quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Um intrigante "quiproquó".

Quem pelo quê? Isto por aquilo? Sujeito pelo objeto? Conforme a língua latina, nominativo pelo ablativo. A expressão “quiproquó” está demasiadamente presente, às vezes implícita ou explicitamente, na existência nossa de cada dia. Mas, tal expressão não sai costumeiramente de nossas bocas, sequer a ouvimos por aí. “Quiproquó!” Que coisa curiosa! Não me lembro mais de tê-la ouvido por aí. O fato é que, sem mais nem menos, o vocábulo “quiproquó” deu as caras de vez na obra Não Nascemos prontos de Mário Sérgio Cortella, onde o autor usa o termo ou a acepção latina para mostrar a sua história e seus diversos usos. “Ainda perdura entre nós e não nos faltam exemplos da precisão do termo para indicar situações nas quais o ‘quiproquó’ vem à tona, especialmente quando se procura prescrever soluções ambíguas ou desacertadas para alguns dos males provocados pelo desequilíbrio social”(p. 104).

Depurando toda formalidade da expressão em questão, nos apropriamos dela como alguém que frequentemente está tomando o “aparente pelo real” de acordo com a recorrente ideia do filósofo pragmático Ghiraldelli Jr. acerca do que é Filosofia. Segundo ele, a Filosofia nos ajuda a não tomar o aparente pelo real, a não tomar o falso pelo verdadeiro, a exemplo de ruas pavimentadas, abandonadas, sem qualquer espécie de saneamento básico, sendo tomadas pela visão de que é comum ou natural, até aceitável a situação de miséria em que se encontram. O “quiproquó” torna o absurdo da corrupção política algo naturalmente tolerável.

A bem da verdade, o mundo está cheio de “quiproquós” espalhados por todos os lados. Há “quiproquós” quando estamos constantemente banalizando o verdadeiro em função do falso só porque é mais usual e corrente em nossas vidas. Tamanho equívoco é percebido por causa da presença do que é visível, audível e palatável, a aparência. Assim como a madeira é a matéria prima da mesa, a aparência é a matéria prima do “quiproquó”. O “quiproquó” se alimenta da aparência.

Possivelmente, ao estar metido na imanência do real, com todo o seu esplendor, o “quiproquó” é incrivelmente constatado em nossas conversas, troca de ideias, momentos de lazer e, inesperadamente, nas escolhas que fazemos. O “quiproquó” é travesso e ardiloso se pudermos aqui personificá-lo. O “quiproquó” se veste do real, do visto, do costumeiro. “Ah, isso sempre acontece, é normal!” Expressão como essa indica um “quiproquó”.

Ah, troquei isso por aquilo! É o estalo da consciência sobre o sono da razão. A existência dos “quiproquós” é a prova de que não estamos o tempo todo acordados. Estamos sempre trocando alguma coisa por outra, e isso demonstra a demência da razão, já que a etimologia desta palavra joga com os sentidos de engano e de equívoco. Em Filosofia, quando alguém se equivoca é sinal de que a atividade do pensar precisa imediatamente ser posta para funcionar.

Há equívocos, ambiguidades por todos os cantos, por todos os lados, em cada pedacinho do mundo. Enganos não faltam nesse mundo que beira a ilusão. Alguns equívocos são intencionais, outros nem tanto, mas a maioria é. O certo é que gostamos de nos equivocar, sobretudo inspirados por uma cultura descontrolada e neoliberal que se acha acima do bem e do mal, empurrada pela mania da informação instantânea, cujo valor parece se banalizar toda vez que leva as pessoas a caírem no ridículo em desprezar o respeito ao outro.

Precisamos suspender um pouco os quiproquós da vida e voltar a fazer filosofia, música, poesia, artes, leitura, cultura, pesquisa, descobertas... Digo a pesquisa porque, por ela, o indivíduo vai de encontro a muitos “quiproquós” que teimam em fazer-lhe dormir para a reflexão.

