domingo, 18 de novembro de 2007

O meu Deus em relação ao de Espinosa

Bento de Espinoza foi o terceiro filho dos judeus portugueses Ana Débora Sénior e Miguel d’Espinosa. Nasceu em 1632, em Amsterdã, Holanda. Durante muitos anos dedicou-se à produção de obras filosóficas voltadas para a Ética, Teologia e Política, vindo a falecer de tuberculose no dia 21 de fevereiro de 1677. Dentre as suas obras, destacam-se “Tratado da Emenda do Intelecto, o Breve Tratado” e o “Tratado Teológico-político”. Bastante inquieto contra as crenças supersticiosas de sua época por ameaçar a prática da Filosofia e a prática da liberdade, viu-se impelido a demonstrar um pensamento que desconstruiu toda uma concepção judaico-cristã de Deus, ou seja, ele desconstrói a nossa visão de Deus, inaugurando uma outra. É o que veremos...
O Deus que me fascina é o da tradição cristã bastante presente em todo o Ocidente, que se revelou extraordinariamente na pessoa histórica de Jesus de Nazaré, assumindo ainda algumas características do Deus todo-poderoso de Isaac, Jacó e Moisés, oriundo da cultura judaica.
Esse Deus é uno e trino. Uno porque salvaguarda o monismo de que só Ele é Deus, Criador e Senhor do universo, do mundo. Trino devido à sua mostração, enquanto encarnado definitivamente na história, por isso é pessoal e revela-se em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Há em Deus uma consciência e uma vontade divinas. Pois o perfil desse Deus é eminentemente pessoal, catalisando n’Ele a salvação de todos os homens, como um télos para alcançar, um modelo a perseguir.
Resta-me ainda afirmar não só a Transcendência, mas também a imanência desse Deus no que diz respeito à sua presença em nós pela ação do Espírito Santo. Deus que está fora e, ao mesmo tempo, dentro de nós.
Assim como Nicolau Copérnico fez com o geocentrismo e Galileu Galilei com o telescópio ao observar imperfeições na lua, do mesmo modo o fez Espinosa em relação a Deus. Este em Espinosa é absolutamente imanente. Se Deus é o todo como pode estar fora do todo? Então, Deus não seria Deus. O Racionalismo absoluto de Espinosa, singularmente, é imanente porque é diferente de Malebranche, Leibniz, Kant e Descartes.
A diferença entre nós e Deus é apenas de potência. Segundo Espinosa, Deus não é criador, mas produtor da potência. O homem é o “modus” de Deus. Deus é impessoal e por isso não tem vontade e não pode escolher. Depreende-se disso que toda a noção cristã do Ocidente de Revelação e de Transcendência é eliminada, caindo por terra toda uma compreensão da ética cristã paradigmática.
Em Espinosa não há télos. Tudo é um constante devir comparável à força da natureza. A vida humana e divina se unem, não admitindo em si a dor e a paixão. Ele é ação pura, inalterável e infinitamente feliz. Nada de mais sublime do que o grito de alegria da natureza. Deus é a natureza. Tal como a natureza somos nós e Deus. Todas as coisas estão relacionadas à “causa sui” que é Deus, substância absoluta e necessária. Com isso, Deus é dinâmico, repleto de movimento porque é natureza.
Não há qualquer hierarquização de Deus em Espinosa devido à sua pura potência.
Finalmente, voltando ao conceito de Deus como natureza, nota-se que Deus está sempre se transformando, crescendo, movimentando-se. Deus não parou no sétimo dia para descansar, pois n’Ele não há motivo. Por quê? Não há motivo em Deus porque a sua essência é pura potência necessária de se produzir.

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
Confira os blogs:
http://www.umasreflexoes.blogspot.com/
http://www.chegadootempo.blogspot.com/

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domingo, 18 de novembro de 2007

O meu Deus em relação ao de Espinosa

Bento de Espinoza foi o terceiro filho dos judeus portugueses Ana Débora Sénior e Miguel d’Espinosa. Nasceu em 1632, em Amsterdã, Holanda. Durante muitos anos dedicou-se à produção de obras filosóficas voltadas para a Ética, Teologia e Política, vindo a falecer de tuberculose no dia 21 de fevereiro de 1677. Dentre as suas obras, destacam-se “Tratado da Emenda do Intelecto, o Breve Tratado” e o “Tratado Teológico-político”. Bastante inquieto contra as crenças supersticiosas de sua época por ameaçar a prática da Filosofia e a prática da liberdade, viu-se impelido a demonstrar um pensamento que desconstruiu toda uma concepção judaico-cristã de Deus, ou seja, ele desconstrói a nossa visão de Deus, inaugurando uma outra. É o que veremos...
O Deus que me fascina é o da tradição cristã bastante presente em todo o Ocidente, que se revelou extraordinariamente na pessoa histórica de Jesus de Nazaré, assumindo ainda algumas características do Deus todo-poderoso de Isaac, Jacó e Moisés, oriundo da cultura judaica.
Esse Deus é uno e trino. Uno porque salvaguarda o monismo de que só Ele é Deus, Criador e Senhor do universo, do mundo. Trino devido à sua mostração, enquanto encarnado definitivamente na história, por isso é pessoal e revela-se em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Há em Deus uma consciência e uma vontade divinas. Pois o perfil desse Deus é eminentemente pessoal, catalisando n’Ele a salvação de todos os homens, como um télos para alcançar, um modelo a perseguir.
Resta-me ainda afirmar não só a Transcendência, mas também a imanência desse Deus no que diz respeito à sua presença em nós pela ação do Espírito Santo. Deus que está fora e, ao mesmo tempo, dentro de nós.
Assim como Nicolau Copérnico fez com o geocentrismo e Galileu Galilei com o telescópio ao observar imperfeições na lua, do mesmo modo o fez Espinosa em relação a Deus. Este em Espinosa é absolutamente imanente. Se Deus é o todo como pode estar fora do todo? Então, Deus não seria Deus. O Racionalismo absoluto de Espinosa, singularmente, é imanente porque é diferente de Malebranche, Leibniz, Kant e Descartes.
A diferença entre nós e Deus é apenas de potência. Segundo Espinosa, Deus não é criador, mas produtor da potência. O homem é o “modus” de Deus. Deus é impessoal e por isso não tem vontade e não pode escolher. Depreende-se disso que toda a noção cristã do Ocidente de Revelação e de Transcendência é eliminada, caindo por terra toda uma compreensão da ética cristã paradigmática.
Em Espinosa não há télos. Tudo é um constante devir comparável à força da natureza. A vida humana e divina se unem, não admitindo em si a dor e a paixão. Ele é ação pura, inalterável e infinitamente feliz. Nada de mais sublime do que o grito de alegria da natureza. Deus é a natureza. Tal como a natureza somos nós e Deus. Todas as coisas estão relacionadas à “causa sui” que é Deus, substância absoluta e necessária. Com isso, Deus é dinâmico, repleto de movimento porque é natureza.
Não há qualquer hierarquização de Deus em Espinosa devido à sua pura potência.
Finalmente, voltando ao conceito de Deus como natureza, nota-se que Deus está sempre se transformando, crescendo, movimentando-se. Deus não parou no sétimo dia para descansar, pois n’Ele não há motivo. Por quê? Não há motivo em Deus porque a sua essência é pura potência necessária de se produzir.

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