quinta-feira, 31 de julho de 2008

Olhares de Agostinho e Anselmo... Confiram.

“Ensina-me, Senhor, a procurar-te, e mostra-te quando te procuro. Não posso procurar-te se tu mesmo não me indicas, nem achar-te se tu mesmo não te mostras a mim. Que eu te procure desejando-te e anseie por ti procurando-te; que eu te ache amando-te e te ame encontrando-te”.

Anselmo, Proslogion, 1(Opera omnia, 1, Edimburgo, 1946, p. 100).



“Senhor Deus meu, minha única esperança, atende-me e faz com que eu não cesse por cansaço de te procurar, mas sempre procure com ardor teu rosto(...) Diante de ti está minha força e minha fraqueza: conserva uma e cura a outra(...) Faze que eu me lembre de ti, que te compreenda, que te ame”.

Agostinho, De Trinitate, XV, 28, 51.



“Quando te busco, tu que és meu Deus, busco a felicidade”.

Agostinho, Confissões, X, 20.


Deus é Felicidade! “É o Deus que faz feliz”.

Agostinho, Cidade de Deus, IX, 15, 2.


“Esse abraço inefável entre o Pai e a sua Imagem não é sem fruição, sem amor e sem alegria, e esse amor, essa dileção, essa felicidade, na Trindade, é o Espírito Santo. Ele não é gerado; é a doce bem-aventurança do gerador e do gerado que inunda com sua liberalidade e abundância imensa todas as criaturas, segundo sua capacidade”.

Agostinho, De Trinitate, VI, 10, 10.

A náusea...

“Eu me encontrava no jardim público. A raiz do castanheiro mergulhava na terra exatamente por baixo de meu banco. Não me lembrava mais do que era uma raiz. As palavras haviam desaparecido, com elas o significado das coisas, os modos de seu emprego, os tênues sinais de identificação que os homens lhe traçaram na superfície. Eu estava sentado, meio inclinado, cabisbaixo, sozinho diante daquela massa negra e nodosa, totalmente grosseira, que me metia medo. Depois tive um lampejo de iluminação. Aquilo me fez perder o fôlego. Eu nunca pressentira antes o que significa ‘existir’. Nisso assemelhava-se aos demais, aos que passeiam à beira do mar em trajes primaveris. Dizia como eles: ‘O mar é verde, aquele ponto branco lá em cima é uma gaivota’, mas não me compenetrara de que de que aquilo existia, que a gaivota era uma gaivota-existente; a existência costuma esconder-se. Está aí, ao redor de nós, somos nós, não se pode dizer duas palavras sem falar dela e, por fim, nela não se toca... E depois, eis que de repente estava ali, clara como a luz do dia; a existência se revelara inopinadamente”.


J. –P. Sartre, La náusea, Mondadori, Milão, 1984, pp. 193s. Sobre o projeto da Modernidade de voltar às coisas, pois elas, de fato, existem.

terça-feira, 29 de julho de 2008

A política por todos e todos pela política.



