitores. Que bom seria se os Professores continuassem a ser alunos. Que bom seria se.... Ah! Deixemos de baboseira e vamos ao que interessa. Os professores precisam encarar uma realidade: A CONCORRÊNCIA. Não é a internet, muito menos a praça, nem os barzinhos abertos em hora de aula, tampouco os celulares, mas a vida. Porque mais importante do que a Educação numa escola, é a vida. Maior do que qualquer Escola é a escola da vida. O melhor mestre é o mestre da vida. Mesmo assim, não sejamos pedantes nem suficientes, achando que tudo, inclusive a vida independem dos professores e dos espaços escolares! Menos. Hoje, sobretudo hoje, os Professores são capazes de influenciar pessoas, e principalmente, a vida.
Muitas vezes, o aluno não ouve os pais, não dá atenção à família. O aluno, do mais ao menos rebelde, quando não quer ouvir ou dialogar com a família, raramente busca o seu professor para uma atenção a mais, para uma boa conversa. Porém, quando nada disso funciona. Pai, mãe, irmãos, tios, tias, amigos, professores, enfim. Quando nada o fizer ouvir, só lhe restará, afinal, a vida. As duras quedas, o choque com a existência, a vida nua e crua, sem ou com as máscaras, sem ou com as contradições em que ela está eivada, sem ou com as hipocrisias. Assim, quando nada mais o reprovar, nem mesmo a Escola, a vida estará lá, esperando para reprová-lo sem dó nem piedade. Por isso, ainda é tempo de ouvir o professor.
Se o aluno e as pessoas de um modo geral souberem ouvir e aprender com seu Professor, felizmente a vida sorrirá para elas sem ter que reprová-las, tampouco a escola. O bom professor é aquele que ajuda a por ordem à vida de seus alunos, formando não guias, mas verdadeiros líderes. É lamentável perceber que grande parte das pessoas não foi bem sucedida na vida porque não ouviu seus professores. Nesse sentido, o professor é o nosso maior conselheiro. Um pai. Um amigo. Um confidente. Um irmão. Jamais um fardo a ser tolerado, mas um ser apaixonado pela vida que merece ser celebrado.
No entanto, o aluno saberá a quem deve ouvir. Ele consigo mesmo saberá. Só ele saberá quem, de fato, o ensinará muito melhor do que todas as desventuras da vida, o professor. Este, sim, lhe mostrará uma verdade magnífica: A vida é uma aprendizagem. Sempre precisamos aprender com ela, porém o Professor tem o dom maravilhoso de se antecipar a ela e mostrar a seus alunos, em meio a pior das concorrências, que é possível ser feliz. Sem dúvida, o Professor tem a vocação de Deus para ser um Profeta, semelhantemente ao último nascido de mulher, segundo as palavras de Jesus Cristo, João Batista que clamava em pleno deserto a vinda salvadora do Messias, o filho de Deus. Como este Profeta, o Professor tem a graça feliz de, neste dia, anunciar para todos que só é possível redimir a sociedade dos políticos corruptos pela educação. O professor é a voz dos que tem fome e sede de justiça. É o professor quem acredita que a educação transforma vidas, que a educação não perde vidas, mas as encontra e as ensina como viver diferente,com sucesso e dignamente.
As adversidades da vida – Quer sejam os concursos, quer sejam as perdas, quer sejam as decepções ou até mesmo as doenças – não poderão ser mais fortes do que as ideias que construímos e reconstruimos, fazemos e refazemos, criamos e recriamos e, depois, compartilhamos com nossos professores a partir dos livros didáticos e das experiências adquiridas. Possivelmente, os professores nos ensinam muito mais do que a vida, uma vez que nos ensinam com, por, da e para a vida. Daí, os professores serem parte significativa e indispensável de crescimento e prosperidade para uma sociedade que se perde num mar profundo de consumo e ambição, o contraponto necessário de discussão dos problemas que precisam ser revistos.
Só mesmo os Professores para nos ensinar a olhar diferente! Eles nos ajudam a arrumar a cabeça, a escolher melhor, a sair das ciladas da vida e a rever valores através da Educação. Eles, só eles preservam e zelam pela ideia de que a Educação é a base da sociedade.
Prof. Jackislandy Meira de M. Silva
Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e Especialista em Metafísica

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Posto aqui uma piada sem graça, mas com alguma filosofia. Kkkkkkkkkkkkk

Calvin: Algumas pessoas são pragmáticas, aceitam as coisas como são e tiram o melhor partido das oportunidades que têm.
Calvin: Outras são idealistas, defendem princípios e recusam compromissos.
Calvin: Outras ainda, só obedecem aos caprichos que lhes passam pela cabeça.
Hobbes: E tu, de que tipo és?
Calvin: Pragmaticamente transformo os meus caprichos em princípios.

