domingo, 16 de março de 2008

A Indústria Cultural I



(A partir de hoje nós vamos entrar numa problemática muito interessante da discussão filosófica, a indústria cultural, em vários artigos daqui em diante. Os textos foram elaborados com base num estudo limitado, mas aberto, do pensamento de Adorno e Horkheimer, em cuja obra “Dialética do Esclarecimento” se afirma um olhar moderno).
Vivemos um grande momento de estupor e perplexidade diante do cenário mundial, no que diz respeito ou no que toca a dimensão de suma importância para a nossa vida, principalmente quando esta coisa tem uma influência direta no comportamento e no ser das pessoas: a indústria cultural.
O grande artífice massificador das massas em tempos hodiernos é a indústria cultural. Hoje, não temos mais as religiões tradicionais como matrizes massificadoras, mas os ícones industriais que representam o arroubo final de um Projeto secularizador e globalizante da sociedade.
Para alcançar a sua funcionalidade, o “sistema”, que é a sociedade tecnológica contemporânea, entre os seus principais instrumentos, constituída essencialmente pelos “mass-media”(cinema, tv “digital”, rádios, cds, publicidade, internet, retrogravura, etc.). É com a mídia que o poder impõe valores e modelos de comportamento, cria necessidades e estabelecem a linguagem. Esses valores, necessidades, comportamentos e linguagem são uniformes porque devem alcançar a todos; são amorfos, assépticos; não emancipam nem estimulam a criatividade; pelo contrário, bloqueiam-na, porque acostumam a receber passivamente as mensagens.
Ao verificarmos o poder incisivo e persuasivo da Indústria Cultural, constatamos os modismos, as mesmices: no falar, no comer, no beber, no vestir-se, etc. Por exemplo, temos o ícone da adolescência em que os jovens, nesta fase da vida, têm o mesmo vocabulário(gírias), o mesmo modo de vestir-se, as mesmas marcas e comidas. Todos seduzidos pelo império da propaganda, das marcas, do marketing...
Certa vez, numa palestra, o escritor e pensador Frei Beto, contou-nos que passeava pelo Shopping observando vitrines e mais vitrines e viu realmente de quantas coisas não precisava para ser feliz. De quantas coisas supérfulas aquelas lojas estavam cheias! E afirmou categoricamente que, nesses ambientes ilusórios, tínhamos que fazer um passeio socrático para percebermos as falsas necessidades que a indústria cultural procura criar para nos seduzir.
As cidades se tornaram arenas das marcas. Cada palmo de paisagem urbana está loteada por outdoors, luminosos, letreiros em cartazes que disputam os olhares de quem passa. Para ter a imediata noção da onipresença das marcas como vetor da economia, basta trafegar pelas avenidas principais dos grandes centros urbanos do país ou mundo além fronteiras, mergulhar no gigantismo dos luminosos de Times Square, em Nova York, ou no burburinho de Piccadilly Circus, em Londres.
No entanto, o verdadeiro terreno, que elas querem ocupar não é físico, é a cabeça do consumidor que somos nós. A barulheira e poluidora guerra para afirmar a marca, nada mais é do que uma questão de identidade, baseada na diferenciação. Para isso, o marketing inventou uma terminologia, “share of mind”, que, em tradução livre, quer dizer “cota da mente”, como sugerida uma das obras clássicas sobre o assunto, “Posicionamento: a batalha por sua mente”, escrita em 1981 por Al Ries e Jack Trout.
Toda a moda que pendurou em torno da palavra “posicionamento” ganhou contornos mais sutis até evoluir para o branding e a era das marcas. Grosso modo, brading é o conjunto de ações ligadas ao gerenciamento eficaz de uma marca. Ações que, se bem realizadas, levam suas detentoras para além de sua natureza econômica, passando a fazer parte da cultura e a influenciar a vida das pessoas.

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
Confira os blogs:
www.umasreflexoes.blogspot.com
www.chegadootempo.blogspot.com

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom seu texto. me ajudou em um trabalho da escola! obrigada.

