terça-feira, 27 de janeiro de 2015
LAÇOS HUMANOS
Quase sempre somos flagrados de cabeças baixas com os dedos subindo e descendo pela tela de um tablet ou celular. O constrangimento é imediato, até porque devíamos nos cumprimentar ou nos relacionar com pessoas, ao invés de grudar os olhos em nossas máquinas. Lembro-me que uma vez, espantada, uma senhora bastante idosa me perguntou: "Jackis, por que as pessoas estão tão enfiadas com a cara nessas coisas?" Ao que respondi: "Estão conversando com outras pessoas, pesquisando, ouvindo música, assistindo vídeos ou fazendo qualquer outra coisa. Tentei justificar que esses aparelhos oferecem muitas opções". Fingindo ter entendido, a senhora fez um sinal negativo com a cabeça, e mudou de assunto.
Por incrível que pareça, ainda há muita gente que está fora desse processo de inclusão tecnológica, ou por que simplesmente não quer ou não tem oportunidades ou se sente mais feliz sem essas supermáquinas.
Dados do IBGE apontam que 130,8 milhões de pessoas de 10 anos ou mais de idade tinham telefone móvel celular para uso pessoal já em 2013.
Só pra termos uma ideia, segundo fonte da http://www1.folha.uol.com.br/…/1476690-numero-de-brasileiro…, o número de brasileiros que acessa a internet por telefone celular atingiu 52,5 milhões em 2013.
O impacto desses números nas relações humanas é muito forte, produzindo assim uma massa bem significativa de gente que está mudando o comportamento em função do virtual.
"Entrevistado a respeito da crescente popularidade do namoro pela Internet, em detrimento dos bares para solteiros e das seções especializadas dos jornais e revistas, um jovem de 28 anos da Universidade de Bath apontou uma vantagem decisiva da relação eletrônica: 'Sempre se pode apertar a tecla de deletar'" (BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido. Sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. p. 13.).
Crianças, jovens, adultos e até mesmo idosos ostentam em suas redes sociais uma lista interminável de milhares de amigos, porém, esquecem que são relações virtuais, muito fáceis de entrar e sair, de serem desmanchadas. Num clique podemos bloquear ou desbloquear alguém, ao ponto de manipularmos as relações como se fossem um simples jogo. Quanta fragilidade! Apenas um clique pode nos deixar sem nem um amigo.
Laços humanos, não tão duradouros quanto antes, se desfazem rapidamente na liquidez de nossa modernidade, no dizer do sociólogo alemão Bauman. Para ele, as pessoas se comportam como se estivessem sobre uma fina camada de gelo. Se não passarem velozmente por ela correm o risco de afundarem no lago. Eis a ambivalência: segurança e liberdade.
Bauman afirma que a nova modalidade de amizade proposta pelo Facebook, por exemplo, é atrativa porque oferece para nós uma forma fácil de entrar e sair de uma relação em rede. Diferente da concepção de rede, os laços humanos geram infinitas discussões, sentimentos de culpa, mentiras, consequências traumáticas para serem possivelmente desfeitos.
Conectar e desconectar uma pessoa de sua vida virtual parece ser bem mais fácil, agora fazer e desfazer laços humanos nos moldes da vida real e de suas implicações é muito mais difícil.
O problema é que tem muita gente misturando uma relação em rede (forjando uma outra espécie de amizade) com a concepção de laços humanos, o tradicional modelo de amizade.
Jackislandy Meira de M. Silva. Professor, filósofo e teólogo.
www.umasreflexoes.blogspot.com.br / www.chegadootempo.blogspot.com.br
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LAÇOS HUMANOS
Quase sempre somos flagrados de cabeças baixas com os dedos subindo e descendo pela tela de um tablet ou celular. O constrangimento é imediato, até porque devíamos nos cumprimentar ou nos relacionar com pessoas, ao invés de grudar os olhos em nossas máquinas. Lembro-me que uma vez, espantada, uma senhora bastante idosa me perguntou: "Jackis, por que as pessoas estão tão enfiadas com a cara nessas coisas?" Ao que respondi: "Estão conversando com outras pessoas, pesquisando, ouvindo música, assistindo vídeos ou fazendo qualquer outra coisa. Tentei justificar que esses aparelhos oferecem muitas opções". Fingindo ter entendido, a senhora fez um sinal negativo com a cabeça, e mudou de assunto.
Por incrível que pareça, ainda há muita gente que está fora desse processo de inclusão tecnológica, ou por que simplesmente não quer ou não tem oportunidades ou se sente mais feliz sem essas supermáquinas.
Dados do IBGE apontam que 130,8 milhões de pessoas de 10 anos ou mais de idade tinham telefone móvel celular para uso pessoal já em 2013.
Só pra termos uma ideia, segundo fonte da http://www1.folha.uol.com.br/…/1476690-numero-de-brasileiro…, o número de brasileiros que acessa a internet por telefone celular atingiu 52,5 milhões em 2013.
O impacto desses números nas relações humanas é muito forte, produzindo assim uma massa bem significativa de gente que está mudando o comportamento em função do virtual.
"Entrevistado a respeito da crescente popularidade do namoro pela Internet, em detrimento dos bares para solteiros e das seções especializadas dos jornais e revistas, um jovem de 28 anos da Universidade de Bath apontou uma vantagem decisiva da relação eletrônica: 'Sempre se pode apertar a tecla de deletar'" (BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido. Sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. p. 13.).
Crianças, jovens, adultos e até mesmo idosos ostentam em suas redes sociais uma lista interminável de milhares de amigos, porém, esquecem que são relações virtuais, muito fáceis de entrar e sair, de serem desmanchadas. Num clique podemos bloquear ou desbloquear alguém, ao ponto de manipularmos as relações como se fossem um simples jogo. Quanta fragilidade! Apenas um clique pode nos deixar sem nem um amigo.
Laços humanos, não tão duradouros quanto antes, se desfazem rapidamente na liquidez de nossa modernidade, no dizer do sociólogo alemão Bauman. Para ele, as pessoas se comportam como se estivessem sobre uma fina camada de gelo. Se não passarem velozmente por ela correm o risco de afundarem no lago. Eis a ambivalência: segurança e liberdade.
Bauman afirma que a nova modalidade de amizade proposta pelo Facebook, por exemplo, é atrativa porque oferece para nós uma forma fácil de entrar e sair de uma relação em rede. Diferente da concepção de rede, os laços humanos geram infinitas discussões, sentimentos de culpa, mentiras, consequências traumáticas para serem possivelmente desfeitos.
Conectar e desconectar uma pessoa de sua vida virtual parece ser bem mais fácil, agora fazer e desfazer laços humanos nos moldes da vida real e de suas implicações é muito mais difícil.
O problema é que tem muita gente misturando uma relação em rede (forjando uma outra espécie de amizade) com a concepção de laços humanos, o tradicional modelo de amizade.
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