In "É um Mundo Mágico", Calvin and Hobbes by Bill Watterson, pág. 84

Horário de não verão. Veremos esse verão da charge? Kkkkkkkkk

Boa mesmo!

Maior do que a crise econômica é a crise da EDUCAÇÃO


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A mais nova febre da FOX: Série "Terra Nova"

A série é simplesmente maravilhosa e empolgante do início ao fim. Além de prender nossa atenção, a série possibilita-nos viajar na imaginação do autor para um novo mundo, bem mais natural e instintivo; do que o mundo  atual, cheio de poluição e destruição dos recursos naturais. A série é repleta de mistérios que nos permitem assisti-la para que, pouco a pouco, possamos nos surpreender. TERRA NOVA pode ser assistida todas as segundas-feiras, a partir das 22h, no canal FOX. Vejam a sinopse:

"Terra Nova acompanha uma família comum numa jornada incrível de volta à Terra no período pré-histórico como uma pequena parte de uma experiência ousada para salvar a humanidade.

No ano de 2149, o mundo está morrendo. O planeta está superexplorado e superpovoado, está extinta a maioria das vidas vegetal e animal. O futuro da humanidade está em xeque e a única esperança de sobrevivência está no passado distante..."




Às crianças grandes e pequenas...

"Peço perdão às crianças por dedicar este livro a uma pessoa grande. Tenho uma desculpa séria: essa pessoa grande é o melhor amigo que possuo no mundo. Tenho uma outra desculpa: essa pessoa grande é capaz de compreender todas as coisas, até mesmo os livros de criança. Tenho ainda uma terceira: essa pessoa grande mora na França, e ela tem fome e frio. Ela precisa de consolo. Se todas essas desculpas não bastam, eu dedico então esse livro à criança que essa pessoa grande já foi. Todas as pessoas grandes foram um dia crianças (mas poucas se lembram disso). Corrijo, portanto, a dedicatória: A LÉON WERTH QUANDO ELE ERA PEQUENINO"

(Saint'Exupèry. Dedicatória da maravilhosa e inesquecível obra O Pequeno Príncipe)

Todas as crianças grandes e pequenas deviam ler este livro tão fantástico e ao mesmo tempo tão filosófico. Num dia como este, em que comemoramos o dia das crianças, sua leitura seria um enorme presente para os que querem entrar um pouquinho no mundo misterioso do principezinho que, antes de mais nada, nos representa a todos por sua sede de respostas diante do deserto, das flores, do homem, da raposa, do carneiro, da serpente, enfim, da vida. Sinta-se, como eu, perplexo com a leitura e releitura deste livro.

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A ética de Eva

por Luiz Felipe Pondé para Folha
Você acha que seria ético uma mulher usar da beleza pra conseguir o que quer na vida? E uma mulher usar seu belo corpo pra dar uma má notícia pro marido, como no comercial da lingerie Hope?
Esse comercial fala do poder feminino sobre o desejo do homem por ela e não sobre ela ser objeto indefeso do homem.

Aliás, desde o jardim do Éden. Apesar de Deus ter dito a Adão "não pode comer a maçã!", Adão não resistiu a Eva: "Come meu amor, come!". E Adão caiu de boca. O velho poder feminino.

Você pode ser uma daquelas pessoas que não entendem nada de mulher e dizer "isso é um absurdo!", mas o fato é que usar a beleza como instrumento de vida é um dado natural da experiência humana, e não necessariamente um ato canalha ou de submissão.

A beleza é como a cerveja: um "gesto" do corpo entre a devassidão e a moderação.

Antes de tudo, a palavra "ética" é hoje tão banal quanto "energia". Todo mundo tem um entendimento "pessoal" do que seria ética. Quando você escutar alguém começar com "a questão da ética", fuja. Só vem blá-blá-blá.

Na filosofia, não há consenso sobre o que é ético. Para alguns britânicos, como Hume, Oakeshott ou os darwinistas, a ética é uma disciplina que estuda hábitos de pensamento, de afeto e de comportamento, estabilizados numa comunidade (num sentido mais restrito) ou na humanidade (no sentido mais amplo), que se revelam hegemônicos e bem-sucedidos em garantir uma certa ordem e um certo sucesso no convívio comum ao longo do tempo.