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domingo, 16 de março de 2008

A Indústria Cultural I



(A partir de hoje nós vamos entrar numa problemática muito interessante da discussão filosófica, a indústria cultural, em vários artigos daqui em diante. Os textos foram elaborados com base num estudo limitado, mas aberto, do pensamento de Adorno e Horkheimer, em cuja obra “Dialética do Esclarecimento” se afirma um olhar moderno).
Vivemos um grande momento de estupor e perplexidade diante do cenário mundial, no que diz respeito ou no que toca a dimensão de suma importância para a nossa vida, principalmente quando esta coisa tem uma influência direta no comportamento e no ser das pessoas: a indústria cultural.
O grande artífice massificador das massas em tempos hodiernos é a indústria cultural. Hoje, não temos mais as religiões tradicionais como matrizes massificadoras, mas os ícones industriais que representam o arroubo final de um Projeto secularizador e globalizante da sociedade.
Para alcançar a sua funcionalidade, o “sistema”, que é a sociedade tecnológica contemporânea, entre os seus principais instrumentos, constituída essencialmente pelos “mass-media”(cinema, tv “digital”, rádios, cds, publicidade, internet, retrogravura, etc.). É com a mídia que o poder impõe valores e modelos de comportamento, cria necessidades e estabelecem a linguagem. Esses valores, necessidades, comportamentos e linguagem são uniformes porque devem alcançar a todos; são amorfos, assépticos; não emancipam nem estimulam a criatividade; pelo contrário, bloqueiam-na, porque acostumam a receber passivamente as mensagens.
Ao verificarmos o poder incisivo e persuasivo da Indústria Cultural, constatamos os modismos, as mesmices: no falar, no comer, no beber, no vestir-se, etc. Por exemplo, temos o ícone da adolescência em que os jovens, nesta fase da vida, têm o mesmo vocabulário(gírias), o mesmo modo de vestir-se, as mesmas marcas e comidas. Todos seduzidos pelo império da propaganda, das marcas, do marketing...
Certa vez, numa palestra, o escritor e pensador Frei Beto, contou-nos que passeava pelo Shopping observando vitrines e mais vitrines e viu realmente de quantas coisas não precisava para ser feliz. De quantas coisas supérfulas aquelas lojas estavam cheias! E afirmou categoricamente que, nesses ambientes ilusórios, tínhamos que fazer um passeio socrático para percebermos as falsas necessidades que a indústria cultural procura criar para nos seduzir.
As cidades se tornaram arenas das marcas. Cada palmo de paisagem urbana está loteada por outdoors, luminosos, letreiros em cartazes que disputam os olhares de quem passa. Para ter a imediata noção da onipresença das marcas como vetor da economia, basta trafegar pelas avenidas principais dos grandes centros urbanos do país ou mundo além fronteiras, mergulhar no gigantismo dos luminosos de Times Square, em Nova York, ou no burburinho de Piccadilly Circus, em Londres.
No entanto, o verdadeiro terreno, que elas querem ocupar não é físico, é a cabeça do consumidor que somos nós. A barulheira e poluidora guerra para afirmar a marca, nada mais é do que uma questão de identidade, baseada na diferenciação. Para isso, o marketing inventou uma terminologia, “share of mind”, que, em tradução livre, quer dizer “cota da mente”, como sugerida uma das obras clássicas sobre o assunto, “Posicionamento: a batalha por sua mente”, escrita em 1981 por Al Ries e Jack Trout.
Toda a moda que pendurou em torno da palavra “posicionamento” ganhou contornos mais sutis até evoluir para o branding e a era das marcas. Grosso modo, brading é o conjunto de ações ligadas ao gerenciamento eficaz de uma marca. Ações que, se bem realizadas, levam suas detentoras para além de sua natureza econômica, passando a fazer parte da cultura e a influenciar a vida das pessoas.

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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Anônimo disse...

muito bom seu texto. me ajudou em um trabalho da escola! obrigada.

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