(Cena do filme Sociedade dos Poetas Mortos)
Às vezes até mesmo nós, na
condição de professores, somos tomados pelo embalo do momento em que a Educação
se deixa virar facilmente para cultura do espetáculo. Uma cultura que imputa e
dita suas regras em virtude do sistema econômico capitalista que, entre outras
coisas, transforma o educador num animador de auditório e o estudante num
cliente. Infelizmente, estamos sendo quase que forçados a abraçar uma causa da
Educação voltada para o “vale tudo” desde que o estudante não saia da Escola ou
da Universidade.
Estamos relativizando demais os
critérios da aprendizagem. E isso se deve ao fato de aceitarmos exigências
profissionais vindas de um sistema falido, sem compromisso com a Educação e
submetido a quaisquer negócios de ordem financeira. Daí paira sobre nós esse
discurso ideológico do sistema espetacular.
Que discurso é esse? É um
discurso que prima por uma Educação sem reflexão, valorizando inúmeros estímulos
como produtos da tecnologia e dos meios de comunicação de massa. Possibilita a
descentralização da capacidade cognitiva do estudante, como também a
incapacidade de concentração em atividades que demandam tempo de análise e
capacidade reflexiva. “O tempo
espetacular exige que a consciência se fragmente, de modo a captar a maior
quantidade de percepções possíveis” (NUNES-BITTENCOURT, Renato. Educação sem reflexão no sistema espetacular.
Conhecimento Prático. Filosofia, São Paulo, ano 7, ed. 46, p.
66, dez 2013/jan 2014).
O artigo de Renato
Nunes-Bittencourt vai mais além nessa questão e realça, segundo ele, “os sintomas desse mal-estar cultural”.
Repare: “Na conjuntura educacional
contemporânea, um dos sintomas mais evidentes desse mal-estar cultural reside
na transformação do professor em um animador de auditório, ocorrendo assim a
obrigação profissional de entreter o alunado com uma dinâmica imbecilizante, de
modo a tratar sua turma como pessoas que se recusam a sair do estado de
menoridade existencial” (idem).
Não podemos tratar nossos estudantes
como clientes, mercadorias, cujo preço é o atendimento imediato de seus
caprichos. Porém, é com respeito, apostando em suas potencialidades e
faculdades para aprender que merecem ser tratados. Eles precisam sair da condição
de meros espectadores das aulas e assumirem a posição de sujeitos autônomos,
críticos à altura de qualquer desafio. Quem sabe até pudéssemos incitá-los ao
diálogo para ultrapassarem a dimensão do espetáculo na sociedade e na sala de
aula.
A respeito disso evoco aqui um
episódio curioso sobre a vida de Platão mencionado nas Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres de Diógenes Laértios, onde traz o encontro dramático de Sócrates e
Platão no contexto das Tragédias. Acostumado a frequentar o teatro e as festas
dionisíacas, justamente no instante em que ia participar de um concurso de
tragédias, Platão, ao ouvir aquele homem e seus argumentos de mestre, passa a
segui-lo e joga seus poemas às chamas.
Veja que Platão ultrapassa sua
condição de amante de espetáculos para se transformar em amante de espetáculos
da verdade. No livro V da República,
Platão escreve um diálogo importante entre Gláuco e Sócrates mostrando a distinção
entre os que são apenas amantes de espetáculos e os que são amantes de
espetáculos da verdade. Os verdadeiros estudantes, para Platão, devem ser
filósofos. “Mas aquele que deseja saborear toda a ciência, que se entrega
alegremente ao estudo e nele se revela insaciável, a esse chamaremos, com
razão, de filósofo, não é assim?” Pergunta ironicamente Sócrates a Gláuco.
Os efeitos do sistema espetacular
na Educação já se fazem sentir quando as aulas se tornam apenas mecanismo de
animação, dinamização e sensacionalismo emocional, uma vez que só existem para
prender a atenção e atender ao gosto da maioria (clientela). Ora, não estamos
num palco ou num circo, muito menos num programa de “reality show”. A Aula não
precisa ser um “show” para realizar o ensino e a aprendizagem. Aulas são feitas
de provocação (problematização), trabalho, diálogo, investigação (pesquisa),
conteúdo, muita leitura e reflexão. Quem se dispõe a ir à aula, deveria ir como
se fosse ao trabalho. Só que é um trabalho diferente, um trabalho intelectual. Mas se chegar a um “show” ou se estiver assistindo a um
espetáculo numa aula, queira ir mais adiante, assuma o controle, ultrapasse.
Segundo Libâneo, a aula “[...] não se aplica somente à aula
expositiva, mas a todas as formas didáticas organizadas e dirigidas direta ou
indiretamente pelo professor, tendo em vista realizar o ensino e a
aprendizagem. [..] ela é toda situação didática na qual se põem objetivos,
conhecimentos, problemas, desafios, com fins instrutivos e formativos, que
incitam as crianças e jovens a aprender”(LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 28º Ed. São Paulo: Cortez,
2008. p.178).
Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva
Bel. em Teologia, Bel. e Licenciado em Filosofia, Esp. em Metafísica,
Esp. em Estudos Clássicos.