terça-feira, 2 de junho de 2009

O que alguns não viram...


Quem não atravessou o século passado para este certamente não se vislumbrou com uma série de avanços tecnológicos que ajudam a melhorar ou a piorar a vida, dependendo de como se valorizam tais avanços. Decerto, o processo aconteceu muito rapidamente, quase como num passe de mágica, num estalar de dedos. As sociedades, ditas civilizadas, caminharam a passos largos. Os avanços estão aí para qualquer um tirar suas conclusões.
Outro dia estava lendo um fabuloso livro, “Não nascemos prontos!”, de Mario Sergio Cortella, o qual relatava, num de seus capítulos, a história da romancista e dramaturga francesa Marguerite Yourcenar(1903-1987) que assim se expressou, ao escrever sobre o passado: “quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana”. Nascida em Bruxelas quando o século XX ainda esta longe de mostrar a sua face, vindo a morrer aos 84 anos, avizinhando-se do alvorecer do século XXI.
Assim como ela, muitos personagens não puderam alcançar tão venturoso século, repleto de avanços, mas coberto por frangalhos éticos que banham nossa política. Distando apenas alguns anos do século que ora vivemos, não foram poucas as Marguerites, as Franciscas, as Joanas, as Marias, as Fátimas, enfim. Qual passado não pode estar presente nas celulares memórias de Marguerite? O que estes personagens não viram? O que eles não puderam ver? Essas perguntas foram lançadas por Sergio Cortella, e agora faço delas também as minhas interrogações sobre o que não fora visto por eles.
Marguerite não viu a ovelha Dolly e não se assustou com os desdobramentos possíveis da clonagem; não falou a partir de um celular; não navegou na internet; não ingeriu alimentos geneticamente modificados; não ouviu música em um CD; não testemunhou a regularização(em alguns países) da eutanásia e da união civil entre pessoas do mesmo sexo; não acompanhou a sonda Marte(com hipótese de outras formas de vida); não viu o estopim da economia dos EUA, cujos estilhaços atingiram globalmente o nosso planeta; não viu a emocionante eleição de Nelson Mandela(depois de quase 28 anos de prisão) para presidir a África do Sul no primeiro governo após o término formal do apartheid; não viu José Saramago receber o Nobel de Literatura, inédito para um escritor de língua portuguesa; não viu alguns ideais nazistas ressurgirem em determinados focos na Europa que, criando uma União Européia, lançou uma moeda única...
Tudo isso apenas no ínterim entre a morte de Marguerite e o início do século XXI! Para nós, foram testemunhas oculares e tal como sobreviveram na memória humana poderiam ser outros; dependerão sempre, do ponto de vista de quem lembra, uma vez que o esquecimento é algo constante em nossas vidas e bastante pertinente para nos renovarmos. Por isso, é necessário permanecer memorável o pensamento contemporâneo de William Faulker: “Ontem só acabará amanhã, e amanhã começou há dez mil anos”...

Texto adaptado por mim, do livro que aconselho sua leitura: CORTELLA, Mario Sergio. Não Nascemos Prontos! Provocações Filosóficas. Rio de Janeiro, RJ: Vozes. 2008.

Jackislandy Meira de M. Silva, Professor e Filósofo. Confiram os blogs:
www.umasreflexoes.blogspot.com e www.chegadootempo.blogspot.com

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O que alguns não viram...


Quem não atravessou o século passado para este certamente não se vislumbrou com uma série de avanços tecnológicos que ajudam a melhorar ou a piorar a vida, dependendo de como se valorizam tais avanços. Decerto, o processo aconteceu muito rapidamente, quase como num passe de mágica, num estalar de dedos. As sociedades, ditas civilizadas, caminharam a passos largos. Os avanços estão aí para qualquer um tirar suas conclusões.
Outro dia estava lendo um fabuloso livro, “Não nascemos prontos!”, de Mario Sergio Cortella, o qual relatava, num de seus capítulos, a história da romancista e dramaturga francesa Marguerite Yourcenar(1903-1987) que assim se expressou, ao escrever sobre o passado: “quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como sobreviveu na memória humana”. Nascida em Bruxelas quando o século XX ainda esta longe de mostrar a sua face, vindo a morrer aos 84 anos, avizinhando-se do alvorecer do século XXI.
Assim como ela, muitos personagens não puderam alcançar tão venturoso século, repleto de avanços, mas coberto por frangalhos éticos que banham nossa política. Distando apenas alguns anos do século que ora vivemos, não foram poucas as Marguerites, as Franciscas, as Joanas, as Marias, as Fátimas, enfim. Qual passado não pode estar presente nas celulares memórias de Marguerite? O que estes personagens não viram? O que eles não puderam ver? Essas perguntas foram lançadas por Sergio Cortella, e agora faço delas também as minhas interrogações sobre o que não fora visto por eles.
Marguerite não viu a ovelha Dolly e não se assustou com os desdobramentos possíveis da clonagem; não falou a partir de um celular; não navegou na internet; não ingeriu alimentos geneticamente modificados; não ouviu música em um CD; não testemunhou a regularização(em alguns países) da eutanásia e da união civil entre pessoas do mesmo sexo; não acompanhou a sonda Marte(com hipótese de outras formas de vida); não viu o estopim da economia dos EUA, cujos estilhaços atingiram globalmente o nosso planeta; não viu a emocionante eleição de Nelson Mandela(depois de quase 28 anos de prisão) para presidir a África do Sul no primeiro governo após o término formal do apartheid; não viu José Saramago receber o Nobel de Literatura, inédito para um escritor de língua portuguesa; não viu alguns ideais nazistas ressurgirem em determinados focos na Europa que, criando uma União Européia, lançou uma moeda única...
Tudo isso apenas no ínterim entre a morte de Marguerite e o início do século XXI! Para nós, foram testemunhas oculares e tal como sobreviveram na memória humana poderiam ser outros; dependerão sempre, do ponto de vista de quem lembra, uma vez que o esquecimento é algo constante em nossas vidas e bastante pertinente para nos renovarmos. Por isso, é necessário permanecer memorável o pensamento contemporâneo de William Faulker: “Ontem só acabará amanhã, e amanhã começou há dez mil anos”...

Texto adaptado por mim, do livro que aconselho sua leitura: CORTELLA, Mario Sergio. Não Nascemos Prontos! Provocações Filosóficas. Rio de Janeiro, RJ: Vozes. 2008.

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