Este título plagiado da clássica expressão dos três mosqueteiros “Um por todos e todos por um” mais representa a coletividade e o interesse pelo bem comum do que a própria política ora em evidência devido às eleições municipais em todo o Brasil. Tal expressão cabe perfeitamente no contexto político que se apresenta, na medida em que sobrevive da participação e do engajamento de todos. A sociedade civil organizada e mobilizada caracteriza a política.
A política é e sempre será um bem de todos, muito embora que os banqueiros, empresários, alguns políticos e as classes mais privilegiadas pelo sistema econômico tentem privatizá-la de algum modo. A política, sobretudo em tempo eleitoral, é uma arma ideológica importantíssima para colocarmos em exposição àqueles que se escondem por trás e por dentro da máquina administrativa, não atendendo as exigências mais prementes de nosso povo. Salvo engano aqueles que honram sua administração com idoneidade, compromisso, ética e trabalho, muito trabalho. A estes, as nossas saudações políticas...
A cada dois anos, ao passar de cada eleição, mais nos damos conta do quão difícil é a vida política, incerta e hesitante. Tudo se mistura. É uma realidade de contrastes, de conflitos. Amigos e inimigos se misturam, mas também amigos se constroem, assim como inimizades são destruídas, da mesma forma que novas relações políticas são estabelecidas. Fascinante! Na política, mesclam-se egoísmo e generosidade, exaltação e humildade, conformismo e revolta, individualismo e coletivismo, timidez e excentricidade, sede de poder e reconhecimento, tudo em virtude, em função de uma vitória, cujo poder é duramente temporal.
No entanto, todos respiramos política porque somos sujeitos a relações sociais, somos eminentemente sociais, por isso políticos. Vivemos numa cidade, rodeados de pessoas, de casas, instituições por todos os lados, negócios, comércios de produtos e de argumentos, num grande mercado do corpo a corpo, onde cada um quer mostrar a sua força apoderando-se da força do outro. Assim, meus caros, é que se afirma inevitavelmente a política independentemente do anúncio iminente de qualquer eleição.
Os interesses saltam aos olhos, o dinheiro, o poder, o emprego, um espaço, uma vida mais social... Interesses, por mais simples que sejam, fomentam a política. Mesmo que estes sejam para justificar nossas idéias e nossos valores, por mais bem intencionados que possam ser, esses interesses configuram uma atividade política. Como bem disse Karl Marx, em seu “Manifesto Comunista”, deixem um pouco de pensar o mundo e passemos agora a transformá-lo. Portanto, a política, bem de todos, por todos e para todos, modela o caráter social, crítico e verdadeiro do indivíduo.

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.

terça-feira, 15 de julho de 2008

A boa e velha política...



Mal chegamos a meados de julho que a boa e velha política partidária teima em começar. E desta vez vem com gosto de gás para honrar a Democracia brasileira em todos os municípios. São reuniões políticas, passeatas, carreatas, mobilizações que, a meu ver, mais enaltecem a Democracia do que a depreciam. Na verdade, por aí a fora, assistimos a um "show" grandioso de opiniões, discussões e debates políticos que infestam as ruas de nossas múltiplas cidades. Não há mal nisso! Há, sim, uma emblemática oportunidade de vivermos a política com todas as suas vantagens e desvantagens, com todas as suas posturas e descomposturas, com todos os seus erros e acertos, com todas as suas falsidades e verdades, com todo o jogo dela consigo mesma. É o mundo da política, complexo e vasto por ele mesmo que exige, mais do que nunca, nossa participação.
O ano de 2008 é marcado, mais uma vez, por campanhas eleitorais em todos os municípios desse imenso país, de norte a sul, de leste a oeste, de modo a renascer a esperança na cabeça de milhares de brasileiros. E aqui é oportuno lembrar o filósofo grego, do séc. IV a.C., Aristóteles, para o qual a política injusta na distribuição da riqueza é tratar os desiguais de modo igual, uma vez que, na prática, o contrário deveria prevalecer. Isto é, tratar os desiguais de forma desigual. Isso posto, tornar iguais os desiguais. Tarefa árdua essa!
No entanto, em 5 de outubro deste ano acontece o tão esperado pleito eleitoral na cidade de Florânia, bem como nas demais cidades brasileiras, entre o representante da coligação "Por amor a Florânia", Flávio José de Oliveira Silva e o representante da coligação "Por respeito a Florânia", Sinval Salomão com seus respectivos candidatos a vereadores. A estes, digo, aos vereadores, cabe a função de legislar e fiscalizar o executivo a respeito dos rumos que o município deve trilhar. Àqueles, isto é, aos candidatos a Prefeito, implica a responsabilidade em promover ainda mais um "show" de Democracia na vida política de nosso município. A nós, eleitores, cabe a tarefa de fiscalizar as atitudes dos vereadores, não se omitindo, quando é imperativo denunciá-los por não primarem pelo comportamento ético. Por outro lado, deve-se levar em conta, também, a cobrança de propostas em questões bem pertinentes como, por exemplo, desigualdade social, infra-estrutura social – educação, saúde, saneamento(pavimentação), moradia, geração de emprego e renda, agricultura... – e, sobretudo, o compromisso com a ÉTICA. Afinal, a fronteira ética, na formação social é a libertação das classes populares.
Enquanto cidadãos, todos devem cumprir: a cobrança de atitudes éticas de nós mesmos e dos nossos possíveis representantes. Caso contrário, contribuiremos para uma real banalização do mal. Se a política for considerada como algo apenas técnico, ou seja, só para especialistas, ela não é ética. Se considerada ainda como simples divergências pessoais, deixará de ser ideológica passando a trair a ética. Portanto, candidatos, não esqueçam! As divergências devem estar apenas no nível ético, político e ideológico, não enveredando para o nível pessoal.
Para a filósofa Marilena Chauí, não é certo falar em retorno da ética, como se fosse algo que pudéssemos perder com um tempo. Ela deve estar presente em todas as posturas de quem é cidadão. Política e ética andam juntas. A vida justa e feliz é a finalidade da política. Dessa forma, não dá para separá-la da ética. Também não se trata de ética na política, ou seja, pode estar ou não, mas da política, essencialmente, ela é sempre ética. O que caracteriza a política é a ética. Portanto, não a descaracterizemos!!!!


Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.


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www.chegadootempo.blogspot.com

terça-feira, 8 de julho de 2008

"Lei seca" afirma a vida.


O Estado brasileiro, recentemente, sancionou Lei aprovada pela Câmara dos deputados e dos senadores – O Projeto de lei que prevê mais rigor contra o motorista que ingerir bebida alcoólica. A multa será considerada gravíssima punida com suspensão da carteira de habilitação por um ano e multa. Somente motoristas com mais de seis decigramas de álcool por litro de sangue eram punidos – que não permite indivíduo algum, alcoolizado, a dirigir veículos.
Conforme a Lei mencionada acima, qualquer pessoa pega em flagrante incorrerá em pena de um ano sem poder conduzir legalmente seu veículo, incluindo multa de mil reais. Essa medida vem trazendo muita polêmica por parte da imprensa brasileira, uma vez que a sociedade, caracterizada como secular, acha-se no direito neoliberal de reivindicar suas posturas, embora contraditórias.
De qualquer forma, é um avanço para a nossa sociedade esse tipo de atitude, absolutamente educativa, não contrariando o bom senso e sendo favorável à ética, a uma lei por dentro, do coração; do que por fora, fruto apenas das exigências institucionais. O quê não é o caso. Temos aqui um salto na qualidade de vida de nosso povo. Pelo menos a Lei brasileira está na vanguarda de uma mudança de valores, haja vista a mudança de postura cultural que ela há de promover.
É preciso entender que a medida legal discutida no momento qualifica-se pelo avanço extraordinário de nossa sociedade em promovendo as virtudes humanas (sobriedade, prudência, temperança, responsabilidade, lealdade,...) e em freando os vícios provenientes do álcool e outras drogas. Quem tem ou já teve um pai alcoólatra sabe do que estou falando. Quem sofre conflitos familiares oriundos das drogas percebe a gravidade do problema.
Não podemos mais nos dar ao luxo de vivermos entregues a toda sorte de hábitos desmedidos e exagerados que causam um risco enorme para nossa saúde porque o que somos hoje é fruto do que construímos ontem e o que seremos amanhã é resultado do que construímos hoje. Por isso, temos o direito de viver bem o presente com responsabilidade, consciência e equilíbrio.
É urgente pensarmos em pautar uma vida o mais simples possível. Começar a renunciar um pouco mais dos prazeres, dos gostos que a vida nos proporciona agora para adquirirmos reservas lucrativas em qualidade de vida depois, no futuro.
Quiçá, a Lei em vigor nos possibilite mais do que sua aplicação enquanto tal, com certo sacrifício e contra-senso, aliás, tudo nessa vida é passivo de contra-senso, fazermos uma poupança de vida para uma velhice mais saudável e abençoada!


Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.

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terça-feira, 1 de julho de 2008

Umas palavras sobre a modernidade II

O nosso século teve quatro grandes mudanças da realidade: A primeira, o mundo dos medos e das superstições é vencido. Daí a necessidade de se abordar o filme Matrix do ponto de vista dos paradoxos da modernidade ou da pós-modernidade, uma vez que a radicalização das contradições já mencionadas torna-se riquíssimas em símbolos. Estes são autônomos; Segunda, nós temos uma ciência misteriosa, presente, onipotente e onipresente. A ciência passa a ser um dos instrumentos mais presentes nos costumes humanos. Ela torna o cotidiano homogêneo. O que caracteriza o futuro é o inesperado. Nós vivemos num mundo ameaçado de não termos futuro; E, terceira, voltamos a idéia de Kant de aliviar ou eliminar os medos e as superstições, isto é, o problema antes resolvido volta a aparecer. Com isso, a ciência não eliminou, porém criou novos medos. Para o grego, a noção de morte equivale a estar separado da “polis”, da cidade. O sentido de morte está associado ao da exclusão social em nossos dias. Está morto que não tem um celular, um micro-computador, um carro do ano, uma namorada... A quarta e última se destina aos desafios da vida, da natureza e da sociedade fazendo com que o homem se sinta preso. E assim busca uma autonomia. Aqui está o ponto em que Kant propõe um PROJETO emancipatório da modernidade, enquanto Adorno diz que não, pois a emancipação já estava em gestão.
O homem conseguiu tornar-se autônomo da natureza desde o século XIX. A natureza foi domada. Adorno afirma que o seu Projeto esclarecedor é imposto e ninguém o discute. É a mistificação das massas. Uma mistificação imanente. Daí, surgem dois modelos bastante sedutores para os que pensam na direção da valorização da individualidade humana.
O modelo alternativo, fruto do pensamento e das conjecturas de Foucault, discute a criação das micro-práticas de poder ou da consciência. Por outro lado, Milton Santos evidencia a questão de um pensamento único, oriundo dos debates econômicos-políticos do neoliberalismo moderno com a idéia de aldeia global ou globalização.
Em virtude disso, sai pela tangente a Indústria cultural que vem se tornando efusivamente um símbolo religioso das massas modernas. Sugerimos assim, como pista para discussão filosófica, o filme "Inteligência Artificial" a partir do ponto de vista da contemporaneidade. Um robô como membro da família. Mas o sonho é um elemento puramente humano. Como será um computador com células humanas? Em algum ponto do labirinto da história nós perdemos a nossa humanidade.
No livro "História da Loucura", Foucault tem uma pergunta: o louco tinha ou não um dom especial dado por Deus?
O final do século XX é totalmente marcado pelo horror – mortes, suicídios, desastres, pessimismos... - , por outro lado, é marcado ainda por um otimismo(economia, revoluções, o poder das teorias, a fé na ciência...). O século da glória, esperado por todos como o séc. da vitória. Isso posto, duas coisas merecem atenção:
Um século frustrante. Não trouxe a felicidade e a autonomia, pois criou infelizes, multidões de pessoas angustiadas. O século das guerras! A guerra do Vietnã que foi filmada pelos EUA. Concomitantemente, as grandes teorias e invenções econômicas não libertaram o ser humano.
É um século de desdobramentos. O homem foi à lua. A revolução sexual. Surge uma tecnologia médica fruto da guerra do Vietnã. A medicina da experimentação nazista. Diga-se de passagem, que quem vai realizar os sonhos dos nazistas são os EUA. As modernas práticas de UTI surgiram no Vietnã. Anestesias, morfinas, enfim... Nós temos um profundo desencanto. As evoluções vão mudar as nossas vidas. Era a mentalidade do séc. XIX, porém o séc. XX acaba com essa idéia de futuro. Pelo contrário, o séc. XX é um brutal acelerador do processo tecnológico de desenvolvimento.


Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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quinta-feira, 31 de julho de 2008

Olhares de Agostinho e Anselmo... Confiram.

“Ensina-me, Senhor, a procurar-te, e mostra-te quando te procuro. Não posso procurar-te se tu mesmo não me indicas, nem achar-te se tu mesmo não te mostras a mim. Que eu te procure desejando-te e anseie por ti procurando-te; que eu te ache amando-te e te ame encontrando-te”.

Anselmo, Proslogion, 1(Opera omnia, 1, Edimburgo, 1946, p. 100).



“Senhor Deus meu, minha única esperança, atende-me e faz com que eu não cesse por cansaço de te procurar, mas sempre procure com ardor teu rosto(...) Diante de ti está minha força e minha fraqueza: conserva uma e cura a outra(...) Faze que eu me lembre de ti, que te compreenda, que te ame”.

Agostinho, De Trinitate, XV, 28, 51.



“Quando te busco, tu que és meu Deus, busco a felicidade”.

Agostinho, Confissões, X, 20.


Deus é Felicidade! “É o Deus que faz feliz”.

Agostinho, Cidade de Deus, IX, 15, 2.


“Esse abraço inefável entre o Pai e a sua Imagem não é sem fruição, sem amor e sem alegria, e esse amor, essa dileção, essa felicidade, na Trindade, é o Espírito Santo. Ele não é gerado; é a doce bem-aventurança do gerador e do gerado que inunda com sua liberalidade e abundância imensa todas as criaturas, segundo sua capacidade”.

Agostinho, De Trinitate, VI, 10, 10.

A náusea...

“Eu me encontrava no jardim público. A raiz do castanheiro mergulhava na terra exatamente por baixo de meu banco. Não me lembrava mais do que era uma raiz. As palavras haviam desaparecido, com elas o significado das coisas, os modos de seu emprego, os tênues sinais de identificação que os homens lhe traçaram na superfície. Eu estava sentado, meio inclinado, cabisbaixo, sozinho diante daquela massa negra e nodosa, totalmente grosseira, que me metia medo. Depois tive um lampejo de iluminação. Aquilo me fez perder o fôlego. Eu nunca pressentira antes o que significa ‘existir’. Nisso assemelhava-se aos demais, aos que passeiam à beira do mar em trajes primaveris. Dizia como eles: ‘O mar é verde, aquele ponto branco lá em cima é uma gaivota’, mas não me compenetrara de que de que aquilo existia, que a gaivota era uma gaivota-existente; a existência costuma esconder-se. Está aí, ao redor de nós, somos nós, não se pode dizer duas palavras sem falar dela e, por fim, nela não se toca... E depois, eis que de repente estava ali, clara como a luz do dia; a existência se revelara inopinadamente”.


J. –P. Sartre, La náusea, Mondadori, Milão, 1984, pp. 193s. Sobre o projeto da Modernidade de voltar às coisas, pois elas, de fato, existem.

terça-feira, 29 de julho de 2008

A política por todos e todos pela política.