Estamos aqui a anos-luz de distância da mania de "perfeição ética" de gente como Kant ou Singer (o cara que acha que bicho é gente).

Analisemos a ideia de mulheres (caso mais comum) usarem da beleza física pra conseguir coisas na vida, à luz dessa ética do hábito.

Devemos separar o uso abusivo da beleza do uso ético da mesma.

Uma mulher bonita X se veste com uma saia curta para uma entrevista, entra numa sala com outras pessoas e se senta de pernas abertas. Isso é abusivo. Uma mulher bonita Y se veste com uma saia menos curta do que a mulher X, mas que ainda assim revela, escondendo, sua beleza, entra numa sala com outras pessoas e se senta de modo discreto. Isso é ético.

Neste nosso "experimento", a mulher Y age de modo ético. Espera-se que mulheres bonitas revelem sua beleza (o mundo respira melhor onde há mulheres bonitas e a beleza é um gradiente, não um "ponto isolado no espaço"), mas essa revelação é pautada pela expectativa de que ela não esfregue sua beleza na cara de pessoas estranhas; na cara do marido, ela pode esfregá-la.

A ética aqui é antes de tudo o bom senso de que quem tem beleza pra revelar pode ser discreta; por extensão, quem tem beleza pra revelar e não é discreta é porque é "feia" por dentro.

A sutil relação entre ser bela e ser discreta compõe o campo dos hábitos morais desejáveis nas mulheres bonitas. Pode usar a beleza, mas com moderação, assim como o álcool.

O caso dos homens é um pouco diferente, não porque neles a beleza não conte, mas porque as mulheres erotizam facilmente o intelecto masculino, enquanto os homens dificilmente erotizam a inteligência feminina. Pouco adianta as meninas ficarem bravas com isso.

Se o entrevistador for um homem, provavelmente ele levará primeiro em conta a beleza das duas em detrimento das mais feinhas. Mas a vulgar sempre poderá perder a vaga no caso de o entrevistador ser também ele alguém de bom senso.
Todo mundo prefere gente bonita à sua volta. O ambiente de trabalho fica muito melhor quando tem mulher bonita, cheirosa e bem vestida por perto.
Mas isso não deve ser o critério último da decisão. Entre duas capazes, uma bonita e outra mais feinha, entretanto, a bonita leva.

Claro que a raiva contra argumentos como esse nasce dos chatinhos.

É a falta do "recurso" contingente (a beleza até hoje é em grande parte obra do acaso, ainda que cada vez mais passe a ser, em parte, obra da grana) que causa o rancor. Temo que uma hora dessas inventem uma cota de feinhas para as faculdades, as empresas e a publicidade.

Ou que proíbam as mulheres de ficarem de calcinha em casa.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

