terça-feira, 13 de maio de 2014

Sobre a amizade de Michel de Montaigne

... o que nós chamamos ordinariamente amigos e amizades, não são acomodações e familiaridades nascidas de uma ocasião qualquer ou da comodidade com a qual se entretêm nossas almas. Na amizade de que falo, as almas misturam-se e confundem-se uma na outra, de tão universal mistura, que apagam e já não encontram a costura que as juntou. Se me pressionassem para dizer porque o amaria, sinto que isso não se pode exprimir senão respondendo: "Porque estou nele; porque ele está em mim."

Há, por detrás do meu discurso e do que particularmente posso dizer, não sei que força inexplicável e fatal, mediatriz desta união. Não procuramos senão antes de nós, ser vós, e pelas relações que temos um ao outro, que faz na nossa afecção mais força do que a razão das relações, creio que por causa de qualquer ordem divina; nós abraçamo-nos pelos nomes. E no nosso primeiro encontro, que aconteceu, por acaso numa grande festa na comunidade da vila, encontramo-nos tão próximos, tão reconhecíveis, tão comprometidos entre nós, que nada nos é doravante, tão próximo um ao outro.




Montaigne, Essais, Livre I, Garnier-Flammarion, Paris, 1969

Tradução do Francês antigo de Helena Serrão

Fonte:  http://filosofialogos.blogspot.com.br/search/label/Montaigne

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terça-feira, 13 de maio de 2014

Sobre a amizade de Michel de Montaigne

... o que nós chamamos ordinariamente amigos e amizades, não são acomodações e familiaridades nascidas de uma ocasião qualquer ou da comodidade com a qual se entretêm nossas almas. Na amizade de que falo, as almas misturam-se e confundem-se uma na outra, de tão universal mistura, que apagam e já não encontram a costura que as juntou. Se me pressionassem para dizer porque o amaria, sinto que isso não se pode exprimir senão respondendo: "Porque estou nele; porque ele está em mim."

Há, por detrás do meu discurso e do que particularmente posso dizer, não sei que força inexplicável e fatal, mediatriz desta união. Não procuramos senão antes de nós, ser vós, e pelas relações que temos um ao outro, que faz na nossa afecção mais força do que a razão das relações, creio que por causa de qualquer ordem divina; nós abraçamo-nos pelos nomes. E no nosso primeiro encontro, que aconteceu, por acaso numa grande festa na comunidade da vila, encontramo-nos tão próximos, tão reconhecíveis, tão comprometidos entre nós, que nada nos é doravante, tão próximo um ao outro.




Montaigne, Essais, Livre I, Garnier-Flammarion, Paris, 1969

Tradução do Francês antigo de Helena Serrão

Fonte:  http://filosofialogos.blogspot.com.br/search/label/Montaigne

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