Este título plagiado da clássica expressão dos três mosqueteiros “Um por todos e todos por um” mais representa a coletividade e o interesse pelo bem comum do que a própria política ora em evidência devido às eleições municipais em todo o Brasil. Tal expressão cabe perfeitamente no contexto político que se apresenta, na medida em que sobrevive da participação e do engajamento de todos. A sociedade civil organizada e mobilizada caracteriza a política.
A política é e sempre será um bem de todos, muito embora que os banqueiros, empresários, alguns políticos e as classes mais privilegiadas pelo sistema econômico tentem privatizá-la de algum modo. A política, sobretudo em tempo eleitoral, é uma arma ideológica importantíssima para colocarmos em exposição àqueles que se escondem por trás e por dentro da máquina administrativa, não atendendo as exigências mais prementes de nosso povo. Salvo engano aqueles que honram sua administração com idoneidade, compromisso, ética e trabalho, muito trabalho. A estes, as nossas saudações políticas...
A cada dois anos, ao passar de cada eleição, mais nos damos conta do quão difícil é a vida política, incerta e hesitante. Tudo se mistura. É uma realidade de contrastes, de conflitos. Amigos e inimigos se misturam, mas também amigos se constroem, assim como inimizades são destruídas, da mesma forma que novas relações políticas são estabelecidas. Fascinante! Na política, mesclam-se egoísmo e generosidade, exaltação e humildade, conformismo e revolta, individualismo e coletivismo, timidez e excentricidade, sede de poder e reconhecimento, tudo em virtude, em função de uma vitória, cujo poder é duramente temporal.
No entanto, todos respiramos política porque somos sujeitos a relações sociais, somos eminentemente sociais, por isso políticos. Vivemos numa cidade, rodeados de pessoas, de casas, instituições por todos os lados, negócios, comércios de produtos e de argumentos, num grande mercado do corpo a corpo, onde cada um quer mostrar a sua força apoderando-se da força do outro. Assim, meus caros, é que se afirma inevitavelmente a política independentemente do anúncio iminente de qualquer eleição.
Os interesses saltam aos olhos, o dinheiro, o poder, o emprego, um espaço, uma vida mais social... Interesses, por mais simples que sejam, fomentam a política. Mesmo que estes sejam para justificar nossas idéias e nossos valores, por mais bem intencionados que possam ser, esses interesses configuram uma atividade política. Como bem disse Karl Marx, em seu “Manifesto Comunista”, deixem um pouco de pensar o mundo e passemos agora a transformá-lo. Portanto, a política, bem de todos, por todos e para todos, modela o caráter social, crítico e verdadeiro do indivíduo.

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.

terça-feira, 15 de julho de 2008

A boa e velha política...



Mal chegamos a meados de julho que a boa e velha política partidária teima em começar. E desta vez vem com gosto de gás para honrar a Democracia brasileira em todos os municípios. São reuniões políticas, passeatas, carreatas, mobilizações que, a meu ver, mais enaltecem a Democracia do que a depreciam. Na verdade, por aí a fora, assistimos a um "show" grandioso de opiniões, discussões e debates políticos que infestam as ruas de nossas múltiplas cidades. Não há mal nisso! Há, sim, uma emblemática oportunidade de vivermos a política com todas as suas vantagens e desvantagens, com todas as suas posturas e descomposturas, com todos os seus erros e acertos, com todas as suas falsidades e verdades, com todo o jogo dela consigo mesma. É o mundo da política, complexo e vasto por ele mesmo que exige, mais do que nunca, nossa participação.
O ano de 2008 é marcado, mais uma vez, por campanhas eleitorais em todos os municípios desse imenso país, de norte a sul, de leste a oeste, de modo a renascer a esperança na cabeça de milhares de brasileiros. E aqui é oportuno lembrar o filósofo grego, do séc. IV a.C., Aristóteles, para o qual a política injusta na distribuição da riqueza é tratar os desiguais de modo igual, uma vez que, na prática, o contrário deveria prevalecer. Isto é, tratar os desiguais de forma desigual. Isso posto, tornar iguais os desiguais. Tarefa árdua essa!
No entanto, em 5 de outubro deste ano acontece o tão esperado pleito eleitoral na cidade de Florânia, bem como nas demais cidades brasileiras, entre o representante da coligação "Por amor a Florânia", Flávio José de Oliveira Silva e o representante da coligação "Por respeito a Florânia", Sinval Salomão com seus respectivos candidatos a vereadores. A estes, digo, aos vereadores, cabe a função de legislar e fiscalizar o executivo a respeito dos rumos que o município deve trilhar. Àqueles, isto é, aos candidatos a Prefeito, implica a responsabilidade em promover ainda mais um "show" de Democracia na vida política de nosso município. A nós, eleitores, cabe a tarefa de fiscalizar as atitudes dos vereadores, não se omitindo, quando é imperativo denunciá-los por não primarem pelo comportamento ético. Por outro lado, deve-se levar em conta, também, a cobrança de propostas em questões bem pertinentes como, por exemplo, desigualdade social, infra-estrutura social – educação, saúde, saneamento(pavimentação), moradia, geração de emprego e renda, agricultura... – e, sobretudo, o compromisso com a ÉTICA. Afinal, a fronteira ética, na formação social é a libertação das classes populares.
Enquanto cidadãos, todos devem cumprir: a cobrança de atitudes éticas de nós mesmos e dos nossos possíveis representantes. Caso contrário, contribuiremos para uma real banalização do mal. Se a política for considerada como algo apenas técnico, ou seja, só para especialistas, ela não é ética. Se considerada ainda como simples divergências pessoais, deixará de ser ideológica passando a trair a ética. Portanto, candidatos, não esqueçam! As divergências devem estar apenas no nível ético, político e ideológico, não enveredando para o nível pessoal.
Para a filósofa Marilena Chauí, não é certo falar em retorno da ética, como se fosse algo que pudéssemos perder com um tempo. Ela deve estar presente em todas as posturas de quem é cidadão. Política e ética andam juntas. A vida justa e feliz é a finalidade da política. Dessa forma, não dá para separá-la da ética. Também não se trata de ética na política, ou seja, pode estar ou não, mas da política, essencialmente, ela é sempre ética. O que caracteriza a política é a ética. Portanto, não a descaracterizemos!!!!