Serenidade




Antes mesmo de encerrar algumas linhas sob o aspecto da serenidade, é importante ressaltar que desde Epicuro até Heidegger, o grande sábio é aquele que atinge a serenidade, a paz.
No correr desses dias, de altos assuntos tecnológicos, principalmente pela morte recente de Steve Jobs, acionista majoritário da “apple”, um gênio da informática e idealista do “imac”, do “iphone” e do “ipad”, insurge-se em torno de nós uma preocupação extrema com as próximas novidades tecnológicas, uma vez que Steve era obcecado pelo novo, pelas mudanças. A pergunta que não quer calar vem à tona: O que virá agora? Muitos jovens, adolescentes e até adultos, bem como uma parte considerável da população mundial, certamente, está se perguntando agora. O que virá depois da morte de Steve Jobs? Mas, pergunto-me, o que tem a ver a serenidade com tudo isso? Ah! Veremos.
Com tantos achados tecnológicos e a incrível emancipação humana frente à ciência, será possível ainda que o mundo venha a se perguntar por novidades tecnológicas? É... Não estamos satisfeitos! Quanto mais entramos e nos infiltramos no interior das máquinas de ponta do mundo contemporâneo, mais e mais nos sentimos seduzidos por elas. Quem seduz quem? É a inversão(confusão) do sistema capitalista. Nos relacionamos muito mais com os nossos notbooks, iphones e ipads; do que com os nossos irmãos, pais e amigos. Isso produz, compulsivamente, sujeitos de desejos que se atraem por novas e cada vez mais novíssimas máquinas com designers diferentes. As pessoas não se contêm e correm avassaladoramente para as incríveis, não menos tentadoras, invenções tecnológicas.
Dessa forma, dificilmente conseguimos pensar. A esfera tecnológica, repleta de entretenimentos, nos faz suspender o pensamento, ou pelo menos, pensar de outro modo. Porém, se sentimos falta da reflexão, do pensamento, do verdadeiro pensar, é porque precisamos repensar a serenidade. Coisa parecida escreve Heidegger: “Há dois tipos de pensar, cada um dos quais é, por sua vez e a sua maneira, justificado e necessário: o pensar calculador (rechenende Denken) e a reflexão meditativa (besinnliche Nachdenken). É a esta última a que nos referimos quando dizemos que o homem de hoje foge ante o pensar”(Cf. M. Heidegger, Serenidade, trad. M.M. Andrade e O. Santos, Lisboa, Ed.Instituto Piaget, 1959, p.13-13).
Aí está o caminho da reflexão. Nessa direção se dá o anúncio dessa estranha tendência filosófica que supõe a Serenidade no dizer de Heidegger: “Podemos utilizar os objetos técnicos tal como eles têm de ser utilizados. Mas podemos, simultaneamente, deixar esses objetos descansar em si mesmos, como algo que não interessa àquilo que temos de mais íntimo e de mais próprio. Podemos dizer sim à utilização inevitável dos objetos técnicos e podemos ao mesmo tempo dizer não impedindo que nos absorvam e, desse modo, verguem, confundam e, por fim, esgotem a nossa natureza (...) Deixemos os objetos técnicos entrar em nosso mundo cotidiano e ao mesmo tempo deixemos-los repousar em si mesmos como coisas que não são algo de absoluto, mas que dependem elas próprias de algo superior”(idem, p. 22-23s).
Heidegger viveu numa época de deslumbramento da técnica, ao ponto de reivindicar uma melhor relação da ciência com a filosofia. Aliás, dificilmente se fazia filosofia sem ciência. Nietzsche, Heidegger e outros foram o grande contraponto desse momento. Mesmo assim, a ciência insistia em se impor. Os dias de Heidegger não eram tão diferentes dos nossos. O início do séc. XX provou ser o alvorecer dos encantos e desencantos da ciência: Criação e testes da bomba atômica, criação de armas químicas, guerras, fome no mundo, doenças... Um século que se mostrou contraditório e por demais desumano que viu morrer 6 milhões, senão mais, de judeus e outras inúmeras pessoas, submissas ao ódio de um tirano no poder. Tempos horríveis que despertaram no humano uma tremenda sede de paz, de serenidade. Fomos marcados, injustificavelmente, por duas grandes guerras mundiais com consequências terríveis de destruição em massa.
Os tempos são outros, mas com algumas semelhanças. Como se não bastasse, já somos herdeiros de uma ideologia norte-americana que tem ódio do terror do Oriente Médio. Vimos o assustador 11 de setembro de 2001. Não obstante, há um certo maravilhamento comparado à época de Heidegger, em que se vislumbram inovações tecnológicas capazes de nos deixar perplexos pelo conforto, pela praticidade, pela mobilidade e, mais que isso, pelo entretenimento oferecido aos usuários das inventividades de Steve Jobs. Este é o mundo de Bill Gates, Steve Jobs e de outros mais. Querendo ou não, este é o nosso mundo!
Todavia, não é deste mundo que vem a nossa paz, tal como afirma a Sagrada Escritura: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá”(Jo 14.27). Somente com a experiência da serenidade é que podemos dizer sim ou não a este mundo, pois a serenidade ou o estado sereno diante da vida ou das coisas nos permite ascender a um outro estágio de mistério e contemplação que é a sabedoria segundo Heidegger. Na linha da natureza e da vida sem ascendê-las, Epicuro nos assegura que a serenidade é uma espécie de impertubabilidade da alma que culmina numa vida boa, não numa boa vida, chamando a isso também de vida sábia. Portanto, serenidade é sim sabedoria.

Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bacharel em Teologia, Licenciado em Filosofia e Especialista em Metafísica

sábado, 8 de outubro de 2011

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Bookshelf tour – um turismo por seus livros

Uma prática que parece muito saudável, isto é, mostrar suas prateleiras de livros
hans-christian-andersen
Hans Christian Andersen e ao fundo uma prateleira de livros ₢ Corbis
Dizem que as melhores viagens que podemos fazer estão em nossas mentes. Sim, por que é com a imaginação que atingimos os confins do Universo e também as mais abissais profundidades dos Oceanos e também, respectivamente a amplitude própria de uma sociedade bem como a profundidade do indivíduo.
Se você realmente gosta de ler sentirá um baita orgulho de suas prateleiras e poderá criar uma bookshelf tour, nada mais nada menos que um giro por suas prateleiras, ou um turismo literário por suas prateleiras, que poderá muito bem demonstrar não apenas o seu gosto literário como a sua personalidade.
Então, você começa a imaginar tudo e todas as coisas que sua mente pode proporcionar e um dia resolve escrever um livro para contar suas histórias e, assim, quem sabe também ser conhecido além da pluralidade de histórias individuais. Ao mesmo tempo, você pode demonstrar quem é pelo tipo de vestimenta, hábitos alimentares e tudo mais que envolva sua personalidade.
Veja um vídeo em que você pode ter uma noção do que é um Bookshelf Tour
Já pensou ser conhecido pelos livros que lê? Sim, você pode se destacar por ler este ou aquele livro ou nos recônditos de seu local preferido de leitura, que tanto pode ser um banco de coletivo – trem, ônibus ou metrô, por exemplo –, ou o seu banheiro (leia o artigo Livros para ler no banheiro), ou como na maioria dos casos sua poltrona. Porém, como esse é um daqueles hábitos solitários que caracterizam o ser humano… O quê? Não, minha senhora, não foi feita qualquer referência a Onan. Sabemos bem que ao se ler em algum coletivo a bisbilhotice é uma saudável prática, que pode ajudar a iniciar uma bela história de amor mesmo que com o advento dos leitores eletrônicos este ato talvez não venha mais a existir devido ao advento dos leitores eletrônicos (1 ).
É notório que em muitos escritórios espalhados por aí, sempre há grandes prateleiras com livros esmeradamente encadernados e isso demonstra que o seu proprietário é um homem culto, mesmo que aqueles livros sejam apenas enfeite e, na maioria dos casos, uma imitação de lombadas de livros feitas para “decorar” o ambiente. Em filmes de espionagem não faltam livros que, ao ser puxados de seu lugar na estante, abrem portas secretas. Portanto, as prateleiras repletas de livros são todas de mentirinha para enganar os desavisados.

A seleção hoje é sua própria adversária.

Brasil x Costa Rica. Alguém aí arriscaria um placar?

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Do direito de dizer-se

Nei Alberto Pies 
“O que nos falta é a capacidade de traduzir em proposta aquilo que ilumina a nossa inteligência
 e mobiliza nossos corações: a construção de um novo mundo” (Herbert de Souza, Betinho)

Todos os cidadãos e cidadãs têm o direito de dizer algo sobre sua cidade. As Câmaras de Vereadores, também chamadas “Casas do Povo”, instaladas em todos os municípios de nosso país, com raras exceções  garantem espaços para que a comunidade possa expressar, livremente, os problemas que afligem a sua vida na cidade. Os obstáculos à cidadania e à manifestação popular que as casas legislativas impõem a seu povo não constituem importante contradição da própria democracia?

A cidadania precisa de um lugar de fala e de escuta pública. Ao falar do seu lugar, do seu bairro, da sua realidade, dos seus problemas e de suas conquistas, o povo diz-se a si mesmo. Deste modo, elabora um jeito de viver a cidade e conviver socialmente. Na medida em que os agentes políticos oferecem oportunidades para a população dizer-se, maiores serão as possibilidades de integração social e de resolução dos problemas que envolvem a coletividade. 

Vivemos sob o regime da democracia representativa, mas felizmente uma parcela significativa da população vê também as Câmaras de Vereadores como um espaço que, por excelência, deveria acolher as suas demandas, sugestões e reclamações. As Câmaras de Vereadores, por acolherem a pluralidade das diferentes ideologias partidárias, poderiam organizar-se para oportunizar espaços de discussão sobre os destinos de uma cidade. Sem uma interlocução permanente com a população, o legislativo não cumpre com a sua finalidade de representar as demandas e os interesses desta mesma população. 