Professor Jackislandy Meira de M. Silva

Confira as páginas do filósofo:

www.umasreflexoes.blogspot.com

www.chegadootempo.blogspot.com

www.twitter.com/filoflorania

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Um intrigante "quiproquó".

Quem pelo quê? Isto por aquilo? Sujeito pelo objeto? Conforme a língua latina, nominativo pelo ablativo. A expressão “quiproquó” está demasiadamente presente, às vezes implícita ou explicitamente, na existência nossa de cada dia. Mas, tal expressão não sai costumeiramente de nossas bocas, sequer a ouvimos por aí. “Quiproquó!” Que coisa curiosa! Não me lembro mais de tê-la ouvido por aí. O fato é que, sem mais nem menos, o vocábulo “quiproquó” deu as caras de vez na obra Não Nascemos prontos de Mário Sérgio Cortella, onde o autor usa o termo ou a acepção latina para mostrar a sua história e seus diversos usos. “Ainda perdura entre nós e não nos faltam exemplos da precisão do termo para indicar situações nas quais o ‘quiproquó’ vem à tona, especialmente quando se procura prescrever soluções ambíguas ou desacertadas para alguns dos males provocados pelo desequilíbrio social”(p. 104).

Depurando toda formalidade da expressão em questão, nos apropriamos dela como alguém que frequentemente está tomando o “aparente pelo real” de acordo com a recorrente ideia do filósofo pragmático Ghiraldelli Jr. acerca do que é Filosofia. Segundo ele, a Filosofia nos ajuda a não tomar o aparente pelo real, a não tomar o falso pelo verdadeiro, a exemplo de ruas pavimentadas, abandonadas, sem qualquer espécie de saneamento básico, sendo tomadas pela visão de que é comum ou natural, até aceitável a situação de miséria em que se encontram. O “quiproquó” torna o absurdo da corrupção política algo naturalmente tolerável.

A bem da verdade, o mundo está cheio de “quiproquós” espalhados por todos os lados. Há “quiproquós” quando estamos constantemente banalizando o verdadeiro em função do falso só porque é mais usual e corrente em nossas vidas. Tamanho equívoco é percebido por causa da presença do que é visível, audível e palatável, a aparência. Assim como a madeira é a matéria prima da mesa, a aparência é a matéria prima do “quiproquó”. O “quiproquó” se alimenta da aparência.

Possivelmente, ao estar metido na imanência do real, com todo o seu esplendor, o “quiproquó” é incrivelmente constatado em nossas conversas, troca de ideias, momentos de lazer e, inesperadamente, nas escolhas que fazemos. O “quiproquó” é travesso e ardiloso se pudermos aqui personificá-lo. O “quiproquó” se veste do real, do visto, do costumeiro. “Ah, isso sempre acontece, é normal!” Expressão como essa indica um “quiproquó”.

Ah, troquei isso por aquilo! É o estalo da consciência sobre o sono da razão. A existência dos “quiproquós” é a prova de que não estamos o tempo todo acordados. Estamos sempre trocando alguma coisa por outra, e isso demonstra a demência da razão, já que a etimologia desta palavra joga com os sentidos de engano e de equívoco. Em Filosofia, quando alguém se equivoca é sinal de que a atividade do pensar precisa imediatamente ser posta para funcionar.

Há equívocos, ambiguidades por todos os cantos, por todos os lados, em cada pedacinho do mundo. Enganos não faltam nesse mundo que beira a ilusão. Alguns equívocos são intencionais, outros nem tanto, mas a maioria é. O certo é que gostamos de nos equivocar, sobretudo inspirados por uma cultura descontrolada e neoliberal que se acha acima do bem e do mal, empurrada pela mania da informação instantânea, cujo valor parece se banalizar toda vez que leva as pessoas a caírem no ridículo em desprezar o respeito ao outro.

Precisamos suspender um pouco os quiproquós da vida e voltar a fazer filosofia, música, poesia, artes, leitura, cultura, pesquisa, descobertas... Digo a pesquisa porque, por ela, o indivíduo vai de encontro a muitos “quiproquós” que teimam em fazer-lhe dormir para a reflexão.

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