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"Lei seca" afirma a vida.


O Estado brasileiro, recentemente, sancionou Lei aprovada pela Câmara dos deputados e dos senadores – O Projeto de lei que prevê mais rigor contra o motorista que ingerir bebida alcoólica. A multa será considerada gravíssima punida com suspensão da carteira de habilitação por um ano e multa. Somente motoristas com mais de seis decigramas de álcool por litro de sangue eram punidos – que não permite indivíduo algum, alcoolizado, a dirigir veículos.
Conforme a Lei mencionada acima, qualquer pessoa pega em flagrante incorrerá em pena de um ano sem poder conduzir legalmente seu veículo, incluindo multa de mil reais. Essa medida vem trazendo muita polêmica por parte da imprensa brasileira, uma vez que a sociedade, caracterizada como secular, acha-se no direito neoliberal de reivindicar suas posturas, embora contraditórias.
De qualquer forma, é um avanço para a nossa sociedade esse tipo de atitude, absolutamente educativa, não contrariando o bom senso e sendo favorável à ética, a uma lei por dentro, do coração; do que por fora, fruto apenas das exigências institucionais. O quê não é o caso. Temos aqui um salto na qualidade de vida de nosso povo. Pelo menos a Lei brasileira está na vanguarda de uma mudança de valores, haja vista a mudança de postura cultural que ela há de promover.
É preciso entender que a medida legal discutida no momento qualifica-se pelo avanço extraordinário de nossa sociedade em promovendo as virtudes humanas (sobriedade, prudência, temperança, responsabilidade, lealdade,...) e em freando os vícios provenientes do álcool e outras drogas. Quem tem ou já teve um pai alcoólatra sabe do que estou falando. Quem sofre conflitos familiares oriundos das drogas percebe a gravidade do problema.
Não podemos mais nos dar ao luxo de vivermos entregues a toda sorte de hábitos desmedidos e exagerados que causam um risco enorme para nossa saúde porque o que somos hoje é fruto do que construímos ontem e o que seremos amanhã é resultado do que construímos hoje. Por isso, temos o direito de viver bem o presente com responsabilidade, consciência e equilíbrio.
É urgente pensarmos em pautar uma vida o mais simples possível. Começar a renunciar um pouco mais dos prazeres, dos gostos que a vida nos proporciona agora para adquirirmos reservas lucrativas em qualidade de vida depois, no futuro.
Quiçá, a Lei em vigor nos possibilite mais do que sua aplicação enquanto tal, com certo sacrifício e contra-senso, aliás, tudo nessa vida é passivo de contra-senso, fazermos uma poupança de vida para uma velhice mais saudável e abençoada!


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Umas palavras sobre a modernidade II

O nosso século teve quatro grandes mudanças da realidade: A primeira, o mundo dos medos e das superstições é vencido. Daí a necessidade de se abordar o filme Matrix do ponto de vista dos paradoxos da modernidade ou da pós-modernidade, uma vez que a radicalização das contradições já mencionadas torna-se riquíssimas em símbolos. Estes são autônomos; Segunda, nós temos uma ciência misteriosa, presente, onipotente e onipresente. A ciência passa a ser um dos instrumentos mais presentes nos costumes humanos. Ela torna o cotidiano homogêneo. O que caracteriza o futuro é o inesperado. Nós vivemos num mundo ameaçado de não termos futuro; E, terceira, voltamos a idéia de Kant de aliviar ou eliminar os medos e as superstições, isto é, o problema antes resolvido volta a aparecer. Com isso, a ciência não eliminou, porém criou novos medos. Para o grego, a noção de morte equivale a estar separado da “polis”, da cidade. O sentido de morte está associado ao da exclusão social em nossos dias. Está morto que não tem um celular, um micro-computador, um carro do ano, uma namorada... A quarta e última se destina aos desafios da vida, da natureza e da sociedade fazendo com que o homem se sinta preso. E assim busca uma autonomia. Aqui está o ponto em que Kant propõe um PROJETO emancipatório da modernidade, enquanto Adorno diz que não, pois a emancipação já estava em gestão.
O homem conseguiu tornar-se autônomo da natureza desde o século XIX. A natureza foi domada. Adorno afirma que o seu Projeto esclarecedor é imposto e ninguém o discute. É a mistificação das massas. Uma mistificação imanente. Daí, surgem dois modelos bastante sedutores para os que pensam na direção da valorização da individualidade humana.
O modelo alternativo, fruto do pensamento e das conjecturas de Foucault, discute a criação das micro-práticas de poder ou da consciência. Por outro lado, Milton Santos evidencia a questão de um pensamento único, oriundo dos debates econômicos-políticos do neoliberalismo moderno com a idéia de aldeia global ou globalização.
Em virtude disso, sai pela tangente a Indústria cultural que vem se tornando efusivamente um símbolo religioso das massas modernas. Sugerimos assim, como pista para discussão filosófica, o filme "Inteligência Artificial" a partir do ponto de vista da contemporaneidade. Um robô como membro da família. Mas o sonho é um elemento puramente humano. Como será um computador com células humanas? Em algum ponto do labirinto da história nós perdemos a nossa humanidade.
No livro "História da Loucura", Foucault tem uma pergunta: o louco tinha ou não um dom especial dado por Deus?
O final do século XX é totalmente marcado pelo horror – mortes, suicídios, desastres, pessimismos... - , por outro lado, é marcado ainda por um otimismo(economia, revoluções, o poder das teorias, a fé na ciência...). O século da glória, esperado por todos como o séc. da vitória. Isso posto, duas coisas merecem atenção:
Um século frustrante. Não trouxe a felicidade e a autonomia, pois criou infelizes, multidões de pessoas angustiadas. O século das guerras! A guerra do Vietnã que foi filmada pelos EUA. Concomitantemente, as grandes teorias e invenções econômicas não libertaram o ser humano.
É um século de desdobramentos. O homem foi à lua. A revolução sexual. Surge uma tecnologia médica fruto da guerra do Vietnã. A medicina da experimentação nazista. Diga-se de passagem, que quem vai realizar os sonhos dos nazistas são os EUA. As modernas práticas de UTI surgiram no Vietnã. Anestesias, morfinas, enfim... Nós temos um profundo desencanto. As evoluções vão mudar as nossas vidas. Era a mentalidade do séc. XIX, porém o séc. XX acaba com essa idéia de futuro. Pelo contrário, o séc. XX é um brutal acelerador do processo tecnológico de desenvolvimento.


Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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