Depois de eleitos, todos os vereadores passam a ser vereadores de toda a população de uma cidade. Infelizmente, muitos vereadores adotam posicionamentos direcionados somente àqueles grupos ou pessoas que tiveram interesse na sua eleição, deixando de cumprir sua missão de homens públicos, eleitos para legislar, acolher e encaminhar as demandas da comunidade, fiscalizar e acompanhar todas as obras públicas executadas pelo poder executivo. Por sua condição de homens públicos, suas atitudes, falas e intervenções públicas sempre são passíveis de questionamento, explicações e responsabilização, por mais que gozem de “imunidade parlamentar”.

A socióloga Maria Alice Canzi Ames, ao comentar sobre a impossibilidade de manifestação pública na Câmara de Vereadores de Santa Rosa, RS, afirma que “as ideias e as opiniões, mesmo sendo divergentes devem circular de forma livre. As pessoas têm direito dentro de um estado democrático de manifestar livremente a sua palavra”. Manifesta ainda que a atitude de barrar manifestações numa Câmara de Vereadores fere os princípios da democracia, que significa a autoridade e a força do povo.

A cidadania preconiza que tenhamos asseguradas possibilidades de todos viverem e dizerem a cidade da qual são parte. O que nos une, na democracia, são os interesses coletivos. Na sua cidade há espaços para o povo dizer-se? Os espaços sociais de sua cidade permitem a construção de uma nova sociedade?
 


FELICIDADE E SERENIDADE EM LUC FERRY

Luc Ferry: “A felicidade não existe. Só a serenidade”

Para o filósofo francês, todas as grandes filosofias tentaram fazer com que os homens vencessem seus medos. Hoje, a ecologia se baseia na proliferação do medo

Branca Nunes
Luc Ferry em seu escritório em Paris Luc Ferry em seu escritório em Paris (Bassignac Gilles/Gamma)
Todas as filosofias querem a mesma coisa: salvar os homens do medo que os impede de viver bem. Só que as grandes filosofias são as doutrinas da salvação sem Deus e sem a fé.
A popularidade do filósofo francês Luc Ferry, 60 anos, também é alicerçada na originalidade de suas frases de efeito. Por exemplo: “A felicidade não existe, o que existe é a serenidade”. Ou: “Todas as grandes filosofias e religiões tentaram fazer com que os homens vencessem seus medos. Hoje, a ecologia política se baseia na proliferação do medo”. Lançada em 2006, Aprender a viver, sua obra de maior sucesso, vendeu mais de 700.000 exemplares em dezenas de idiomas. Entre seus últimos livros estão Famílias, amo vocês e A tentação do cristianismo. Ministro da Educação da França de 2002 a 2004, foi o idealizador da lei que proibiu o uso de véu por estudantes muçulmanas nas escolas públicas francesas. Alto, cabelos negros e ondulados, Ferry expôs, entre uma tragada e outra, um pouco da teoria que mistura filosofia, psicanálise e irresistíveis pitadas de autoajuda.
Qual é o maior obstáculo à felicidade? A felicidade não existe. Temos momentos de alegria, mas não existe um estado permanente de satisfação. Separações, a morte de pessoas queridas, doenças e acidentes são inevitáveis. É por isso que a busca pela felicidade plena não faz sentido. O que podemos almejar é a serenidade, algo completamente diferente. Só se atinge a serenidade vencendo o medo. É o medo que nos torna egoístas e nos paralisa, que nos impede de sorrir e de pensar de forma inteligente, com liberdade. Os filósofos gregos costumavam dizer que o sábio é aquele que consegue vencer o medo.
O medo da morte é o maior obstáculo para o homem? Existem basicamente três grandes medos. O primeiro é a timidez. Ele aparece, por exemplo, quando somos apresentados a alguém muito importante, ou quando precisamos falar em público. É a pressão da sociedade. O segundo medo são as fobias. Medo do escuro, de insetos, de ficar preso num elevador. O terceiro é o medo da morte. Tememos mais a morte de pessoas que amamos do que a nossa própria morte. Não me refiro apenas à morte biológica, mas a tudo o que é irreversível. O corvo do poema homônimo de Edgar Alan Poe exemplifica isso perfeitamente. Repete a todo momento, como um papagaio, a expressão “nunca mais”. Essa é a morte dentro da vida. Para uma criança, pode ser o divórcio dos pais, já que nunca mais os verá juntos. O nunca mais, a irreversibilidade da vida, nos dá a experiência da morte. A grande questão da serenidade, e não da felicidade, é como vencer esse medo. Toda a filosofia, desde Homero e Platão até Schopenhauer e Nietzsche está baseada na doutrina da serenidade.
Além das fobias conhecidas, existem as modernas? Vivemos a sociedade do medo. Aos três grandes medos que eu falei, adiciona-se outro, tipicamente ocidental: o medo que se desenvolveu com a ecologia politica. Medo do eleito estufa, do buraco na camada de ozônio, do aquecimento global, de micróbios, da poluição, do fim dos recursos naturais. A cada ano, um novo medo se adiciona a todos os outros: medo da carne vermelha, da gripe aviária, da aids, do sexo, do tabaco, da velocidade dos carros. Os grandes ecologistas e os filmes que tratam do tema têm como objetivo principal trazer o medo. No livro O princípio da responsabilidade, do filósofo alemão Hans Jonas, há um capítulo chamado Heurística do medo. Nele, o medo é descrito como uma paixão positiva e útil. Em toda a história da filosofia ocidental, o medo é o inimigo, é algo infantil, que faz mal. A ecologia inverte essa tradição filosófica ao sustentar que o medo é o começo de uma nova sabedoria e que, graças ao medo, os seres humanos vão tomar consciência dos perigos que existem no planeta. O medo não é mais visto como algo infantilizado, mas como o primeiro passo no caminho da sabedoria. É o que os ecologistas chamam de princípio da precaução. Isso não quer dizer que os ecologistas estejam errados. Há um componente de verdade no que dizem, mas há também muita mentira. Não aceito a ideia de um movimento político que se baseie exclusivamente no medo.
Qual a diferença entre a angústia vista pela psicanálise e pela filosofia? A filosofia e a psicanálise lidam com angústias distintas. A psicanálise luta contra a angústia patológica, o conflito entre o desejo e a moral, uma tentativa de reconciliar o indivíduo consigo próprio. No entanto, mesmo se atingíssemos uma perfeita saúde mental, depois de 20 anos de análise bem sucedida, restaria a angústia metafísica. Aí começa a filosofia, que ensina a alcançar a sabedoria no sentido da serenidade, não da felicidade.
O que há na filosofia que a religião não tem? Tanto a grande religião quanto a grande filosofia pretendem fazer com que as pessoas deixem de ter medo. Essencialmente, o que a religião diz é que, se alguém tem fé, se acredita em Deus, não precisa ter medo. Não precisa, por exemplo, temer a morte. As religiões são a doutrina da salvação pela fé. Todas as filosofias querem a mesma coisa: salvar os homens do medo que os impede de viver bem. Só que as grandes filosofias são as doutrinas da salvação sem Deus e sem a fé.
Com a disseminação do medo, ficou mais difícil superá-lo? A primeira grande resposta a essa pergunta nasce na Odisséia, de Homero. O poema conta como Ulisses vencerá os maiores medos da existência humana: o medo do passado e do futuro. Ulisses, que vive em Ítaca, uma cidade grega, com sua mulher Penélope, precisa partir para a Guerra de Tróia. Fica 20 anos longe de casa, imerso no caos da guerra. A história mostra como Ulisses vai do caos à harmonia, da guerra à paz, do ódio ao amor de Penélope. Durante 20 anos ele se agarra ao passado, ou ao futuro, à nostalgia de Ítaca, ou à esperança de voltar a Ítaca. Quando retorna à terra natal depois de tanto tempo, pode, enfim, viver no presente. Os filósofos gregos diziam que o sábio é aquele que consegue pensar menos no passado e ter menos esperança. Se eu me separar, se mudar de casa, se trocar de emprego. O passado já aconteceu. O futuro é uma ilusão.
Por que o título do seu livro é Aprender a viver? Houve uma mudança no ensino da filosofia, uma guinada da prática para o discurso decorrente da vitória do cristianismo sobre o mundo ocidental. A partir da Idade Média a religião assume um papel mais importante que a filosofia. Ela detém o monopólio do que é a vida beata, do que é a salvação, e proíbe a filosofia de cuidar dessa questão. É aí que a filosofia se torna apenas um discurso, uma análise de conceitos e não mais uma prática que tem por objetivo ensinar a viver. Escolhi o título Aprender a viver para difundir a ideia de que a filosofia não é apenas um discurso, mas um aprendizado da vida. Resumidamente, a filosofia é uma concorrente da religião e da psicanálise.
O ensino da filosofia deveria ser obrigatório nas escolas? Tudo depende da forma como ensinamos. Infelizmente, a maior parte do tempo, ao menos na França, reduzimos a filosofia a um tipo de instrução civil. Apresentamos aos alunos questões sem respostas possíveis: “O que é o belo?”, “o que é o bem?”, “o que é o tempo?”. Isso não tem nada a ver com a filosofia. É uma imbecilidade, uma estupidez. É melhor não ensinar filosofia do que ensinar dessa forma. Se um dia quisermos que as crianças pensem por si próprias, precisamos ensinar a história de grandes visões do mundo. Contar, por exemplo, que na filosofia existem cinco grandes respostas para a pergunta “o que é a vida boa”: a grega, a cristã, a do humanismo moderno, a de pensadores como Nietzsche e a contemporânea. Isso é apaixonante. A filosofia não consiste em tentar construir um argumento para responder a uma questão absurda. A filosofia é aprender a viver.
Como se ensinava filosofia nas grandes escolas gregas? Ao contrário do que ocorre nas nossas, nas escolas gregas não havia discursos, mas exercícios de aprendizado da sabedoria. Um exemplo: na escola estóica, no século IV A.C., Zenão de Cítio, o primeiro estóico, pedia a seus alunos que pegassem um peixe morto na feira e o amarrassem em uma coleira para levá-lo para passear como se fosse um cachorro. Quando passavam, quase todos olhavam e zombavam. O que pretendiam? Que os alunos não temessem o que os outros diziam. O sábio não é apenas aquele que vence o medo do olhar alheio, do que os outros pensam. O sábio não se importa com as convenções artificiais dessas “boas pessoas”. Ele desvia o olhar para concentrar-se na natureza, no cosmos. Vive em harmonia com a ordem natural, com ele próprio e com o mundo.
Como ministro da Educação, o senhor provocou controvérsia ao banir o uso de véu pelas estudantes muçulmanas e do solidéu pelos judeus nas escolas públicas. O que o senhor pensa hoje dessa polêmica? Na França, a polêmica não foi tão grande quanto nos outros países que não entenderam a nossa posição. Temos a maior comunidade judaica do mundo, depois de Israel e Nova York, assim como temos a maior comunidade muçulmana da Europa. Depois da segunda intifada (2000), que aguçou o conflito entre israelenses e palestinos, houve um aumento enorme de atos violentos dentro das escolas. As crianças muçulmanas se sentiam palestinas, embora fossem francesas. E os judeus retrucavam como sendo israelenses. Mesmo sendo, antes de tudo, franceses. Limitei-me a dizer que, no ensino fundamental, até os 16 anos, todos os sinais religiosos estavam proibidos. Mão só o véu islâmico, mas o quipá e a cruz. A decisão se limitou às crianças, não atingiu as ruas, os adultos. O professor não precisa saber qual é a religião dos alunos, se são judeus, católicos ou muçulmanos. Ao mesmo tempo, temos que lutar pela libertação das nossas mulheres e proteger nossas crianças. O islamismo radical é o nazismo dos nossos dias.
Por que os maiores filósofos do mundo são gregos e alemães? Tanto no caso grego, quanto no alemão, o grande motivo é a proximidade entre religião e filosofia. A filosofia sempre foi a secularização e a laicização de uma religião já existente. A filosofia grega, por exemplo, é uma versão secular e laica da mitologia grega. Da mesma forma, toda a filosofia alemã é uma apresentação racional da teologia protestante de Lutero. Ao afirmar “eu não quero ler a bíblia com a tradução latina”, “eu desconfio daqueles que estão no Vaticano”, Lutero resumiu o grande gesto do protestantismo: a busca pela verdade absoluta. Esse gesto abarca toda a filosofia alemã. Antes da filosofia, os dois povos viveram momentos muito importantes na religião. Você não tem isso nos Estados Unidos, nem na França. Ao contrário do que pensam os franceses, Descartes não é um bom filósofo.

In http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/luc-ferry-%E2%80%9Ca-felicidade-nao-existe-o-que-existe-e-a-serenidade%E2%80%9D

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Brasileiros se preparam para o horário de verão

 
À meia-noite do dia 16 de Outubro, começa o horário de verão nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil. A mudança ocorre sempre no terceiro domingo de outubro e se estende até o terceiro domingo de fevereiro, dia 26.
A alteração cronológica visa reduzir o consumo de energia durante a estação mais quente do ano. No último verão, o gasto de energia caiu 4,4% entre o fim da tarde e início da noite, horário de pico, de acordo com o Ministério de Minas e Energia.

Atividade no Facebook

Mais vistas: